À beira do grande rio, Manaus pede água
O Lago do Aleixo,
banhado pelas águas do rio Negro, virou um deserto. Nada lembra o local que
recebe turistas para se refrescar ou pescar jaraqui, peixe abundante em tempos
de muita água. O chão rachado pelo calor se converteu em um labirinto que agora
serve de trilha para os caminhos até as casas flutuantes, onde moram os
ribeirinhos da Colônia Antônio Aleixo, bairro periférico da zona leste de
Manaus, no Amazonas.
Jorge Miguel Gomes, 73
anos, é dono de um pequeno comércio, que já não conta com clientes. Ninguém
mais chega até lá. Ele diz à reportagem
ter visto sua clientela desaparecer assim que as águas do lago foram impactadas
pela seca que assola a Amazônia. “Esse ano está pior que o ano passado, não dá
para puxar barco aí, só se chegar de helicóptero”, afirma.
No ano passado, a seca
que já tinha sido recorde no Amazonas fez com que Jorge Miguel tivesse a ideia
de perfurar uma cacimba em frente de sua casa. Pode, assim, tomar banho e lavar
a louça. Menos de um ano depois, uma nova seca histórica está sendo vivenciada
na cidade de Manaus.
A medição do nível do
rio Negro nesta terça-feira (08/10) chegou à marca de 12,17 metros, um novo
recorde e o manancial continua com as águas descendo. O rio nunca esteve tão
seco e superou o nível de 2023, quando chegou a 12,70m. No dia 4 marcou 12,66m.
É a pior seca em 122 anos de medição das águas pelo Porto de Manaus.
A vida dos manauaras
se tornou desafiadora em meio a eventos climáticos extremos, como a seca
severa, o calor intenso e a fumaça tóxica das queimadas que cobrem o céu. Mas o
problema é crônico nas periferias, onde estão as populações mais pobres e em
condição de vulnerabilidade. Jorge Miguel é uma das pessoas que sofrem com a
ausência do básico. “Água encanada está faltando, até comprei água hoje. A
cacimba uso só de noite”, explica ele. Com a torneira seca em Manaus, sua
situação fica ainda pior durante esse período de estiagem prolongada.
O Censo de 2022,
realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já
revelou a realidade do racismo ambiental que atinge a região, no que diz
respeito ao acesso à água e saneamento. No Amazonas, segundo os dados, somente
66% dos domicílios permanentes ocupados possuem ligação com a rede geral de
distribuição e tratamento de água e a utilizam como forma principal de
abastecimento.
Em Manaus, cidade
composta por 2.063.689 habitantes, o serviço de água e saneamento é privatizado
há 24 anos, e apenas 76,2% dos domicílios estão ligados à rede geral de
abastecimento. Cerca de 310.731 de domicílios não possuem conexão com a rede
geral de esgoto, outros 93.743 domicílios não têm abastecimento de água e 5.730
domicílios não têm banheiro. Ainda, cerca de 16.732 domicílios não têm coleta
de lixo. Na capital amazonense, são 83.853 domicílios usando poços profundos ou
artesianos como principal forma de abastecimento, ou seja, 13,3% da população.
Nas periferias das zonas leste, norte e oeste é que as violações de direitos à
água e ao saneamento podem ser observadas.
• Sem água ou saneamento
A desigualdade é
evidente quando se observam marcadores sociais como idade, classe e raça. Os
grupos mais afetados pela falta de acesso ao saneamento básico são os jovens,
pretos, pardos e indígenas. Entre as pessoas que se declaram pretas, 75% não
possuem acesso adequado ao saneamento. No caso dos pardos, o percentual é de
68,9%, enquanto entre os indígenas, esse número cai para 29%. Em contraste,
aproximadamente 83,5% da população brasileira que se identifica como branca
vive em áreas com infraestrutura de saneamento adequada.
A relação entre a
falta de água potável e a crise climática é sinalizada ano após ano nos
relatórios de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC). As mudanças climáticas já estão escancarando a escassez de água em
diversas regiões. Segundo os estudos, a combinação de eventos climáticos
extremos como ondas de calor, secas prolongadas e mudanças no regime de chuvas
prejudica a disponibilidade de água potável, impactando a saúde, a agricultura
e a segurança alimentar.
Em Manaus, comunidades
indígenas e ribeirinhas são particularmente mais vulneráveis, forçadas a
consumir água de poços improvisados e não tratados. É uma combinação perigosa
de crise hídrica e climática. Sob o forte calor e sem água, o comerciante Jorge
Miguel tem custos extras na sua rotina. Ele guarda a água que consegue em uma
garrafa de 20 litros e um camburão pequeno, os únicos recipientes que consegue
comprar com sua renda limitada.
