Mais de 50% dos brasileiros vão ao médico
apenas quando têm problemas graves
Uma pesquisa lançada
na segunda-feira (7) mostrou que mais de 50% dos entrevistados buscam
atendimento médico somente quando apresentam algum incômodo ou problema grave
de saúde. O levantamento foi realizado pelo Grupo Bradesco Seguros, em parceria
com o Instituto de Pesquisa Locomotiva, e tem como foco avaliar aspectos
relacionados à longevidade dos brasileiros.
De acordo com a
pesquisa, os cuidados preventivos com a saúde são ainda piores entre os homens:
60% dos respondentes só buscam atendimento médico quando apresentam sintomas ou
quadros de saúde graves. Apenas 43% dos entrevistados realizam consultas periódicas
e preventivas.
No entanto, somente
40% estão satisfeitos com o seu acesso à saúde, um dado que chega a 60% entre
os mais ricos, demonstrando uma falta de satisfação geral do público em relação
ao atendimento médico.
Os dados foram obtidos
através de uma metodologia chamada Indicador de Longevidade Pessoal (ILP),
lançada pelo grupo também na segunda-feira, que analisa diferentes aspectos da
saúde física e mental, além de interações sociais, que contribuem para a longevidade.
Para o levantamento,
1.058 pessoas testaram o ILP, através de um questionário on-line realizado
entre os dias 6 e 13 de março de 2024. Os respondentes eram maiores de 18 anos
e eram pessoas de diferentes gêneros, idades, regiões e rendas.
Em uma escala de 0 a
100, que avalia parâmetros desde saúde física e mental a interações sociais e
educação financeira, a média da população brasileira no ILP foi de 64 pontos.
• 80% das pessoas se interessam por
longevidade, mas apenas 38% sabem exatamente seu significado
Apesar de apenas 46%
avaliarem o tema como uma prioridade pessoal, 8 em cada 10 pessoas têm
interesse em adquirir mais conhecimento sobre longevidade. Porém, apenas 38%
declaram saber exatamente seu significado. Segundo o levantamento, os mais
velhos (acima de 50 anos) são os que adquiriram pontuação mais alta no ILP
relacionada às atitudes que contribuem para a longevidade.
“Sabemos que ainda
existe um grande caminho para o brasileiro seguir quando o assunto é
longevidade e planejamento de vida, por isso o ILP se torna ainda mais
relevante, ao proporcionar uma visão holística de qualidade de vida e sua
manutenção com o passar da idade”, afirma Regina Macedo, superintendente de
Comunicação do Grupo Bradesco Seguros.
O levantamento também
mostrou que o brasileiro, em geral, tem uma perspectiva positiva sobre os
cuidados com a saúde física. Porém, apesar de reconhecer que ações e hábitos
contribuem para a longevidade, a maioria não se preocupa com fatores como, por
exemplo, a alimentação.
De acordo com o
estudo, 75% dos brasileiros dizem comer ao menos 1 porção de doces ou
industrializados diariamente. Além disso, menos de 1/3 come três ou mais
porções de frutas, legumes ou verduras por dia. A porcentagem é ainda menor
entre os mais jovens (18 a 19 anos): 9%.
• Jovens têm os piores índices de
longevidade, segundo o estudo
Segundo o estudo, a
sociedade ainda não atribui aos idosos conceitos como vida social ativa, com
80% dos respondentes associando-os a conceitos conservadores. Por outro lado,
71% declararam que as pessoas mais velhas são fontes de inspiração e 89% concordam
que elas têm muito a ensinar aos mais jovens.
Segundo o
levantamento, 52% dos mais jovens também só buscam atendimento médico ao
apresentarem algum sintoma incômodo. Além disso, esse público apresentou os
piores resultados no subindicador de saúde mental, ao lado das mulheres e dos
mais pobres. Para somar, 19% deles não estão satisfeitos com suas interações
sociais, aspecto fundamental para a longevidade.
“Hoje, infelizmente,
os jovens estão passando por um período que acredito não ter precedência na
história. Isso inclui muito estímulo, exposição, apelo midiático, pressão por
performance que, nem sempre, é construtiva. Esse ambiente altamente competitivo
faz com que eles se sintam perdidos”, afirma Alexandre Kalache,
médico-gerontólogo e presidente do Centro Internacional da Longevidade
(ILC-Brazil), à CNN.
