terça-feira, 8 de outubro de 2024

Alver Metalli: ‘Terceira Guerra Mundial. E se fossem os europeus a emigrar em busca de segurança?’

Um conhecido de Nápoles me escreveu perguntando se na Argentina se vive bem e se a vida é barata, pelo menos para um europeu que tem euros. Naturalmente, isso me fez pensar nas razões que ele poderia ter para estar interessado, e é o que vou explicar mais adiante. Outro amigo de Roma me perguntou pessoalmente, como quem não quer nada e num tom divertido, se na Argentina há bons lugares para iniciar um negócio. Ambos estavam brincando, mas isso não é o que importa.

Na Bélgica, um país para onde muitos italianos foram trabalhar depois da Segunda Guerra Mundial, o Papa Francisco disse: "Estamos perto de uma guerra quase mundial". Há cinco anos ele falava de uma guerra mundial "em pedaços", mas agora se tornou "quase mundial".

Nos tempos não tão distantes do Covid-19, houve pessoas – na Europa e nos Estados Unidos – que abandonaram as grandes cidades e foram morar em locais mais afastados. Dessa forma, pensavam escapar do flagelo do vírus, que era especialmente virulento em lugares onde sua concentração era maior. Alguns tinham uma casa no campo e a usaram para morar, outros compraram uma e a adaptaram, e outros se mudaram para vilarejos pequenos ou enviaram suas famílias para lá. Até houve pessoas que compraram propriedades para viver e levaram o que precisavam para continuar seus negócios.

A Covid-19 acabou – pelo menos por enquanto e da forma como a conhecemos – e alguns dos que haviam se distanciado do vírus voltaram para suas cidades de origem, mas mantiveram um pé nas áreas periféricas, pois nunca se sabe o que pode acontecer no futuro. Para eles, é relativamente fácil e barato se deslocar de um lugar para outro, já que as distâncias na Itália são curtas em comparação com as da América do Sul. O objetivo era atravessar uma pandemia que, mais cedo ou mais tarde, iria diminuir, mas cujo principal epicentro eram as grandes concentrações humanas.

Mas se a guerra que os europeus presenciam em seu continente se tornar global e nuclear, deslocar-se algumas dezenas ou centenas de quilômetros já não será suficiente. Mudar-se de Barcelona para Salamanca ou de Milão para Bari não basta para evitar as partículas radioativas ou as bactérias dispersas na atmosfera. A segurança –mesmo que relativa – só pode ser encontrada em outro continente. E que outro continente é mais familiar a um espanhol, italiano ou libanês do que a América Latina? E, na América Latina, Argentina ou Uruguai?

Nova emigração europeia para a América?

Na última vez que estive na Itália, apresentei essas observações a um grupo de amigos com quem estava jantando. Também mencionei a possibilidade, e não é ficção científica, de que uma nova emigração europeia para a América do Sul possa ocorrer. Uma emigração diferente da do passado, desta vez composta por pessoas ricas, ou pelo menos com boa situação financeira, porque mudar-se de um continente para outro requer dinheiro. A segurança, agora, é cara e há quem esteja disposto a pagar por ela. A reação da mesa de compatriotas diante do ousado raciocínio foi de surpresa no início, e depois começaram os comentários divertidos, mas não o suficiente para impedir que voltassem pensativos para casa.

Os argentinos a quem ensino em um bairro pobre da capital, Buenos Aires, ouviram esse mesmo raciocínio com muita atenção. Alguns eram filhos ou descendentes de imigrantes – italianos, espanhóis ou árabes – e têm uma ideia do que significa emigrar. Fizeram perguntas, todas orientadas a compreender a verossimilhança do que estavam ouvindo. Depois, também houve piadas, como "estamos esperando por eles", "que venham, serão bem recebidos", "precisamos de euros", "alugo meu rancho para eles". Mas era evidente que o assunto não lhes parecia totalmente improvável.


Eles mentem. Eles trapaceiam. Eles roubam. Eles bombardeiam. E inventam narrativas falsas. Por Pepe Escobar

Seria possível afirmar que a Noite da Retaliação Balística conduzida pelo Irã, uma resposta comedida às provocações em série perpetradas por Israel, tem menos peso, em termos da eficácia do Eixo de Resistência, que a decapitação da liderança do Hezbollah.

Mesmo assim, a mensagem bastou para deixar enlouquecidos os psicopatas talmúdicos. Apesar de todas as suas negações histéricas e sua saraivada de versões mentirosas, O Domo de Papel Higiênico e o sistema Arrow  foram, de fato, inúteis. 

