sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Estresse por calor pode afetar bebês após nascimento, sugere estudo

O estresse causado pela exposição a temperaturas elevadas, chamado estresse térmico, pode afetar o crescimento do feto durante a gravidez e continuar impactando a saúde do bebê após o nascimento, até os dois anos. A descoberta é de um novo estudo publicado na renomada revista científica The Lancet Planetary Health nesta terça-feira (8).

Esse é o primeiro trabalho a mostrar que o estresse térmico pode afetar o desenvolvimento dos bebês após o nascimento e se soma a evidências anteriores de que as altas temperaturas podem impactar na saúde do feto.

Para chegar às conclusões, a pesquisa examinou dados de bebês e suas mães que foram coletados durante um ensaio clínico na Gâmbia e identificou uma pequena redução no peso ao nascer em relação à idade gestacional para cada aumento de 1 °C no estresse térmico médio diário durante o primeiro trimestre da gravidez.

De acordo com o estudo, nenhum efeito no crescimento relacionado ao estresse pelo calor durante o segundo trimestre foi observado. Além disso, a pesquisa sugeriu que poderia haver um aumento na circunferência da cabeça em comparação ao corpo para a idade gestacional em fetos expostos ao estresse térmico durante o terceiro trimestre, mas esse achado foi menos confiável, segundo os pesquisadores.

As descobertas do estudo mostram, ainda, que bebês de até dois anos que foram expostos a altas temperaturas podem ter pesos e alturas menores para a sua idade. Segundo a pesquisa, as maiores reduções nessas medidas foram observadas em bebês com idade entre 6 e 18 meses que tinham experimentado níveis médios diários mais altos de estresse por calor três meses antes da análise.

De acordo com os pesquisadores, aos 12 meses de idade, os bebês expostos a um valor médio de estresse térmico equivalente a 30°C tiveram maior probabilidade de ter peso reduzido para sua altura e idade, em comparação com aqueles que sofreram estresse térmico equivalente a 25°C. Os resultados foram encontrados em bebês do sexo masculino e feminino.

•        Como o estudo foi feito?

Os dados do estudo foram coletados originalmente por meio do ensaio clínico randomizado Early Nutrition and Immunity Development (ENID), realizado em West Kiang, na Gâmbia, entre janeiro de 2010 e fevereiro de 2015. Um total de 668 bebês foram acompanhados durante os primeiros 1.000 dias de vida, sendo 329 (49%) do sexo feminino e 339 (51%) do sexo masculino.

Os pesquisadores analisaram a relação entre estresse por calor e crescimento fetal com base em pontuações clinicamente reconhecidas para peso, comprimento e circunferência da cabeça para idade gestacional. Ele também avaliou o efeito do estresse por calor no crescimento infantil com base em pontuações de peso e altura de 0 a 2 anos de idade.

Segundo o trabalho, 66 (10%) recém-nascidos pesavam menos de 2,5 kg ao nascer, considerado baixo peso, enquanto 218 (33%) eram pequenos para a idade gestacional e nove nasceram prematuros.

“Nosso estudo demonstra que as crises interligadas de mudanças climáticas, insegurança alimentar e subnutrição estão afetando desproporcionalmente os mais vulneráveis, incluindo crianças pequenas”, afirma Ana Bonell, professora assistente da Unidade do Conselho de Pesquisa Médica da Gâmbia (MRCG), em comunicado à imprensa.

“Essas descobertas se baseiam em evidências anteriores que mostram que o primeiro trimestre é um período vulnerável à exposição ao calor e é importante que agora consideremos quais fatores podem estar contribuindo para o relacionamento”, acrescenta.

•        O que é estresse térmico?

O estresse térmico é uma condição caracterizada por condições climáticas que fazem com que a temperatura corporal aumente e não consiga se manter nos 36,5°C ideais para o bom funcionamento do organismo. Um estudo divulgado no ano passado pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ) mostrou que mais de 38 milhões brasileiros são expostos ao estresse térmico.

Em matéria publicada anteriormente na CNN, Pedro Chocair, clínico geral e nefrologista do Hospital Alemão Oswaldo, explica que excesso de calor provoca sudorese intensa, dilatação dos vasos periféricos, queda da pressão arterial e suas consequências.

O estresse térmico pode causar sintomas como fadiga, dor de cabeça, dor muscular e manifestações neurológicas, como confusão mental, tonturas e alterações no sono.

