Legistas da floresta querem saber: as
grandes árvores da Amazônia estão morrendo?
Dois pesquisadores,
vestindo camisas e calças de mangas compridas para resistir aos mosquitos e
botas de cano alto para evitar picadas de cobras, olham para uma árvore
destruída. Está no chão, coberta por folhas de palmeira, que se estendem por
toda a floresta. Até pouco tempo atrás, ela se elevava sobre a maioria das
outras árvores dessa vasta floresta tropical.
“É óbvio que foi um
raio”, diz Evan Gora, declarando a causa da morte da árvore. Ele é um cientista
da equipe do Cary Institute of Ecosystem Studies em Millbrook, Nova York.
“É possível ver folhas
queimadas na parte superior”, concorda Adriane Esquivel Muelbert. Ela é
professora da Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Adriane aponta para a
folhagem enegrecida que está pendurada em dezenas de árvores que circundam o
perímetro do enorme toco. As folhas estão queimadas apenas nos lados voltados
para a abertura da copa, deixada quando a grande árvore tombou — evidência de
uma descarga elétrica.
Como Sherlock Holmes
desvendando um mistério de assassinato, os especialistas em ecologia de
florestas tropicais apresentam seu raciocínio a dois pós-doutorandos de sua
equipe. Quando um raio atinge uma árvore, diz Evan, a alta tensão flui através
da folhagem entrelaçada para as árvores vizinhas, matando os galhos e criando
um padrão distinto. Evan desenvolveu esse método para determinar o raio como
causa da morte de árvores enquanto trabalhava em uma floresta tropical do
Panamá. Hoje, ele identificou o mesmo padrão de vegetação morta e queimada em
torno desse gigante caído na Amazônia brasileira. Nenhuma outra causa de morte
de árvores tem esse aspecto.
“Às vezes, é possível
ter muitas árvores mortas juntas, mas não com esse dano centralizado
[queimado]”, comenta Adriane. “É como uma investigação da cena do crime”, diz
Evan, com entusiasmo crescente.
Pode parecer estranho
que dois cientistas de alto nível passem tanto tempo investigando a morte de
uma única árvore em uma vasta floresta. Mas as implicações são importantes. Seu
projeto de pesquisa, chamado “Gigante”, está explorando as causas da mortalidade
das maiores árvores de florestas tropicais no mundo. O estudo pode ajudar a
responder a uma questão importante da ciência da mudança climática: A floresta
tropical intacta continuará absorvendo muito mais dióxido de carbono do que
libera?
As regiões intocadas
da Amazônia ainda estão armazenando uma quantidade considerável de CO2 e
retardando o acúmulo atmosférico do gás que aquece o planeta e que os seres
humanos liberam quando queimam combustíveis fósseis. No entanto, se a absorção
de carbono cair significativamente na Amazônia e em outras florestas tropicais
do mundo, as temperaturas globais poderão aumentar mais rapidamente do que
sugerem os modelos atuais, tornando ainda mais difícil para a humanidade
desacelerar as mudanças climáticas.
• Pronto para voar
Os dois cientistas,
junto com as pós-doutorandas Vanessa Rubio e Gisele Biem, reuniram-se aqui, na
Reserva Florestal Adolpho Ducke, no Brasil, pela primeira vez. Seu projeto de
pesquisa global, que durará três anos, só começou recentemente.
A Reserva Ducke, nos
arredores de Manaus, abrange um quadrante de 93 quilômetros quadrados de
floresta tropical antiga, reservada pelo governo federal para pesquisa. Os
visitantes, como esta equipe e um elenco variado de estudantes e colaboradores,
pernoitam em dormitórios caiados de branco e comem em um refeitório sem
paredes, área que frequentemente compartilham com queixadas, urubus, gatos
selvagens e jararacas — uma das cobras mais venenosas do mundo.
Os pesquisadores
vieram para responder a essas perguntas cruciais sobre a absorção de carbono e
também para aprimorar as habilidades de observação, praticar a coleta e o
registro de dados e desenvolver o espírito de equipe. No primeiro dia, a equipe
se concentrou na identificação de relâmpagos. No dia seguinte, o tópico serão
as árvores derrubadas pelo vento.
Evan está ansioso para
mostrar seu mais recente dispositivo de pesquisa. Em uma clareira perto de um
prédio baixo de estuque que serve como sala de aula, laboratório e sede da
reserva, ele abre o zíper de uma enorme mala coberta de tecido.
