quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Negacionismo do bolsonarismo faz escola: diretora da Petrobras chama corais da foz do Amazonas de “fake news”

Que a chegada de Magda Chambriard na Petrobras era uma estratégia para aumentar a pressão pela licença do IBAMA para explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas não há dúvida. Mas não se imaginava que o comando da petroleira seria dado ao negacionismo climático, numa apelação baixa e sem qualquer base técnica. Se bem que, depois do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, duvidar da relação cientificamente comprovada entre a queima de combustíveis fósseis e as mudanças climáticas em plena Cúpula da Amazônia, em agosto do ano passado, nada mais deveria surpreender.

A negacionista da vez foi a diretora de Exploração e Produção [E&P] da estatal, Sylvia dos Anjos. Em aula aberta na COPPE/UFRJ na semana passada, a executiva disse que a presença de corais na foz do Amazonas, ameaçados pela exploração de petróleo e gás na região, é “fake news” científica, informam O Globo e Projeto Colabora.

“Não existe coral na foz do Amazonas. Isso não é verdade. Isso é fake news científica. Existem rochas carbonáticas semelhantes a corais, mas não são corais. São rochas antigas”, disse Sylvia. Vale explicar que a diretora de E&P da Petrobras é graduada e mestre em geologia. Não em biologia marinha.

Fakebook.eco, iniciativa de combate à desinformação climática liderada pelo Observatório do Clima, mostra que não é verdade que as formações de recifes na foz do Amazonas são apenas rochas antigas. “O ecossistema recifal é formado por rodolitos, bancos de algas carbonáticas existentes em outras regiões do Atlântico Sul, como Abrolhos, e fundamentais como habitat de peixes e outras criaturas”.

Um artigo publicado na revista Nature em 2019 aponta evidências de que o recife está vivo e em crescimento, mostra o Fakebook.eco. Outro estudo publicado na Science em 2016 também concluiu que há seres vivos no recife. Além disso, pesquisadores ressaltam a necessidade de estudos adicionais para entender o crescimento do Grande Recife Amazônico, sua diversidade de habitats e sua biodiversidade, já que apenas cerca de 5% do recife é conhecido.

Mas o negacionismo de Sylvia não parou aí. O Central da COP destaca que a diretora de E&P da Petrobras também minimizou a responsabilidade do Brasil nas emissões de combustíveis fósseis, apesar do país ser atualmente o nono maior produtor de petróleo do mundo. Além disso, apresentou uma explicação incorreta sobre as causas do aquecimento global.

“Nós só damos esse adicional (ao aquecimento do planeta) do ser humano jogando CO2, que são as ações antropogênicas. Mas os grandes dois vetores que importam são: o Sol, que não é constante, a emissão solar varia; e a posição da Terra, que varia”, disse Sylvia. Mais uma bola muito fora.

“É falso. Segundo o IPCC, do 1,07°C de aquecimento global observado, quase todo foi provavelmente causado por atividades humanas; fatores naturais contribuíram com uma faixa que vai de -0,1°C a 0,1°C, e a dinâmica interna do planeta, de -0,2°C a 0,2°C. Aliás, as observações por satélite feitas pela NASA mostram que, nos últimos 40 anos, a radiação solar diminuiu ligeiramente. Quanto às atuais posições orbitais da Terra, sem interferência humana, elas estariam promovendo um resfriamento gradual”, explicou o Fakebook.

E Sylvia foi além quando disse que a queima de fósseis não é lá muito importante para as emissões do país. Se ela fizesse as contas, verificaria que se estas representassem um país, este seria o 25º maior poluidor climático, quase empatando com o Reino Unido e a Nigéria.

¨      Técnicos do Ibama recomendam rejeição de licença à Petrobras para explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sinalizou, nesta quarta-feira, que irá manter o parecer que reafirma sua posição contrária à liberação da Margem Equatorial para exploração de petróleo, considerada a área de maior potencial energético do país após o pré-sal. A decisão mantém o veto às operações da Petrobras na região, que abrange desde o litoral do Rio Grande do Norte até o Amapá e poderia, segundo especialistas, representar uma das últimas oportunidades para o Brasil consolidar sua autossuficiência energética. O órgão ambiental se posicionou novamente de forma restritiva, citando possíveis riscos ambientais e sociais, mas a Petrobras adverte que essa postura poderá resultar na necessidade de o Brasil importar petróleo já na próxima década. A posição do Ibama ameaça a segurança energética do Brasil e também a segurança econômica, uma vez que as exportações de petróleo contribuem fortemente para a balança comercial.

