segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

João Cezar de Castro Rocha: "Michelle é fraca para liderar o bolsonarismo e seu passado é suspeito e duvidoso”

O professor João Cezar de Castro Rocha avalia que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro não conseguirá se consolidar como o principal nome da extrema direita brasileira, apesar de seu apelo entre evangélicos e mulheres. Para o professor, ela possui capital eleitoral suficiente para uma vitória confortável ao Senado pelo Distrito Federal, mas é “fraca para liderar o bolsonarismo” em disputas majoritárias e carrega um “passado duvidoso” que ainda não foi devidamente esclarecido ao país.

As declarações foram dadas em entrevista ao programa Boa Noite 247. O intelectual detalhou por que enxerga limites estruturais no projeto político construído em torno da ex-primeira-dama.

João Cezar reconhece o potencial eleitoral de Michelle no Distrito Federal. “Se a Michele se lançar para a senadora no Distrito Federal, ela está eleita”, afirma, recordando o desempenho de Damares Alves, que chegou ao Senado sem ser a candidata oficial de Jair Bolsonaro. Segundo ele, o bolsonarismo consolidou ali um núcleo duro de votos conservadores, o que torna “muito grandes” as probabilidades de vitória de Michelle numa disputa proporcional à sua base já mobilizada.

O ponto de ruptura, porém, aparece quando o tema é uma candidatura majoritária — como governo de Estado ou Presidência. “Para um cargo majoritário, eu tenho dúvidas por dois aspectos”, diz o professor. O primeiro é a trajetória profissional e política da ex-primeira-dama: “não será fácil para Michele Bolsonaro explicar o passado dela de assessora na Câmara dos Deputados”, afirma, em referência a episódios mal esclarecidos da biografia da hoje líder bolsonarista.

Ele lembra ainda contradições envolvendo a vida pessoal de Michelle e como isso pode repercutir fora da base evangélica mais fiel. “É muito curioso que nós só tenhamos descoberto que ela não tinha uma filha, mas duas na véspera do segundo turno de 2022”, observa. Ele ressalta que, entre evangélicos, a narrativa da conversão atua como chave de absolvição moral — “quando você se converte, você renasce, você tem uma nova vida, que é a ideia do batismo” —, mas pondera que, para a “população brasileira média”, certos aspectos do passado da ex-primeira-dama tendem a causar “choque”.

O professor também relembra um episódio antigo da trajetória de Jair Bolsonaro para ilustrar como o ex-presidente reage quando uma mulher de seu círculo busca ganhar autonomia política. Ele cita o caso da mãe de Carlos Bolsonaro, que assumiu a cadeira do então vereador, foi reeleita e, ao tentar “ter voz própria”, acabou atropelada politicamente pelo próprio clã: “O Bolsonaro se separou da mulher porque ela tentou ter voz própria e falar sozinha”. Em seguida, descreve o passo seguinte: “para destruir a agora ex-mulher, ele instrumentalizou o filho, o Carlos Bolsonaro”, que foi lançado candidato para derrotar a própria mãe e encerrar sua carreira política.

A partir desse episódio, João Cezar analisa a movimentação recente de Michelle, especialmente no Ceará e em Santa Catarina, onde ela tentou impor alianças regionais e entrou em choque com lideranças locais do bolsonarismo. “O que Michele Bolsonaro fez ontem no Ceará é inconcebível. Ela não tem estatura política. Ela não tem legitimidade para querer ser articuladora de campanhas no Brasil”, afirma. Ele considera “risível imaginar que agora Michele Bolsonaro vai articular campanhas em todo o Brasil” e recorda que ela “publicamente admoestou o André Fernandes e toda a equipe do Ceará”, criando atritos internos em um campo já fragmentado.

No Sul, segundo ele, o comportamento se repetiu. Para João Cezar, a ex-primeira-dama ultrapassou um limite que o próprio bolsonarismo não tende a tolerar: “Eu creio que a Michele Bolsonaro deu finalmente o passo muito maior do que as pernas dela permitem. Eu acho que as asas dela vão ser cortadas”.

Na avaliação do professor, Michelle deve agora enfrentar um processo de enquadramento interno, que reduzirá seu espaço nas articulações nacionais. “Ela vai ter, vai enfrentar dificuldades, ela vai ser enquadrada porque ela passou do ponto, de novo, ela não tem nenhuma estatura política para se arvorar o direito de fazer articulações políticas em nome de quem?”, questiona. Ele conclui que, embora tenha força eleitoral localizada e um público cativo no segmento evangélico, Michelle não reúne atributos para assumir o posto de líder orgânica da extrema direita brasileira, especialmente num cenário de crescente disputa interna por espaço e recursos.

