Bifo Berardi: ‘Israel e os assassinatos
automáticos’
As guerras do século
XXI são cada vez menos combatidas por seres humanos. Os seres humanos são as
vítimas, mas quem executa o extermínio são máquinas. Máquinas que, por sua vez,
são cada vez menos controladas por seres humanos, pois a tendência implícita
nos sistemas de inteligência artificial, dotados de capacidades de
autoaprendizagem e de deep learning, é liberar esses organismos,
aleatórios e muitas vezes dotados de consciência e sensibilidade, da tarefa de
torturar, mutilar, matar e exterminar, e deixar essa função nas mãos de
sistemas dotados de inteligência.
A palavra
“inteligência” denota a capacidade de realizar uma tarefa, independentemente de
sua utilidade social, licitude ética, etc., e, acima de tudo, independentemente
das emoções. Inteligência sem sensibilidade, inteligência sem consciência: a
máquina inteligente exterminadora é o produto geral do sistema capitalista na
era da automação inteligente. O nazismo do século XX teve que considerar os
limites da inteligência emocional, como mostra Jonathan Little em seu terrível
romance Les bienveillantes (2006; As Benevolentes,
2019). O tecno-nazismo do século XXI, do qual os sionistas são o símbolo e a
vanguarda, emancipa-se desses limites.
O trabalho de matar é
exaustivo, como aprendemos ao ler este romance sobre a fadiga psíquica de um
membro da SS: o organismo humano tem limites físicos e psicológicos dos quais a
máquina inteligente se emancipa. Segundo reportagens do Haaretz e
da CNN, a fadiga psíquica do extermínio está desgastando os nervos dos
exterminadores israelenses: suicídio, transtornos psíquicos pós-traumáticos e
autodesprezo afetam os soldados do exército Israel (as “FDI”). Minha previsão é
que esses transtornos são apenas o início de um colapso psíquico generalizado
da sociedade israelense, que não poderá sobreviver muito tempo após o
Holocausto palestino. O genocídio está provocando um processo de desintegração
mental do Estado sionista. Netanyahu, Ben Gvir e Smotrich armaram Israel contra
si mesmo.
O drone é a figura
dominante nesta nova fase do nazismo: a guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza
são o palco de experimentação dessa nova fase de extermínio, processo que se
desenvolverá plenamente no século XXI. O drone é uma aeronave caracterizada pela
ausência de um piloto humano a bordo. Seu voo é controlado por computadores que
podem ver, ouvir e executar o extermínio. Dos primeiros modelos de grande
porte, que apenas alguns exércitos possuíam, a tecnologia evoluiu para a
construção de modelos muito pequenos, operados em grupo (enxame de drones ),
acessíveis a qualquer um devido ao seu baixo custo.
O genocídio israelense
constitui a primeira aplicação em grande escala dessa automação do extermínio.
Não devemos pensar que se trata de um episódio isolado, nem que, após este
acontecimento excepcional, a guerra retornará aos seus antigos traços desumanamente
humanos. A desumanidade finalmente se emancipou do humano e pode, enfim,
proceder automaticamente. Na competição tecnomilitar, as máquinas de extermínio
estão destinadas a se generalizar. A partir de agora, todos os conflitos
armados, sejam guerras nacionais, religiosas ou civis, recorrerão cada vez mais
às técnicas do extermínio inteligente.
A revista israelense
972 publicou em abril de 2024 o relatório mais aterrorizante de que tenho
lembrança: descreve a estrutura epistêmica e pragmática de um sistema de
inteligência artificial projetado para detectar e atacar alvos hipoteticamente
hostis. Esses alvos podem ser transeuntes inocentes, crianças voltando da
escola, mulheres indo buscar água na fonte. Não importa. O extermínio
automático funciona de forma estocástica e a estocasticidade militar não pode
ser excessivamente sutil. O sistema de extermínio israelense, que leva o
pomposo nome de Lavender, é, como informa o 972:
Uma máquina especial
que pode processar enormes quantidades dados, com o objetivo de gerar alvos
potenciais para realizar ataques militares durante uma guerra. Essa tecnologia
resolve o que pode ser descrito como o gargalo verificado tanto na identificação
de novos alvos quanto na decisão de executá-los.
