Mario Sabino: O PT pode definhar como o
PSDB. Ambos pagam para morrer
O PT pode ter o mesmo
destino do PSDB, o seu maior adversário até 2014, e definhar a ponto de se
tornar irrelevante?
A resposta é sim. O PT
é o PSDB amanhã. Está certo que, nestas eleições municipais, o partido saltou
de 183 prefeituras para 251. Mas isso é muito pouco para o partido que está na
presidência da República. Nas eleições de 2012, os petistas amealharam 651. Ou
seja, está muito aquém do seu período de ouro.
No segundo turno, o PT
disputará 13 prefeituras: em 4 capitais e 9 cidades com mais de 200 mil habitantes,
patamar a partir do qual a lei obriga a que haja outra votação se nenhum
candidato tiver obtido mais de 50% das preferências.
Para não dizer que a
conta embute má vontade, São Paulo seria a quinta capital, já que Guilherme
Boulos, do PSOL, linha auxiliar nacional do PT, passou suado ao segundo turno.
Guilherme Boulos está para Lula, assim como o Hezbollah está para o Irã: é candidato
por procuração do chefão petista, tanto na alegria da vitória, como na tristeza
da derrota.
O PSDB foi alvejado
pela Lava Jato, mas a sua dêbacle se tornou visível desde que o partido se
perdeu em disputas fratricidas pelo trono vacante deixado por Fernando Henrique
Cardoso, deu espaço a oportunistas como João Doria e perdeu a identidade social-democrata,
sem migrar com convicção para a centro-direita, espectro no qual se situa hoje
a maioria dos brasileiros, na sua espessa névoa mental.
O PT vinha contornando
o seu anacronismo ideológico por meio da fantasia (alegremente engolida pelos
ingênuos) de que detinha o monopólio da ética, pela adoção do assistencialismo
eleitoreiro massificado e, principalmente, graças à popularidade de Lula, com o
seu carisma de amigo de bar.
O assistencialismo
eleitoreiro de massa deixou de ser prerrogativa petista e a Lava Jato queimou a
fantasia ética do partido, além de abalroar a popularidade de Lula.
Popularidade ferida também pelo surgimento do rival Jair Bolsonaro, populista
como ele, mas de sinal trocado.
Lula venceu Jair
Bolsonaro em 2024, mas por margem insignificante de votos, apesar de todos os
desvarios cometidos pelo adversário durante o mandato presidencial, e com o
sistema jogando todo o seu peso a favor do chefão petista, que foi ressuscitado
não por questão de Justiça, mas de conveniência política. Ressuscitou por
aparelhos, já que passou a depender da rejeição a Jair Bolsonaro para se manter
vivo politicamente, como se fosse o menos ruim para a democracia, e o seu
partido se vê obrigado a entrar em concubinatos eleitorais por falta de
quadros.
A paisagem é nítida: o
envelhecimento cronológico do chefão petista é inexorável, embora os seus
acólitos lhe atribuam divindade, a senilidade ideológica do PT é indisfarçável,
a sua base sindical desapareceu e os contínuos atestados de óbito do bolsonarismo
assinados pela imprensa são desmentidos pela realidade. Até no Nordeste,
bastião petista, o PL de Jair Bolsonaro se espraia.
O PT fenece e não há
substituto para Lula, cuja árvore mais frondosa a crescer à sua sombra é
Fernando Haddad, que tem o carisma de um prato de tabule.
Mesmo que Lula se
reeleja em 2026, o que está muito longe de ser uma garantia, ao contrário do
que pensa Gilberto Kassab, o seu partido continuará definhando, enquanto o
Centrão cresce alimentado pela bufunfa das emendas parlamentares. É tudo só por
dinheiro, e cada vez mais, desde que o tucano Fernando Henrique Cardoso comprou
a emenda da reeleição e Lula instituiu o mensalão para conseguir votos no
Congresso. PSDB e PT também pagaram para morrer.
• O transe provocado pelo vasto mundo do
emendão. Por Moisés Mendes
Em busca de calmantes,
as esquerdas se agarram a informações que já foram transformadas em manchetes e
rendem análises fáceis e rápidas, tão perfeitas como se fossem produzidas por
inteligência artificial.
A primeira manchete,
do Estadão de ontem, informava: “Centrão domina eleições e elege prefeitos nas
cidades que mais receberam emendas parlamentares”.
E outra manchete, na
mesma linha, é essa de hoje do Globo: “Emenda Pix turbina taxa de reeleição de
prefeitos, que foi de 89% nas 178 cidades mais beneficiadas”.
A conclusão mais
elementar: o governo, submetido à extorsão das emendas, acabou engordando o
porco do centro, da direita e da extrema direita, ou disso tudo que cabe no que
se chama de centrão ampliado e expandido.
Mas o estrago da
dinheirama das emendas explica tudo o que aconteceu na eleição? Ajuda a
explicar, mas serão ingênuos os que se agarrarem apenas a esse consolo.
