Eduardo Vasco: ‘Lula vai aguentar dois anos
mais em cima da corda bamba?’
O Brasil não precisava
ter vetado a entrada da Venezuela como parceiro do BRICS. É sabido que essa
decisão foi tomada para não ficar mal com os Estados Unidos. Mas poderia muito
bem ter se abstido e justificado que seria errado ir contra a vontade de todos
os outros membros. Não era difícil ter deixado passar a decisão da maioria.
Lula demonstrou fraqueza e isso é o pior que um chefe de Estado pode fazer. O
inimigo viu que Lula fraquejou e isso vai animá-lo a aumentar as pressões. Essa
é uma síndrome da esquerda nacionalista e reformista. Só que a fraqueza que
Lula demonstrou foi muita – foi uma capitulação totalmente desnecessária.
Ao lado da Fazenda e
Defesa, o Itamaraty é um dos três principais ministérios do governo brasileiro.
Como tratam o Brasil como uma colônia, os EUA precisam ter o controle sobre
esses três ministérios-chave. É inadmissível que algum deles seja independente
do controle imperialista. A composição social do Itamaraty é perfeita para a
penetração da influência imperialista: uma casta burocrática e familiar formada
pela burguesia e os extratos superiores da pequena burguesia. Sempre foi assim.
Como uma entidade extremamente tradicional e de elite, ela é inerentemente
conservadora, mesmo reacionária, que visa manter o status quo e seus
privilégios absolutamente inalterados. O imperialismo americano se aproveita
disso e já há mais de cem anos, quando começou a dominar a política brasileira,
cooptou e colocou em sua folha de pagamentos senão toda a estrutura desse
ministério, ao menos uma parte importante dos seus integrantes.
Como em tudo, o PT não
conseguiu (se é que tentou) mudar o quadro da instituição. Os embaixadores e
diplomatas de primeiro escalão colocados por Lula e Dilma foram rifados logo
quando Bolsonaro assumiu o governo. Trocou muitos “petistas” por olavistas ou
semi-olavistas. Dividiram o controle com os burocratas tradicionais da
corporação, deixando os poucos “esquerdistas” de canto. Agora que Lula voltou,
ao invés de fazer a mesma limpeza que Bolsonaro fez e retirar os bolsonaristas
e direitistas de cena, praticamente não mexeu no Itamaraty. O Itamaraty não
está sob o controle do presidente da República – como deveria estar, sendo um
dos principais ministérios e, portanto, devendo obedecer fielmente o
presidente.
• O esgotamento da política de conciliação
A vida política
institucional de Lula já está indo para o seu desfecho e ele tem a chance de
deixar um legado positivo histórico, conduzindo o Brasil para um caminho
soberano em relação ao jugo imperialista. Não há sucessor na esquerda e, se
Lula falhar na tarefa (que ele talvez almeje e a qual seus apoiadores acreditam
que ele é capaz de realizar) de abrir as portas do Brasil para a nossa
soberania, a esquerda pagará um preço enorme. Haverá uma crise histórica de
lideranças absolutamente adaptadas à submissão imperial, que só não se abateu
com toda a força porque Lula ainda existe.
O veto do Brasil à
Venezuela no BRICS é consequência da insistência da esquerda em manter a
política não apenas de conciliação, mas de colaboração com a direita
tradicional, vendida como a “menos pior” – que se expressa, novamente, no apoio
aos candidatos dessa direita contra os “mais piores” bolsonaristas no segundo
turno das eleições municipais.
As eleições municipais
consolidaram a ressurreição dessa direita (o centrão). Depois da débâcle
histórica de 2018, a direita conseguiu se recuperar aos poucos, graças ao
resgate proporcionado pela esquerda. As eleições de 2022, com a formação de uma
frente ampla desnecessária para eleger Lula levaram este à presidência, mas ao
custo de que essa direita tradicional se apoderasse do governo.
Na verdade, o centrão
nunca saiu do poder. É a grande chaga que mantém o Brasil como uma semicolônia
do imperialismo desde a proclamação da república. Nenhuma revolução ou
contrarrevolução o tirou do poder – no máximo reduziu ou fortaleceu o seu
domínio, mas nunca o erradicou. A maior parte do tempo do governo Bolsonaro já
havia sido, de fato, de um governo do centrão. A direita tradicional conseguiu
neutralizar a força avassaladora da extrema-direita ao longo da primeira metade
do governo Bolsonaro, e foi ainda mais rápida em neutralizar o governo Lula. Há
mais de um ano o presidente não passa de um refém do centrão, da direita
oligárquica e dependente do imperialismo americano.