“Os jovens de agora
não sabem qual será o seu curso de vida. Eles só sabem que precisam aprender
sem parar, que seu emprego pode mudar a qualquer momento, e que a reserva
financeira com a conclusão da sua vida laboral é incerta”, acrescenta.
• Brasil não está preparado para o
envelhecimento da população, diz especialista
A expectativa de vida
vem crescendo a cada ano no Brasil. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), a esperança de vida do brasileiro ao nascer
passou a ser de 76,4 anos em 2023. Para 2070, a expectativa é de que 37,8% dos
habitantes do país sejam idosos, ou seja, mais do que o dobro atualmente.
Apesar das
estatísticas, o Brasil não está preparado para o envelhecimento, do ponto de
vista de Kalache. “As ações sociais e as políticas públicas ainda precisam de
ajustes urgentes. Apesar de termos um estatuto do idoso exemplar, com mais de
20 anos, ele é pouco posto em prática e, talvez, isso explique o preconceito
contra a idade na nossa sociedade”, afirma.
“As lideranças
envelhecidas que temos nunca se enxergam como velhos, com o velho sendo sempre
o outro. Além disso, não temos um ecossistema que facilite que o jovem e o
idoso possam conviver de maneira mais próxima”, acrescenta. “Enquanto esse
cenário não mudar, pouco se falará sobre o envelhecimento, como se isso não
fosse um tema transversal, com repercussões não só na saúde, bem-estar social
ou previdência, mas para tudo.”
• Mapeamento identifica mais de 400
iniciativas para longevidade no Brasil
Um novo mapeamento
revelou que existem 403 iniciativas voltadas para inovação social em
longevidade no Brasil, organizadas em 30 frentes de ação distribuídas em todas
as regiões do país. O estudo foi feito pelo Lab Nova Longevidade em colaboração
com a organização Ashoka, o Instituto Beja e o Itaú Viver Mais, e foi divulgado
no domingo (29), na abertura do evento Longevidade Expo+Fórum, em São Paulo.
A pesquisa avaliou
iniciativas do governo, iniciativas privadas, organizações da sociedade civil,
academia, startups e produtores de conteúdo e mídia, trazendo um raio-x dos
esforços de diferentes setores da sociedade mobilizados em torno dos desafios e
oportunidades do envelhecimento.
Segundo o Censo de
2022, 10,9% da população brasileira tem 65 anos ou mais, representando um
crescimento significativo em relação às últimas décadas. Em 1980, esse grupo
etário representava apenas 4%. Com relação ao Índice de Envelhecimento, era de
55,2 em 2022, indicando que há 55,2 pessoas com 65 anos ou mais para cada 100
crianças de 0 a 14 anos.
Esses números apontam
para um acelerado envelhecimento populacional que, combinado com a revolução
tecnológica, está redefinindo como os idosos acessam serviços, interagem com
suas comunidades e contribuem com a sociedade.
“Falar sobre
longevidade é considerar o futuro. O Brasil vive um cenário de envelhecimento
progressivo da população e, mais do que abordar o assunto de forma pontual,
queremos realizar um trabalho perene que ajude o país a construir políticas
públicas de valorização das pessoas 50+ por meio da articulação de conversas
relevantes com autoridades públicas, pesquisadores, acadêmicos, profissionais e
outros agentes que podem influenciar essa cadeia, além das próprias pessoas
idosas”, afirma Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e
Sustentabilidade do Itaú Unibanco.
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Principais descobertas do mapeamento
Segundo o estudo, a
maior concentração de iniciativas mapeadas estava na região Sudeste (62%),
seguida pelo Nordeste (19%), Sul (11%), Centro-oeste (5%) e Norte (3%). A maior
concentração de respondentes foi em São Paulo (42,2%), Rio de Janeiro (10,2%), Minas
Gerais (9,7%), Pernambuco (7,2%), Rio Grande do Sul (5,2%) e Bahia (5,0%).
Além do Distrito
Federal, 24 dos 26 estados brasileiros participaram do mapeamento com pelo
menos uma iniciativa. As exceções foram o Estado do Acre e Rondônia, na Região
Norte.