A Guarda Revolucionária Iraniana comunicou que a chuva de mísseis foi inaugurada por um único Fatteh 2 hipersônico, que burlou o sistema de radar de defesa aérea Arrow 3 – capaz de interceptar mísseis na atmosfera. 

E fontes militares iranianas bem-informadas afirmaram que hackers lançaram um ciberataque pesado para desorganizar o sistema Iron Dome logo antes do início da operação.

A Guarda Revolucionária Iraniana, por fim, confirmou que apenas cerca de 90% dos alvos foram atingidos, implicando que cada alvo deveria ser visitado por diversos mísseis, alguns deles sendo interceptados.  

Quantos F-35s e F-15s nas duas bases aéreas acabaram sendo destruídos ou danificados ainda é uma questão aberta à especulação. Uma dessas bases, Nevatim, no Negev, se tornou literalmente inoperável. 

A entente militar Irã-Rússia  – parte de sua parceria estratégica ampla a ser assinada em breve  – estava em funcionamento. A Guarda Revolucionária Iraniana usou o jammer eletromagnético recentemente fornecido pela Rússia para cegar os sistemas GPS de Israel/OTAN – inclusive os dos aviões dos Estados Unidos. O que explica o fato de o Iron Dome ser atingido a longa distância no vazio dos céus noturnos.

<><> Pintando a retaliação do Irã como casus belli

Nada disso alterou substancialmente a equação dissuasiva. Israel continua a bombardear o sul do Líbano. O padrão permanece o mesmo: sempre que atacados, os genocidas urram de dor ou se lamuriam como um bebê chorão, embora sua máquina assassina  continue a funcionar – tendo civis desarmados como alvos preferenciais. 

O bombardeio não para nunca – e nem irá parar, da Palestina ao Líbano e à Síria, por todo o Oeste Asiático, e levando à “resposta” da Noite Balística do Irã. 

O Irã está em uma posição geopolítica e militar extremamente dura – para não falar da situação geoeconômica, ainda submetida a um tsunami de sanções. É óbvio que as lideranças de Teerã têm plena consciência da cilada sendo montada pelo combo talmúdico-americano-sionista – que quer  atrair o Irã para uma guerra de grandes proporções.  

Jake Sullivan, um dos integrantes mais fervorosos do combo que de fato dita a política dos Estados Unidos (em nome de seus patrocinadores), levando em conta a condição patética do zumbi da Casa Branca, deixou tudo bem claro:  

“Deixamos claro que haverá consequências – graves consequências – para esse ataque, e trabalharemos conjuntamente com Israel para garantir que isso aconteça”. 

Tradução: A Noite da Retaliação está sendo pintada como um casus belli. Os Estados Unidos e Israel  já estão culpando o Irã pela Mega-Guerra que possivelmente ocorrerá no Oeste Asiático. 

Essa guerra é o Santo dos Santos desde, pelo menos, os tempos do regime Cheney – duas décadas atrás. Entretanto Teerã, se assim o decidir, já tem todo o necessário para transformar Israel em terra arrasada. Eles não o farão porque o preço a ser pago seria  insuportável.

Mesmo que os psicopatas talmúdicos e os sio-cons, afinal, consigam realizar seu desejo, possibilidade essa muito remota, esta guerra atual, após uma campanha de bombardeios devastadores, só poderá ser ganha com o apoio maciço de tropas americanas no terreno. Seja qual for a narrativa que rola no pântano da mídia da Terra dos Thinktanks controlada pelos sio-cons, isso não vai acontecer.

Mesmo assim, a Marcha da Loucura prossegue ininterrupta: o Projeto Sionista, o abraço da morte Estados Unidos/Israel contra o Irã. Mas com um diferencial poderoso: o apoio da Rússia e, um pouco mais distante, da China. Esses três países são a tríade máxima dos BRICS. Eles são a vanguarda da tentativa de construir um mundo novo, justo e multinodal. E não é por acidente que eles são as principais “ameaças” existenciais ao Império do Caos, das Mentiras e da Pilhagem.

Agora que o Projeto Ucrânia escorre pelo ralo da História e enterra de uma vez por todas a “ordem mundial baseada em regras” no solo negro da Novorossiya, a verdadeira grande frente da  Guerra Única, a nova encarnação das Guerras Eternas, é o Irã. 

Paralelamente, Moscou e Pequim têm plena consciência de que quanto mais o Excepcionalistão se atolar no Oeste Asiático, mais espaço de manobra eles terão para acelerar o esgotamento do cambaleante Leviatã. 

