quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Milton Pinheiro: As eleições e a miséria brasileira

O Brasil no pós segundo turno das eleições municipais de 2024 inspira uma profunda análise do cenário político realmente existente. Algo que seja empiricamente consistente, mas que encontre, no desvelamento da interpretação política, um sentido para compreender o impacto eleitoral que ocorreu nos dois turnos destas eleições. No entanto, ainda são jogadas ao vento da tempestade que deve ser medida como termômetro político, aspectos que se apresentam combinados ou separados, mas que apontam para algumas reflexões pobres, outras duvidosas em virtude do epílogo que se manifesta como defesa antecipada dos erros da “esquerda” que está confortável no gabinete da ordem.

Leituras repetitivas de alguns analistas do juízo final, que tem como lógica explicativa uma eterna crise de direção na esquerda, simpáticos profetas que conseguem encontrar malabarismos esquemáticos para explicar que temos uma esquerda frentista, outra radical/esquerdista e no entre luz, o Psol, mesmo sem aprofundar que dentro desse partido também existem essas duas versões.

Ainda temos aqueles que creditam a derrota ao papel impactante e moralmente abjeto do bolsonarismo e suas ações à margem da lei. Surgem outros, em geral arquitetos das redes virtuais que, com odor populista, aventuram-se em afirmar um discurso da janela indiscreta da lógica pequena burguesa de que a esquerda não consegue dialogar com as diversas periferias e favelas, vulgarmente entendidas, por essas entidades da noite reluzente (onde refletem seus notebooks), como algo compacto e universal, sem conseguir entender a enorme diversidade e pluralidade dessa geografia humana do ponto de vista de gênero, político, ideológico, racial, etário e dos desejos de pertencimento desses sujeitos sociais expostos ao massacre da ordem das opressões e da exploração capitalistas.

Ocorrem, também, explicações que já antecipadamente afirmam alguns fatores da derrota. Desde à falta de iniciativas empreendedoras para a juventude pobre; falta de interlocução que possa chegar à periferia – nem que ela seja platônica – e, a cereja do bolo, inexistência de qualquer ação para abrir um diálogo entre a esquerda e o neopetencostalismo. Sem falar, por outro lado, que existem críticas estéreis e inconsequentes à manifestação, em campo aberto da política, dos discursos que afirmam as identidades conflitivas.

Contudo, no varejo das avaliações, existem ainda afirmações oficiais que tentam comprovar a vitória do PT a partir dos números de 2020, recorrendo ao pequeno aumento de prefeitos e vereadores, mas fingindo desconhecer que esse mesmo partido governa a República. Os áulicos que desposam esses argumentos se aproveitam da cansada informação de que, desde 2016 o petismo é atacado pelo lavajatismo, pela mídia corporativa e pela institucionalidade do Estado burguês.

Portanto, nada de novo no front como justificativa para explicar a pequena “vitória”. Nesse mesmo campo, alguns mais embevecidos pela defesa do petismo, qualificam que o bolsonarismo foi derrotado, inclusive porque os partidos de direita, que foram amplamente vitoriosos, fazem parte da coalizam de União Nacional do governo burgo-petista. Mesmo com esse abuso que desqualifica a análise, ainda tem aqueles que, no ambiente do fato consumado, consideram que não se pode fazer nada diante da composição do Congresso que temos e diante disso o PT e Lula foram vitoriosos.

No canto da margem de erro, sem maior capacidade explicativa neste vasto cenário, um conjunto pequeno tenta explicar o processo eleitoral pela lógica da abstenção e do voto nulo. Especulando que essa forma/manifestação política denotaria uma imensa insatisfação das massas populares e que esse “sentimento” pode ser capturado pela esquerda. Essa interpretação do processo eleitoral não apresenta o diverso e amplíssimo campo de motivações para o não comparecimento, que pode inclusive ser marcado desde o feriado prolongado, a outros fatores que justificaria indisposição política ou crítica ao processo, que pode ter conotação ideológica de diversas matizes, inclusive de direita, mas que, por enquanto, não temos como comprovar sem uma profunda investigação.