Ansioso como uma
criança desembrulhando um presente de Natal, Evan coloca as metades da mala na
horizontal e retira a fuselagem de um drone do tamanho de um skate. Ele trouxe
esse drone Trinity Pro da Quantum Systems da Alemanha. A equipe o observa
enquanto ele o monta.
“É o brinquedo mais
legal de todos!”, exclama Evan. Então, como se estivesse oferecendo um peru de
Natal, ele pergunta a Vanessa: “Você quer pegar uma asa?” Evan e Vanessa
prendem a cauda de plástico e isopor e as asas de um metro.
As asas leves como
penas e as pernas semelhantes a galhos fazem com que o drone pareça frágil. Mas
Evan diz que se trata de uma ferramenta de pesquisa séria a um preço acessível.
Esse modelo será lançado verticalmente, como um helicóptero — útil em uma floresta.
Com uma única carga, ele pode voar horizontalmente como um avião e de forma
autônoma por uma hora e meia a quase 64 quilômetros por hora. Sua câmera de
alta resolução distingue objetos tão pequenos quanto uma moeda a 300 metros de
altura. Sem ele, o projeto Gigante não poderia ser realizado.
• Legistas de florestas tropicais
Um estudo publicado na
revista Nature em 2015 surpreendeu os cientistas. Ele constatou que a floresta
amazônica intacta absorveu 30% menos dióxido de carbono na década de 2000 do
que na década de 1990. Os autores sugeriram que a absorção de carbono das florestas
tropicais do mundo — o sumidouro de carbono tropical — está falhando. Desde
então, outros estudos confirmaram esse resultado e mostraram declínios
semelhantes em florestas tropicais em outros lugares.
“Essas florestas estão
proporcionando um enorme benefício gratuito à sociedade”, diz Simon Lewis,
geógrafo da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e coautor de vários desses
artigos. Como muitos pesquisadores, ele concorda que os impactos da mudança climática
são a principal causa da queda na absorção de carbono pelas florestas. Se não
pararmos com isso logo, diz ele, “as florestas podem aumentar o problema
[climático] em vez de mitigá-lo”. Até agora, a floresta amazônica absorvia
cerca de 12% de todo o carbono liberado na atmosfera pela humanidade, embora a
quantidade exata seja motivo de debate.
Um dos motivos pelos
quais o sumidouro tropical de florestas intactas está diminuindo, de acordo com
muitos cientistas, é que mais árvores estão morrendo e/ou morrendo mais jovens.
Mas os pesquisadores não sabem o suficiente sobre por que e quando essas árvores
morrem. Portanto, não é possível modelar com precisão e prever como esses
fatores mudarão no futuro, criando incerteza nas previsões climáticas.
Prognósticos robustos
exigem estimativas de absorção de carbono florestal. E, sem previsões
climáticas precisas, as pessoas não podem antever com exatidão a velocidade e a
consequente gravidade da crise climática.
Adriane e Evan esperam
esclarecer a vida e a morte das maiores árvores tropicais, geralmente aquelas
com diâmetro de tronco maior do que o de uma pizza grande, como o
angelim-vermelho (Dinizia excelsa). Isso é importante porque essas árvores são
responsáveis por uma parcela imensa da absorção de carbono de uma floresta
tropical.
Os pesquisadores
estimam que as árvores de grande porte sugam cerca de metade do carbono que uma
floresta tropical absorve. A eficácia futura do sumidouro tropical
provavelmente depende da longevidade desses indivíduos. Se o aumento do
aquecimento, a redução das chuvas ou outros impactos da mudança climática
encurtarem suas vidas, toda a floresta se tornará mais jovem e absorverá ainda
menos carbono do que hoje. O sumidouro de carbono tropical poderá diminuir ou
desaparecer. E, à medida que a morte de árvores em florestas intactas se
intensifica, as florestas tropicais remanescentes do mundo podem até mesmo se
tornar fontes significativas de carbono.
O crescimento das
temperaturas médias e extremas, os padrões de precipitação e a intensidade das
tempestades poderiam determinar de forma significativa o que acontece com as
árvores grandes das florestas tropicais. Mas Adriane diz: “Das árvores grandes,
não sabemos quase nada”.
Eles sabem tão pouco
em parte porque essas árvores são raras e morrem com pouca frequência. Um
estudo de 2018 em um local próximo à Reserva Ducke constatou que, de 5.808
árvores observadas durante um ano, 67 morreram. Dessas, apenas uma árvore era
grande. Não é possível fazer inferências sobre como uma população se comporta
estudando uma única árvore. Esse problema é agravado na hiperdiversidade da
Amazônia, com mais de 10 mil espécies de árvores, com uma infinidade de
estratégias de vida distintas.
