Brasil e México têm futuro no setor
automotivo? Especialistas respondem
O México é o principal
fabricante de automóveis da América Latina, mas destina cerca de 80% de sua
produção a um único mercado: os Estados Unidos. Os especialistas concordam que
o México deveria diversificar o seu mercado e o Brasil parece ser uma opção lógica.
No início de outubro,
a pretexto da posse da presidente mexicana Claudia Sheinbaum, o presidente
brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e empresários visitaram o México e um dos
principais temas abordados pelos empresários sul-americanos foi uma possível aliança
com o setor automotivo mexicano.
Ao participarem do
Fórum Empresarial México-Brasil, realizado no dia 1º de outubro na Cidade do
México, representantes das indústrias automotivas e de autopeças do México e do
Brasil concordaram que ambas as nações, que são os principais representantes desses
setores na região, poderiam alcançar maior intercâmbio que poderia beneficiar
ambos os países.
"O setor
automobilístico representa um componente significativo da relação econômica
entre o México e o Brasil, duas das maiores economias da América Latina. Ambos
os países têm indústrias automotivas bem estabelecidas e o intercâmbio entre
eles tem sido moldado por uma combinação de acordos comerciais, economia
políticas e demandas do mercado", disse Marcelo Frateschi, atual líder do
setor automotivo na Ernst & Young, Brasil, em entrevista à Sputnik.
Atualmente, o
intercâmbio entre os setores automotivos do México e do Brasil é influenciado
pelo Acordo de Complementação Econômica nº 55 (ACE 55), que foi assinado em
2002. Este acordo permite a redução recíproca de tarifas/impostos sobre
automóveis e autopeças, com o objetivo de promover o comércio e a integração
econômica entre os dois países.
• EUA: os maiores parceiros do México
Atualmente o comércio
em matéria automotiva entre as duas potências latino-americanas não é tão
substancial, já que, segundo dados do Ministério da Economia, as vendas
internacionais de veículos do México estão concentradas nos Estados Unidos, com
US$ 129,68 bilhões (cerca de R$ 725,7 bilhões) em 2023; enquanto no caso do
Brasil o valor chega a US$ 1,7 bilhão (aproximadamente R$ 9,5 bilhões), o que
representou apenas 1,09% das exportações de automóveis fabricados em território
mexicano.
Por outro lado,
segundo números do ministério, no ano passado, o México investiu US$ 2,4
bilhões (mais de R$ 13,4 bilhões) na compra de veículos fabricados pelo Brasil,
o que representou 4% das suas importações, onde os Estados Unidos também
dominam com compras de US$ 24,5 bilhões (cerca de R$ 137,2 bilhões), o que
significa 40,7%; ou seja, tanto as exportações como as importações mexicanas de
veículos são dominadas pelo seu vizinho do norte.
"A produção de
veículos fabricados no México já é praticamente vendida em mais de 80% para um
único cliente, com esse número você pode dizer 'que maravilha' e seria melhor
se sentar e 'coçar a barriga', mas é justamente o que o México não deveria fazer,
pelo contrário, deve diversificar seu mercado para outros países e fortalecer
sua presença na América Latina", disse César Roy Ocotla Gutiérrez,
jornalista e analista do setor automotivo nacional há mais de 40 anos, em
entrevista à Sputnik.
• Mercado fechado e concorrência
No entanto, embora os
empresários dos dois países estivessem entusiasmados com um maior intercâmbio
comercial entre o Brasil e o México, os especialistas concordam que uma maior
integração entre as indústrias automotivas das duas potências latino-americanas
tem seus desafios.
Um dos principais é
que o setor automotivo brasileiro está muito focado no mercado interno e nos
mercados regionais. "A indústria automobilística brasileira está mais
voltada para o mercado nacional e para o Mercosul e exporta uma parcela menor
de sua produção", explica Frateschi.
• Áreas de oportunidade
Apesar das
dificuldades acima mencionadas, o México e o Brasil continuam tendo um
potencial significativo para aumentar o seu intercâmbio comercial em veículos e
autopeças para fortalecer esta relevante indústria na região latino-americana.