As emendas só existem
sob controle da direita porque a direita tem a maior base política, agora
aumentada em todo o país. E essa base só existe a partir das eleições,
começando pelas municipais, que formam quadros, vereadores, prefeitos.
As eleições para
governadores, assembleias, Congresso e presidente da República completam o
serviço. Funciona assim desde muito antes das emendas PIX e secretas.
A base do centrão e da
extrema direita é montada a partir das eleições municipais, que são, claro,
diferentes das eleições para legislativos, governadores e presidente.
São diferentes, mas
são o começo, a base paroquial de tudo o que vem depois. O que a direita
conseguiu agora foi aumentar esse poder, que repercute mais adiante em
representação no Congresso.
E, com mais poder no
Congresso, mais capacidade de extorsão, mais emendas, mais dinheiro, há mais
votos, mais poder municipal, estadual e nacional. E mais formação de líderes e
fortalecimento das estruturas que os sustentam.
Essa direita à la
Kassab pode até não eleger o presidente da República, como vivem repetindo como
consolo. Mas mantém um governo, como faz agora com Lula, sob controle quase
absoluto das suas vontades, na coalizão dentro do Planalto e nas sabotagens
dentro do Congresso.
Essa direita forte
começa com a eleição do vereador dono do mercadinho de Cacequi e do prefeito
criador de bois em campos de queimadas na região de Piracicaba. É assim nessas
cidades e em pelo menos 80% do território nacional sob comando dessa gente.
O eleitor médio do
PSD, que não liga muito para ideologia numa disputa municipal, pode não
imaginar Kassab como presidente. Mas a maioria torce para que Kassab tenha base
e muito poder para interferir na escolha do presidente e participar depois dos
mecanismos de controle do governo. Como já tem hoje em Brasília e terá muito
mais amanhã.
Mas se as emendas não
explicam tudo, o que afinal desvenda por completo o crescimento do que ainda
chamam de centro e da velha direita na eleição? São respostas que dependem
muito de pesquisa e estudo e menos de chutes e calmantes.
Nos chutes possíveis,
podem dizer que a eleição municipal, com suas feições próprias, finalmente
livrou a direita da sombra de Bolsonaro e mostrou que o eleitor pouco quis
saber de Lula.
Que a polarização se
diluiu. Que o Brasil redescobriu o centro e que as esquerdas, por cansaço,
envelhecimento, omissões e desgaste, vão se conformando, desde 2020, com o
tamanho que tinham antes do PT.
Poderemos estar
entrando numa distopia regressiva, no vasto mundo fumacento do centrão-emendão
de Kassab, com um cenário próximo do que existia nos tempos de Arena e MDB, com
as suas muitas nuances e graduações.
Estamos no meio de um
transe do que parece ser um mundo pré-PT, com as muitas Arenas paroquiais 1, 2
e 3, com os variados MDBs dos autênticos, moderados e infiltrados e com as
turmas do entorno, nas esquerdas que já foram classistas e agora são fortes por
suas vozes identitárias.
Esse é o cenário. As
emendas que engordaram o porco de Kassab na eleição só existem porque a direita
já é forte, impositiva e faminta e fica com quase tudo. E as esquerdas se
encolhem.
Essa direita apenas se
fortaleceu um pouco mais agora na base de onde emerge, nos municípios de todos
os tamanhos, incluindo as capitais. Que não se subestime o tamanho desse
estrago daqui a dois anos.
• PT vai apoiar 'forças antibolsonaristas'
no segundo turno, mesmo que candidato seja de direita
O PT vai apoiar o que
chama de "forças antibolsonaristas" no segundo turno das eleições
municipais. Nas cidades onde foi derrotado na primeira rodada da disputa, como
em Belo Horizonte (MG), o partido orientará o voto e participação em campanhas
de candidatos que se opõem ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo que o
nome seja de direita.
A estratégia será
discutida nesta terça-feira, 8, em reunião da Executiva Nacional do PT. Na
capital mineira, o partido recomenda o apoio ao prefeito Fuad Noman (PSD), que
concorre à reeleição e tem como adversário o deputado Bruno Engler (PL), aliado
de Bolsonaro.
O deputado Rogério
Correia, candidato derrotado do PT, ficou em sexto lugar na eleição em Belo
Horizonte. Saiu magoado com a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
em sua campanha. Dias antes do primeiro turno, Correia disse ao Estadão que o
vereador Álvaro Damião (União Brasil), vice na chapa de Fuad, é um fervoroso
"anti-Lula".
Mas o acordo entre o
PT e o PSD de Gilberto Kassab - que em São Paulo respalda a candidatura de
Ricardo Nunes (MDB) - tem na mira as eleições de 2026. Lula também quer apoiar
um nome do PSD - o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco - ao governo de Minas,
segundo maior colégio eleitoral do País. Em contrapartida, tenta fechar uma
aliança com o PSD para sua campanha a novo mandato, daqui a dois anos.
