sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Força Aérea Brasileira dobra aposta em motor para veículo hipersônico 14-X, diz especialista

Força Aérea Brasileira realiza parcerias para acelerar o desenvolvimento de motor hipersônico brasileiro inovador. Apesar de oficialmente não almejar um míssil hipersônico similar ao russo Kinzhal, o Brasil aposta no setor de motores e aviação para não ficar de fora dessa corrida tecnológica, disseram especialistas à Sputnik Brasil.

A Força Aérea Brasileira (FAB) deu mais um passo rumo à obtenção de tecnologia de propulsão hipersônica, ao assinar parceria para desenvolver motor que poderá colocar o país em novo patamar. Com design arrojado, o motor hipersônico brasileiro poderá ter mais aplicações civis e militares do que o esperado, disseram especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

A parceria entre o Instituto de Estudos Avançados (IEAv), do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e da Orbital Engenharia, tem como objetivo dominar o processo de injeção de combustível em um motor que atingirá velocidades pelo menos cinco vezes superiores à velocidade do som (Mach 5). Nessas condições, o motor realiza combustão a velocidades hipersônicas, o que altera as características físicas dos seus componentes, demandando novas soluções de engenharia.

O desenvolvimento do primeiro motor hipersônico brasileiro é parte de projeto mais amplo, chamado Projeto Propulsão Hipersônica 14-X, que envolve iniciativas para desenvolvimento da tecnologia hipersônica nos setores espacial, de aviação e foguetes.

A vertente do projeto destinada à aviação tem o potencial de obter tecnologia ainda inédita no mundo, disse o professor de Propulsão Espacial do curso de Engenharia Aeroespacial da UFABC, Annibal Hetem. Segundo ele, o design do motor de propulsão hipersônica aspirada e o protótipo da aeronave hipersônica da FAB são arrojados.

"O projeto de desenvolvimento de motor para aeronave hipersônica brasileiro se chama 14-X, em uma referência ao projeto de Santos Dummont, o 14-BIS", disse Hetem à Sputnik Brasil. "A ideia é que a aeronave voe a 14 vezes a velocidade do som, então o número 14 virou um número mágico para esse projeto."

Apesar de a possibilidade de utilização de motor hipersônico para a aviação civil não estar excluída, o uso imediato desta tecnologia seria sobretudo militar, acredita o professor da UFABC.

"Uma aeronave como essa voará tão rápido que será basicamente inalcançável, e por isso com clara vantagem do ponto de vista da defesa", disse Hetem. "Outra aplicação prioritária para essa tecnologia será para o lançamento de mísseis."

O IEAv e a Orbital deverão desenvolver o Sistema de Controle Eletrônico de Injeção de Combustível (SISCRAMJET) para o motor hipersônico brasileiro, previsto para funcionar através da aspiração de ar. A parceria público-privada também é essencial para criar condições para testagem dessa tecnologia disruptiva em ambiente controlado.

"De fato, a realização de testes de voo real é um grande desafio. São necessárias equipes de uma centena de pessoas, uma área bastante grande, na qual não trafeguem aviões, navios ou pessoas que possam ser atingidas pela aeronave", disse Hetem. "A dificuldade para testar um protótipo como esse em laboratório aumenta muito o custo do projeto."

A velocidade da aeronave hipersônica é tão alta que somente um foguete pode dar a partida no seu motor. Atualmente, o protótipo brasileiro é acionado por um foguete VSB-30, o que dificulta ainda mais a realização de testes regulares. Em julho deste ano, a FAB se aliou à empresa brasileira MAC JEE para desenvolver o foguete de decolagem para o seu veículo hipersônico.

Para ilustrar as dificuldades, o professor Hetem relata o teste realizado pela norte-americana NASA com uma aeronave hipersônica, durante o qual o protótipo simplesmente se perdeu: "Ela voou a uma velocidade tão alta, em uma região de oceanos, que não foi possível rastrear aonde ela caiu". Assim como o modelo brasileiro, o teste da aeronave hipersônica da NASA também foi realizado com o auxílio de um foguete.

A associação com a iniciativa privada também é relevante, "porque a empresa tem capacidade para construir a aeronave, enquanto o IEAv do DCTA é capaz de fornecer o desenho dela". Segundo o professor, o design é bastante elaborado, "afinal, a uma velocidade tão alta, qualquer desvio na estrutura da aeronave tem um efeito significativo".

Outro desafio é o treinamento de pilotos, afinal não está claro qual a capacidade de reflexo rápido do condutor da aeronave a uma velocidade tão elevada. De acordo com o doutor em geografia e coronel da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB), Valle Rosa, a capacidade do piloto de realizar manobras como curvas e inclinações acentuadas poderá ser limitada.