Entre as iniciativas
mapeadas, 98,5% acreditam causar impacto social e 62,3% possuem 5 anos ou mais
de atuação. Do total, 48,1% impactavam mais de mil pessoas. Entre os temas que
as iniciativas consideram contribuir, estão o “envelhecimento saudável” (82%),
“novas narrativas para longevidade” (70%) e “diversidade e inclusão” (66%),
consideradas as mais relevantes, enquanto “educação financeira” (24%),
“qualificação profissional” (21%) e “educação midiática” (17%) foram as menos
relevantes.
A pesquisa aponta
ainda desafios persistentes, decorrentes do alto índice de analfabetismo
(15,4%) e do baixo uso da internet (51%) entre a população com 60 anos ou mais
no Brasil.
“O mapeamento
realizado no primeiro ano do Lab Nova Longevidade nos coloca diante de
ecossistemas dinâmicos e vivos, que fazem parte de uma infraestrutura capaz de
promover mudanças por meio de inovações sociais. Foi a escuta atenta e
sensível, ao longo desse processo, que resultou em um mapeamento tão potente”,
afirma Cristiane Sultani, presidente do Instituto Beja.
“Diante do rápido
envelhecimento populacional no Brasil, é essencial que haja agilidade para
aproveitar essa oportunidade única de utilizar conhecimento, tecnologia e,
acima de tudo, capital humano, para catalisar transformações rumo à ‘nova
longevidade’. A filantropia, nesse contexto, assume uma visão estratégica para
o uso do capital catalítico e é com grande alegria que o Instituto Beja vem
participando dessa revolução. Vamos juntos construir uma nova narrativa”,
completa.
Além dos dados, o
relatório do mapeamento também traz uma análise de barreiras e aprendizados
compartilhados pelas iniciativas mapeadas. Segundo o documento, a educação foi
identificada pelo ecossistema como uma das principais barreiras para uma
sociedade participativa e equitativa para todas as idades. Outro ponto
analisado foi o impacto do idadismo — ou preconceito contra idade — em várias
manifestações culturais, institucionais e interpessoais.
Segundo o relatório, o
impacto do idadismo na economia é relacionado com a exclusão desde pessoas
idosas do mercado de trabalho. Na política, o preconceito contra a idade foi
apontado como motivo para que cidadãos e representantes se afastem da pauta do envelhecimento,
uma vez que evitariam a identificação com o tema. O autoidadismo também foi
identificado como limitante para aprendizado e participação.
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Mapeamento usou IA especialista em inovação social em longevidade
Os dados do mapeamento
foram analisados com ajuda do “Cérebro Nova Longevidade”, uma inteligência
artificial (IA) especialista em inovação social para longevidade, treinada pelo
time de Nova Longevidade da Ashoka. A tecnologia utiliza infraestrutura digital
e tecnologias exponenciais para ampliar a sabedoria coletiva a serviços de
inovadores sociais atuando no campo da longevidade no Brasil e no mundo.
“Inovadores sociais
têm o desafio de ouvir as demandas das comunidades onde atuam, sem perder de
vista que elas se conectam e são influenciadas por um ecossistema com
diferentes atores. Entender este ecossistema é fundamental para o
desenvolvimento de soluções e colaborações mais eficazes que possam alcançar um
impacto mais amplo”, analisa Maria Clara Pinheiro, líder global de Nova
Longevidade Global na Ashoka.
O “Cérebro Nova
Longevidade” reúne informação especialista e confiável para auxiliar inovadores
sociais na compreensão profunda e abrangente de suas comunidades e do
ecossistema geral. Isso significa que a IA é capaz de transformar o
conhecimento acumulado no campo da longevidade em sabedoria coletiva a serviços
do ecossistema com compromisso de atuar sobre problemas sistêmicos e escalar o
impacto de inovações que respondam aos desafios e oportunidades do
envelhecimento.
“Além disso, a
Apurva.ia conta com ferramenta para escuta das demandas das comunidades no
WhatsApp e com recurso de voz, cuja análise é feita também a partir do
conhecimento acumulado pelo ‘Cérebro Nova Longevidade’. Isso é particularmente
importante quando reconhecemos que as velhices são heterogêneas”, completa
Marília Duque, co-líder Ashoka e coordenadora da pesquisa do Lab Nova
Longevidade.
No Brasil, o Lab Nova
Longevidade fará campanhas de escuta nos territórios para ouvir as pessoas
idosas em relação a temas como Voluntariado e Cuidado, entre outros.
Fonte: CNN Brasil
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