País está atento à influência de big techs
de comunicação, diz ministro
O ministro das
Comunicações, Juscelino Filho, ao ser questionado sobre a influência de grandes
empresas estrangeiras no setor de comunicações, afirmou nesta terça-feira (8)
que o governo brasileiro está sempre atento para garantir a soberania nacional.
"O Brasil sempre
está atento a tudo para garantir a sua soberania nacionalmente e vamos sempre
estar garantindo a nossa soberania nacional e estar atuando e exercendo o papel
que o governo tem de exercer", disse à Sputnik Brasil.
Segundo ele, o país se
posiciona como um grande hub mundial de data centers devido à sua capacidade de
gerar energia limpa e abundância de água, elementos essenciais para esse tipo
de infraestrutura.
"Temos tudo para
expandir nossa participação no cenário global de armazenamento de dados,
descentralizando esses hubs e aproveitando a geração de energia limpa,
especialmente no Nordeste."
Durante a abertura do
Futurecom 2024, um dos maiores eventos na área de conectividade da América
Latina, realizado em São Paulo de hoje (8) até a próxima quinta-feira (10), ele
ressaltou que o Brasil tem se tornado referência mundial em ambiente
regulatório.
"O avanço
tecnológico é sempre uma prioridade, mas nossa prioridade imediata é concluir a
implantação do 5G, para que esteja disponível o mais rápido possível para toda
a população", afirmou à imprensa.
Juscelino Filho também
mencionou o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST),
dizendo que a gestão tem mais de R$ 600 milhões contratados para construção de
novas redes de infraestrutura.
Segundo ele, um novo
edital de renúncia fiscal poderá beneficiar até 15 mil escolas e há um saldo
que poderá ser utilizado em futuras fases.
O ministro afirmou que
o governo federal visa ampliar a infraestrutura de telecomunicações em todo o
país.
"Serão mais de 4
mil quilômetros de fibra ótica e 205 novas antenas de telefonia móvel,
alcançando cerca de 366 mil lares brasileiros."
Ele ressaltou a
importância do programa Norte Conectado, que busca expandir redes de alta
capacidade na região. "Em 2024 lançaremos a Infovia 02, conectando outras
três infovias a países como Peru e Colômbia."
• Quantas pessoas sem acesso à Internet
tem o Brasil em 2024?
Segundo o ministro das
Comunicações, Juscelino Filho, o Brasil ainda tem mais de 10 milhões de
cidadãos sem conectividade.
Ele destaca que há
investimentos previstos pelo governo federal no Novo Programa de Aceleração do
Crescimento (Novo PAC) com foco na inclusão digital.
"O presidente
Lula incluiu um eixo inédito no PAC, que prevê mais de R$ 8 bilhões até 2026
para garantir que todos os brasileiros tenham acesso à tecnologia."
Juscelino também
comentou a atuação do Brasil no G20, liderando discussões sobre economia
digital e segurança da informação. "Estamos comprometidos em construir um
Brasil mais conectado, inclusivo e próspero para todos."
Um dos convidados para
a abertura, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), defendeu o impacto da
tecnologia na gestão municipal, mencionando o esforço da cidade para garantir
acesso à Internet em todas as áreas.
"Quando
distribuímos 506 mil tablets para estudantes, descobrimos que muitos viviam em
regiões sem cobertura de Internet. Trabalhamos com o setor de telecomunicações
e instalamos 216 antenas para resolver isso", relatou.
Ele também citou a
importância dos semáforos inteligentes, controlados por inteligência
artificial, que melhoram o fluxo de veículos na cidade. "Essa tecnologia
pode reduzir em até 20% os congestionamentos em São Paulo."
O vice-governador de
São Paulo, Felicio Ramuth (PSD), declarou no evento que "a inovação avança
mais rápido que as leis, e nós, gestores públicos, só podemos agir dentro da
legalidade".
"Por isso
precisamos trabalhar em conjunto, com governos e iniciativa privada, para
modernizar as legislações e aplicar essas evoluções tecnológicas no dia a dia
da população."