Para analisar um
conjunto suficientemente grande de árvores de grande porte, os cientistas
precisam coletar informações detalhadas de mais terras tropicais do que já foi
examinado. No entanto, estudar o histórico de vida de cada árvore de uma
floresta tropical pelos métodos atuais é trabalhoso e caro. Normalmente, os
trabalhadores florestais marcam e registram estatísticas como o diâmetro do
tronco e a espécie (se conhecida) de cada árvore em terrenos de estudo do
tamanho de campos de futebol. Assim como os recenseadores, esses trabalhadores
atualizam seus registros em visitas sucessivas.
Em um artigo de 2020,
Adriane identificou 189 desses terrenos em uma rede de locais de pesquisa da
Amazônia chamada RainFor, que ela considerou grande o suficiente para incluir
em um estudo de mortalidade de árvores. A área combinada desses espaços totalizou
331 hectares, equivalente ao dobro do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A
partir dessa amostra de floresta, ela inferiu as causas da mortalidade de uma
árvore amazônica média. Mas ela também concluiu que os dados da rede “não
tinham a cobertura espacial e temporal necessária para fornecer informações
sobre árvores grandes”.
Em outras palavras,
até o momento, poucas árvores amazônicas de grande porte foram estudadas para
determinar quanto tempo elas vivem e o que as mata. Adriane diz que a situação
é pior nas outras florestas tropicais do mundo, na Ásia e na África.
É por isso que o
orçamento da equipe incluiu o drone Trinity Pro de US$ 27 mil (aproximadamente
R$ 148 mil). Com ele, o projeto Gigante pode estudar mais árvores grandes do
que nunca. Estamos “mudando nossa abordagem de olhar no nível do solo, medindo
os troncos das árvores, para usar um drone”, explica Evan.
Para o trabalho atual,
eles irão monitorar um lote de 1.500 hectares dentro da Reserva Ducke. Isso
pode não parecer muito extenso, mas a área contém cerca de 750 mil árvores mais
grossas do que um poste de cerca e quatro vezes mais terra do que em todas as
pequenas áreas estudadas no artigo de Adriane de 2020.
Em contraste com os
terrenos do RainFor, que os pesquisadores de campo visitam uma vez a cada dois
anos, o drone do Gigante pesquisará a área de estudo mensalmente. Além disso, a
equipe do Gigante calçará repetidamente aquelas botas à prova de cobras e entrará
em locais selecionados. Mais como legistas do que como recenseadores, eles só
visitarão árvores grandes recém-mortas após a análise mensal das imagens do
drone.
• Burocracia e tentativa de sequestro
Mas há um problema. No
acampamento-base da Reserva Adolpho, Evan desmonta o drone e coloca as peças de
volta em seu estojo personalizado. Ele ainda não pode pilotá-lo. O Brasil,
assim como os Estados Unidos, regulamenta os drones. Apesar de meses de tentativas,
a equipe ainda não obteve permissão.
Eles já esperavam ter
recebido as aprovações, mas Evan diz que há “algumas complicações”. No meio do
processo de solicitação de licenças, o consultor que eles contrataram para
ajudá-los com a papelada parou abruptamente de responder a mensagens de texto e
ligações. Depois de um tempo, ele explicou que houve uma tentativa de
sequestro. Ele não quis dar mais detalhes, mas disse que precisava de mais
tempo para voltar ao trabalho. Semanas se passaram sem nenhuma outra
comunicação, deixando a permissão para voar em um limbo.
“Podemos ter notícias
dele a qualquer momento, ou talvez nunca mais”, diz Evan. “É preciso ter muita
paciência”, explica ele.
Uma vez autorizada, a
equipe voará com o drone sobre Ducke. O drone irá se deslocar para frente e
para trás em um grande terreno retangular, fotografando a floresta em trilhas
paralelas, como as faixas de um gramado meticulosamente cortado. Os pesquisadores
juntarão as imagens, produzindo uma única renderização de toda a área. Com a
ajuda de um programa de computador desenvolvido por colegas no Panamá, eles
procurarão nessa composição as aberturas no dossel que apareceram desde os
sobrevoos anteriores, cada uma delas sendo o sinal provável de uma ou mais
árvores recém-caídas.