O último bastião da
resistência de Lula dentro do governo – a política externa – já está sendo
conquistado pela direita. O imperialismo não pode tolerar uma política
brasileira na cena mundial que apoie a resistência palestina e tampouco o
fortalecimento de Rússia, China e do enfrentamento ao seu domínio, representado
pelo BRICS. As engrenagens pró-imperialistas do Itamaraty já foram ativadas a
fim de completar o cerco do próprio aparelho do Estado brasileiro ao presidente
Lula e àquilo que ele representa.
Há, ainda, um problema
crucial: a extrema-direita, apesar de suas contradições internas, está com sua
força e popularidade praticamente intactas já há uma década. E, como sempre, é
favorecida pela sabotagem e propaganda da direita tradicional (centrão, imprensa,
bancos e grandes capitalistas) contra Lula. Além do mais, a forte presença da
extrema-direita influenciou a política da própria direita tradicional, agora
ainda mais reacionária.
• A política de não-alinhamento é inviável
para o Brasil
O presidente, assim,
vive uma situação muito delicada. Há quem acredite que ele está certo em buscar
uma suposta equidistância tanto dos Estados Unidos quanto da China. Mas um país
como o Brasil, uma semicolônia do imperialismo americano submetida atualmente a
uma crescente pressão de Washington, não pode se dar ao luxo de buscar uma
pretensa neutralidade, ao contrário de outros, como Índia ou Turquia, que são
geograficamente distantes dos EUA e vizinhas de China e Rússia e cuja
dependência política e econômica do imperialismo americano (embora ainda seja
grande) não é tanta quanto a nossa.
Mesmo países
fronteiriços com a Rússia não suportaram as pressões contra a aplicação de uma
política não-alinhada e tiveram seus governos derrubados por golpes de Estado
promovidos pelo imperialismo. Foi o caso da Ucrânia, em 2014, e é o que tende a
ocorrer na Geórgia novamente. Essa também é a tendência do Brasil, se Lula
continuar cedendo e não tomar um rumo verdadeiramente soberano, o que significa
se aliar com China e Rússia e deixar de depender dos Estados Unidos.
O imperialismo
americano tem o controle do Brasil. Tanto o centrão quanto a extrema-direita
são seus aliados contra Lula. Ainda que tenham desavenças (às vezes
encarniçadas), na hora H eles deixarão essas discordâncias de lado e lutarão
juntos contra o inimigo comum, como a história já demonstrou em incontáveis
ocasiões. E os aparelhos burocráticos do Estado, como o Judiciário – principal
ferramenta do imperialismo no Brasil, junto com a grande imprensa burguesa –,
marcharão ao seu lado.
Aparece com crescente
saliência, novamente, a falência histórica da política de colaboração de
classes. Sua estabilização já não é mais viável desde que foi rompida com o
golpe de 2016 e a ascensão da extrema-direita por obra da burguesia e do
imperialismo. O que temos hoje é um monstrengo: a ala pretensamente
nacionalista da burguesia, a quem Lula e o PT insistem em se apegar, sente-se
ainda mais pressionada pelo imperialismo do que Lula – e cede muito mais
facilmente e com muito menos hesitação do que o presidente. Quaisquer
coincidências de interesses com a classe operária e as demais classes populares
que ainda possam existir se esvaem em uma situação de polarização política
continuada e que volta a crescer, elevando particularmente as contradições das
camadas populares com o imperialismo americano.
A burguesia
“nacional”, os aliados civilizados, democráticos e progressistas de Lula vão
pular fora do barco (mesmo que não o façam abertamente) porque sabem que não há
futuro nenhum dentro dessa aliança anti-histórica, na expressão usada por Mário
Pedrosa ao analisar um cenário parecido, a crise do PTB de Jango com o PSD
poucos anos antes do golpe de 1964.
Lula também vai ter de
abandonar essa ambivalência na política externa e escolher um lado. Se não
fizer, não vai durar. E se capitular definitivamente para o imperialismo,
tampouco terá algum sucesso. O problema é que não dá para adotar uma política
externa e uma política interna antagônicas. Para adotar uma política externa
independente e, portanto, oposta ao controle do imperialismo, ele vai ter de se
voltar contra os agentes do imperialismo dentro do próprio país, começando por
aqueles que infestam o governo mesmo.