Pode-se examinar assim que existe um conjunto diverso, confuso, plural e rico de análises. O que por si só já denota a importância do último processo eleitoral e sinaliza, com essas preocupações, para a possibilidade de entender novos caminhos que possam melhorar o posicionamento dos competidores da política no espaço da democracia formal, gerando exames antecipados de trilhas para a intervenção política.

Em uma leitura mais precisa dos números que conformaram perdedores e ganhadores, podemos comprovar que os partidos de direita, vulgarmente chamados de “Centrão”, saíram vitoriosos do processo eleitoral, com forte avanço da extrema-direita de caráter neofascista. Nesse mapa político os partidos que mais elegeram prefeitos no ranking dos maiores competidores, foram: PSD (885), MDB (853), PP (746), União Brasil (583), PL (509), Republicanos (433), PSB (309), PSDB (273), PT (252), PDT (151), Avante (135) e Podemos (122), entre outros. É importante salientar que a esquerda representada pelo PCB, PSOL, PSTU, PCO e UP não elegeu nenhum prefeito e o PC do B elegeu 19.

No vasto território da disputa política no espaço municipal é inadequado dizer que a disputa não é ideológica. Sabemos que esse espaço de confrontação é marcado pelo fisiologismo, pela influência do poder local, pelos imediatos interesses da população, pela subordinação religiosa, mas tudo isso se reveste do componente ideológico.

Foi nesse território de disputa, também ideológica, que foram eleitos os vereadores/as que conformam uma imensa maioria da direita: MDB (8.113), PP (6.953), PSD (6.624), União Brasil (5.490), PL (4.961), Republicanos (4.649), PSB (3.593), PT (3.130), PSDB (3.002), PDT (2.503), Podemos (2.329) e Avante (1.525), entre outros. No campo da esquerda o PCB, PSTU, PCO e UP não elegeram nenhum vereador, já o PC do B elegeu 354 e o PSOL elegeu 80.

As eleições nas capitais apontam uma forte presença da direita e da extrema direita com a vitória do PSD (5), MDB (5), União Brasil (4), PL (4), Podemos (2), PP (2), Avante (1), PSB (1), PT (1) e Republicanos (1). Esse quadro praticamente se repete nas grandes cidades do país. A avaliação consequente desse processo é que Gilberto Kassab, Tarcísio de Freitas, a Igreja Universal do Reino de Deus, Bolsonaro, família Barbalho, cúpula do União Brasil e forças de direita e extrema direita saíram vitoriosas. Assim como podemos identificar que o PT, Lula, PSOL e a esquerda perderam nessa disputa eleitoral.

O mapa eleitoral deve acender a luz da interrogação no governo Lula, no PT e no PSOL, e chamar à reflexão o conjunto da esquerda revolucionária. O consórcio do gabinete da ordem governista composto pelo PT, PC do B, setores majoritários do PSOL, segmentos sociais, organizações populares e centrais sindicais precisam examinar a forma política pela qual o governo que apoiam está se consolidando enquanto um governo de centro, configurado numa coalizão de União Nacional e operado pela lógica indissociável da relação burgo-petista.

O governo Lula tem se submetido com resignação ao controle burguês, sem nenhuma capacidade ou interesse de reagir. A direita representada pelo Centrão tem obtido benesses, a exemplo das emendas parlamentares quase secretas, que em grande medida também impactaram fortemente na vitória da direita e na derrota da esquerda.

Para além dessa infâmia institucional, o governo age para retirar direitos (corte no BPC, no seguro-desemprego), age contra o serviço público e os agentes públicos a partir da reforma administrativa que está em debate, faz cortes orçamentários em áreas essenciais para a vida do povo como saúde, educação básica e superior, desastres ambientais, etc. Sem falar na obstinação do ministro da fazenda em destruir a vida social para operar o déficit zero como forma de subserviência ao “mercado”.

Existe uma crescente frustração com o governo Lula e a condução do PT, fato que só faz fortalecer a direita e a extrema direita, podendo fortalecer ressentimentos políticos que podem operar um deslocamento de segmentos populares para a direita. Lula e o governo e o PT não dialogam com as massas trabalhadoras, Lula e o PT não dialogam com a esquerda, Lula repete a fórmula ultrapassada e derrotada que ele resolverá os problemas localizados do povo sem politização dessas questões.

