sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Florestan Fernandes Jr.: ‘Os cinco minutos de choro de Bolsonaro’

No dia 29 de janeiro deste ano, Jair Bolsonaro se derramou em lágrimas por longos cinco minutos numa conversa com Silas Malafaia. E foi o próprio pastor quem revelou a história à jornalista Mônica Bergamo. Bolsonaro teria chorado copiosamente por medo de uma possível prisão.

Na manhã daquele dia, a PF cumpria mandados de busca e apreensão na casa do ex-presidente em Angra dos Reis, na esteira da investigação da possível participação de Bolsonaro na instalação da “Abin Paralela”. Bolsonaro e seus filhos, que não foram encontrados pela polícia, teriam saído de Jet Ski para pescar às cinco da manhã.

Imaginem só a cena de Bolsonaro ao celular, com o corpo e o rosto molhados pela água do mar e pelo mar de lágrimas. Um choro que nunca derramou pelas mais de 700 mil vítimas da COVID, de cujo sofrimento fazia piadas.

As revelações de Malafaia não pararam no chororô, ele fez duras críticas a Bolsonaro por ter apoiado, ao mesmo tempo, Marçal e Ricardo Nunes para prefeitura de São Paulo. Malafaia questionou: "Que líder é esse? Sinal dúbio para o povo? Líder toma frente, líder dá a direção...Quem vai fazer aliança com um cara que não é confiável?"

Mas qual teria sido o estopim para Malafaia disparar esses ataques ao líder da extrema-direita que ele tanto defendeu?

A questão é a preservação dos fiéis da sua igreja e de outras pentecostais pelo país e tentar proteger seu protagonismo político.

Marçal, como candidato, alcançou boa parte desses evangélicos com seu discurso de líder de uma nova seita, que nega a importância das igrejas. Isso incomodou profundamente Silas Malafaia, que chegou a afirmar que Marçal era psicopata e oportunista. Foi além, disse que o coach não é evangélico.

Malafaia não ignora que Marçal conhece e sabe usar como ninguém as redes sociais, que conhece e faz uso dos bordões e do léxico evangélico, que Bolsonaro desconhece. Ou seja, o medo de alguns pastores e de Malafaia é de um racha na direita conservadora, entre os evangélicos.

Imaginem o prejuízo causado aos pastores por um candidato que tenta convencer os fiéis de que não é preciso ir à igreja e nem pagar o dízimo. Imaginem o prejuízo da disseminação no meio evangélico do discurso de Pablo Marçal, focado no individualismo, no poder da própria vontade como propulsora da prosperidade tão ansiada. Marçal defende que seus seguidores não precisam de nada e nem de ninguém, além da própria vontade (e de pagar por seus cursos, é claro!).

Em plena campanha eleitoral, Malafaia se deu conta de que a parceria de sua igreja com Bolsonaro estava chegando ao fim. E de que sua igreja estava seriamente ameaçada pelo discurso de Marçal.

Malafaia nem esperou o segundo turno e uma possível vitória de Ricardo Nunes para manifestar publicamente a fidelidade ao governador Tarcísio de Freitas. É o momento em que a cria (Tarcísio) supera o criador (Bolsonaro). Sem a caneta de presidente, inelegível e perto de ser indiciado, Bolsonaro pode preparar o lenço para limpar as lágrimas pois, se as coisas continuarem nessa toada, não terá nem o ombro do pastor para consolá-lo.

 

•        A conversa de Malafaia com Bolsonaro após os ataques do pastor

O pastor Silas Malafaia e o ex-presidente Jair Bolsonaro conversaram nas últimas horas sobre a entrevista na qual o líder religioso criticou durante a postura do ex-mandatário nas eleições para a Prefeitura de São Paulo.

Em entrevista à colunista Mônica Bergamo veiculada na terça-feira (8/10), Malafaia chamou Bolsonaro de “omisso” e “covarde” na eleição por medo de ser derrotado pelo ex-coach Pablo Marçal (PRTB).

Segundo Malafaia, ele e Bolsonaro conversaram por WhatsApp ainda na terça e nesta quarta-feira (9/10). Nas conversas, o ex-presidente deixou claro que ficou chateado com o pastor, mas os dois teriam se entendido.

“O cara ficou aborrecido, lógico, pô, uma pancada que eu dou o cara fica aborrecido. Mas ele sabe quem eu sou. Ele sabe que eu sou aliado de primeira hora. Não sou bolsominion que vive escondido na hora da crise, não. Ele sabe que, na hora do pau e do vamos ver, eu estou lá na linha de frente. Sou da infantaria. Só que eu não sou bolsominion, sou independente. Eu penso. Falo para fora da bolha de bolsominions. Tenho que pensar, questionar, dar um choque de realidade”, relatou o pastor à coluna.