Mas, se na política
externa Lula sofre a pressão positiva do BRICS ampliado em contraposição à
pressão negativa dos Estados Unidos, no cenário interno a pressão popular – a
única que poderia contrapor a pressão da direita – quase não existe, ao menos
de forma organizada. Daí também a parcela de culpa da esquerda, dos partidos (a
começar pelo próprio PT), dos sindicatos e da imprensa progressista na política
capituladora de Lula com relação ao BRICS e à América Latina. Na realidade, as
posições de Lula, em geral, ainda são mais acertadas do que as da maioria da
esquerda.
Não é Lula, somente,
quem está na corda bamba. É toda a direção da esquerda brasileira. Sua política
medíocre e rebaixada é a grande responsável pelos erros cometidos por Lula e
pelo governo. Os movimentos populares precisam dar um giro de 180 graus em sua
política e começar a combater de fato os inimigos de Lula, ou seja, os agentes
do imperialismo no Brasil, pressionando o presidente e as suas próprias
direções. Porque as pressões do outro lado da corda são cada vez mais fortes e
Lula não vai conseguir se equilibrar por muito tempo.
• Crescimento, apesar da esgotosfera. Por
Pedro Benedito Maciel Neto
A primeira vez que li
o termo “esgotosfera” foi num artigo do Augusto Nunes, um ex-jornalista e hoje
militante da extrema-direita, sob o título: “Novilíngua da esgotosfera”; lembro
que procurei o significado “dando um google” e encontrei: “Termo pejorativo
para se referir ao conjunto de mídias explicitamente alinhados à esquerda
política, pró-PT ou/e supostamente financiados pelo governo Lula-Dilma”.
De lá para cá uso o
termo para designar todo o tipo de mentiras produzidas capazes de causar pânico
ou para sustentar artificialmente um posicionamento, quando não há sustentação
substantiva.
Alguns conhecidos
meus, todos de direita ou de extrema-direita, pessoas com quem me relacionei
social ou profissionalmente, pelo menos, nos últimos quarenta anos, seguem
consumindo as mentiras e versões produzidas na “esgotosfera” e difundindo.
Dois conhecidos, cujos
nomes omito para preservá-los do constrangimento público, vivem em estado de
cegueira absoluta e, como zumbis, compartilham toda sorte de bobagens sobre
economia, politica, geopolítica, costumes, etc., e não adianta debater, pois além
de cegos são surdos e analfabetos.
Diariamente recebo de
um conhecido - pessoa boníssima, que foi diretor de um banco privado e que tem
um belo trabalho social -, uma infinidade de “memes”, vídeos, textos e
reportagens, com conteúdo evidentemente falso.Hoje ele enviou umas trinta
mensagens de WhatsApp, todas na perspectiva do consumidor de conteúdos da
esgotosfera da extrema-direita o Brasil está falido e vivemos numa ditadura;
alguns conteúdos dão conta que Lula morreu e que sósias ocupam seu lugar, sob
orientação e comando de uma central do mal, a “central globalista de
extrema-esquerda”.
Hoje vou tratar de
economia, os demais temas podem ser melhor comentados por humoristas.
Vamos lá.
Está tudo uma
maravilha? Evidentemente não, mas o país vem muito bem na quadra da economia, o
que tristemente não refletiu nas urnas.
Há boas notícias que a
“esgotosfera” omite ou distorce: 1ª - queda no desemprego; 2º - crescimento
econômico sustentado; 3ª - aumento do investimento público e privado; 4ª -
superávit comercial robusto e 5º - expansão do mercado de capitais. Estes 5
elementos mostram que a fase mais aguda da crise econômica foi ultrapassada,
Só esses pontos já
mereceriam comemoração de quem é de fato patriota, pois, a despeito das altas
taxas de juros praticadas pelo Banco Central (a segunda mais alta do mundo,
conforme mostra levantamento compilado pelo MoneYou, que os juros reais do país
estão agora 7%, sendo que o líder é a Rússia, com taxa real de 7,79%) a
economia é resiliente sob Lula e Haddad e cresce.