Em seguida, eles saem
a pé e verificam cada um deles. Adriane chama cada uma dessas visitas de
“necrópsia”. A equipe espera que de 10 a 20 novos locais de árvores mortas
sejam abertos no dossel a cada mês — cerca de 500 árvores por ano, o dobro do
que os cálculos mostram ser necessário para tirar conclusões estatisticamente
significativas sobre a mortalidade de árvores grandes.
• O que está em jogo
Com US$ 1,7 milhão em
subsídios da National Science Foundation dos EUA e do Natural Environment
Research Council do Reino Unido, Adriane e Evan também supervisionam uma
pesquisa paralela no Panamá e, a partir do próximo ano, na Malásia, em Camarões
e em um segundo local na Amazônia.
Cada equipe local
usará métodos idênticos para coletar dados nesses locais, seguindo o que os
pesquisadores chamam de “o protocolo”, para permitir comparações válidas entre
os locais. Com o fervor dos que creem verdadeiramente, Adriane, Evan e seus
acólitos, os pós-doutorandos, ensinarão o protocolo às equipes que estudam os
outros locais nos trópicos.
Como o drone não pode
ser pilotado hoje e a equipe do Gigante não pode coletar dados aéreos, os
membros da equipe calçam botas e passam repelente de mosquitos. Chegou a hora
do workshop de hoje sobre windthrow — termo técnico em inglês para árvores
derrubadas pelo vento. Os quatro cientistas e um especialista florestal local
percorrem vários quilômetros de trilhas na floresta tropical até chegar a um
corte no dossel. Parece que uma mão gigante golpeou três árvores altas e
largas, derrubando-as no chão e arrancando suas raízes do solo. Essas, por sua
vez, esmagaram dezenas de árvores menores em um emaranhado traiçoeiro de
galhos.
Evan vivenciou em
primeira mão o momento em que uma árvore desse tamanho tomba. “É um som
espetacular!”, diz ele. “Você ouve estalos quando as raízes são arrancadas do
solo e as árvores ao redor são esmagadas.” Imagine um galho de uma polegada de
espessura se partindo em dois, diz ele. “Agora multiplique esse diâmetro por
alguns metros.”
Antes que a equipe
consiga entender a confusão, uma chuva fraca se transforma em um aguaceiro.
Encharcados, os pesquisadores amarram uma lona e esperam o tempo passar.
Vanessa distribui um saco de paçocas. Eles comem e cantam músicas pop e a
tempestade continua.
Em seguida, a equipe
mede o diâmetro de cada tronco. Duas se qualificam como “gigantes” — para este
estudo, árvores com mais de meio metro de diâmetro do tronco na altura do
peito.
Enquanto Adriane e
Evan observam com aprovação, Vanessa e Gisele notam que cipós se agarram às
árvores derrubadas. Em suas planilhas de dados, as pós-doutorandas classificam
a infestação de cipós em um fator de dois, indicando que a folhagem dos cipós
cobre de 25% a 50% do dossel combinado. Essas trepadeiras impedem que a luz do
sol chegue à copa da árvore e roubam a água de suas raízes. Às vezes, os cipós
ficam tão pesados que arrastam as árvores para baixo.
A equipe observa que
as folhas das árvores derrubadas ainda estão penduradas, mostrando que as
árvores caíram enquanto estavam vivas. Indo para a base das árvores, eles
observam que os pelos finos das raízes estão intactos. Essas estruturas
delicadas se degradam rapidamente no calor e na umidade tropicais quando
expostas ao ar. Com base nisso, eles concluem que as árvores caíram no último
mês ou dois.
Se isso não fosse
apenas um exercício de treinamento, a equipe também verificaria se as árvores
caídas apresentavam danos causados pela podridão do seu miolo, sondando cada
uma delas com uma ferramenta chamada Resistograph. O dispositivo parece uma
arma de assalto; segurando-o por um cabo de pistola, os pesquisadores
pressionariam a ponta do cano, que abriga uma agulha, contra um tronco e
apertariam o gatilho. Uma queda na resistência à sonda sugere que a madeira
está quebradiça devido a uma infecção fúngica, outra possível causa da morte da
árvore.
• Se uma árvore cai… o que a matou?
O vento claramente
derrubou pelo menos uma dessas grandes árvores. Outras podem ter sido
derrubadas por uma vizinha que tombou. Os pós-doutorandos marcam “W”, de wind
(vento, em inglês) , em suas anotações. Mas será que o vento matou as árvores?
O vento derruba árvores amazônicas com frequência; metade de todas as árvores
que morrem por causas naturais é derrubada pelo vento, de acordo com Adriane.