Os seres humanos
constituem, portanto, um gargalo, um elemento de incerteza e de lentidão. Por
mais impiedosos e fanáticos que sejam, continuam sendo máquinas
indeterministas: a emocionalidade, a incerteza e a fadiga podem limitar sua
competência para matar. É necessário que a máquina inteligente absorva
progressivamente toda a sequência de ações que tornam possível o extermínio:
detecção visual e auditiva, catalogação, seleção, eliminação. E, finalmente,
autocorreção e aperfeiçoamento em busca do objetivo superior: instaurar a ordem
onde os seres humanos representam o caos, eliminando, consequentemente, todo
elemento humano.
O Lavender desempenhou
um papel essencial no bombardeio da população palestina […] sua influência nas
operações do exército israelense foi tão grande que os militares trataram as
informações da máquina dirigida por inteligência artificial como se fossem
decisões humanas […]. O sistema inicialmente identificou 37.000 palestinos como
supostos militantes e considerou suas residências como alvos de bombardeios
aéreos […]. O exército israelense atacou sistematicamente os indivíduos
selecionados pelo Lavender em suas casas, especialmente à noite, quando
famílias inteiras estavam com eles […]. Segundo duas fontes que entrevistamos,
o exército decidiu que, para cada membro do Hamas indicado por Lavender, seria
permitido matar até quinze ou vinte civis […] se o alvo fosse um oficial do
Hamas, seria permitido eliminar até cem civis […].
A solução para o
problema, acrescenta o oficial, é a inteligência artificial. Temos um guia para
construir uma máquina de criação de alvos, baseada em algoritmos de aprendizado
de máquina. Neste guia, há muitos exemplos de características que permitem identificar
uma pessoa como perigosa, como estar em um determinado grupo de WhatsApp,
trocar de celular com frequência ou mudar frequentemente de endereço […].
Na guerra, não há
tempo para discriminar cada um dos alvos, então temos que aceitar uma certa
margem de erro no uso da inteligência artificial; precisamos correr o risco de
provocar danos civis colaterais ou de atacar alguém por engano e temos que
aprender a viver após informados sobre isso. (live with it).
Este oficial, cujas
declarações são registradas pelo 972, conclui dizendo que, após matar centenas
– na verdade, milhares; na verdade, dezenas de milhares – de crianças, mulheres
e inocentes, é preciso aprender a “live with it“. Viver com a
consciência de ser um exterminador. Uma expressão assustadora que, por si só,
nos diz até que ponto chegou a degradação ética e quão profundo é o abismo de
cinismo assassino no qual se afundou toda a população de Israel.
“B” (uma fonte
do 972) nos disse que era normal que essa automatização gerasse um
número maior de alvos a serem atingidos. Se em um dia não houvesse muitos
alvos, devido a critérios de definição insuficientes, tínhamos que reduzir o
limite de definição. Uma vez após a outra, os soldados nos pressionavam
dizendo: “Dê-nos mais alvos”. Na verdade, eles nos diziam isso aos gritos. “Já
terminamos com todos os alvos que vocês nos deram ontem […]”. Lavender e
sistemas similares, como o chamado Where’s Daddy, combinam-se para obter o
efeito de matar famílias inteiras.
Os órgãos oficiais do
exército israelense comentam com satisfação esses
resultados da máquina de guerra inteligente:
O Estado de Israel é
um ator de alta competência tecnológica e utiliza isso como parte de seu leque
de ferramentas diplomáticas para se tornar líder no projeto do sistema
internacional de governança tecnológica. A necessidade de supremacia
tecnológica para Israel deriva das ameaças que enfrenta […].
A eliminação seletiva
e a multiplicação de assassinatos colaterais são o resultado de um
aperfeiçoamento técnico do qual Israel é vanguarda, mas não devemos pensar que
se trata de um fenômeno isolado e pontual. Todo o Ocidente deve se equipar com
uma governança tecnológica guiada pela inteligência artificial exterminadora.