"Ainda não está claro se teremos como embarcar pilotos e passageiros a velocidades superiores a Match 5, mas os ganhos para a aviação civil e militar seriam inquestionáveis", disse Valle Rosa à Sputnik Brasil. "É uma tecnologia disruptiva, ela muda o patamar da defesa e do transporte aéreo. Diminuir o tempo de uma viagem de Paris a Nova York a 30 ou 40 minutos garantiria um ganho comercial significativo."

A parceria entre os institutos de pesquisa da FAB e a Orbital Engenharia é garantida pelos recursos públicos da Subvenção Econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que acolhe projetos de inovação para a Base Industrial de Defesa brasileira. Apesar das persistentes restrições orçamentárias do governo federal, o projeto Propulsão Hipersônica 14-X conta com cerca de R$ 93 milhões para atingir suas metas.

"A FINEP tem interesse em financiar esse projeto em função dos seus desdobramentos tecnológicos, afinal, durante o processo de pesquisa, novos usos podem ser descobertos", considerou Hetem. "Uma tecnologia como essa é interessante porque nunca sabemos quais os desdobramentos que ela vai ter, que podem ser diversos. Por exemplo, o desenvolvimento dessa pesquisa pode nos levar a compreender melhor a nossa capacidade de controlar máquinas em velocidades hipersônicas."

•        Mísseis hipersônicos?

O Projeto Propulsão Hipersônica 14-X também inclui vertentes de pesquisa na área de propulsão espacial e de tecnologias de foguetes. Nesta seara, o Brasil já realizou testes bem-sucedidos e pode estar próximo de atingir o seu objetivo técnico-científico, declarou o professor do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), João Gabriel Burmann.

"Em 2021, no âmbito da Operação Cruzeiro, o lançamento do foguete brasileiro 14-XS, lançado da base da Barreira do Inferno, atingiu a velocidade de Match 6, e, portanto, uma velocidade hipersônica", disse Burmann à Sputnik Brasil. "Fomos capazes de realizar um teste com foguete em velocidade hipersônica antes dos EUA, que teve sucesso somente em 2022."

A tecnologia de mísseis hipersônicos já é dominada por algumas potências, em particular por Rússia e China. Os modelos russos de mísseis balísticos hipersônicos, como o Kinzhal, já foram utilizados no campo de batalha ucraniano, gerando grandes desafios para os sistemas de defesa antiaérea dos países da OTAN.

"Já a China desenvolve um veículo suborbital, que atinge velocidade hipersônica na rota descendente. Isto é, ele sai da atmosfera e, no seu trajeto de volta à Terra atinge essa velocidade, inclusive com a ajuda da força gravitacional", explicou o coronel da reserva da FAB, Valle Rosa.

Os EUA estão atrás de Rússia e China no quesito hipersônico, focando as suas pesquisas no desenvolvimento de mísseis lançados a partir de plataformas aéreas, disse Burmann. Segundo ele, a corrida pela tecnologia hipersônica é intensa e há pouca cooperação internacional nesta área.

"Claro que observamos com atenção os desenvolvimentos da tecnologia hipersônica de outros países, mas o projeto brasileiro não visa o desenvolvimento de armas hipersônicas", disse o coronel aposentado da reserva da FAB Valle Rosa. "O projeto brasileiro é de propulsão hipersônica, isto é, visa o desenvolvimento do motor hipersônico. Então, não é um projeto similar ao de Rússia, China ou EUA."

Segundo Valle Rosa, que forneceu entrevista à Sputnik Brasil em caráter pessoal, e não em nome da FAB, o Brasil não tem ameaças externas que justifiquem o investimento em armamentos dessa natureza. Por outro lado, o domínio tecnológico e pesquisa em área de ponta interessam, sim, ao desenvolvimento nacional.

"Com certeza teremos muito percalços pela frente, mas é importante manter o financiamento e os profissionais engajados nesse tipo de projeto. Não podemos desistir após testes falhos, como aconteceu no passado. O importante é perseverar na busca pelo domínio tecnológico", concluiu o coronel da reserva da FAB, Valle Rosa.

•        Para ministro da Defesa 'questões ideológicas' barraram compra de equipamentos militares israelenses

A licitação entre o governo brasileiro e Israel para a compra de armamentos foi interrompida por "questões ideológicas", avaliou o ministro da Defesa, José Mucio.

Durante evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ontem (8), Múcio declarou que a diplomacia interfere na defesa do Brasil:

"Houve agora uma concorrência, uma licitação; venceram os judeus, o povo de Israel. Mas por questões da guerra, do Hamas, os grupos políticos, não estamos com essa licitação pronta, […] por questões ideológicas nós não podemos aprovar. O TCU [Tribunal de Contas da União] não permitiu dar [o contrato] ao segundo colocado, e estamos aguardando que essas questões passem, para que a gente possa se defender."