Contudo, se quisermos
ser honestos, temos que frisar: essas boas notícias dependem da manutenção do
arcabouço fiscal e de política monetária eficaz por parte do Banco Central para
controlar a inflação (que já caiu de 12% no pico da pandemia para 4% atualmente);
tem-se que reconhecer também que com o crescimento contínuo e política fiscal
responsável, o Brasil mantém cenário econômico positivo, favorecido por
políticas de transferência de renda e estímulos ao investimento.
Segundo o IBGE, o
Brasil registra a menor taxa de desemprego dos últimos 10 anos, que atingiu
6,8%. Desde a pandemia, o desemprego caiu de 14,5% para 6,8%, com a criação de
mais de 7 milhões de empregos, tanto formais quanto informais, isso não e
pouco; e o país deve criar, quase 2 milhões de empregos formais apenas neste
2024, que reflete o mercado de trabalho na melhor situação da década. Agora é
necessário melhorar a qualidade desses e o salário, cuja média gira em torno de
R$ 3.222, ainda muito baixo.
Estimativas mensais
mostram que o rendimento habitual médio real em abril de 2024 (R$ 3.222) foi
3,1% maior que o observado no mês anterior (R$ 3.124) e 6,8% superior ao valor
de abril do ano anterior, além de 2,6% maior que o valor registrado em dezembro
de 2023 (R$ 3.141), conforme o próprio IBGE.
O mercado estima que o
Brasil deve crescer, novamente, cerca de 3% em 2024, pelo terceiro ano
consecutivo, acumulando crescimento de mais de 10% desde o início da pandemia,
desempenho que coloca o Brasil entre os países com maior intensidade econômica,
inclusive superando os Estados Unidos e Europa.
Segundo levantamento
da Austin Rating, com o resultado do PIB (Produto Interno Bruno) do segundo
trimestre, o Brasil chegou ao 2º lugar no ranking de países com maior taxa de
crescimento econômico, respectivamente: Peru (2,4%), Brasil (1,4%), Arábia Saudita
(1,4%), Noruega (1,4%) e Japão (0,8%).
Por que isso não é
comemorado? Por que isso não fez a menor diferença nas eleições municipais?
Outro elemento
econômico positivo é a taxa de investimento no Brasil, que está em aceleração,
e atingiu algo em torno de 18% do PIB, a maior em 10 anos (embora esteja abaixo
do ideal de 20%, o crescimento nos investimentos em bens de capital, máquinas,
equipamentos e construção civil são indicativos positivos, e mostram que a
produção se aproxima da capacidade instalada).
O superávit da balança
comercial brasileira permanece forte, e ultrapassa US$ 80 bilhões em 2024, após
atingir US$ 90 bilhões no ano anterior; o país continua exportando
vigorosamente, especialmente petróleo, produtos de mineração e produtos
agrícolas, apesar dos desafios como a queda nos preços do minério de ferro e os
impactos climáticos no agronegócio. Lembrando: “superávit na balança comercial”
corre quando o valor das exportações do país é maior que o valor das
importações. Isso significa que, no período de apuração, entrou mais dinheiro
no País do que saiu.
E o mercado de
capitais?
O mercado de capitais
brasileiro está em expansão, com o crédito que tem crescido 10% ao ano — 11%
para famílias e 8% para empresas. O mercado de dívida também está em alta, com
o estoque de debêntures — títulos de dívida emitidos por empresas para captar
recursos e que dão direito de crédito aos investidores —, que atingiu R$ 1
trilhão, CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários), que superou R$ 200
bilhões, CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), que chegou a R$ 100
bilhões e FDIC que ultrapassou R$ 400 bilhões.
Este crescimento
poderia ser grandemente impulsionado pela queda da Selic, pelo incremento de
políticas de transferência de renda e pelo aumento de investimentos.
Pergunto aos
economistas: onde o tal do superávit primário importa nesse cenário? Pois, ao
que me parece é uma lógica mentiroso, que surgiu nos anos 1980, segundo a qual
o mais importante, na gestão das contas públicas, é garantir o pagamento de
juros aos barões do capitalismo financeiro e “dane-se o povo, o país e o
desenvolvimento”. É isso mesmo? Pedro Benedito Maciel Neto, pai, avô, advogado
e pontepretano, sócio da www.macielneto.adv.br – pedromaciel@macielneto.adv.br
– autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito, ed. Komedi, 2007; “Tensão
entre os poderes”, ed. Apparte, 2024, dentro outros.