Em setembro, Manaus
registrou os dias mais quentes do ano, com a temperatura alcançando 39ºC,
segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A sensação térmica é
superior a esse valor. A máxima foi registrada pela estação automática do órgão
por volta das 15 horas do dia 18 de setembro.
Outro morador da
região do Lago do Aleixo, o motoboy Everson Soares, de 35 anos, relatou à
Amazônia Real a luta pelo acesso à água no bairro. Everson mora na região desde
criança e conta que a relação com a crise climática se complica quando falta
água.
A água do lago e das
torneiras praticamente desaparece entre agosto e setembro, período mais
crítico. A água não chega ou vem de forma intermitente. Com a associação de
moradores, são cavados poços para amenizar o problema. Essa falta acaba
impactando também a economia da comunidade. “Aqui no bairro, nossa principal
fonte é o lago, mas quando ele seca, temos que sair e buscar água em outros
lugares. É complicado porque aqui é uma área turística e o fluxo de pessoas
aumenta. A falta de água e a seca impactam tudo”, diz Everson.
• A rotina seca nas periferias
O sistema de
abastecimento de água em Manaus é composto por quatro Estações de Tratamento de
Água (ETAs). No Complexo de Produção da Ponta do Ismael, zona oeste, estão
localizadas a ETA 1 e a ETA 2, responsáveis por abastecer 80% da cidade.
Hoje, segundo a empresa Águas de Manaus,
concessionária responsável pelo abastecimento de água e esgotamento sanitário,
Manaus tem um serviço de água tratada universalizado e com capacidade de
abastecer todas as regiões da cidade. No entanto, podem ocorrer manutenções
emergenciais pontuais em razão de falta de energia ou ocorrências hidráulicas
ou mecânicas. A concessionária disse atuar para resolver essas ocorrências no
menor tempo possível.
A empresa alega que o
serviço de água em Manaus é universalizado, com mais de 564 mil imóveis ligados
à rede de distribuição de água, o que beneficia 2 milhões de pessoas com o
serviço. A Águas de Manaus disse estar acompanhando o crescimento vegetativo da
cidade, com novas comunidades mapeadas, a exemplo de locais como Parque Mauá,
Lago Azul e Vila Nova, que recebem atualmente obras de implantação de rede de
água.
A concessionária
reforçou que a operação dentro do Complexo de Produção da Ponta do Ismael está
dentro da normalidade e que diariamente, 700 milhões de litros de água são
captados e tratados. Além disso, a empresa monitora diariamente os níveis do
rio Negro e disse estar preparada para enfrentar a estiagem, mesmo que a
vazante avance 25% em relação ao ano passado.
Para 2024, a operação
envolve a adaptação de toda a estrutura de captação de água em Manaus para
acompanhar o nível do rio Negro e a implantação de estrutura de bombas d’água
flutuantes.
• Privatização da água
Para o padre Sandoval
Alves Rocha, sociólogo, ambientalista e representante do Fórum das Águas do
Amazonas, os pobres estão excluídos do direito à água e ao saneamento em
Manaus. Esse direito é prejudicado, além de tudo, pela privatização do serviço,
que é apoiado pelas prefeituras ao longo dos anos.
Em 1999, o governo de
Amazonino Mendes (1939-2023) iniciou o processo de privatização dos sistemas de
abastecimento de água e esgotamento sanitário em Manaus. A Companhia de
Saneamento do Amazonas (Cosama), estatal responsável pelo abastecimento na
época, foi dividida em duas partes. A empresa original continuaria responsável
pelo fornecimento de água e esgoto no interior do Amazonas, onde havia menos
consumidores e menor rentabilidade.
Em Manaus, foi criada
uma nova empresa chamada Manaus Saneamento, que ficou encarregada de atender à
capital, como subsidiária integral da Cosama. Esta nova entidade foi
estruturada para atrair investidores privados.
Em julho de 2000, o
governo privatizou os serviços de água em Manaus com base na criação da Lei
Municipal 513/1999, vendendo a concessão para o grupo francês Suez
(ex-Lyonnaise des eaux), um dos maiores do setor de água do mundo, por 193
milhões de reais, em uma leilão realizado na Bolsa de Valores do Rio de
Janeiro. A empresa passou a operar sob o nome Águas do Amazonas, com um
contrato de concessão de 30 anos, renovável por mais 15.
No entanto, o grupo
Suez anunciou em 2006 que pagou 110 milhões de dólares como outorga para
iniciar seus serviços na cidade, pressupondo que os investimentos seriam
gerados dentro do próprio negócio. Mas teve que investir além do previsto,
cerca de 150 milhões de reais, contribuindo para o desequilíbrio
econômico-financeiro do contrato.