Enquanto isso, a direita e a extrema direita exercem uma densa e vulgar politização das questões que eles consideram importantes para movimentar as massas populares e deixar ativo seu núcleo de confrontação militante.

O governo Lula, o PT, e sua forma de governar, estão confortavelmente estabelecidos na lógica do controle estabelecido pelo PP, União Brasil, Republicanos, MDB e PSD. Não se percebe nenhum sinal tático que sinalize para mudança de rumo nessa relação. O povo continua sem ser chamado ao centro da luta que poderia mudar a correlação de forças e que terminasse por impactar no Congresso Nacional. O governo burgo-petista age na lógica do Estado como estimulador do mercado e o mercado como gerente do governo.

A frente ampla articulada por Lula e pelo PT tornou o atual governo refém do Centrão e derrotou o campo da social democracia tardia no processo eleitoral deste ano, assim como permitiu a vitória das forças de direita e o avanço da extrema direita. Para além dessa nítida questão, a incapacidade política desse campo (Lula-PT) se somou a uma total ausência de projeto de caráter popular para dialogar com a juventude, massas populares, mulheres e segmentos de “classe média”, abrindo um imenso corredor para o surgimento de lideranças populistas, a exemplo do coach Pablo Marçal, um quadro da extrema direita que teve força para polarizar as eleições em São Paulo e gerar engajamento em outras partes do Brasil.

A esquerda da ordem se apresentou para uma grande disputa nas eleições da capital paulista. Foi articulado um amplo espectro de forças de esquerda para enfrentar o candidato de Jair Bolsonaro e principalmente do Tarcísio de Freitas, o prefeito Ricardo Nunes. Todavia, a campanha de Guilherme Boulos se mostrou incapaz de mostrar um perfil de oposição, foi mais uma campanha ao estilo Lula da Carta aos Brasileiros do que alguém que queria mostrar o contraponto ao sistema de poder na capital paulista. O candidato mostrou-se rendido (o Guilherme Boulos atual derrotou o Guilherme Boulos das lutas históricas), exorbitou da indefinição ideológica, não entrou nas principais pautas que colocavam na berlinda o controle da prefeitura pelos empresários e fugiu em questões gerais, a exemplo da venda da SABESP, aborto, drogas, etc.

Foi uma campanha rica (80 milhões) que apenas conseguiu ser um instrumento dos marqueteiros, com um tom burocrático que não empolgou a militância de esquerda, muito menos a juventude, como em 2020. Optou pela despolitização do discurso, perdeu combatividade e, ao final, apelou para a lógica do empreendedorismo individualista e para o fortalecimento do armamento da Guarda Municipal. Isso explica o quanto a campanha estava sem rumo político e ideológico.

Para coroar o sentido da tragédia, no segundo turno Guilherme Boulos aceitou ser convidado do Pablo Marçal para uma conversa política. O que vimos foi o exercício do bom mocismo do representante da esquerda que não conseguiu confrontar o populista de extrema direita.

É uma lástima o sentido dos “comentários” que surgiram no PSOL sobre a derrota. O próprio candidato disse que a campanha dele representou “a dignidade da esquerda brasileira”, uma corrente interna do partido soltou um card, dizendo: “Parabéns pela força e pela coragem, Boulos!” Apesar do sentido de solidariedade, essa explicação moral não dá conta da derrota e nem deve.

A direita e a extrema direita neofascista conseguiram uma vitória e um avanço expressivo na atual conjuntura política. Essa vitória eleitoral impacta na vida social, alimenta forças conservadoras e reacionárias, ganha espaço popular e fomenta pautas racistas, machistas, LGBTs fóbicas, irracionalistas e xenófobas. E o ovo da serpente entrou em fermentação.

No Brasil atual não existem projetos em disputa. A miséria brasileira é manifestada por um lado pela social-democracia tardia liderando um governo de centro, essa lógica foi explicada pelo ministro Paulo Pimenta ao afirmar que Lula e o governo são de centro e por isso saíram vitoriosos do processo eleitoral.