• Empreendedorismo para garantir reeleição
em 2026 pede juro baixo. Por César Fonseca
O ministro Paulo
Pimenta, ao dizer que o presidente Lula é vitorioso nas eleições municipais,
por ser expressão do centro político nacional, na sua condição essencial de um
político conciliador, ressaltou que o PT tem que defender, a partir de agora, o
empreendedorismo, alternativa às classes sociais sucateadas pelo
neoliberalismo.
Como se sabe, a onda
empreendedora, que tomou conta dos trabalhadores socialmente precarizados,
depois da reforma trabalhista neoliberal imposta pelo bolsonarismo fascista,
dificilmente emplaca diante da atual política monetária ortodoxa, cuja marca
registrada é o juro alto, extorsivo, anti-desenvolvimento.
Os que optaram pelo
empreendedorismo, depois do golpe na CLT getulista, estão fazendo reavaliações
críticas, por estarem pagando juros muito altos sobre os bens e serviços que
adquiriram para se tornarem novos empreendedores.
A taxa de lucro muito
baixa dos novos empreendedores, na fase pós reforma, produz incertezas e
precariedades que, caso continue a política monetária fiscal e ortodoxa,
aumenta a incerteza, que pode aumentar se o governo aprofundar o corte nos
gastos sociais, como defende a Faria Lima.
Os custos para ser
empreendedor, conforme a legislação, transforma o micro e pequeno empresário
escravo do negócio que empreende, levando-o, no ritmo das incertezas
capitalistas crescentes, ao constante perigo de falência.
Desse modo, somente
com política monetária pró-desenvolvimento, em que a oferta de dinheiro barato
seja capaz de jogar o juro para baixo e, assim, tornar-se atrativo ao candidato
ao empreendedorismo, à transformação do trabalhador, antes assalariado, à condição
de empresário, micro ou médio, ele ousará dar o passo nesse sentido, ainda
assim cheio de temor e insegurança.
INCERTEZAS ESPANTAM
EMPREENDEDORES
Como as expectativas
não são as de que os juros cairão nos próximos tempos, diante das pressões do
mercado, dizendo que a taxa de inflação ascendente reclama juro mais alto, para
evitar estouro da meta inflacionária prevista pela política monetária ortodoxa,
a decisão de virar empreendedor constitui sempre passo no escuro.
A pressão das forças
liberais, dentro do governo, nos ministérios do Planejamento e da Fazenda, por
exemplo, é a de que é necessário aprofundar cortes nos setores sociais – saúde,
educação, programas e benefícios aos mais pobres e desvinculação do reajuste do
salário-mínimo para os aposentados – em nome do ajuste fiscal.
A prioridade da ala
progressista governamental é dar força ao empreendedorismo, mas,
contrariamente, as forças conservadoras pró-mercado pregam austeridade, cujos
efeitos são redução da renda disponível para o consumo, configurada nas
despesas sociais que são sinônimos de investimentos.
O discurso favorável
ao empreendedorismo, como defende o ministro Paulo Pimenta, portanto, entra em
choque com a austeridade fiscal e monetária pregada pela ministra do
Planejamento, Simone Tebet, e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
sintonizados com a tendência pró-mercado.
Ademais, antes do
final do ano, na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), do
Banco Central, a expectativa é de mais uma puxada na taxa básica selic, porque
a Faria Lima diz ser necessária para conter a inflação que saiu da meta prevista
de 4,5% para 2024 etc.
A taxa Selic
alcançaria, como prevê o mercado especulativo, a casa dos 12%, entrando, em
2025, com sinalizações contrárias às expectativas desenvolvimentistas que
teoricamente favorecem o discurso pro-empreendedorismo.
As divisões dentro do
governo, por isso, são evidentes: de um lado, as forças pró-austeridade,
puxadas pelos neoliberais, e, de outro, as defensoras do desenvolvimentismo
lulista, capaz de dar força à industrialização, somente possível, se os juros
sinalizam queda na nova fase do BC sob comando de Gabriel Galípolo, depois da
saída do neoliberal bolsonarista Roberto Campos Neto.
Portanto, o
empreendedorismo, do qual se espera motivação ao neo-desenvolvimentismo,
alternativo ao neoliberalismo que deu golpe na política trabalhista
nacionalista, ficará em compasso de espera sobre o rumo que o presidente Lula
irá tomar, depois do crash eleitoral municipal, com vista a sua reeleição em
2026.
Fonte Brasil 247
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