•        Eliane Cantanhêde alerta para a irresponsabilidade de uma elite que cogita ver Michelle na Presidência

A possibilidade de uma candidatura de Michelle Bolsonaro ao Palácio do Planalto voltou a movimentar o debate político nacional. A análise é da colunista Eliane Cantanhêde, publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, e destaca que apenas um ambiente institucional profundamente degradado permitiria levar a sério o nome da ex-primeira-dama para o cargo de presidente da República.

Segundo a autora, o fenômeno guarda semelhanças com o que ocorreu em 2018, quando uma forte sensação de perplexidade, desesperança e falta de alternativas impulsionou Jair Bolsonaro à vitória. “Assim como só uma sensação tão forte de perplexidade, desesperança e falta de alternativa poderia alavancar e garantir a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, só num ambiente institucional tão degradado como o de hoje seria possível levar a sério o nome da sra. Michelle Bolsonaro para a Presidência”, escreve Cantanhêde.

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<><> Falta de experiência e riscos institucionais

A colunista ressalta que Michelle Bolsonaro se destacou em momentos simbólicos — como o discurso em libras na posse do marido, em 2019 —, mas não possui experiência administrativa, política ou intelectual que a credencie para governar o País. “Michelle é uma mulher bonita, que produziu a melhor imagem da posse do seu marido, discursando em libras, mas que experiência e qualificação pessoal, política, administrativa e intelectual ela tem para presidir o Brasil? Articular uma candidatura assim é uma irresponsabilidade com o País”, afirma.

<><> A demonstração de força no Ceará e a influência sobre o bolsonarismo

A presença de Michelle no centro da disputa interna do PL reforçou sua projeção. Ela vetou publicamente a aliança do partido com Ciro Gomes no Ceará, contrariando dirigentes e enteados, o que desencadeou uma reunião emergencial e a implosão do acordo. Para Cantanhêde, cresce a percepção de que Jair Bolsonaro, embora incomodado com sua evidência, é quem mais a escuta: “Dizem, aliás, que só Bolsonaro segura Michelle, mas a percepção é o oposto: por mais que fique incomodado com sua evidência, ele é que só ouve a mulher.”

Além disso, Michelle voltou a roubar a cena no lançamento da candidatura de Bolsonaro à reeleição em 2022, consolidando-se como figura mobilizadora entre eleitores evangélicos e setores da extrema direita.

<><> Plano B da família Bolsonaro e resistência do Centrão

Embora deva disputar o Senado pelo Distrito Federal, Michelle surge como plano B caso Jair Bolsonaro permaneça inelegível. Com Eduardo Bolsonaro enfrentando turbulências e Flávio Bolsonaro buscando reposicionamento, seu nome aparece como o mais competitivo para manter o sobrenome nas urnas em 2026.

Enquanto isso, o Centrão — chamado no texto de “direitão” — evita aderir a Michelle e aos filhos do ex-presidente, concentrando-se na busca de apenas uma alternativa: Tarcísio de Freitas. Uma eventual chapa entre Tarcísio e Michelle é tratada como improvável, tanto por resistência de Bolsonaro quanto pelo risco de ser rotulada como “chapa puro sangue bolsonarista”, algo que afastaria setores da centro-direita.

<><> Um cenário imprevisível para 2026

A colunista avalia que um racha na direita pode favorecer o presidente Lula, mas também há quem projete que a rejeição ao bolsonarismo empurrará eleitores moderados para um nome apoiado pelo Centrão. Em qualquer caso, Michelle — assim como Jair Bolsonaro em 2018 — escapa aos padrões tradicionais de análise política e pode contribuir para tornar a disputa de 2026 altamente imprevisível.

•        Michelle trabalha por 'projeto de poder pessoal', acusam bolsonaristas

Lideranças do PL e de partidos aliados intensificaram críticas à atuação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, acusando-a de conduzir um movimento focado exclusivamente em um projeto próprio de poder. As acusações apontam que suas intervenções eleitorais têm provocado fissuras importantes no campo bolsonarista, sobretudo nas articulações para o Senado, relata Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo.

Segundo dirigentes citados, a ex-primeira-dama estaria priorizando mulheres consideradas extremamente leais a ela — rotuladas por um deputado como “feministas de direita” — para compor chapas eleitorais em estados estratégicos, fortalecendo assim um núcleo “michelista” dentro do PL.

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Essas candidaturas femininas, afirmam bolsonaristas, atenderiam não apenas ao critério de gênero, mas sobretudo ao de fidelidade pessoal à presidente do PL Mulher. A leitura entre parlamentares é de que, se eleitas, essas mulheres contribuiriam para consolidar um centro de poder exclusivo de Michelle, ampliando a disputa interna com os filhos de Bolsonaro, em especial Flávio, hoje limitado pela prisão do ex-presidente e pela consequente fragilidade de sua liderança.