Na semana passada, a Petrobras intensificou sua campanha para tentar reverter o veto e obter a licença, alertando para os riscos à segurança energética e ao futuro da produção nacional. Durante uma aula aberta na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a diretora de Exploração e Produção da estatal, Sylvia Anjos, destacou que, sem o desenvolvimento da Margem Equatorial, o país corre o risco de ver sua produção de petróleo cair drasticamente com o declínio do pré-sal nos próximos anos. “O tempo está sendo muito crítico. Em cinco, seis anos, o pré-sal começará a declinar, e, sem novas descobertas, o Brasil pode voltar a ser importador de petróleo,” afirmou Sylvia, destacando que a estatal vê a Margem Equatorial como essencial para sustentar a produção nacional de óleo e gás a longo prazo.

<><> A resistência do Ibama

O novo parecer do Ibama foi assinado por 26 analistas e reitera pontos já mencionados em documentos anteriores: riscos ambientais e potenciais impactos em comunidades indígenas na região. O órgão alega que os estudos ambientais apresentados pela Petrobras ainda não são suficientes para garantir uma exploração segura na área e menciona o elevado potencial de biodiversidade e a sensibilidade ambiental como fatores impeditivos. A negativa inclui ainda preocupações com operações de apoio aéreo no Aeroporto de Oiapoque, no Amapá, e com o plano de resgate de fauna em caso de acidentes ambientais, apesar dos investimentos já realizados pela Petrobras para mitigar esses riscos.

Para atender às demandas do Ibama, a Petrobras investiu em medidas rigorosas, como a construção de uma base avançada de acolhimento de fauna em Oiapoque, que promete reduzir significativamente o tempo de resposta em caso de vazamentos. Ainda assim, o Ibama manteve a avaliação de que os planos apresentados não são suficientes para mitigar todos os riscos ambientais. A estatal também comprometeu-se a utilizar o aeródromo do Oiapoque dentro de sua capacidade operacional estabelecida, alegando que o aumento do tráfego aéreo não seria um impacto direto da perfuração, mas uma consequência das operações de apoio.

<><> Risco à segurança energética do país

A Petrobras argumenta que, sem acesso à Margem Equatorial, o Brasil poderá enfrentar um grave problema de dependência energética em um futuro próximo. Atualmente, o país é autossuficiente em petróleo, e cerca de 81% da produção nacional vêm do pré-sal. No entanto, como destacou Sylvia Anjos, o ciclo natural de produção de petróleo implica em um declínio após o pico de extração, o que significa que, sem novas descobertas, o país poderá enfrentar uma redução considerável em sua produção dentro de uma década. Para evitar uma nova dependência de importações, a estatal sustenta que a Margem Equatorial é uma fronteira exploratória fundamental, que precisa ser desenvolvida urgentemente para garantir o abastecimento futuro.

<><> Próximos passos e pressões sobre o Ibama

A Petrobras aguarda agora uma resposta oficial do Ibama ao seu pedido de reconsideração e já solicitou à Agência Nacional do Petróleo (ANP) a suspensão do prazo para exploração na Margem Equatorial, a fim de não perder tempo de concessão sem a licença necessária. No entanto, o Ibama ainda não estabeleceu uma data para a resposta final, e o impasse persiste, com o futuro da segurança energética do país em jogo.

Especialistas no setor criticam a postura do Ibama, argumentando que, ao adiar a exploração da Margem Equatorial, o Brasil perde competitividade no cenário energético global e enfraquece seu potencial de segurança energética. Enquanto o órgão ambiental mantém sua posição, a Petrobras continua reiterando seu compromisso com práticas seguras e sustentáveis, na esperança de que a autorização seja concedida e o país possa avançar em uma área considerada essencial para seu futuro energético.

¨      Sem margem equatorial, Brasil pode ter que importar petróleo em 2034

Sem produção de petróleo na margem equatorial, área do litoral norte do país apontada como o novo pré-sal, o Brasil pode ter que voltar a importar petróleo dentro de dez anos.

A afirmação, feita nesta quinta-feira (24), no Rio de Janeiro, é da diretora de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras, Sylvia Anjos (foto), e faz parte da campanha da estatal para obter licença para explorar a região.

