quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Mais de 50% dos brasileiros vão ao médico apenas quando têm problemas graves

Uma pesquisa lançada na segunda-feira (7) mostrou que mais de 50% dos entrevistados buscam atendimento médico somente quando apresentam algum incômodo ou problema grave de saúde. O levantamento foi realizado pelo Grupo Bradesco Seguros, em parceria com o Instituto de Pesquisa Locomotiva, e tem como foco avaliar aspectos relacionados à longevidade dos brasileiros.

De acordo com a pesquisa, os cuidados preventivos com a saúde são ainda piores entre os homens: 60% dos respondentes só buscam atendimento médico quando apresentam sintomas ou quadros de saúde graves. Apenas 43% dos entrevistados realizam consultas periódicas e preventivas.

No entanto, somente 40% estão satisfeitos com o seu acesso à saúde, um dado que chega a 60% entre os mais ricos, demonstrando uma falta de satisfação geral do público em relação ao atendimento médico.

Os dados foram obtidos através de uma metodologia chamada Indicador de Longevidade Pessoal (ILP), lançada pelo grupo também na segunda-feira, que analisa diferentes aspectos da saúde física e mental, além de interações sociais, que contribuem para a longevidade.

Para o levantamento, 1.058 pessoas testaram o ILP, através de um questionário on-line realizado entre os dias 6 e 13 de março de 2024. Os respondentes eram maiores de 18 anos e eram pessoas de diferentes gêneros, idades, regiões e rendas.

Em uma escala de 0 a 100, que avalia parâmetros desde saúde física e mental a interações sociais e educação financeira, a média da população brasileira no ILP foi de 64 pontos.

•        80% das pessoas se interessam por longevidade, mas apenas 38% sabem exatamente seu significado

Apesar de apenas 46% avaliarem o tema como uma prioridade pessoal, 8 em cada 10 pessoas têm interesse em adquirir mais conhecimento sobre longevidade. Porém, apenas 38% declaram saber exatamente seu significado. Segundo o levantamento, os mais velhos (acima de 50 anos) são os que adquiriram pontuação mais alta no ILP relacionada às atitudes que contribuem para a longevidade.

“Sabemos que ainda existe um grande caminho para o brasileiro seguir quando o assunto é longevidade e planejamento de vida, por isso o ILP se torna ainda mais relevante, ao proporcionar uma visão holística de qualidade de vida e sua manutenção com o passar da idade”, afirma Regina Macedo, superintendente de Comunicação do Grupo Bradesco Seguros.

O levantamento também mostrou que o brasileiro, em geral, tem uma perspectiva positiva sobre os cuidados com a saúde física. Porém, apesar de reconhecer que ações e hábitos contribuem para a longevidade, a maioria não se preocupa com fatores como, por exemplo, a alimentação.

De acordo com o estudo, 75% dos brasileiros dizem comer ao menos 1 porção de doces ou industrializados diariamente. Além disso, menos de 1/3 come três ou mais porções de frutas, legumes ou verduras por dia. A porcentagem é ainda menor entre os mais jovens (18 a 19 anos): 9%.

•        Jovens têm os piores índices de longevidade, segundo o estudo

Segundo o estudo, a sociedade ainda não atribui aos idosos conceitos como vida social ativa, com 80% dos respondentes associando-os a conceitos conservadores. Por outro lado, 71% declararam que as pessoas mais velhas são fontes de inspiração e 89% concordam que elas têm muito a ensinar aos mais jovens.

Segundo o levantamento, 52% dos mais jovens também só buscam atendimento médico ao apresentarem algum sintoma incômodo. Além disso, esse público apresentou os piores resultados no subindicador de saúde mental, ao lado das mulheres e dos mais pobres. Para somar, 19% deles não estão satisfeitos com suas interações sociais, aspecto fundamental para a longevidade.

“Hoje, infelizmente, os jovens estão passando por um período que acredito não ter precedência na história. Isso inclui muito estímulo, exposição, apelo midiático, pressão por performance que, nem sempre, é construtiva. Esse ambiente altamente competitivo faz com que eles se sintam perdidos”, afirma Alexandre Kalache, médico-gerontólogo e presidente do Centro Internacional da Longevidade (ILC-Brazil), à CNN.