O Ceará se tornou o palco mais recente dessa disputa. Michelle atua pela indicação da vereadora Priscila Costa (PL) a uma das vagas ao Senado, destacando sua defesa de pautas ligadas à família e à vida. A posição, porém, conflita com a estratégia do presidente estadual do PL, André Fernandes, que busca emplacar seu pai, Alcides Fernandes, na chapa majoritária articulada com Ciro Gomes ao governo e Eduardo Girão (Novo-CE) na segunda vaga ao Senado. Ao rejeitar a aliança com Ciro, Michelle reagiu: “Isso não dá”, afirmou, desencadeando uma resposta imediata dos filhos de Bolsonaro, que a acusaram de agir de forma autoritária.

Em Santa Catarina, a tensão se repete. A ex-primeira-dama apoia a candidatura da deputada federal Caroline de Toni (PL-SC) ao Senado, embora a vaga do partido no estado já esteja reservada a Carlos Bolsonaro. A segunda vaga da coligação está comprometida com o senador Esperidião Amin (PP-SC). Mesmo assim, Michelle fez declarações públicas em favor de Carol. A deputada Ana Campagnolo (PL-SC), aliada de Michelle e presidente do PL Mulher regional, ecoou a defesa e afirmou que Caroline estava sendo preterida porque a candidatura estaria sendo “dada” a Carlos. A reação da família Bolsonaro foi imediata: Carlos chamou Campagnolo de mentirosa, enquanto Eduardo acusou a parlamentar de confrontar o 'líder maior', Jair Bolsonaro, que determinou a candidatura do filho por Santa Catarina.

Outro foco de atrito aparece no Distrito Federal. Michelle apoia as pretensões de Bia Kicis (PL-DF) ao Senado, contrariando aliados próximos da família Bolsonaro, como o governador Ibaneis Rocha (MDB-DF), que também demonstra interesse na vaga.

As disputas regionais explicitam um cenário de fragmentação crescente entre os grupos que orbitam o bolsonarismo. No centro das divergências, Michelle Bolsonaro passa a ser vista por integrantes do PL como protagonista de um projeto político próprio.

•        Jornalista da Folha diz que Bolsonaro não tem como impedir Michelle

A crescente autonomia política de Michelle Bolsonaro dentro do PL tem provocado nova reacomodação de forças no núcleo familiar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao se posicionar publicamente contra uma articulação partidária no Ceará, Michelle demonstrou que construiu um espaço próprio e já não depende da tutela do marido.

A avaliação é da repórter Ana Luiza Albuquerque, em análise publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, que revisita episódios do passado para mostrar como Jair Bolsonaro perdeu a capacidade de barrar movimentos de independência de suas companheiras.

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A jornalista relembra que, há 25 anos, Jair interferiu diretamente na vida política da ex-mulher Rogéria Bolsonaro. Em 2000, ele lançou o filho Carlos para disputar uma vaga na Câmara Municipal do Rio de Janeiro com o único propósito de enfraquecer a candidatura de Rogéria, que havia sido eleita em 1992 e reeleita em 1996 com apoio do então marido. Jair, no entanto, passou a entender que ela já não seguia suas orientações e decidiu sabotar sua campanha.

Duas décadas depois, o ex-presidente enfrenta dinâmica semelhante, agora protagonizada por Michelle Bolsonaro. Embora o PL e o próprio Jair tenham concordado inicialmente com a aliança entre o deputado André Fernandes e Ciro Gomes, a ex-primeira-dama rejeitou a articulação de forma aberta, contrariando a orientação partidária.

A reação detonou críticas dos três filhos mais velhos de Jair —Flávio, Carlos e Eduardo— que acusaram Michelle de autoritarismo nas redes. Mas ela não recuou. Após visita ao pai na prisão, Flávio pediu desculpas à madrasta, e o PL anunciou que suspenderia as conversas com o PSDB de Ciro Gomes.

Segundo dirigentes da legenda, Michelle saiu fortalecida do episódio. Ela ampliou engajamento nas redes, atraiu filiações femininas, fortaleceu sua relação com evangélicos e conservadores e conta com o apoio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Além disso, possui a menor rejeição entre os integrantes da família Bolsonaro.

Ana Luiza Albuquerque destaca que Michelle não é Rogéria, assim como Jair também não é mais o mesmo. Quando ainda era deputado do baixo clero, ele tinha liberdade para “cortar as asas” da ex-mulher. Agora, preso, isolado e enfraquecido politicamente, Bolsonaro não tem nada a ganhar —nem pessoal nem politicamente— com um conflito aberto com Michelle.

A conclusão da repórter é categórica: Jair Bolsonaro perdeu a capacidade de impedir o avanço político de Michelle Bolsonaro, que hoje se tornou uma das figuras mais influentes do PL e do bolsonarismo.

 

Fonte: Brasil 247

 

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