O governo estadual
justificou a privatização alegando que a Cosama era ineficiente e que a
privatização melhoraria os serviços, ampliaria o acesso à água e modernizaria o
sistema. Foi argumentado que o setor privado poderia garantir a eficiência
necessária para resolver os problemas crônicos de abastecimento de água em
Manaus.
O ativista afirma que
o processo de privatização do serviço de distribuição de água em Manaus foi
marcado pela falta de transparência e irregularidades. Além disso, as empresas
privadas que assumiram o controle do fornecimento de água não conseguem prestar
um serviço adequado, resultando em escassez de água, preços elevados e
degradação ambiental. Também não houve consulta à população sobre a
privatização.
“Foi um processo muito
conturbado. Sem transparência nesse processo, muitas lideranças comunitárias na
época se levantaram contra a privatização, que foi adiada quatro vezes porque
eram muitos processos, inclusive no Ministério Público. As coisas não estavam
claras e havia um consenso na sociedade [de quem era contra a privatização] a
respeito desse procedimento”, diz.
Outras três empresas,
além do Grupo Suez, já cuidaram da concessão: Solví, Águas do Brasil e Aegea
Saneamento. A Manaus Ambiental, empresa do grupo Águas do Brasil e Solví,
substituiu a Águas do Amazonas em 2012.
Em 2014, um plano de
metas foi acrescentado ao contrato de concessão dos serviços de água e esgoto
operados pela Manaus Ambiental. O plano previa que, até 2045, seriam investidos
3,3 bilhões de reais, com 1 bilhão destinado ao abastecimento de água e 2,2
bilhões ao esgotamento sanitário.
• Concessão investigada
Ao longo de 24 anos de
privatização, a precariedade dos serviços de água e esgoto de Manaus já foi
investigada por três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Câmara
Municipal de Manaus, em 2005, 2012 e 2023. Em 2012, quando Amazonino Mendes era
prefeito de Manaus, o contrato de concessão dos serviços de água e esgoto foi
prorrogado por mais 30 anos, estendendo o prazo de 2030 para 2042.
Essa decisão gerou
grande repercussão e resultou na criação da primeira CPI na Câmara Municipal de
Manaus, com o objetivo de investigar as condições e os termos da prorrogação. A
extensão do contrato foi alvo de críticas, principalmente devido aos problemas
crônicos de saneamento básico e acesso à água potável na cidade, que afetam
principalmente as áreas periféricas.
Desde 2018, a
responsável pelos serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de
esgoto na capital amazonense é a Águas de Manaus, uma empresa da Aegea
Saneamento, companhia privada considerada uma das maiores do setor no país. A
empresa diz que o investimento para os cinco primeiros anos de operação é de
880 milhões de reais.
A estratégia do
governo do Estado de desinvestir em serviços públicos da Cosama foi uma tática
usada para justificar a privatização, contextualiza Sandoval.
“A população ficou
muito chateada e insatisfeita com o serviço e se criou todo um contexto social
e ideológico sobre a eficiência das empresas privadas, inclusive com argumentos
que não se sustentam, como por exemplo, que o preço da tarifa ia ser mais baixo,
que o esgotamento sanitário, muito precário na cidade naquela época, iria ser
resolvido e que o abastecimento de água não iria mais ser um problema”,
lembra.
Segundo o
representante do Fórum das Águas do Amazonas, essas promessas, colocadas como
meta no contrato de concessão, não se concretizaram. A constatação de que a falta de água é uma
realidade constante, levanta preocupações ainda maiores sobre como as áreas
periféricas estão sendo tratadas.
Um exemplo disso é o
desempenho dos serviços de esgotamento sanitário. Segundo aponta o Ranking do
Saneamento 2024, publicado em março pelo Instituto Trata Brasil, Manaus está
entre os 20 piores índices de saneamento básico do Brasil, na 86ª posição. Em
2023, a capital amazonense ficou em 83º lugar na classificação geral. O ranking
avaliou três indicadores: nível de atendimento, melhoria do atendimento e nível
de eficiência.
De acordo com o
estudo, apenas 26,1% dos manauaras possuem acesso à coleta de esgoto, apesar de
a privatização ter sido realizada sob a
condição de que 90% da cidade teria hoje os serviços de esgotamento sanitário. Isso
significa que mais de 70% dos esgotos em Manaus são lançados nos rios e
igarapés da cidade, promovendo a poluição desses corpos hídricos.
O investimento anual
médio em saneamento por habitante é de 115,66 reais, metade do patamar nacional
médio para a universalização, que é de 231,09 reais. O padre Sandoval Rocha
destaca que a política de privatização que avança sobre o território amazônico
promove a mercantilização da natureza e intensifica os conflitos
socioambientais. Em Manaus, ele afirma que a água virou moeda de troca entre as
grandes empresas multinacionais e que isso acontece sem nenhum tipo de
transparência.