De acordo com matéria veiculada pela Folha de S.Paulo em 17 de setembro, Mucio tentou destravar a compra de obuseiros de 155 mm da empresa Elbit Systems, de Israel.

Houve resistência de setores do Partido dos Trabalhadores (PT) e do assessor especial da Presidência Celso Amorim, que defendiam ser incoerente adquirir equipamentos militares de Israel, cujas ações na Faixa de Gaza eram criticadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os contrários alegavam que a compra dos obuseiros — tipo de canhão projetado para disparar projéteis de grande calibre em trajetórias elevadas —, por quase R$ 1 bilhão, poderia financiar ataques israelenses contra palestinos.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (E) conversa com seu ministro da

A transação envolveria duas empresas brasileiras (Ares Aeroespacial e AEL Sistema) e a promessa de criação de 400 empregos diretos, que contribuiriam para o aquecimento da indústria de defesa, que é uma das pautas do governo.

No evento da CNI, Mucio mencionou haver ainda "embaraço diplomático" envolvendo o conflito na Ucrânia:

"Temos uma munição aqui no Exército que não usamos. A Alemanha quis comprar. Está lá, custa caro para manter essa munição. Fizemos o negócio, um grande negócio. 'Não faz, porque senão o alemão vai mandar para a Ucrânia, a Ucrânia vai usar contra a Rússia e a Rússia vai mexer nos nossos acordos de fertilizantes'", declarou.

<><> Múcio, um Ministro ideológico de um país indefeso, segundo Luís Nassif

Um dos princípios básicos da estrutura militar é a disciplina, subordinar-se ao poder civil, que é o único eleito.

Por tudo isso, a  postura do Ministro da Defesa, José Múcio, é descabida. Em discurso questiona a diplomacia brasileira, apresentando-a como ideológica, ao melhor estilo bolsonarista.

Teria desguarnecido o país, ao impedir que adquirisse tanques de Israel, em função do massacre de Gaza. É uma preocupação fantástica, de um Ministro que aceita transitar as mensagens das Forças Armadas por satélites da Starlink – diretamente ligada ao Departamento de Estado. Um Ministro que não moveu uma palha sequer para preservar a Avibrás. Em suma, um ausente total dos pontos centrais de defesa do país.

Fala mais. “Acusa” seja lá quem for – diplomacia? Governo Lula? TCU? – de impedir as Forças Armadas de vender munição para a Alemanha, porque poderia ser transferida para a Ucrânia e afetar o fornecimento de insumos agrícolas da Rússia para o Brasil, como se esses insumos fossem uma extravagância ideológica.

Parte superior do formulário

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Faz mais: atribui às Forças Armadas a manutenção da democracia em 2023 e não apresenta um relatório sequer dos militares que estimularam o golpe.

Múcio é o retrato pungente do Ministério Lula.

Aliás, seria interessante que o Tribunal de Contas da União analisasse mais a fundo a razão dessa ansiedade de Múcio. Ele sustentou que não foi permitida a vitória do segundo colocado. Só não disse que não havia segundo colocado porque apenas os tanques israelenses cabiam nas condições da licitação.

 

•        Sueca Saab diz ter sido intimada nos EUA a fornecer informações sobre venda de caças ao Brasil

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos solicitou informações à subsidiária da fabricante sueca de aeronaves Saab sobre a venda de 36 caças militares Gripen ao Brasil, em 2014, transação que foi objeto de uma investigação de corrupção no Brasil, disse a Saab nesta quinta-feira.

"A Saab pretende atender ao pedido para fornecer informações e cooperar com o Departamento de Justiça nessa questão", afirmou a companhia sobre a solicitação dos Estados Unidos à Saab North America.

Em comunicado, a empresa sueca disse que tanto autoridades brasileiras quanto suecas investigaram anteriormente partes do processo de concorrência do Brasil e que essas investigações foram encerradas sem indicar quaisquer irregularidades por parte da Saab.

Procuradores brasileiros, em 2016, acusaram formalmente Luiz Inácio Lula da Silva -- ex-presidente do Brasil na época e atual presidente em exercício -- de usar sua influência para ajudar a Saab a vencer a licitação para 36 caças no valor de 5,4 bilhões de dólares. Os advogados de Lula disseram que o caso equivale a uma "perseguição política".

A Força Aérea Brasileira (FAB) escolheu em 2014 o Gripen para renovar sua frota de caças, em detrimento do F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing, e do Rafale, fabricado pela francesa Dassault Aviation SA.

O acordo com a Saab também permite que os Gripens sejam produzidos no Brasil no futuro.

As primeiras aeronaves já foram entregues ao Brasil, e o restante deve ser entregue até 2027.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Brasil 247

 

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