• Volta do X: as pressões de mercado que
fizeram Musk acatar decisões de Moraes
O X (antigo Twitter)
voltou a funcionar no Brasil depois que a rede social do bilionário Elon Musk
cumpriu as determinações do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em decisão, o ministro
Alexandre de Moraes autorizou nesta terça-feira (8/10) a volta do funcionamento
da rede social X no país, após a empresa formalizar sua reabertura no Brasil e
cumprir decisões que vinham sendo desrespeitadas, como bloqueio de contas e
pagamento de multas.
O magistrado havia
determinado a suspensão da rede social no país em 31 de agosto. A decisão veio
após o esgotamento do prazo dado pelo STF para que a empresa comandada pelo
bilionário sul-africano indicasse um novo representante legal no Brasil.
Moraes já havia
determinado o bloqueio de contas na rede social acusadas de divulgar mensagens
criminosas ou antidemocráticas e, posteriormente, o pagamento de multas
aplicadas por manter essas contas no ar.
O X afirmou
inicialmente que não seguiria as determinações, mas posteriormente voltou
atrás. Os advogados que representam a plataforma no Brasil confirmaram na
quinta-feira (19/9) que todas as decisões seriam cumpridas, com a indicação da
advogada Rachel de Oliveira Villa Nova como representante legal e o bloqueio
dos perfis indicados.
Antes de autorizar o
fim do bloqueio da rede social, Moraes pediu ainda uma comprovação da
regularidade e da validade da representação.
Ele também determinou
que diversos órgãos, como a Receita Federal, o Banco Central, a Polícia
Federal, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e a própria Secretaria
Judiciária do STF, prestassem esclarecimentos e compartilhassem informações
sobre o funcionamento do X no país, o pagamento das multas e o acesso dos
usuários bloqueados.
<><>
Pressão econômica
Após a confirmação da
intenção de cumprir as decisões, especialistas apontaram que a mudança de
posição do X foi provavelmente mais uma resposta à pressão de investidores,
acionistas e anunciantes associados às empresas de Musk do que uma concessão
política.
"A decisão me
parece muito mais econômica do que uma concessão política", disse Roberto
Kanter, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e especialista em
empreendedorismo.
O economista
identificou uma "prepotência corporativa" que pode ter levado a
plataforma a supervalorizar sua posição no Brasil quando, na realidade, as
empresas de Musk tinham muito a perder no mercado local.
Kanter destacou a
Starlink, companhia de internet via satélite que também faz parte do portfólio
do bilionário sul-africano. "A grande aposta econômica do holding é a
Starlink, que foi afetada por todas as questões do X no Brasil", afirmou.
O fogo cruzado entre
Musk e o STF respingou no outro negócio do bilionário sul-africano depois que a
Starlink teve suas contas bancárias bloqueadas no Brasil para garantir o
pagamento das multas direcionadas ao X pelo descumprimento das decisões
judiciais.
Os fundos foram
liberados após a quitação, mas a empresa de satélites também foi colocada sob
pressão após o surgimento de rumores sobre o seu bloqueio no país por não
cumprir as ordens de Moraes para impedir que seus clientes pudessem acessar o X
a partir das suas conexões via satélite.
A Starlink acabou
cumprindo as decisões judiciais, mas o mero receio de que a companhia pudesse
ser tirada do ar no Brasil deixou clientes e especialistas preocupados.
A empresa também foi
afetada por uma nova multa emitida por Moraes, de R$ 5 milhões por dia, por
conta do descumprimento temporário do bloqueio ao X após uma mudança de
servidores.126
Em pouco mais de dois
anos de operação, a Starlink se transformou em líder em um segmento pequeno,
mas estratégico no setor de telecomunicações do país: o de internet via
satélite.
Neste período, a
empresa passou a ser fornecedora de importantes órgãos públicos do governo
federal como o Exército, a Marinha, os ministérios da Saúde e Educação além da
gigante Petrobras.
"A Starlink
oferece um serviço totalmente diferente do X, altamente tecnológico, e foi
arrastada para tudo isso com o bloqueio dos seus bens”, disse Bruna Santos, da
Digital Action, uma organização global que advoga por melhores padrões digitais
dos governos e das Big Tech.