"Há potencial
para aumentar o comércio entre o México e o Brasil no setor automotivo,
tornando a América Latina uma região mais representativa mundial no setor
automotivo", afirma Marcelo Frateschi.
O especialista
brasileiro explica que para conseguir uma maior integração em matéria
automotiva, os dois países poderiam explorar diversos caminhos, como trabalhar
na diversificação da gama de veículos e peças que comercializam, focando nos
pontos fortes de cada indústria; investimentos colaborativos em pesquisa e
desenvolvimento que possam levar à criação de novas tecnologias automotivas que
atendam às necessidades de ambos os mercados.
Da mesma forma,
acrescenta o especialista, poderiam apostar na integração da cadeia de
abastecimento através de joint ventures ou associações entre empresas
automotivas dos dois países; da mesma forma, a implementação de medidas para
simplificar os procedimentos aduaneiros e reduzir as barreiras logísticas
poderia melhorar o fluxo de produtos automotivos entre os dois países,
acrescenta Frateschi.
O analista mexicano,
por sua vez, considera que as indústrias automotivas do México e do Brasil
poderiam se tornar mais integradas graças aos diferentes veículos que cada uma
produz. Roy explica que o Brasil é especialista em carros baratos, enquanto o México
se especializou na fabricação de veículos muito mais equipados, que poderiam
ser enviados ao mercado brasileiro.
"O Brasil é
especialista em carros baratos e de baixo custo [...] e o México fabrica
veículos com maior valor agregado, podemos oferecer isso ao Brasil",
finaliza César Roy.
<><> Força
de trabalho e população ocupada no Brasil alcançam os maiores níveis em 10
anos, aponta IPEA
A força de trabalho e
a população ocupada estão nos maiores níveis desde o início da série histórica
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), em
2012. O levantamento é feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
O dado histórico está
no Boletim Mercado de Trabalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA), divulgado nesta quarta-feira (9).
De acordo com o
levantamento, realizado com os dados da PNAD Contínua, a força de trabalho
atingiu 109,4 milhões de pessoas e a população ocupada chegou a 101,8 milhões.
Foram registrados
aumentos de 1,7% na força de trabalho e de 3% no volume de pessoas ocupadas — a
comparação é do segundo trimestre de 2024 com o mesmo período de 2023. O
emprego formal também apresentou crescimento, com uma alta de 4% em relação ao
segundo trimestre de 2023.
O Novo Cadastro Geral
de Empregados e Desempregados (Novo Caged) registrou a criação de 1,7 milhão de
novas vagas com carteira assinada, representando um aumento de 3,8% no período.
A taxa de desocupação,
segundo a pesquisa, atingiu o menor nível desde o quarto trimestre de 2014,
caindo para 6,9%. A taxa de desemprego de longo prazo também caiu (-1,5 ponto
percentual), e houve uma pequena redução no desalento (-0,4 ponto percentual).
Dentre os setores da
economia, destacaram-se os de transporte, informática e serviços pessoais. O
crescimento do emprego formal foi observado na maioria dos setores, com exceção
da agropecuária, dos serviços domésticos e da utilidade pública.
A renda média também
cresceu no segundo trimestre de 2024 em comparação ao mesmo período do ano
anterior, com um aumento real de 5,8%, encerrando o trimestre em R$ 3.214.
A massa salarial real
registrou um crescimento expressivo de 9,2% em termos interanuais, atingindo R$
322,6 bilhões, um acréscimo de R$ 27 bilhões em relação ao primeiro trimestre
de 2023.
>>>>
Número de inativos preocupa
Segundo o IPEA, no
entanto, a estabilidade das taxas de subocupação e de participação da força de
trabalho nos últimos trimestres é motivo de preocupação.
"É crucial
entender por que o número de inativos permanece elevado, totalizando 66,7
milhões de pessoas fora da força de trabalho. Entre elas, 3,2 milhões
desistiram de procurar emprego devido ao desalento — um grupo que deveria ser
prioridade para a reintegração ao mercado de trabalho", aponta o estudo.