“O tempo está sendo muito crítico, em cinco, seis anos tem uma caída da produção do pré-sal e, com isso, a gente pode voltar a ser importador de petróleo em 2034, 2035, se a gente não tiver descobertas”, afirmou ao participar de uma aula aberta no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A margem equatorial abrange uma área que vai da costa do Rio Grande do Norte ao Amapá. A comparação com o pré-sal é devido ao grande potencial de encontrar reservatórios de petróleo. No entanto, a exploração é criticada por ambientalistas, preocupados com possíveis danos ambientais.

A Petrobras tem 16 poços na nova fronteira exploratória, no entanto, só tem autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para perfurar dois deles, na costa do Rio Grande do Norte.

O Ibama negou a licença para outras áreas, como a da Bacia da Foz do Amazonas. A Petrobras pediu ao instituto, ligado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), uma reconsideração e espera uma decisão.

Sylvia contextualizou que o Brasil é autossuficiente em petróleo desde 2006. Atualmente, 81% da produção nacional são atribuídos ao pré-sal. Como faz parte do ciclo do petróleo o atingimento de um pico de produção seguido por declínio da quantidade de barris extraídos, a Petrobras busca novas áreas de exploração para que não haja recuo da produção de óleo e gás.

<><> Meio ambiente

Segundo a diretora, a Petrobras resolveu as exigências do Ibama para que seja alcançada a licença de exploração, entre elas a criação de centro para acolhimento de animais em caso de derramamento de óleo; a garantia de que não haverá excesso de capacidade no Aeroporto de Oiapoque, no Amapá; e simulação de exercícios de emergência ambiental.

Sylvia criticou também o que chamou de “fake news científica”, citando a informação propagada de que há corais na foz do rio Amazonas. Segundo ela, estudos já apontaram que coral não convive com o mar que não seja absolutamente transparente e sem argila.

“Não existe coral na foz do Amazonas, isso não é verdade. Existem rochas semelhantes a corais”, desmentiu ela, acrescentando que, apesar do nome Bacia da Foz do Amazonas, os poços ficam a 540 quilômetros da foz, distante da foz.

A executiva afirmou ainda que a região tem intenso fluxo de navios, ou seja, não é um local isolado. “A gente não está querendo perfurar em um santuário marítimo onde nada ocorre”, garantiu.

O Ibama não apontou a data em que haverá uma resposta ao pedido de reconsideração da Petrobras. A estatal solicitou à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a suspensão do prazo para realizar a exploração na Bacia da Foz do Amazonas, de forma a não perder tempo de concessão sem licença.

Após participar da aula aberta na Coppe/UFRJ, a diretora de E&P disse a jornalistas que se sentirá “frustrada” caso a autorização do Ibama não saia ainda este ano. “Eu já estou frustrada”.

Apesar do sentimento, ela demonstrou expectativa positiva. “Estamos fazendo tudo o que é solicitado para que tenhamos a licença. Estamos confiantes”, assegurou.

<><> Perfuração

Mesmo que a licença fosse concedida hoje, a Petrobras não acredita que a perfuração se iniciaria ainda em 2024. Seriam necessários cerca de três meses, contando tempo para limpar, preparar e transportar a sonda perfuradora até a região.

O fato de não obter a licença é um prejuízo operacional para a Petrobras, pois, além de atrasar uma possível produção de petróleo, há gasto com operações que não foram realizadas.

“Se você aluga uma sonda [de perfuração] que custa mais de US$ 600 mil por dia [o equivalente a quase R$ 3,4 milhões]... a gente ficou dois meses com ela parada”, lamentou.

Apesar de o tema margem equatorial ter ganhado notoriedade nos últimos anos, o pedido de licença da Petrobras foi feito em 2013.

Sylvia revelou que, na costa do Rio Grande do Norte, onde a Petrobras obteve autorização do Ibama, dois poços já estão sendo perfurados. No entanto, ainda não há um parecer sobre a viabilidade econômica, ou seja, se a quantidade de petróleo encontrada é lucrativa.

“Todo óleo importa. Então, a gente vai buscar tecnologia para encontrar soluções para que se possa produzir, mesmo que não seja o pré-sal de milhões de barris”, afirmou.

O tempo necessário entre a descoberta de um reservatório e a retirada do petróleo gira em torno de seis a sete anos, explicou a executiva.

Ela disse, ainda, que a Petrobras está procurando fornecedores que possam reduzir o preço cobrado pelas plataformas de produção. Segundo ela, o custo oferecido por um FPSO (navio plataforma) foi de US$ 4 bilhões, equivalentes a mais de R$ 22 bilhões, o que inviabiliza a rentabilidade da produção.

Ainda segundo a diretora da Petrobras, algumas grandes petroleiras manifestam interesse em fazer parcerias com a Petrobras, caso sejam encontrados reservatórios de petróleo na margem equatorial.