·
Inteligência e
consciência
Gaza nos revelou a
última verdade da história humana: não há saída para a repetição sem fim do
ciclo violência-vingança-violência. Então, por que duvidar? É necessário
esterilizar a inteligência, é necessário dissociar a inteligência da natureza
indeterminista do inconsciente, da emocionalidade. Somente assim podemos
entender a inteligência artificial no contexto de uma competição econômica e
militar generalizada. A guerra é a continuação lógica da economia liberal, e a
guerra requer o uso ilimitado da inteligência. Mas, para poder eliminar os
limites da inteligência, precisamos entender o que Yuval Harari destaca em seu
livro Homo Deus (2016): a dissociação da inteligência da
consciência é a condição para proceder a um uso ilimitado da primeira. A
consciência, se é que essa palavra significa algo, é uma limitação da
inteligência. Refiro-me à consciência ética, que significa uma consciência
sensível, incorporada. O trabalho de matar, que é o trabalho mais importante da
atualidade, o investimento mais importante da economia terminal, torna-se tanto
mais produtivo quanto mais a inteligência (homicida) se emancipa da consciência
(ética).
Desde que o sionismo
transformou a população israelense no coração das trevas do supremacismo
contemporâneo, Israel se tornou a Endlösung-Machine [máquina
da solução final]. Por isso, sabemos que nunca haverá um pós-guerra. Ninguém
mais pode acreditar que haverá paz em algum momento no futuro, pois o
extermínio foi incorporado a uma máquina que se autocorrige, se aperfeiçoa, se
conecta e se expande, uma máquina que ninguém tem a capacidade de desativar. A
emergência da inteligência artificial revela-se como a consequência da
obsolescência humana e simultaneamente como a condição para a subjugação
técnica definitiva dos seres humanos. Esta é a verdade essencial que precisamos
apreener sobre a inteligência artificial na era da guerra total assintótica.
Todo o resto é pura conversa fiada, concebida para fazer perder tempo.
Aviv Kochavi, chefe do
Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, declarou que a metodologia bélica
israelense se inspira na teoria rizomática de Deleuze e Guattari. A
proliferação assimétrica da guerra de micromáquinas é a melhor definição da
ideia de transformar objetos cotidianos, como pagers e walkie-talkies,
em armas de destruição em massa. Somente leitores ingênuos poderiam acreditar
que a metodologia rizomática de Deleuze e Guattari é uma teoria de libertação.
Na verdade, trata-se de algo muito mais complexo e articulado: essa metodologia
primeiro conceitualiza o modelo econômico baseado na distribuição molecular do
controle capitalista. Depois, vem a inscrição molecular da guerra e do terror
em cada fragmento da vida cotidiana e das coisas de uso comum. A vida paranoica
de Israel, um país permanentemente obcecado pelo ódio das populações ao seu
redor e que sempre o será (durante os poucos anos que lhe serão concedidos
sobreviver, antes de se autodestruir), é marcada por essa molecularização do terror.
A guerra de extermínio
é, se me permitem o macabro trocadilho, o killer application da
inteligência artificial. A inteligência artificial pode ter nascido com
intenções puramente científicas, ou puramente econômicas, ou até com ingênuas
intenções humanitárias. Mas seu uso perfeito, específico e final é o
extermínio. Nos últimos anos, ouvimos falar de regulamentação ética da
inteligência artificial, ouvimos falar de alinhar a tecnologia com os “valores”
humanos. São insubstancialidades desprovidas de qualquer sentido. Em primeiro
lugar, o que significam os valores humanos? De que universalidade estamos
falando? Da universalidade do lucro, da concorrência econômica, do crescimento
ilimitado? Ou da universalidade de outra coisa? Quem é o senhor da universalidade
no momento em que toda a humanidade está culturalmente em guerra?
A ideia de alinhar a
inteligência artificial com os valores humanos é exatamente o oposto do que tem
acontecido e está acontecendo no mundo da pesquisa e aplicação desta
tecnologia: nossas faculdades cognitivas se alinharam ao formato digital do
mundo, o que vem ocorrendo nos últimos cinquenta anos, um processo que agora
chegou à etapa final: alinhar a inteligência artificial com o imperativo do
extermínio, que domina o inconsciente e a ferocidade da seleção natural. Em seu
todo, os discursos sobre a ética da inteligência artificial são imbecilidades,
pois se baseiam na eliminação e no esquecimento do uso militar da mesma, que
domina a pesquisa, o financiamento e o uso desta tecnologia: inteligência
movida pela demência, pela psicose, pelo horror.
¨ Comércio árabe-israelense segue forte, mas até quando?
Líderes da Jordânia,
Egito e Emirados Árabes Unidos criticam ações de Israel em Gaza e no Líbano,
mas ainda mantêm normalidade nas relações comerciais. Poderia um agravamento do
conflito mudar o status atual?