Um governo composto por uma coalizão burgo-petista, com caráter de União Nacional, quase sem nenhuma conciliação de classes, aja vista que os interesses da classe trabalhadora não encontram representação nas ações do governo e, por outro lado, o movimento em bloco da extrema direita que consegue se apresentar para as massas populares como uma força oposicionista, de caráter antissistêmico (o que é ridículo) e com uma pauta nítida para o exercício da política.

Essa miséria brasileira fica mais evidente no processo eleitoral, porque o sistema de partidos no Brasil, com raras exceções à esquerda, é uma estrutura de negócios (cf. Sofia Manzano). Portanto, essa nova polarização entre direita e extrema direita representa uma particularidade manifestada pela necessidade de liderar a estrutura de negócios.

Cabe, em última análise, a autocrítica e a redefinição da esquerda. Sem ilusões com o campo da ordem que já capitulou diante do projeto burguês, mas com força para retomar o trabalho de base, capacidade para entender a nova configuração da classe trabalhadora e, portanto agir para desvelar, sem lacrações, o sentido da luta contra as opressões da sociabilidade capitalista, avançar na divulgação do seu projeto estratégico, operar esse projeto no balizamento das mediações táticas, construir um denso programa com força para articular a unidade de ação do campo da esquerda socialista, agir com convicção e criatividade no diálogo com as massas proletárias e populares. Afinal, a esquerda tem o que dizer (cf. Mauro Iasi).

 

¨      Breves notas sobre a eleição. Por Diogo Fagundes

A eleição comprovou que 2022, de fato, havia sido uma exceção. Lula só ganhou por ser o Lula e por Jair Bolsonaro ter cometido muitas barbaridades em plena pandemia. No entanto, ao apossar-se do governo, a esquerda não soube fazer muita coisa para melhorar a correlação de forças. Dois anos se passaram e o governo federal não parece ter virado um grande cabo eleitoral. Mesmo que partidos da base “aliada” (ênfase nas aspas), como o PSD kassabista, tenham se fortalecido, isto não teve nada a ver com a reivindicação do governo ou da figura de Lula, ao contrário do passado.

Aquele Lula capaz de transferir muitos votos e eleger até postes, visto entre 2008 e 2012, não existe mais. As eleições possuem dinâmicas locais próprias, mas é cinismo ignorar a correlação com a conjuntura nacional ao mesmo tempo em que se justifica o fracasso de 2016 em São Paulo com o argumento de que o cenário nacional havia inviabilizado Fernando Haddad.

Será que não deveria ser feito um balanço a respeito destes dois últimos anos? Por que a esquerda não conseguiu utilizar a máquina federal como trampolim político, a fim de reverter o cenário reacionário em voga desde 2015? Isto não tem algo a ver com a prioridade de uma agenda que pouco diz respeito às necessidades urgentes das maiorias populares?

O fato é: a correlação de forças institucional piorou. 2026 será um embate mais difícil a partir dos resultados deste outubro.

O balanço duro não deve jogar Guilherme Boulos aos leões. O problema não foi de candidato – havia nome melhor? – mas de linha política.

Guilherme Boulos repetiu o caminho de Marcelo Freixo: apostou numa diluição ideológica quase liquidacionista (no começo da campanha até escondia sua biografia!), perdendo a autenticidade que originalmente havia lhe rendido popularidade.

Trata-se de uma versão ingênua de “realismo”, um senso comum de políticos quando querem ser espertos e “amadurecer”: basta muito marketing, perda de nitidez política, adaptação ao mais do mesmo enfadonho, com direito a muita fofurice e infantilidade. O resultado é que, em vez de ampliar, perde suas qualidades que lhe diferenciavam da pasmaceira. Como Lacan falava: “os não-tolos erram”.

A verdade é que a campanha começou errada, ao se pautar pelo medo e pela passividade, na busca desesperada por diminuir rejeição, em vez da elevação do moral e mobilização de sua tropa – o único jeito de vencer seria através da criação de uma grande onda de mobilização e esperança. Não teve êxito algum na tarefa e agora Guilherme Boulos ficará com estigma de alguém incapaz de ampliar e vencer para cargos majoritários.

