Florestan Fernandes Jr.: ‘As eleições e o
futuro da esquerda’
Três milhões e
seiscentos mil votos. Essa é a soma dos eleitores que votaram na direita e
extrema-direita na cidade de São Paulo. Esse número representa bem mais do que
o dobro dos votos de Guilherme Boulos no primeiro turno. Para tirar essa
diferença até o dia 27 de outubro não será nada fácil.
Mesmo que todos os 605
mil eleitores de Tabata Amaral decidam votar em Boulos, o psolista ainda teria
que convencer 1,2 milhão de eleitores que votaram em Nunes e Marçal a mudarem
seus votos. Tarefa complicada para quem tem uma rejeição bem maior que a de seu
adversário.
Mas, como dizem os
comentaristas políticos, segundo turno é uma nova eleição. Que o diga Geraldo
Alckmin, que no 2º turno da eleição presidencial de 2006 obteve 2,4 milhões de
votos a menos do que obteve no 1º turno. Vale lembrar que o fato raro aconteceu
numa eleição em que o presidente Lula estava muito bem avaliado e obteve no
primeiro turno 49% dos votos válidos.
Boulos pode buscar
essa diferença junto aos 2,5 milhões de paulistanos que não compareceram às
sessões eleitorais no domingo (6/10). Precisa convencê-los a irem votar no
próximo dia 27.
Porém, nem tudo está
perdido. O jogo foi para a prorrogação e, nela, Nunes ficará mais exposto. O
eleitor terá a chance que não teve no 1º turno de avaliar melhor o desempenho
da administração do prefeito. Boulos provavelmente irá expor que o atual prefeito
é apoiado por Bolsonaro. E Nunes, por sua vez, tentará esconder o ex-presidente
ao máximo.
Já Lula terá que
aparecer mais, não só em São Paulo, mas também nas cidades onde o PT e os
partidos de centro-esquerda disputam o 2º turno. Algo, aliás, que deixou a
dever nestas eleições.
Se Nunes conseguir a
reeleição na capital paulista, a direita continuará a controlar, como já fez
várias vezes nas últimas décadas, o orçamento do principal estado e da maior
cidade do país. Agora, com um agravante: ligado à extrema-direita.
Ao PT e às esquerdas,
de maneira geral, fica o alerta: é preciso repensar suas estratégias políticas
e de comunicação para não sucumbirem ao avanço do fascismo e dos partidos
fisiológicos.
É urgente investir em
novas lideranças e em pautas que mobilizem os corações e as mentes dos
brasileiros. Não sei se ainda dá tempo. O partido continua pequeno: elegeu no
1º turno apenas 251 prefeitos. O PL de Valdemar da Costa Neto fez 523 prefeitos
e o PSD de Kassab 878. Fica a pergunta: o que será das esquerdas quando não
tivermos mais o presidente Lula?
• O resultado das eleições municipais e a
tendência fascista da sociedade brasileira. Por Ricardo Nêggo Tom
Enquanto boa parte do
campo progressista segue tratando a população brasileira mais pobre e
periférica como intelectualmente impúbere, a extrema-direita está conseguindo
fazer esta mesma população se sentir cada vez mais participativa e decisiva nos
processos eleitorais do país. Ainda que isso não seja uma realidade fática e
esta população esteja sendo manipulada a acreditar em seus algozes históricos,
é inegável que a capacidade de articulação política do fascismo brasileiro vem
fazendo com que a esquerda perca eleitores e votos importantes a cada sufrágio
universal.
Não vou dourar o texto
com o excesso de academicismo que vem sendo uma das causas de a esquerda estar
sendo desprezada pelo “povão”, por não conseguir mais se comunicar com uma
linguagem mais próxima deste. Podem me tacar pedras, mas o povo trabalhador não
tem tempo para saber sobre Marx, Engels ou o escambau da revolução bolchevista.
Num país onde a educação é propositalmente sucateada para que os mais pobres
não desenvolvam senso crítico e capacidade de avaliação do cenário social onde
estão inseridos, isso tudo soa arrogante e presunçoso aos seus ouvidos, e eles
respondem nas urnas à não compreensão desse esquerdismo terrivelmente
acadêmico.