<><> Gaza-sobre-o-Litani

O Hezbollah tem pela frente um tempo de graves dificuldades. Os recursos – especialmente o fornecimento de armas e material militar através da Síria e por via aérea do Irã para o Líbano – tornar-se-ão cada vez mais escassos. Compare-se a isso a ilimitada cadeia de fornecimento que abastece Israel vinda do Excepcionalistão – para não falar das toneladas de dinheiro vivo.

De precário os serviços de inteligência de Israel não têm nada  – basta ver como seus comandos penetraram fundo, clandestinamente, em território dominado pelo Hezbollah, coletando informações sobre a rede de fortificações. Quando – na verdade, se – eles chegarem em áreas povoadas do Sul do Líbano, então haverá loucos bombardeios somados a artilharia pesada contra áreas residenciais.  

Essa operação poderia ser chamada de Gaza-sobre-o-Litani, o rio que corta o Sul do Líbano. Ela só ocorrerá se a complexa rede do Hezbollah naquela região for desmantelada – um grande “se”.  

Jeffrey Sachs, com todas as suas boas intenções, foi o mais longe que pôde na caracterização dos israelenses como terroristas extremistas defensores da supremacia judaica.  Hoje, praticamente toda a Maioria Global tem consciência desse fato.

O próximo passo no planejamento sio-con-talmúdico talvez inclua uma terrível falsa bandeira, possivelmente após a eleição presidencial dos Estados Unidos. Um exemplo seria o ataque a um navio da OTAN ou a tropas dos Estados Unidos no Golfo Pérsico, para atrelar o novo governo à longamente planejada guerra contra o Irã.  Dick Cheney terá um orgasmo – e baterá as botas.

Faltam apenas três semanas para a cúpula dos BRICS em Kazan sob a presidência russa. Em um nítido contraste com as guerras genocidas em série no Oeste Asiático,  Putin e Xi  estarão postados à porta – aberta – em nome dos BRICS+, dando as boas-vindas às dezenas de nações que fogem do Ocidente Coletivo como se foge da peste. 

A Rússia, agora, dá o seu total apoio ao Irã – e tanto quanto na estrebuchante Ucrânia, isso significa que a Rússia está em guerra contra os Estados Unidos/Israel. Afinal das contas, o Pentágono está, diretamente, abatendo mísseis iranianos, enquanto Israel é de fato o principal estado dos Estados Unidos, sendo totalmente financiado com os impostos pagos pelos contribuintes estadunidenses.    

Fica mais complicado a cada minuto. Imediatamente após uma importantíssima reunião  entre Alexander Lavrentiev, o enviado especial de Putin à Síria,  e Ali Akbar Ahmadian, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, Tel Aviv entrou em modo Surto Grave  – o que mais esperar deles? – e atingiu almoxarifados das forças russas na Síria. 

Houve uma resposta conjunta de defesa aérea da Rússia e Síria. O que isso mostra é que os psicopatas talmúdicos estão obcecados não apenas em cuspir fogo contra o Eixo da Resistência, mas agora, também, em atacar os interesses nacionais da Rússia. A coisa pode ficar muito feia para eles em um piscar de olhos – o que é mais uma prova de que o nome  do novo (e mortífero)  jogo é Estados Unidos/Israel contra Rússia/Irã. 


Os perigosos “libertadores” do Oriente Médio. Por Alberto Negri

De vez em quando, no curso da história, aparece alguém que quer mudar o Oriente Médio e que afirma querer “libertar” os povos da região. Agora, enquanto aguardamos a resposta de Israel à chuva de foguetes de Teerã, sobe à cátedra Benyamin Netanyahu, cujo governo batizou o assassinato do líder do Hezbollah, Nasrallah, e o ataque militar ao Líbano de “Operação Nova Ordem”. O primeiro-ministro israelense, de fato, com surpreendente descaramento, foi ainda mais longe.

Dirigindo-se à população do Irã (definida de “povo persa”), ele afirmou: “Quando o Irã for finalmente livre, e esse momento chegará muito mais cedo do que as pessoas pensam, tudo será diferente. Nossos dois povos antigos, o povo hebraico e o povo persa, finalmente estarão em paz”. Mesmo que os dois países estejam agora perigosamente próximos de um confronto direto que corre o risco de arrastar toda a área em uma guerra com o envolvimento também das grandes potências. É bastante singular que Netanyahu, cujo horizonte mental e ideológico é a violência e a guerra, prometa libertar os iranianos, já que em casa decidiu manter os palestinos em um regime de apartheid e nem mesmo considera o problema de um Estado palestino. Mas nos últimos anos, sem voltar às partições anglo-francesas, houve outros que se propuseram como “libertadores”.