Segundo a
especialista, Musk arrastou suas empresas para uma disputa de sua esfera
pessoal, o que provavelmente desagradou seus acionistas.
Advogados de fundos de
investimento que têm negócios com o magnata afirmaram ao jornal Correio
Braziliense sob condição de anonimato que o descumprimento das decisões
judiciais pelo X abriu as portas para uma retração nos investimentos e
afastamento de novos interessados, gerando desconforto e pressão para uma
mudança de posição.
Ainda de acordo com
uma das fontes, o bloqueio da rede social no Brasil e a instabilidade em torno
da continuidade dos serviços da Starlink reforçou a posição de competidores das
empresas de Musk no país.
A rede social Bluesky,
que tem funções semelhantes à plataforma do bilionário sul-africano, ganhou 2
milhões de novos usuários no país nos três primeiros dias após o X parar de
funcionar. Muitos usuários também relataram ter migrado para o Threads, outro
aplicativo concorrente de propriedade da Meta.
E segundo reportagem
do jornal Financial Times, o êxodo de usuários para outras redes tem sido
observado também em outros países.
No Reino Unido, onde o
fenômeno é mais aparente segundo o veículo, dados da empresa especializada em
análise de tráfego na web Similarweb mostram que o número de usuários do X caiu
de 8 milhões para apenas cerca de 5,6 milhões em um ano.
A maior parte dessa
saída se deu durante a onda de violência anti-imigração e racista que tomou
algumas cidades do Reino Unido no início de agosto, diz o FT. Nesse período,
Musk fez postagens sobre o tema que geraram polêmica - uma, em especial, dizia
que uma guerra civil no país era “inevitável”.
Bruna Santos lembrou
ainda que as disputas de Musk com a Justiça no Brasil e em outras nações, assim
como a associação de suas marcas com conteúdos extremistas, têm levado a outro
êxodo: o de anunciantes.
"A plataforma
depende em algum nível de investidores, mas também de sua imagem pública",
afirma.
Musk comprou o Twitter
em 2022 por US$ 44 bilhões. Segundo a revista Forbes, ele possui cerca de 74%
da empresa, agora chamada X.
Mas uma pesquisa
publicada no início de setembro pela empresa dados Kantar, com base em
entrevistas feitas com 18.000 consumidores e 1.000 profissionais de marketing
ao redor do mundo, indicou que 26% dos profissionais da área estão planejando
cortar gastos com anúncios no X em 2025.
Ao mesmo tempo, a
situação de Musk no Brasil tomou novas proporções com a autorização para o
funcionamento da E-Space pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A
empresa compete com a Starlink no mercado de internet via satélite.
O direito de
exploração foi concedido pelo prazo de cinco anos. A E-Space apresentou como
plano um sistema que pode ter até 8.640 satélites, ainda que esse número seja
apenas teórico, e tem dois anos para iniciar as operações no país.
<><> As
empresas de Musk no Brasil
Antes do bloqueio, o
Brasil tinha cerca de 22 milhões de usuários no X - ou algo em torno de 4% do
total de usuários da plataforma em todo o mundo.
O Brasil está entre os
países com mais usuários da rede social, mas fica bem atrás dos primeiros
colocados da lista. Estima-se que os Estados Unidos tenham algo em torno de 106
milhões de usuários, enquanto o Japão chega a mais de 70 milhões.
Ainda assim,
especialistas da área veem o Brasil como um mercado promissor em termos de
exploração de redes sociais.
O país é o terceiro
que mais usa redes sociais no mundo, atrás apenas da Índia e da Indonésia,
segundo um levantamento da Comscore.
Outra pesquisa
realizada pela Adyen, companhia de tecnologia de pagamentos para grandes
empresas, mostrou que as redes sociais são utilizadas por 65% dos brasileiros
na hora de fazer compras online.
E o Twitter já foi uma
das plataformas preferidas de investimento por parte do mercado publicitário
nacional. Segundo uma reportagem da revista Forbes Brasil, em 2021, a rede
chegou a ter no Brasil sua quarta principal operação.