Os pesquisadores
também destacam a necessidade de investigar mais profundamente as causas desse
desalento e de investir em políticas eficazes para atrair essa parcela da
população para oportunidades produtivas.
Outro ponto de
preocupação do IPEA é o setor agropecuário, que registrou sua nona redução
consecutiva na população ocupada. Além disso, problemas estruturais continuam a
impactar o mercado de trabalho, deixando muitos na informalidade, sem acesso a
proteções sociais e trabalhistas.
• Argentina perde prestígio devido à
recusa de aderir ao BRICS, diz analista argentino
A Argentina,
recusando-se a se juntar ao BRICS, demonstrou a falta de seriedade de sua
política internacional, disse o analista argentino Christian Lamesa à Sputnik.
O presidente da
Argentina, Javier Milei, após assumir o poder em dezembro de 2023, notificou os
líderes dos países do BRICS por meio de cartas oficiais sobre a recusa do país
em participar do grupo.
Nesta semana, a
ministra das Relações Exteriores argentina, Diana Mondino, disse que a
Argentina ainda não tinha intenção de se juntar ao BRICS.
"A maior perda,
na minha opinião, é a perda da seriedade do país a nível internacional porque o
presidente Milei negligenciou o convite para fazer parte do BRICS, que foi
solicitado pelo governo anterior", disse o especialista.
Além disso, a
Argentina perdeu a oportunidade de fazer parte de um grupo cujos membros têm
mercados enormes e em rápido crescimento, mercados com grande poder de consumo.
"A esse respeito,
as perdas são enormes porque [a recusa de adeirir ao BRICS] não nos permite ter
oportunidades de abrir e diversificar novos mercados", disse Lamesa.
O BRICS é uma
associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS
em 1º de janeiro de 2024.
O ano começou com a
entrada de novos membros na associação: além de Rússia, Brasil, Índia, China e
África do Sul, o BRICS agora inclui Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos
e Arábia Saudita.
O principal evento
deste ano vai ser a cúpula do BRICS com a participação de chefes de Estado em
Kazan de 22 a 24 de outubro.
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Especialista aponta benefícios para o BRICS da introdução de moedas digitais
A transição para
moedas digitais entre os países-membros do BRICS não apenas permitirá a
simplificação dos pagamentos, mas também os tornará mais baratos, afirmam
especialistas à Sputnik.
À medida que os
pagamentos em dólares se tornam cada vez mais uma alavanca de pressão política,
os participantes do BRICS buscam ativamente formas alternativas de pagamento
das transações comerciais. Por exemplo, a Rússia já garantiu legalmente a
possibilidade de usar moedas digitais no comércio exterior em um regime
jurídico experimental.
Além disso, a maioria
dos membros do bloco já testa ativamente moedas digitais de bancos centrais. O
Banco da Rússia espera que a implementação em massa do rublo digital comece em
julho de 2025. Os outros países também estão avançando: a Índia e a China já
realizam operações de teste com a rupia digital e o yuan.
"A vantagem do
uso de moedas digitais é que elas estão além dos sistemas de pagamento
tradicionais, o que teoricamente possibilita contornar as sanções. No caso das
moedas digitais centrais, os pagamentos serão mais baratos. Todas as
transações, nesse caso, estarão sob a supervisão do regulador", comentou
Andrei Stolyarov, professor associado da Escola Superior de Economia, à
Sputnik.
O uso de moedas
digitais permite eliminar intermediários das transações, simplificando e
reduzindo o custo dos pagamentos: eles são realizados praticamente em tempo
real e as taxas serão praticamente inexistentes, acrescenta à Sputnik o
especialista industrial Leonid Khazanov.
"Simultaneamente,
as transações baseadas nessas moedas serão difíceis de rastrear pelas
autoridades financeiras dos EUA e da União Europeia, no quadro de sua política
de pressão sancionatória sobre a Rússia, que visa reduzir ou impedir as
receitas das empresas domésticas em operações com contrapartes
estrangeiras", explica.
Fonte: Sputnik Brasil
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