Seus retumbantes fracassos se tornaram o emblema das tragédias do Oriente Médio. Saber como essas ideias nasceram e como se desenvolveram nos mostra como poderia terminar amanhã. Nas últimas décadas, quem pensou em refazer o Oriente Médio foi Bernard Lewis, um dos maiores especialistas mundiais e professor emérito da Universidade de Princeton. Em 1978, Lewis elaborou um documento recomendando o apoio aos movimentos islâmicos radicais da Irmandade Muçulmana e de Khomeini, com o objetivo de promover a balcanização do Oriente Médio segundo linhas tribais e religiosas. Lewis argumentava que o Ocidente deveria incentivar grupos de independência como os curdos, os armênios, os maronitas libaneses, os coptas etíopes e os turcos do Azerbaijão. A desordem resultaria no que o professor definiu como “arco da crise” para depois se espalhar também às repúblicas muçulmanas da União Soviética. A expressão “arco da crise” teve um enorme sucesso. O Irã, infelizmente para o governo Carter, acabou sendo mais um problema para os EUA do que para Moscou, mas a invasão do Afeganistão pelo Exército Vermelho em 1979 deu um impulso extraordinário à teoria de Lewis: os EUA, com o apoio militar do Paquistão e o apoio financeiro da Arábia Saudita, armaram milhares de Mujahideen que imobilizaram os russos em uma “guerra santa” até sua retirada em 1989.

Quando os estadunidenses invadiram o Afeganistão após o 11 de setembro, pensaram que se sairiam melhor do que os soviéticos, mas tudo terminou como sabemos: com o país sendo devolvido aos talibãs e uma fuga vergonhosa de Cabul.

Mas a “obra-prima” de Lewis e do cortejo dos “libertadores” é o Iraque. Em 2002, convenceu o presidente Bush Filho e seu vice, Cheney, a atacar Saddam Hussein e escreveu: “Se formos bem-sucedidos em derrubar os regimes iraquiano e iraniano, veremos cenas de júbilo em Bagdá e Teerã ainda maiores do que as que se seguiram à libertação de Cabul”. Mas nem em Bagdá nem em Cabul houve as manifestações de alegria imaginadas pelo professor.

O Iraque, ocupado em 2003 com a mentira de desencavar armas de destruição em massa que nunca foram encontradas, foi engolido por novas guerras, pelo terrorismo da Al Qaeda e depois despedaçado pelo Califado: centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados, exatamente como aconteceu na Síria. Pena que tenhamos esquecido que não foram os EUA, mas o Pasdaran iraniano e o Hezbollah, liderados pelo general Soleimani, mais tarde morto pelos estadunidenses em janeiro de 2021, que detiveram o Isis a 40 quilômetros de Bagdá, quando o exército iraquiano já tinha praticamente debandado.

Após os atentados de 11 de setembro, o Pentágono tinha delineado planos para atacar, depois do Afeganistão, sete países do Oriente Médio em cinco anos: Sudão, Somália, Líbia, Líbano, Síria, Iraque e Irã.

Sabemos como acabou: um desastre com o qual ainda estamos lidando.

Sem mencionar as “Primaveras Árabes” de 2011, cuja onda foi aproveitada pelo governo Obama: deveriam trazer a democracia e acabaram em regimes autocráticos.

Os teóricos da “nova ordem” do Oriente Médio, aparentemente sofisticados e de análises eruditas, são, no mínimo, desanimadores quando confrontados com os fatos: o problema é que discutem nas mídias sobre temas que não conhecem e sobre lugares que nunca viram, moldando a opinião pública ocidental com suas intervenções. Mais que às teorias de “conspiração”, que também são geralmente elaboradas “depois” dos eventos, é preciso prestar atenção justamente à desinformação cotidiana.

Hoje voltamos a falar de nova ordem no Líbano, onde Israel já havia fracassado em 2006. Já na época, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, saudou a guerra como o início do nascimento de “um novo Oriente Médio”. Na realidade, a cada vez, herdamos dos “libertadores” um caos pior do que os anteriores. Mas é isso que se quer: a desestabilização perpétua, não a paz.


Fonte: Religión Digital/Brasil 247/Il Manifesto


 

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