quarta-feira, 9 de outubro de 2024

A mulher deveria dedicar à vagina o mesmo cuidado que reserva para o rosto, diz especialista

A ginecologista norte-americana Sameena Rahman foi uma das atrações do 25º. Congresso Mundial de Medicina Sexual, assunto das colunas de quinta e domingo. Especialista em menopausa e disfunções sexuais, começou sua palestra com muitos números, inclusive sobre as queixas das brasileiras:

“No mundo, cerca de 47 milhões de mulheres entram na menopausa anualmente. Em 2030, serão 1.2 bilhão entre a perimenopausa e a pós-menopausa e a maioria de nós vai passar um terço da vida na pós. No Brasil, 44% se queixam de sintomas que impactam sua autoestima: 58% evitam a intimidade sexual, porque traz desconforto; e 64% se veem às voltas com a perda da libido”.

Rahman elegeu a síndrome geniturinária da menopausa – o conjunto de sintomas que afetam o trato urinário inferior e o aparelho genital – como seu principal tema. A lista de problemas, causados pela redução dos níveis de estrogênio, é grande: ressecamento, dispareunia (dor na relação sexual), sangramento depois do sexo, coceira, ardência, infecções urinárias recorrentes, afinamento e ulceração da mucosa vaginal.

“Para começar, vamos combinar de não chamar a síndrome geniturinária de atrofia vaginal. Equivale dizer às mulheres que suas vaginas estão gastas e deterioradas, como se não servissem para nada. Não empregamos mais a expressão ‘impotente’ para os homens pelo mesmo motivo. No começo da transição para a pós-menopausa, 42% enfrentam algum tipo de incômodo. Oito anos depois da menopausa, esse percentual chega a 88%, com consequências negativas para os relacionamentos”.

Sobre a infecção urinária, os dados são alarmantes: 60% das mulheres são afetadas, com um custo global de 2 bilhões de dólares (quase R$ 11 bi). A prevalência acima dos 65 anos beira os 20%, contra 11% na população em geral. São infecções que respondem por 25% das hospitalizações geriátricas, mas o simples uso de estrogênio vaginal previne sua recorrência em até 50%. Valendo-se de levantamentos feitos nos EUA, a médica lamentou que 70% das pacientes não abordem o assunto com o profissional de saúde, quase sempre por não se sentirem à vontade, e prefeririam que a iniciativa partisse dele. Rahman estimula a utilização de lubrificantes, mas enfatiza que a terapia com estrogênio vaginal é indispensável e segura:

“Esse é uma condição progressiva. Portanto, o cuidado precisa ser contínuo. Da mesma forma que uma mulher se preocupa em passar cremes para hidratar e tonificar o rosto, tem que zelar pela saúde da vagina. Para resumir, a rotina diária à noite deveria ser escovar os dentes e usar estrogênio na vagina”.

 

•                                         Veja 12 hábitos que podem prejudicar a saúde íntima feminina

Alguns hábitos podem parecer triviais ou inofensivos, mas - na avaliação de especialistas em saúde da mulher - podem colocar em risco a região íntima feminina. Calça justa, biquíni molhado, uma calcinha errada, absorventes diários e até a alimentação podem trazer efeitos indesejados.

<><> O g1 listou 12 hábitos que prejudicam a saúde da vagina:

1. Alimentação

Consumir muitos doces, carboidratos e gorduras podem alterar o pH vaginal.

"O pH vaginal é um dos mecanismos de defesa dessa região. Ele é naturalmente mais ácido, gira em torno de 3,8 a 4, e as bactérias mais maléficas não vivem nesse pH. O consumo de carboidratos, principalmente o açúcar, vai acidificar o pH, predispondo a candidíase, por exemplo. Uma alimentação muito rica em ácidos também vai mexer com esse mecanismo", explica a ginecologista Flávia Fairbanks, mestre e doutora em ginecologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Ela orienta que uma alimentação com um consumo equilibrado de carboidrato favorece a manutenção do pH.

2. Deixar a calcinha secando no box

Você pode lavar a sua calcinha durante o banho, mas o problema está na hora de secar. Nada de deixar pendurada na torneira ou em qualquer lugar do banheiro.

"Quando deixamos a calcinha secando no box (ou no banheiro), estamos favorecendo a proliferação de fungos. O melhor jeito de secar uma roupa íntima é no sol, por causa dos raios UV. Outra dica é passar o fundo da calcinha com o ferro quente, porque o calor ajuda a eliminar fungos e bactérias", alerta Fairbanks.

3. Absorventes/protetores diários

Algumas mulheres se sentem mais protegidas com os absorventes diários (ou protetores diários). No entanto, esse hábito é muito prejudicial para a saúde da vagina. Segundo a ginecologista, esses protetores bloqueiam os mecanismos próprios de oxigenação e ventilação da vagina.

"Oxigenar essa região é muito saudável. As bactérias costumam ser anaeróbicas, ou seja, não precisam de oxigenação. Quanto mais oxigênio levar para a região, mais você favorece a esterilização dessas bactérias. Um absorvente diário todos os dias diminui essa oxigenação e pode provocar corrimentos e infecções", diz a ginecologista.