<>< Malafaia conversa com filhos de Bolsonaro

Malafaia contou ainda ter conversado nesta quarta, também por mensagem, com dois filhos do ex-presidente: o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

“Não tem nenhum problema não. Eles sabem quem eu sou. Sabem que não sou traíra. Sabem que não estou fazendo isso para dividir nada porque eu tenho intenção política. Eles sabem disso tudo.

<><> Bolsonaro se pronuncia

Em conversa com a coluna na terça, Bolsonaro evitou rebater Malafaia. “Meu Posto Ipiranga não tem gasolina, só tem água”, afirmou o ex-presidente, ao ser questionado sobre os ataques do pastor.

•        Por que Bolsonaro ficou em cima do muro entre Nunes e Marçal

Aliados de Jair Bolsonaro avaliam que o ex-presidente ficou em cima do muro na campanha municipal de São Paulo por medo do poder do coach Pablo Marçal nas redes sociais. O prefeito Ricardo Nunes, do MDB, foi ao segundo turno com Guilherme Boulos, do PSol. Nunes obteve 29,48% dos votos, ante 29,07% de Boulos.

Marçal, candidato do PRTB, recebeu 28,14% dos votos, na disputa mais acirrada das últimas quatro décadas. Aliados de Bolsonaro creditam o sucesso do novato Marçal à falta de um posicionamento contrário por parte do ex-presidente.

Bolsonaro avalia que boa parte de seu eleitorado abraçou a candidatura de Marçal. Por isso, segundo pessoas próximas ao ex-presidente, ficou com medo de entrar de cabeça na campanha de Nunes e atacar Marçal.

Na terça-feira (8/10), o pastor Silas Malafaia chamou Bolsonaro de “covarde” e “omisso” por sua postura na eleição de São Paulo e de Curitiba.

Em Curitiba, o PL indicou o vice na chapa de Eduardo Pimentel, mas Bolsonaro tampouco foi incisivo na campanha. A bolsonarista Cristina Graeml, do PMB, que disputará com Pimentel o segundo turno, gravou vídeos em que ostenta o apoio do ex-presidente.

<><> Gonet rebate Marçal após fala sobre mandado de prisão contra Bolsonaro: 'absoluto delírio'

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, classificou como “puro e absoluto delírio” as declarações de Pablo Marçal sobre a existência de um suposto mandado de prisão contra Jair Bolsonaro (PL), informa o jornalista Teo Cury, da CNN Brasil. Marçal afirmou em uma palestra nesta terça-feira (8) que Gonet teria um mandado pronto contra Bolsonaro e que "vai acontecer o pior depois das eleições com o capitão”.

No entanto, a emissão de um mandado de prisão é de competência de um juiz, não do Ministério Público. No caso de Bolsonaro, qualquer decisão dessa natureza caberia ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz as investigações envolvendo o ex-presidente.

Uma ordem de prisão antes do fim das investigações só seria justificável em situações extremas, como risco de obstrução ou fuga. "A decisão sobre denúncia ou arquivamento depende de inquéritos em curso e não deve acontecer neste mês", afirmou Gonet.

 

•        Flávio vê Tarcísio como nome para 2026 com Jair Bolsonaro inelegível

O senador Flávio Bolsonaro afirmou em entrevista à coluna nesta quarta-feira (9/10) que vê o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como o político de direita mais bem posicionado a disputar o Planalto em 2026. Atualmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro está inelegível para 2026, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral no ano passado.

“Os nomes que são colocados são do Tarcísio [de Freitas], Ratinho Júnior [governador do Paraná], Ronaldo Caiado [governador de Goiás], Romeu Zema [governador de Minas Gerais]; A minha avaliação é que, hoje, o nome mais bem posicionado seria o do Tarcísio. Não só pelas pesquisas que a gente já fez, que mostram que ele tem uma largada maior. O nosso eleitor sabe que o Tarcísio é de direita, foi um baita ministro do Bolsonaro, concorreu ao governo de São Paulo a pedido do presidente Bolsonaro, um carioca flamenguista se elegendo governador de São Paulo”.

A despeito de traçar esse cenário para as eleições daqui a dois anos, Flávio Bolsonaro disse acreditar que o ex-presidente estará apto a aparecer nas urnas na próxima eleição.