“Os jovens de agora não sabem qual será o seu curso de vida. Eles só sabem que precisam aprender sem parar, que seu emprego pode mudar a qualquer momento, e que a reserva financeira com a conclusão da sua vida laboral é incerta”, acrescenta.

•        Brasil não está preparado para o envelhecimento da população, diz especialista

A expectativa de vida vem crescendo a cada ano no Brasil. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a esperança de vida do brasileiro ao nascer passou a ser de 76,4 anos em 2023. Para 2070, a expectativa é de que 37,8% dos habitantes do país sejam idosos, ou seja, mais do que o dobro atualmente.

Apesar das estatísticas, o Brasil não está preparado para o envelhecimento, do ponto de vista de Kalache. “As ações sociais e as políticas públicas ainda precisam de ajustes urgentes. Apesar de termos um estatuto do idoso exemplar, com mais de 20 anos, ele é pouco posto em prática e, talvez, isso explique o preconceito contra a idade na nossa sociedade”, afirma.

“As lideranças envelhecidas que temos nunca se enxergam como velhos, com o velho sendo sempre o outro. Além disso, não temos um ecossistema que facilite que o jovem e o idoso possam conviver de maneira mais próxima”, acrescenta. “Enquanto esse cenário não mudar, pouco se falará sobre o envelhecimento, como se isso não fosse um tema transversal, com repercussões não só na saúde, bem-estar social ou previdência, mas para tudo.”

 

•        Mapeamento identifica mais de 400 iniciativas para longevidade no Brasil

Um novo mapeamento revelou que existem 403 iniciativas voltadas para inovação social em longevidade no Brasil, organizadas em 30 frentes de ação distribuídas em todas as regiões do país. O estudo foi feito pelo Lab Nova Longevidade em colaboração com a organização Ashoka, o Instituto Beja e o Itaú Viver Mais, e foi divulgado no domingo (29), na abertura do evento Longevidade Expo+Fórum, em São Paulo.

A pesquisa avaliou iniciativas do governo, iniciativas privadas, organizações da sociedade civil, academia, startups e produtores de conteúdo e mídia, trazendo um raio-x dos esforços de diferentes setores da sociedade mobilizados em torno dos desafios e oportunidades do envelhecimento.

Segundo o Censo de 2022, 10,9% da população brasileira tem 65 anos ou mais, representando um crescimento significativo em relação às últimas décadas. Em 1980, esse grupo etário representava apenas 4%. Com relação ao Índice de Envelhecimento, era de 55,2 em 2022, indicando que há 55,2 pessoas com 65 anos ou mais para cada 100 crianças de 0 a 14 anos.

Esses números apontam para um acelerado envelhecimento populacional que, combinado com a revolução tecnológica, está redefinindo como os idosos acessam serviços, interagem com suas comunidades e contribuem com a sociedade.

“Falar sobre longevidade é considerar o futuro. O Brasil vive um cenário de envelhecimento progressivo da população e, mais do que abordar o assunto de forma pontual, queremos realizar um trabalho perene que ajude o país a construir políticas públicas de valorização das pessoas 50+ por meio da articulação de conversas relevantes com autoridades públicas, pesquisadores, acadêmicos, profissionais e outros agentes que podem influenciar essa cadeia, além das próprias pessoas idosas”, afirma Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco.

<><> Principais descobertas do mapeamento

Segundo o estudo, a maior concentração de iniciativas mapeadas estava na região Sudeste (62%), seguida pelo Nordeste (19%), Sul (11%), Centro-oeste (5%) e Norte (3%). A maior concentração de respondentes foi em São Paulo (42,2%), Rio de Janeiro (10,2%), Minas Gerais (9,7%), Pernambuco (7,2%), Rio Grande do Sul (5,2%) e Bahia (5,0%).

Além do Distrito Federal, 24 dos 26 estados brasileiros participaram do mapeamento com pelo menos uma iniciativa. As exceções foram o Estado do Acre e Rondônia, na Região Norte.