4. Usar calça apertada

As calças mais apertadas prejudicam a ventilação, a transpiração da região íntima e a manutenção da temperatura normal da vagina. Além disso, calças mais justas podem causar um atrito permanente na região vulvar, provocando incômodo e irritações.

Fairbanks explica que o organismo vai ter uma resposta a essa irritação, desenvolvendo uma inflação. "Essa inflamação, junto com bactérias e fungos, gera um descontrole local e o favorecimento de infecções, candidíase", ressalta.

5. Não fazer xixi após a relação sexual

Não importa se você usou ou não preservativo durante a relação sexual. O xixi é indispensável após o sexo vaginal. Flávia Fairbanks explica que as mulheres liberam secreções para a lubrificação vaginal que ficam passeando e passam perto da uretra.

"Fica um shopping center de bactérias e não tem jeito: quando você termina a relação, a uretra está colonizada por essas bactérias. Essas bactérias estão doidas para ir para um lugar desconhecido e o caminho natural é subir a uretra e ir para a bexiga", comenta.

Ao urinar, a mulher expulsa as bactérias do canal da uretra com o próprio jato do xixi, não deixando chegar até a bexiga. "Pode ser até um pouquinho, não precisa estar com vontade", alerta Fairbanks.

Absorvente interno: troca deve ser feita a cada quatro horas — Foto: Pixabay

6. Troca do absorvente interno

As adeptas do absorvente interno devem ter atenção na hora da troca. Mesmo que o fluxo da menstruação seja baixo, essa troca deve ser feita a cada quatro horas (seis horas, no máximo).

"Mesmo que tenha pouco sangue, é preciso trocar o absorvente interno com frequência, mesmo no fim da menstruação. Se você deixar por mais tempo, corre o risco de ter infecções até mais sérias", explica a ginecologista.

7. Usar biquíni molhado por muito tempo

Umidade, baixa ventilação e ambiente quente: um cenário ideal para desenvolver candidíase, diz a ginecologista.

"O biquíni úmido não permite uma ventilação maior, o que contribui para a proliferação de fungos e bactérias. A dica é: usou o biquíni e ele está úmido? Dê um jeito de secar ou trocar".

8. Ducha vaginal

O uso da ducha vaginal é muito prejudicial à saúde íntima da mulher. Ela não tem função higiênica e ainda destrói os mecanismo de barreira da vagina.

"A vagina tem um tecido muito sensível. Essa ducha vaginal pode causar microfissuras, favorecendo a aquisição de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Não pode fazer ducha vaginal e nem limpar dentro da vagina. Essa região já tem seus próprios métodos de autolimpeza", diz Fairbanks.

9. Tipos de calcinha

A melhor calcinha é, sem dúvidas, a de algodão. Os tecidos sintéticos são mais acessíveis e comuns, mas são inimigos da saúde íntima da mulher, pois abafam a região, aumentando a umidade e favorecendo a proliferação de bactérias e fungos responsáveis pelas infecções vaginais.

10. Depilação

A depilação mais segura é que preserva os pelos perto da região da uretra, dos orifícios vaginal e perianal. "Não existe indicação médica para retirar todos os pelos dessa região íntima. Tirou tudo? Vamos observar. Cada pele reage de um jeito, cada mulher tem um hábito. Precisa ver como o corpo reagiu".

A vulva tem mecanismos próprios de autodefesa que são dependentes de: composição de gordura, bactérias naturais, pH local e composição da proteção trazida pelos pelos pubianos. Esse quarteto monta o sistema de defesa e proteção local.

11. Sabonete íntimo

Você não precisa usar um sabonete íntimo para higienizar a região da vulva. Água e sabonete neutro já dão conta do recado. Além disso, alguns produtos podem alterar o pH vaginal.

"Usar sabonete íntimo é opção, não é indicação ou obrigação. Caso a mulher queira usar, ela precisa procurar um produto que tiver o pH mais próximo possível do neutro. Se não for, ele pode mudar a constituição dos mecanismos de defesa da região, expondo o organismo a risco de outras infecções, bactérias e fungos", explica Flávia Fairbanks.

12. Secar o xixi de trás para frente

O correto é sempre usar o papel higiênico de frente para trás - no sentido da vagina para o ânus. Isso evita que a mulher leve bactérias intestinais da região anal para a região da vagina, levando a infecções.

 

•                                         Por que manchas na calcinha são algo bom

Sua calcinha desbota? Se a resposta for sim, não precisa se preocupar. Esse é um sinal de que sua região íntima está funcionando bem.

Imagine que há uma grande festa acontecendo na sua vagina — e apenas bactérias boas foram convidadas. Elas produzem ácido lático, o que torna sua área íntima — e seu corrimento — mais ácido. Isso evita que bactérias ruins ou fungos invadam a festa. Nada de infecções indesejadas.

O pH de uma vagina saudável fica entre 3,8 e 4,5 – semelhante ao da chuva ácida! Então, quando vestígios desse "escudo de proteção" entram em contato com sua roupa íntima, eles podem deixar manchas que lembram alvejante. Chato, mas totalmente normal.

 

Fonte: g1/DW Brasil

 

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