“No caso de o presidente Bolsonaro não concorrer… Eu tenho dificuldade de falar porque, de fato, a gente acredita que ele [Jair Bolsonaro] vai estar em posição de concorrer”, disse o senador.

Na eleição à Prefeitura de São Paulo, Tarcísio de Freitas entrou de cabeça na campanha para o prefeito Ricardo Nunes, do MDB. Jair Bolsonaro, por outro lado, foi criticado por adotar uma posição ambígua entre Nunes e o coach Pablo Marçal, do PRTB, que não passou para o segundo turno.

<><> Jair Bolsonaro não temeu perder protagonismo para Marçal, diz Flávio

O senador Flávio Bolsonaro, do PL do Rio de Janeiro, afirmou à coluna, nesta quarta-feira (9/10), que o ex-presidente Jair Bolsonaro não temeu perder o protagonismo político no campo da direita para o coach Pablo Marçal, candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo.

Em entrevista à coluna, o senador tratou da crise na direita paulistana pela falta de um posicionamento claro de Bolsonaro entre Marçal e Ricardo Nunes, do MDB. Flávio disse ter convicção de que Nunes será reeleito e derrotará Guilherme Boulos, do PSol.

A dubiedade de Bolsonaro na disputa pela prefeitura da maior cidade do país gerou ataques do pastor Silas Malafaia. Para Flávio, Malafaia errou em levar a crise a público.

Embora diga que Jair Bolsonaro não temia perder protagonismo para Marçal, o senador citou pesquisas eleitorais internas que apontam que, em 2026, Bolsonaro enfrentaria Marçal com sucesso.

 

•        Marçal e a estratégia do tumulto. Por Paulo Henrique Arantes

Está cego quem ainda não percebeu que a estratégia de consolidação do seu nome na política é o tumulto. A última manifestação de Pablo Marçal, de que exige retratação por ofensas de Ricardo Nunes, Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Silas Malafaia - e de que Guilherme Boulos expressa o desejo de mudança dos eleitores - comprova o que é nítido: o coach 171 seguirá carreira solo em busca da Presidência da República, algo de que a Justiça precisa nos salvar.

Marçal externar certa simpatia pelo perfil renovador de Boulos - sem hipótese de apoio, lógico - é de falsidade notável, mas enfraquecer outros nomes da direita fortalece-o individualmente. De outra parte, é bem possível, até provável, que metade de seu eleitorado escolha o candidato do Psol no segundo turno da eleição paulistana. Esses cidadãos não possuem régua ideológica, enfeitiçam-se pelo desprendimento e o histrionismo, características encontráveis em Boulos e inexistentes em Nunes.

Até ser impedido pela Justiça, Marçal continuará a chamar os holofotes com falas inusitadas. Não lhe importam a lógica, o sentido e a verdade, mas o rebuliço que suas condutas causam. Assim como Chacrinha, só que vil, ele veio para confundir, não para explicar.

Por razões históricas, marginais de discurso ultraliberal vêm ganhando terreno na política. A pregação da meritocracia é sedutora: sem Estado, sem respeito às leis e à civilidade, pode-se conseguir riqueza, único objetivo a ser buscado pelas gentes que admiram Pablos Marçais. A realidade social que alija não é questionada e não se cogita modificá-la. O que se apregoa é o individualismo absoluto: ascender ao topo social, blindar-se num condomínio de luxo e deixar que o lado externo se lasque, explorando a ignorância e lucrando com ela.

Ao confrontar os direitistas e apontar favoritismo da esquerda, Pablo Marçal tenta se mostrar descolado de tudo e de todos. Mais uma vez neste espaço, faz-se necessário aludir ao guru da extrema-direita Steve Bannon, cujo princípio básico é a falta de qualquer escrúpulo. O coach 171 segue a linha traçada pelo americano, em que as fake news pontificam.

As fake news subiram ao topo durante a campanha que elegeu Donald Trump presidente dos Estados Unidos, e são repetidas por ele na atual jornada eleitoral americana. No Brasil, Jair Bolsonaro elegeu-se mediante uso e abuso de notícias falsas, elaboradas por gente contratada, cabeças pensantes preparadas para elaborar coisas como a “mamadeira de piroca” que seria distribuída às crianças pelo candidato adversário. Bannon orientou a campanha que elegeu Bolsonaro. Coisas como falsificar documentos, como fez Pablo Marçal, cumprem a mesma cartilha despudorada.

Não se tem notícia de que Bannon, que está preso, tenha tido contato com Pablo Marçal, mas suas ideias estão presentes nas falas e nos atos do coach.

 

Fonte: Brasil 247/Metrópoles

 

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