Por “naturais”, ela quer dizer que não foram mortas com uma motosserra. Mas, na
verdade, está cada vez mais difícil traçar uma linha entre a morte natural e a
antropogênica das árvores.
Um estudo recente
estima que, até 2100, o aumento das tempestades na Amazônia, provocado pelas
mudanças climáticas causadas pelo homem, gerará um aumento de 43% nas mortes
por windthrow — queda causada por vento. E, embora os cientistas não saibam ao
certo, o vento pode ter o maior impacto sobre as árvores maiores, uma vez que
suas copas vulneráveis se elevam bem acima do dossel circundante, o que reduz a
velocidade do vento.
Os pesquisadores têm a
intenção de determinar se um fator, e não outro, “causa” a mortalidade. Evan
explica que, embora o vento seja a provável causa imediata, ou próxima, da
morte dessas árvores, pode não ser o que realmente as matou — a causa final. Investigar
a morte de uma árvore é tão complicado do ponto de vista forense quanto
encontrar uma pessoa morta na parte inferior de uma escada: ela morreu de uma
pancada na cabeça ao cair ou do derrame que levou à queda?
A queda de um raio
está entre os poucos diagnósticos de árvores mortas em florestas tropicais
feitos com um alto grau de certeza. Evan descobriu que 40% das grandes árvores
mortas que ele havia estudado em uma floresta tropical do Panamá haviam morrido
imediatamente após a queda de um raio.
Se as quedas de raios
aumentarem tanto quanto sugerem algumas projeções climáticas (um aumento global
de até 50% até 2100), Gora e seus colegas estimam que a mortalidade de árvores
de grande porte no Panamá poderá aumentar entre 9% e 18%. Essa mudança, por sua
vez, reduziria a absorção de carbono pela floresta. Mas Evan adverte que os
raios podem não desempenhar um papel semelhante em todas as florestas
tropicais. A pesquisa do Gigante deve ajudar a determinar esse papel.
Para investigar as
causas finais da mortalidade, o novo protocolo do Gigante exige a coleta de
informações sobre vários fatores de risco — condições que podem levar uma
árvore à beira da morte antes que outro fator dê o golpe final.
Por exemplo, Evan
explica: “Poderíamos descobrir que toda árvore que morreu devido ao vento tem
uma carga enorme de cipós. Descobriríamos que os cipós estão causando a
mortalidade, mesmo que a causa próxima que anotamos tenha sido o vento.” Outros
fatores de risco a serem considerados incluem a podridão do miolo, infestações
de insetos e estresse hídrico (excesso ou falta de água), que podem ser
intensificados pelas mudanças climáticas.
Adriane diz que, como
é difícil atribuir uma causa final para a morte de uma árvore, sua pesquisa
sempre terá algum grau de incerteza. “Nunca chegamos à causa da morte. Chegamos
à causa potencial da morte.” Ainda assim, ela está motivada pela necessidade
urgente de prever a eficácia do sumidouro de carbono tropical nas próximas
décadas.
Muitas mudanças nas
florestas tropicais que estão ocorrendo agora, ou que estão sendo projetadas,
podem aumentar a mortalidade das árvores e degradar o sumidouro de carbono
tropical. A mudança climática está alterando os padrões de precipitação, ventos
extremos e relâmpagos, enquanto as lianas estão se tornando mais abundantes na
Amazônia e em algumas outras florestas tropicais, à medida que aumentam as
áreas de perturbação humana e a intensificação do calor.
A classificação de
todos esses fatores exige dias de trabalho árduo. No final desse dia, a equipe
volta em fila indiana pela trilha lamacenta e escorregadia até a sede da
Reserva Ducke. Gotas de água brilhantes penduradas nas folhas refratam réplicas
em miniatura da floresta escurecida. A folhagem exala aromas florais doces,
estranhamente com notas de alho.
Ao se aproximarem do
acampamento base, eles param em uma grande árvore viva que se ergue como um
trovão acima do dossel circundante. Uma harpia está sentada em um ninho de
gravetos grande como uma banheira, apoiado em uma curva da copa. As harpias
(Harpia harpyja), a maior ave de rapina da Amazônia, empoleiram-se no topo das
árvores e da cadeia alimentar. Quando vista, a ave gira a cabeça em direção aos
pesquisadores. Entusiasmada, Adriane abandona sua serenidade científica. “É por
isso que as árvores gigantes são importantes”, ela exclama.
Fonte: Mongabay
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