No estudo em questão, a tensão por calor foi definida usando o Índice de Clima Térmico Universal, que considera fatores como calor, umidade, velocidade do vento e radiação solar, e atribui uma temperatura equivalente (°C) com um risco associado de desenvolvimento de tensão por calor.

Ao longo do estudo, o nível médio de exposição ao estresse térmico foi de 29,6°C. O máximo diário mais alto foi de 45,7°C e o mínimo diário mais alto foi de 28,9 °C.

“É provável que o estresse térmico possa afetar o apetite, a ingestão e a disponibilidade de alimentos, e também já estamos investigando se pode haver efeitos diretos nas vias celulares e inflamatórias, aumentando a capacidade já reduzida de mães grávidas e bebês de regular sua própria temperatura corporal”, afirma Bonell.

“Precisamos explorar quais populações estão projetadas para sofrer mais estresse por calor e onde pode estar sendo registrada uma queda no crescimento, para que possamos desenvolver medidas eficazes de saúde pública. Com as taxas globais de desperdício infantil permanecendo inaceitavelmente altas e o aquecimento planetário contínuo, essas descobertas devem estimular ações para melhorar a saúde infantil”, completa.

Os pesquisadores enfatizam que mais estudos são necessários para avaliar a relação entre estresse por calor e impactos na saúde em regiões além da Gâmbia. Além disso, os dados disponíveis não continham informações sobre práticas alimentares, infecções maternas ou status socioeconômico, o que também pode impactar o crescimento fetal e infantil.

 

•        Exposição à fome no útero dobra risco de diabetes na vida adulta, diz estudo

Pessoas que foram expostas à fome enquanto ainda estavam no útero de suas mães têm mais do que o dobro de chances de desenvolverem diabetes na idade adulta, em comparação com quem não passou pela escassez de alimentos na gestação. As informações são de um novo estudo publicado na quinta-feira passada (8) na revista científica Science.

As descobertas mostram como a forme durante a gravidez pode ter impactos para a saúde a longo prazo. Estudos anteriores já tinham mostrado que a fome durante a gravidez pode aumentar o risco de uma criança desenvolver diabetes mais tarde na vida.

Porém, esses estudos eram relativamente pequenos, segundo Peter Klimek, cientista de dados especializado em epidemiologia no Supply Chain Intelligence Institute Austria, e coautor de um artigo de perspectiva publicado com o estudo.

Para preencher essa lacuna, os pesquisadores do atual estudo resolveram analisar dados de nascimento de mais de 10 milhões de ucranianos nascidos entre 1930 e 1938. Entre esses anos, aconteceu um grande período de escassez de alimentos que ficou conhecido como Holodomor (também conhecido como “Fome-Terror” ou “Grande Fome”), que resultou em, aproximadamente, quatro milhões de mortes no curto prazo.

Segundo Klimek, esse fato histórico forneceu uma oportunidade para examinar a relação entre a escassez de alimentos durante a gestação e o risco de diabetes.

•        Risco mais que dobra

Do total de ucranianos analisados pelo estudo, mais de 128 mil pessoas foram diagnosticadas com diabetes tipo 2 durante os primeiros anos do século XX.

Para estimar a gravidade da forme que cada pessoa enfrentou, a equipe analisou o número de mortes em excesso que ocorreram em 23 regiões ucranianas, incluindo 16 que foram afetadas pela escassez de alimentos. A partir disso, os pesquisadores classificaram a gravidade da fome como extrema, muito grave, grave ou sem fome.

A equipe descobriu que as pessoas nascidas no início de 1934, que teriam sido concebidas durante o período de fome, tinham um risco geral maior de desenvolver diabetes tipo 2 quando adultas, em comparação do que aquelas que não foram expostas à fome durante os estágios iniciais de seu desenvolvimento.

Além disso, o estudo mostrou que as pessoas concebidas em regiões que vivenciaram fome extrema, o risco de desenvolver a doença mais que dobrou. Aquelas expostas à fome severa quando ainda estavam no útero tinham cerca de 1,5 vez mais chance de desenvolver diabetes tipo 2 décadas após o nascimento do que aquelas em regiões sem fome.

Os pesquisadores descobriram, ainda, que não houve aumento no risco de diabetes entre aqueles expostos à fome nos estágios finais da gravidez. Segundo os autores, isso sugere que o início da gravidez é o momento mais vulnerável para o bebê à exposição à desnutrição.

Para os cientistas, as descobertas podem estabelecer a base para próximos estudos realizados em animais que ajudem a destrinchar os mecanismos por trás do aumento do risco de diabetes.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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