Antes de 7 de outubro
de 2023 e do ataque do grupo terrorista Hamas a Israel, o Conselho EAU-Israel postava quase diariamente
nas redes sociais. A entidade, sediada na cidade israelense de Tel Aviv,
afirmava entusiasticamente ao mundo como eram boas as relações comerciais entre
Israel e os Emirados Árabes Unidos, após a
normalização das relações entre os dois países, em 2020, com a assinatura dos
chamados Acordos de Abraão.
Isso, porém, mudou há
pouco mais de um ano. A última postagem do Conselho foi em 8 de outubro. Desde
então, nada mais foi publicado. A entidade não respondeu às perguntas da DW
sobre o motivo de não mais celebrar os laços comerciais EAU-Israel, apesar de
que, após um ano de conflito, os negócios entre os dois países permanecerem
comparativamente robustos.
Líderes de nações que
mantêm laços comerciais com Israel, incluindo Emirados Árabes Unidos, Jordânia
e Egito, criticaram a forma como o governo israelense conduz suas campanhas
militares na Faixa de Gaza e,
mais recentemente, no Líbano.
Desde o início
da ofensiva israelense em Gaza em
outubro passado, em resposta aos ataques terroristas do do Hamas, mais de
42.000 pessoas foram mortas no enclave palestino, incluindo mais de 3.400
crianças, segundo dados no Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo
próprio Hamas.
No Líbano, após Israel
dar inicio a uma campanha militar contra
o grupo xiita Hezbollah, no mês passado, mais de 1.300 pessoas perderam suas vidas.
Como resultado, a
retórica dos líderes árabes contra Israel se torna cada vez mais contundente.
O ministro do Exterior
da Jordânia, Ayman Safadi, comentou os eventos recentes no norte de Gaza
durante uma reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, esta
semana. "Vemos limpeza étnica acontecendo, e isso tem que acabar", afirmou.
Em uma reunião
do Conselho de Segurança da ONU em
meados de outubro, o ministro do Exterior do Egito, Badr Abdelatty, disse que
as ações israelenses causaram "uma catástrofe humanitária sem
precedentes" em Gaza.
Políticos dos Emirados
Árabes Unidos reiteram regularmente que apenas a criação de um Estado palestino
poderá pôr fim ao conflito atual e garantir uma paz duradoura no Oriente Médio.
·
Laços comerciais ainda fortes
Apesar das críticas,
os laços comerciais entre e Israel e essas nações não parecem ter sido
abalados.
De todos os países da
região, os Emirados Árabes Unidos são os que realizam mais negócios com Israel,
seguidos da Jordânia, Egito, Argélia, Marrocos e Bahrein – segundo o valor do
comércio bilateral entre Israel e cada um desses países em 2022.
De acordo com
estatísticas mensais sobre o comércio exterior de agosto de 2024, coletadas
pelo Escritório Central de Estatísticas israelense, a quantidade de comércio –
exportações e importações – que esses países realizam com Israel permaneceu
majoritariamente positiva este ano.
No caso da Jordânia, o
comércio em agosto deste ano foi quase o mesmo do ano passado, diminuindo
apenas cerca de 1%. Ao mesmo tempo, no Egito, os negócios com Israel em agosto
cresceram mais de 30%. O comércio com o Marrocos e o Bahrein, também signatários
dos Acordos de Abraão, também aumentou significativamente este ano, apesar
das ameaças feitas anteriormente pelo governo bareinita de romper os laços
comerciais.
Em 2023, o comércio
total entre Emirados Árabes Unidos e Israel foi estimado em cerca de 2,9
bilhões de dólares (R$ 16,5 bilhões) e a expectativa é que o valor aumente este
ano. Nos primeiros sete meses de 2024, on negócios entre os dois países já
totalizaram 1,922 bilhão de dólares. Mantendo essa tendência, o comércio total
pode chegar a 3,3 bilhões de dólares até o final do ano.