Lembremos que Guilherme Boulos ficou rigorosamente na mesma: aumentou em apenas 200 mil votos, o mesmo número de Ricardo Nunes em relação a Bruno Covas. A diferença é que naquela eleição, Guilherme Boulos era um nome desconhecido e azarão, com uma campanha sem dinheiro, estrutura e alianças, enquanto o prefeito era um nome (ou melhor dizendo, um sobrenome) bem melhor e mais respeitável. Então, mesmo perdendo, obteve uma vitória política – algo como Lula em 1989 em escala bem menor e com menos importância histórica.

Desta vez, o prefeito era um grande medíocre e desconhecido, cheio de esqueletos no armário, e Guilherme Boulos teve uma campanha muito cara (mais de 80 milhões), com apoios de nomes fortes (Lula, Marta Suplicy) desde o primeiro turno. Dez vezes mais dinheiro para obter os mesmos resultados é a definição de fracasso.

Para ser honesto, mesmo a ideia de “ficou na mesma” é enganosa, pois em 2020 Guilherme Boulos havia ganhado em todo o fundão da zona sul, além de duas zonas no extremo leste. Desta vez, perdeu em todo lugar da periferia, com duas exceções: Valo Velho e Piraporinha. O “cinturão vermelho” já era.

Vale ainda sublinhar os níveis europeus de descrença no processo eleitoral: as abstenções ganharam de Guilherme Boulos (2,9 milhões contra 2,3 milhões). Se somarmos com brancos e nulos, temos 42% de pessoas que não optaram por qualquer candidato.

Porto Alegre merecia um bom estudo. Como que o prefeito do desastre vivido pela cidade pode ter ganhado com tanta facilidade? Por que o PT escolheu Maria do Rosário, um nome sabidamente com grande rejeição? A capital gaúcha tinha tudo para ter virado algo análogo à Bolonha dominada pelo PCI, ao nos transportarmos para o final do século passado: sede do Fórum Social Mundial, do orçamento participativo, do “modo petista de governar”… Onde foi parar este legado?

Mesmo em capitais onde a esquerda foi vitoriosa (Fortaleza), o resultado foi apertado e há um bom saldo político para figuras desqualificadas da extrema direita. A real é que a direita radical, pós-bolsonarista, passou por um processo de cissiparidade: há uma ala “pragmática” e outra aloprada e psicodélica. Vimos esta disputa no segundo turno em Goiânia e Curitiba, assim como no fenômeno Pablo Marçal contra Tarcísio e Nunes. Longe de indicar fraqueza, esta divisão é sinal de um movimento forte e consolidado o bastante a ponto de poder se dar ao luxo de suas disputas internas passarem a dominar a paisagem política.

Fora isso, o que há de promissor? O cirismo terminou de se afundar, o PCdoB encolheu ainda mais rumo à insignificância, o PSOL também teve um saldo negativo (de cinco prefeituras para nenhuma, com direito a um grande vexame em Belém) e há um vazio de lideranças novas para o pós-Lula. Os nomes que poderiam ocupar esse papel (Guilherme Boulos, Flávio Dino, Manuela d´Avila) foram todos tirados de campo, seja por fracasso eleitoral, ida ao STF ou abandono da carreira política. Com exceção do bom desempenho da jovem e combativa Natália Bonavides em Natal, a renovação é muito ruim, se comparamos com a quantidade de jovens nomes da direita alucinada.

A única coisa que parece bem-sucedida no campo da “frente ampla” governista são nomes que não são propriamente de esquerda: Eduardo Paes, João Campos, o desempenho razoável da estreante Tabata Amaral. Mesmo o principal cabo eleitoral do PT nestas eleições (o ministro cearense Camilo Santana) não é alguém exatamente conhecido por posições de esquerda. Ou seja, pode ser que o legado do lulismo, em uma situação pós-Lula, escorra para figuras de um “campo democrático” mais difuso e com menos identidade histórica e ideológica com a esquerda brasileira. Alguns balanços de figurões petistas – como Quaquá – já parecem apontar uma aposta nesta direção.

 

Fonte: A Terra é Redonda

 

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