Alguém pode estar
pensando: “uai, Ricardo! Se a população sofre boicote proposital na educação, é
óbvio que ela deve ser tratada como incapaz de entender a formação estrutural
da nossa sociedade, não?”. Nem sempre. O fato de alguém não entender de economia,
por exemplo, não invalida a sua avaliação de como a economia está afetando a
sua vida. Se o indivíduo ganha pouco e os preços estão altos, obrigatoriamente
ele associará a carestia à política econômica do governo vigente. Porém,
enfrentamos um outro fenômeno que a esquerda não tem avaliado como determinante
em sua queda de popularidade: a pauta moral e de costumes, também conhecida
como hipocrisia conservadora, propagada em aliança entre a extrema-direita e o
fundamentalismo evangélico.
Pânico moral
estabelecido na sociedade, por meio da conclamação de uma luta do bem contra o
mal, tendo o comunismo como o diabo papão que corrompe criancinhas e as
incentiva a mudar de sexo, usar drogas e votar na esquerda, o indivíduo pobre
que ganha pouco, citado no parágrafo anterior, esquece que a sua principal
carência é financeira, abraça a causa divina da defesa moral da sociedade e dos
valores cristãos e passa a acreditar que Deus, através da extrema-direita,
destruirá os pervertidos e imorais e transformará a nação brasileira num
paraíso onde jorra leite e mel. O fato de os vereadores mais votados nas
principais cidades do país serem da extrema-direita não me deixa mentir. E além
do sucateamento proposital de uma educação que não é libertadora, como
preconiza Paulo Freire, precisamos levar em consideração a formação do caráter
dessas pessoas. Algo que, normalmente, legitima suas escolhas.
Em São Paulo, Lucas
Pavanato, mais um fruto podre da inteligência artificial do MBL, foi o vereador
mais votado no ambiente político mais inóspito da atualidade. Um candidato que
se elegeu tendo como principal projeto político impedir mulheres trans de usarem
o banheiro feminino. Seria conservador se não fosse trágico. Em Belo Horizonte,
o vereador mais votado foi Pablo Almeida, do PL, assessor e apadrinhado de
Nikolas Ferreira, que se elegeu com uma pauta antiaborto e de bons costumes. As
cidades de São Paulo e Belo Horizonte se transformarão nas maiores potências do
país se mulheres trans não forem mais ao banheiro e mulheres cisgênero nunca
mais abortarem? Não! Mas a ideia de que “Deus” não gosta dessas coisas fala
mais alto no imaginário popular. Afinal de contas, “nem só de pão vive o
homem”, mas de todo fundamentalismo religioso que sai da boca de falsos
profetas, lobistas políticos do fascismo brasileiro.
No Rio de Janeiro,
Carlos Bolsonaro, do PL, foi o mais votado, tendo quase o triplo de votos do
segundo colocado, Márcio Ribeiro, do PSD, um dos nomes apoiados pelo prefeito
reeleito, Eduardo Paes. O filho do comerciante de joias do Estado vai para o
seu sétimo mandato e já aprovou na legislatura atual o dia do conservadorismo,
além de ter proposto uma medida que impede que insetos sejam servidos na
merenda escolar do município. Segundo ele, a medida visa prevenir uma possível
alteração de cardápio para as crianças, onde elas seriam usadas como cobaias de
experimentos alimentares no futuro. Uma prova de que a crise é também
psiquiátrica, e que o pânico moral rende muitos votos. Em Porto Alegre, Jesse
Sangalli, do PL, foi o campeão de votos para a Câmara Municipal, defendendo o
conservadorismo e os valores da direita. O que nos sugere um dilúvio de mais
quatro anos na política local, com a provável reeleição do negacionista
climático Sebastião Melo.
O saldo das eleições
municipais é desastroso para a esquerda, embora haja quem enxergue com bons
olhos conquistas paliativas como as de Boulos e Maria do Rosário, que passaram
para o segundo turno em São Paulo e Porto Alegre, respectivamente. Infelizmente,
a realidade dos fatos e dos votos não nos permite almejar mais do que isso.