São inúmeras as
notificações do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) para a empresa sobre
a interrupção prolongada do abastecimento de água na capital amazonense. Em
setembro, a concessionária foi
notificada devido à interrupção no abastecimento de água em dois bairros
da zona oeste de Manaus, de 4 a 6 de setembro. Há também processos ajuizados na
Defensoria Pública estadual pela falta de abastecimento.
“Apesar das
contradições das empresas que já assumiram a concessão da água, em nenhuma
dessas mudanças houve uma iniciativa para consultar a população sobre a
satisfação com o serviço. Na minha opinião, o desprezo à opinião da população é
um processo muito autoritário”, diz o sociólogo.
Procurada pela
reportagem, a Águas de Manaus respondeu que as manutenções de rede,
emergenciais ou programadas, são ocorrências naturais a qualquer sistema de
abastecimento de água e não possuem relação com a estiagem.
• Políticas públicas de saneamento
Segundo o
ambientalista padre Sandoval Rocha, uma solução para garantir o direito à água
e ao saneamento a médio e longo prazo seria remunicipalizar o serviço, pois
daria à população maior controle sobre os projetos implementados e garantiria
uma gestão mais justa e participativa.
“Com o agravamento das
mudanças climáticas, o aumento das temperaturas e a intensificação de
estiagens, é urgente que as autoridades alterem suas práticas e deem maior
atenção às questões ambientais. Caso contrário, a situação de precariedade no
acesso à água e ao saneamento nas comunidades mais vulneráveis continuará a
piorar. Se depender da atual lógica adotada pelos governos e do setor privado,
os avanços serão limitados, já que o objetivo das empresas é o lucro, e não o
bem-estar da população”, manifesta. Para ele, é preciso promover a educação e
sensibilidade ambiental, algo que as políticas públicas atuais não conseguem
cumprir.
Nos dias 3, 4 e 5 de
junho de 2024, uma Missão Pelo Direito à Água e ao Saneamento visitou cinco
territórios manauaras (Puraquequara, Parque das Tribos, Colônia Antônio Aleixo,
Beco Macapá e Santa Etelvina), e identificou situações de precariedade ou a total
ausência dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário na
capital amazonense. A luta pelo direito ao saneamento básico orientou a seleção
dos territórios.
A missão foi
construída coletivamente por uma rede de 17 organizações, entre elas, o Fórum
das Águas do Amazonas e diversos movimentos ambientais e lideranças
comunitárias de Manaus. A comitiva nacional de Incidência Política da Habitat
para Humanidade Brasil coordenou os trabalhos de campo e tornou público, por
meio de relatório, os desafios enfrentados pelas populações locais e as
mobilizações políticas comunitárias pelo direito à água, ao saneamento e à
higiene.
Os coletivos
constataram o abandono da população nas comunidades de perto, como a utilização
de poços artesianos. No bairro Puraquequara, na zona leste, os moradores
recebem avisos sobre os horários em que as bombas de água estarão ligadas por
meio de grupos de WhatsApp. Esses intervalos podem variar de quinze minutos a
duas horas, o que resulta, por vezes, na falta de água e, em outras, no
desperdício.
A maioria dos
moradores não dispõe de grandes reservatórios, como caixas d’água. A solução é
recorrer a baldes ou galões plásticos. Não há controle de qualidade da água dos
poços, muitos perfurados em profundidades inadequadas e em áreas próximas às
fossas, uma vez que a comunidade não possui rede de esgotamento sanitário. Além
disso, as casas não têm filtros de água, e há relatos frequentes de doenças de
veiculação hídrica.
Outra comunidade da
periferia, localizada na zona norte da capital, o bairro Santa Etelvina
enfrenta uma das situações mais críticas em relação ao abastecimento de água.
Os moradores que fazem parte da Associação Ana Oliveira relataram aos coletivos
ambientais da Missão Pelo Direito à Água e ao Saneamento, que a água que chega
às suas casas apresenta cheiro, cor e sabor desagradáveis, resultando em
diversos casos de diarreia e outras doenças.
Os moradores também
relataram que o fornecimento é irregular e a pressão da água insuficiente,
forçando-os a comprar água mineral para beber e cozinhar. A missão cobrou que
gestores públicos se empenhem na mitigação dos danos produzidos pela ausência
da garantia de direitos nos territórios. O relatório com as recomendações foi enviado para a Agência
Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Município de Manaus (Ageman), para
a Defensoria Pública do Estado do Amazonas e para a concessionária Águas de Manaus.
O objetivo das recomendações é reverter o quadro de violações.
Fonte: Amazônia Real
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