Neste primeiro turno,
o PT elegeu 248 prefeitos, em todo o País, e sofreu derrotas importantes. Nas
eleições de 2020, por exemplo, conquistou 183 prefeituras, mas, após trocas
partidárias, chegou a 265, como conta de documento produzido pelo Grupo de Trabalho
Eleitoral (GTE) em setembro.
Das quatro capitais
onde agora disputa o segundo turno, o PT tem chance de vitória em Fortaleza, de
acordo com pesquisas de intenção de voto. Lá, Evandro Leitão, que trocou o PDT
pelo PT, enfrenta o bolsonarista André Fernandes (PL), investigado por participar
dos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Lula desembarcará na
sexta-feira, 11, em Fortaleza, para entregar moradias do Minha Casa, Minha
Vida. A cúpula do PDT até hoje critica o presidente por ter ido à convenção que
oficializou Leitão, quando o prefeito da cidade, José Sarto, filiado ao partido,
concorria a novo mandato. O PDT compõe a base de sustentação do governo Lula no
Congresso. Sarto ficou em terceiro lugar e foi o primeiro prefeito de Fortaleza
a não ser reeleito no cargo.
As outras capitais
onde o PT concorre são Porto Alegre, Natal e Cuiabá. A maior aposta do PT,
porém, está em São Paulo, onde a sigla se aliou ao candidato do PSOL, Guilherme
Boulos, contra Ricardo Nunes. Trata-se de uma eleição difícil para o campo da
esquerda.
A presidente do PT,
Gleisi Hoffmann, avalia que a campanha de Boulos também deve ir atrás dos
eleitores de Pablo Marçal (PRTB), candidato que ficou em terceiro lugar, com
1.719.274 votos.
"A eleição em São
Paulo será fratricida e a gente tem de disputar esse eleitor. Não podemos
deixá-lo largado", disse Gleisi. Na avaliação da deputada, nem todos os
que optaram por Marçal são bolsonaristas. "Tem pessoas que votaram nele
não pela questão ideológica, mas, sim, pelo estilo mais anarquista",
observou ela.
Marçal apresentou um
laudo médico falso, a dois dias da votação, para sustentar que Boulos consumia
drogas. Na disputa mais acirrada dos últimos tempos, na capital paulista, uma
diferença de apenas 56 mil votos separou Boulos de Marçal.
Gleisi discorda da
avaliação de que o PT teve desempenho desastroso neste primeiro turno.
"Quando a esquerda foi a grande vencedora das eleições municipais?",
perguntou. "Quem sempre fez mais votos nas eleições locais foram partidos
de centro para a direita porque é onde eles têm força política."
O PL de Bolsonaro,
porém, passou de 4,7 milhões de votos para prefeito, em 2020, para R$ 15,7
milhões nesta primeira rodada da disputa, um crescimento de 236,2%. O PT, por
sua vez, saiu de 6,9 milhões para 8,9 milhões de votos.
"Eu não estou
dizendo que a gente não tenha problema nem tapando o sol com a peneira. Sei que
teremos de virar a estratégia para combater a direita. Mas também não acho que
o nosso resultado tenha sido uma catástrofe", afirmou Gleisi.
A deputada elogiou a
declaração de voto de Tabata Amaral (PSB) em Boulos e espera que ela grave
vídeo e compareça a atos de campanha. Tabata, porém, resiste a subir no
palanque do candidato. Há pedidos para que o vice Geraldo Alckmin e o ministro
do Empreendedorismo, Márcio França, do PSB, tentem convencê-la a mudar de
ideia.
• Partido cobra fatura de Eduardo Leite
Em Porto Alegre, o PT
vai cobrar a fatura do apoio dado ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo
Leite (PSDB), quando ele era candidato, em 2022. A disputa do segundo turno na
capital gaúcha é entre o prefeito Sebastião Melo (MDB) e a deputada Maria do
Rosário (PT).
Agora, Lula e seu
partido querem que Leite ajude na campanha da petista. O PL de Bolsonaro está
no páreo em nove das quinze capitais que terão segundo turno: Belo Horizonte,
Belém, Manaus, Goiânia, João Pessoa, Aracaju , Palmas, Cuiabá e Fortaleza. Nas
duas últimas, enfrenta o PT de Lula.
O governador de Goiás,
Ronaldo Caiado, disse estar disposto a conversar com o PT para que o partido
entre na campanha de Sandro Mabel (União Brasil) à Prefeitura de Goiânia. O
adversário de Mabel é Fred Rodrigues (PL), candidato de Bolsonaro. Adriana Accorsi
(PT) saiu do primeiro turno em terceiro lugar, com 24,44% dos votos.
Em Cuiabá, Gleisi acha
possível fazer uma "frente com a direita responsável" para eleger
Lúdio Cabral (PT) e derrotar o candidato bolsonarista Abílio Brunini (PL).
Rafaela Fávaro, filha do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), é vice
na chapa do petista Lúdio.
Fonte:
Metrópoles/Brasil 247/Agencia Estado
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