Dificilmente, apesar da nossa torcida, ambos conseguirão vencer seus
adversários bolsonaristas. Hoje, “São Paulo é como o mundo todo”, como já
cantou Caetano, onde caretas e picaretas de Paris e Alphaville se apresentam
como defensores da população para mamar nas divinas tetas da vaca estatal. A
votação de Pablo Marçal e o circo protagonizado por alguns de seus eleitores,
que se ajoelharam nas ruas pedindo para que Jesus desse a vitória ao ladrão da
cruz, digo, ao ladrão de bancos, e salvasse a cidade do comunismo de Guilherme
Boulos, prova que o fundamentalismo fascista religioso é uma das principais
ideologias políticas do país nesse momento.
• 'Frente ampla de Lula venceu
extrema-direita nas eleições', diz Padilha
O ministro-chefe da
Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, fez um balanço dos
resultados das eleições municipais do último domingo (6), afirmando que a
frente ampla governista venceu o pleito e derrotou candidatos de
extrema-direita que ameaçam a democracia.
Reunião de coordenação
na manhã desta segunda-feira (7) entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
os líderes do governo no Congresso e o os ministros palacianos, serviu também
para uma avaliação do resultado das eleições municipais. Apesar do PT ter tido
um crescimento razoável de 2020 para este ano, o partido do presidente ficou
abaixo do PL, de Jair Bolsonaro, e mesmo abaixo de outro partido de esquerda,
como o PSB.
Segundo Padilha, os
resultados demonstram o apoio da população à frente ampla liderada pelo
presidente Lula e o rechaço à extrema-direita. "Estamos confiantes de que
nas eleições municipais existem vitórias simbólicas importantes de uma frente
ampla apoiada pelo presidente Lula contra candidaturas da extrema-direita que
tentam perverter o processo democrático brasileiro", disse Padilha a
jornalistas nesta segunda-feira (7), segundo o relato publicado pela Folha de
São Paulo.
"O conjunto de
partidos que apoiam o governo, que inclusive tem ministros, teve um aumento
expressivo. Um crescimento significativo não só do PT, que estava em um patamar
baixo em 2020, e um crescimento importante do conjunto de partidos que apoia o
presidente Lula, do centro, da centro-direita", defendeu Padilha, segundo
o relato da agência Reuters.
O ministro afirmou,
ainda, que lideranças importantes da base, como Eduardo Paes (PSD), no Rio de
Janeiro, e João Campos (PSB), em Recife, venceram nomes fortes do bolsonarismo.
No segundo turno, disse Padilha, o presidente Lula vai apoiar diversos nomes
que não são do PT, mas são de partidos fortes da base, como Fuad Norman (PSD),
que disputa o segundo turno em Belo Horizonte com Bruno Engler (PL), nome de
Bolsonaro.
<><>Bolsonaro
vê "vitória" da extrema-direita nas eleições municipais
Jair Bolsonaro
considera os resultados das eleições do último domingo (6) uma
"vitória" para a extrema-direita, apesar das disputas sobre quem foi
o real vencedor do pleito. Ao mesmo tempo, o governo do presidente Lula
reivindica o triunfo da frente ampla.
“O resultado das
eleições foi uma vitória do povo conservador, da direita, dos patriotas do
Brasil. O voto da direita não é um voto comprado da população. É um voto dado
pelo conhecimento do povo. Essa eleição vai refletir em 2026 com certeza. Em
2026, a direita estará ainda mais forte”, afirmou Bolsonaro à CNN Brasil nesta
segunda-feira (7).
O ex-capitão também
aproveitou para criticar o ex-coach de extrema-direita Pablo Marçal, que
terminou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura de São Paulo e não
conseguiu avançar para o segundo turno. A disputa agora está entre o atual
prefeito Ricardo Nunes, apoiado por Bolsonaro, e Guilherme Boulos, que conta
com o apoio do presidente Lula.
“O Marçal não é dono
dos votos. Quem votou nele foi iludido. Minha opinião sobre ele, eu tive há
dois meses. Conversei com ele, depois ele saiu falando outra coisa. Quem age
dessa maneira, vai se desgastando. Ele é inteligente, mas usa a inteligência
para o mal. Ele é carta fora do baralho. Quem votou nele foi iludido e os votos
vão para o Ricardo Nunes, não vão para o Boulos”, concluiu o ex-capitão.
Fonte: Brasil 247
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