Assinatura dos acordos
de Abraão em 2020, com premiê de Israel e Ministro do Exterior do EAU e o então
presidente dos EUA, Donald TrumpFoto: SAUL LOEB/AFP
Contudo, segundo
especialistas, isso é algo difícil de prever. Embora os laços comerciais tenham
se mantido, a taxa de crescimento desencadeada pelos Acordos de Abraão
certamente diminuiu. Houve ainda outros impactos, como a queda no turismo e a
interrupção da logística, como os ataques dos rebeldes houthis no Iêmen às
rotas da navegação comercial no Mar Vermelho.
Ainda assim, segundo
empresários israelenses e emiradenses, a maioria das mudanças nas relações
comerciais foi superficial, não levando em conta os setores diretamente
impactados pelo conflito. Acordos ainda estão sendo feitos, afirmaram
empresários israelenses e árabes a jornalistas, ainda que em menor quantidade,
embora ninguém queira discuti-los abertamente.
"Em alguns casos,
os negócios até se expandiram", afirmou Dina Esfandiary, consultora sênior
para o Oriente Médio do think tank Crisis Group, à DW.
·
Acordos de Abraão em xeque
Ela, no entanto,
observou que, quando se trata de países como os Emirados Árabes Unidos, é
importante olhar mais de perto. "Há, de um lado, os negócios entre
empresas estatais israelenses e emiradenses, que é a maior parte do que está
acontecendo, e de outro, negócios entre as empresas do setor privado dos dois
países", explicou Esfandiary. "Isso quase parou porque o setor
privado ficou muito apreensivo em continuar qualquer acordo comercial com
Israel."
A consultoria menciona
casos de emiradenses ricos que antes estavam entusiasmados em trabalhar com os
israelenses, mas que, desde então, abandonaram completamente a ideia.
"Para eles, é uma questão de reputação", observou. "Ao mesmo
tempo, as empresas estatais não têm preocupações tão grandes com a
reputação."
Alguns emiradenses
proeminentes que antes apoiavam os Acordos de Abraão não o fazem mais, ela
disse. O vice-diretor da polícia de Dubai, Dhahi Khalfan Tamim, disse
recentemente a seus 3,1 milhões de seguidores na rede social X que "os
árabes realmente queriam paz, mas os líderes de Israel não merecem
respeito."
"Os empresários
árabes estão usando cálculos diferentes para pesar os riscos e as recompensas
associadas ao envolvimento comercial com Israel", confirmou Robert
Mogielnicki, um acadêmico sênior do Instituto dos Estados do Golfo Árabe, em
Washington. "Os laços econômicos e comerciais podem permanecer bastante
tensos em meio a tensões diplomáticas e outras crises regionais", afirmou.
·
Agravamento da crise pode afetar relações?
Em um dado momento, os
Emirados Árabes Unidos podem vir a ver a redução dos laços comerciais como uma
forma de pressionar Israel, já em crescentes dificuldades econômicas devido ao
conflito, a avançar em direção a um cessar-fogo, argumentou Esfandiary.
"No entanto, é
improvável que os países que assinaram os Acordos de Abraão mudem completamente
seus planos", afirmou. "Quando se lida com as autoridades dos
Emirados, elas frequentemente destacam que seu relacionamento com Israel é o
que permitiu a EAU enviar muito mais ajuda para Gaza do que qualquer outro
país."
Mas, na se trata
apenas disso. "Eles também não querem reverter o relacionamento porque têm
a ganhar com isso", explicou.
"Os laços
econômicos podem servir como uma alavanca [...] para incentivar a tomada de
decisões israelenses no futuro", observou Mogielnicki. "Mas, acho
que, por enquanto, a probabilidade de os governos árabes tomarem medidas
diretas para romper todos os vínculos econômicos existentes com Israel é
pequena."
Khaled Elgindy,
pesquisador sênior do Middle East Institute e diretor do programa do think
tank sediado em Washington sobre assuntos israelenses-palestinos,
compartilha dessa avaliação. "Estou cético sobre isso [romper os laços
comerciais] porque já se passou mais de um ano. A retórica é muito mais forte,
mas acho que se eles fossem fazer isso, já teriam feito", afirmou à DW.
Ele acredita que,
mesmo após o fim das ofensivas israelenses, "será socialmente inaceitável
que as pessoas simplesmente voltem aos negócios como sempre". "Acho
que as atrocidades do ano passado afetaram profundamente a opinião pública. Israel
causou danos massivos e irreparáveis à sua imagem no mundo árabe", completou.
Fonte: Outras
Palavras/DW Brasil
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