Entre as iniciativas mapeadas, 98,5% acreditam causar impacto social e 62,3% possuem 5 anos ou mais de atuação. Do total, 48,1% impactavam mais de mil pessoas. Entre os temas que as iniciativas consideram contribuir, estão o “envelhecimento saudável” (82%), “novas narrativas para longevidade” (70%) e “diversidade e inclusão” (66%), consideradas as mais relevantes, enquanto “educação financeira” (24%), “qualificação profissional” (21%) e “educação midiática” (17%) foram as menos relevantes.

A pesquisa aponta ainda desafios persistentes, decorrentes do alto índice de analfabetismo (15,4%) e do baixo uso da internet (51%) entre a população com 60 anos ou mais no Brasil.

“O mapeamento realizado no primeiro ano do Lab Nova Longevidade nos coloca diante de ecossistemas dinâmicos e vivos, que fazem parte de uma infraestrutura capaz de promover mudanças por meio de inovações sociais. Foi a escuta atenta e sensível, ao longo desse processo, que resultou em um mapeamento tão potente”, afirma Cristiane Sultani, presidente do Instituto Beja.

“Diante do rápido envelhecimento populacional no Brasil, é essencial que haja agilidade para aproveitar essa oportunidade única de utilizar conhecimento, tecnologia e, acima de tudo, capital humano, para catalisar transformações rumo à ‘nova longevidade’. A filantropia, nesse contexto, assume uma visão estratégica para o uso do capital catalítico e é com grande alegria que o Instituto Beja vem participando dessa revolução. Vamos juntos construir uma nova narrativa”, completa.

Além dos dados, o relatório do mapeamento também traz uma análise de barreiras e aprendizados compartilhados pelas iniciativas mapeadas. Segundo o documento, a educação foi identificada pelo ecossistema como uma das principais barreiras para uma sociedade participativa e equitativa para todas as idades. Outro ponto analisado foi o impacto do idadismo — ou preconceito contra idade — em várias manifestações culturais, institucionais e interpessoais.

Segundo o relatório, o impacto do idadismo na economia é relacionado com a exclusão desde pessoas idosas do mercado de trabalho. Na política, o preconceito contra a idade foi apontado como motivo para que cidadãos e representantes se afastem da pauta do envelhecimento, uma vez que evitariam a identificação com o tema. O autoidadismo também foi identificado como limitante para aprendizado e participação.

<><> Mapeamento usou IA especialista em inovação social em longevidade

Os dados do mapeamento foram analisados com ajuda do “Cérebro Nova Longevidade”, uma inteligência artificial (IA) especialista em inovação social para longevidade, treinada pelo time de Nova Longevidade da Ashoka. A tecnologia utiliza infraestrutura digital e tecnologias exponenciais para ampliar a sabedoria coletiva a serviços de inovadores sociais atuando no campo da longevidade no Brasil e no mundo.

“Inovadores sociais têm o desafio de ouvir as demandas das comunidades onde atuam, sem perder de vista que elas se conectam e são influenciadas por um ecossistema com diferentes atores. Entender este ecossistema é fundamental para o desenvolvimento de soluções e colaborações mais eficazes que possam alcançar um impacto mais amplo”, analisa Maria Clara Pinheiro, líder global de Nova Longevidade Global na Ashoka.

O “Cérebro Nova Longevidade” reúne informação especialista e confiável para auxiliar inovadores sociais na compreensão profunda e abrangente de suas comunidades e do ecossistema geral. Isso significa que a IA é capaz de transformar o conhecimento acumulado no campo da longevidade em sabedoria coletiva a serviços do ecossistema com compromisso de atuar sobre problemas sistêmicos e escalar o impacto de inovações que respondam aos desafios e oportunidades do envelhecimento.

“Além disso, a Apurva.ia conta com ferramenta para escuta das demandas das comunidades no WhatsApp e com recurso de voz, cuja análise é feita também a partir do conhecimento acumulado pelo ‘Cérebro Nova Longevidade’. Isso é particularmente importante quando reconhecemos que as velhices são heterogêneas”, completa Marília Duque, co-líder Ashoka e coordenadora da pesquisa do Lab Nova Longevidade.

No Brasil, o Lab Nova Longevidade fará campanhas de escuta nos territórios para ouvir as pessoas idosas em relação a temas como Voluntariado e Cuidado, entre outros.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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