“Todas as empresas estão de olho no Brasil, porém, elas perderam a esperança com a questão da licença. Então, [se a Petrobras conseguir] todo mundo volta a ter interesse”, especificou.

No entanto, afirmou ela, a Petrobras tem know-how (conhecimento) suficiente para realizar campanhas exploratórias sem parcerias.

<><> Transição energética

A diretora entende que não há contradição entre a orientação da política ambiental do país de reduzir a emissão de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, e o interesse na exploração do petróleo. Ela explicou que a Petrobras usa tecnologias que fazem com que o petróleo da companhia seja produzido com menos emissão de dióxido de carbono (CO₂).

Além disso, observou que o petróleo continuará sendo demandado no mundo pelas próximas décadas, tanto como fonte de energia como matéria-prima para a indústria petroquímica, que produz os mais diversos itens, além de plástico.

“Qual petróleo que estará presente? Aquele que é menos emissor. Nesse sentido, a emissão do pré-sal chega a ser de sete a nove quilos de CO2 por barril. A média no mundo é 17 kg, e alguns campos imensos, mais de 20 kg”, especificou, afirmando que a produção da Petrobras alcançará o chamado net zero (saldo negativo de emissão de carbono) antes de 2050.

¨      Cappelli defende exploração da Margem Equatorial: 'precisamos confiar na Petrobras'

 presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, usou as redes sociais para exploração de petróleo na margem equatorial pela Petrobras. “As norte-americanas Exxon e Chevron podem explorar a Margem Equatorial na Guiana. A francesa Total pode explorar no Suriname. Só o Brasil que não pode? A Margem Equatorial mudará a vida de milhões de brasileiros. Desenvolvimento e sustentabilidade. Precisamos confiar na Petrobras”, escreveu cappelli no X, antigo Twitter. 

A postagem foi feita na esteira da decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de manter o veto à exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira, o que coloca em risco a segurança energética nacional e ameaça tornar o país dependente de importações na próxima década.

A postagem também faz referência ao fato de que, desde 2015, a ExxonMobil se estabeleceu como líder na exploração offshore de petróleo na Guiana, operando os blocos Stabroek e Canje, onde realizou mais de 30 descobertas significativas. A empresa iniciou a produção em 2019 e, com planos de ampliar ainda mais a capacidade, espera atingir cerca de 620 mil barris por dia até 2027. 

¨      Se Lula não arbitrar o tema da Margem Equatorial em favor da Petrobras, adeus Petrobras

A Petrobras enfrenta hoje um desafio que pode definir seu futuro como protagonista da segurança energética nacional. Com os campos do pré-sal já entrando em fase declinante, a Margem Equatorial surge como a grande oportunidade para que a empresa permaneça competitiva e assegure a autossuficiência em petróleo do Brasil. No entanto, o impasse com o Ibama ameaça o desenvolvimento dessa região estratégica. O órgão ambiental tem insistido em travar a exploração na Margem Equatorial, utilizando falácias ambientais que, na prática, podem sabotar o potencial energético do país.

Enquanto o Brasil hesita, empresas internacionais como ExxonMobil e Total já avançam em áreas semelhantes da Margem Equatorial na Guiana, explorando o mesmo tipo de reservas que a Petrobras tenta acessar aqui, mas sem o mesmo peso das restrições ambientais. Esta inércia regulatória coloca o Brasil em uma posição de risco frente a outros países que exploram com êxito as reservas da região e deixam nosso país ainda mais dependente do mercado externo.

Cabe ao presidente Lula arbitrar este tema em favor da Petrobras, colocando o desenvolvimento nacional em primeiro lugar. Os argumentos usados pelo Ibama, de que a região teria corais e um impacto ambiental inaceitável, foram desmentidos por estudos técnicos da própria Petrobras, que apontam que os locais de exploração estão a centenas de quilômetros de áreas sensíveis e não apresentam risco direto à biodiversidade.

Negar o avanço da exploração na Margem Equatorial é, em última análise, desvalorizar o potencial de crescimento da Petrobras e do país. O Brasil não pode se dar ao luxo de abdicar dessa reserva estratégica, sob pena de perder competitividade e ver sua autossuficiência energética comprometida. Se Lula não agir agora, o país estará dizendo adeus não apenas à Petrobras, mas também à sua capacidade de se posicionar como líder no setor energético global.

Pressão:

 

Fonte: ClimaInfo/Brasil 247

 

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