De acordo com Denise
Porto Hruby, CEO do IAB Brasil, entidade que trabalha para o desenvolvimento da
publicidade digital, o Twitter trouxe cenários bem inovadores a partir do seu
lançamento no país, em 2008.
“O Twitter ampliou as
possibilidades e criou ambientes de conversas entre pessoas e marcas, de senso
de comunidade e deu espaço para um ambiente mais solto, além de uma visão
pioneira de continuidade e ampliação das mensagens quando integradas aos outros
meios”, disse em posicionamento enviado à BBC Brasil.
Mas para o economista
Roberto Kanter, da FGV, o X no Brasil tem mais valor do ponto de vista
simbólico para os negócios de Musk do que no âmbito econômico.
“O volume de usuários
ativos do X no Brasil nem se compara a de outras redes mais populares, como
Instagram e WhatsApp”, disse. “Mas como ela é uma mídia muito utilizados pelos
influenciadores e formadores de opinião, ela passa a ter um peso símbólico que
por vezes é maior do que o econômico.
Segundo Kanter, isso
certamente também teve influência sobre a decisão da rede social de voltar
atrás e mudar sua postura sobre o cumprimento das decisões judiciais.
Já a atuação da
Starlink no Brasil tem enorme peso econômico para a empresa.
Dados da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que a companhia tem uma
participação modesta no mercado brasileiro de acesso à internet, com um número
de assinantes que representa apenas 0,5% de todos os 49,7 milhões de conexões
no país.
Mas a Starlink é líder
no segmento de internet via satélite, no qual teve uma ascensão meteórica.
Em janeiro de 2023,
segundo a Anatel, a Starlink era a quinta principal provedora do mercado e
responsável por 4,7% da internet via satélite no país. Um ano e sete meses
depois, em julho deste ano, a empresa já havia assumido a liderança do mercado
com 45,9% de participação no mercado.
O sucesso da
companhia, apontam especialistas, é justamente o fato de que sua tecnologia se
mostrou acessível, eficiente e relativamente barata em áreas consideradas
remotas e onde a fibra ótica ainda não chegou, como em algumas regiões da
Amazônia, ou em áreas onde esse tipo de conexão é impossível como em alto mar.
O setor de internet
via satélite também tem boas perspectivas de crescimento em todo o mundo, com
expectativas de que deverá crescer a uma taxa de crescimento anual composta de
33,7% de 2023 a 2028, de acordo com um relatório de janeiro deste ano.
Um levantamento feito
pela BBC News Brasil com base no Portal da Transparência e no Diário Oficial da
União (DOU) apontou ainda que a Starlink se transformou em uma importante
fornecedora de internet via satélite para diversos órgãos públicos e estatais.
Os contratos não foram
firmados diretamente com a empresa de Musk, mas com operadoras credenciadas
pela Starlink para atuarem no Brasil.
O contrato de uma
dessas operadoras com a Petrobras é, de longe, o mais vultoso identificado até
agora.
Segundo documentos
obtidos pela BBC News Brasil, em agosto de 2023, a Petrobras firmou um contrato
de US$ 24 milhões com a empresa MTNSAT para que ela fornecesse o serviço de
internet via satélite oferecido pela Starlink.
O valor é equivalente
a R$134 milhões.
Documentos elaborados
pelo Exército e pela Marinha apontam ainda uma certa dependência do Brasil em
relação à Starlink.
Em pareceres
elaborados pelas duas Forças em resposta a um requerimento de informação feito
pelo deputado federal Coronel Meira (PL-PE), em junho deste ano, o Exército
disse que o serviço prestado pela Starlink é considerado estratégico por
fornecer internet de qualidade em regiões remotas. Segundo o órgão, uma
eventual suspensão das atividades poderia causar problemas às tropas.
“O Brasil é uma
potência agrícola que tem vários bolsões que necessitam de conexão à internet.
E o serviço oferecido pela Starlink é uma maneira muito prática de se conectar,
com um custo bom”, avalia Kanter.
“Não faria sentido do
ponto de vista econômico o dono da empresa continuar a bater de frente com o
governo brasileiro.”
Fonte: Sputnik
Brasil/BBC News Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário