Henrique
Cortez: A extrema-direita é uma ameaça à humanidade e ao planeta
Não se
trata apenas de uma disputa partidária ou de preferência ideológica. O
crescimento rápido e perigoso da extrema-direita em diversas partes do mundo,
inclusive no Brasil, representa uma ameaça concreta aos fundamentos da
civilização, à dignidade humana e ao próprio planeta. Esta não é uma batalha
política convencional; é uma defesa indispensável do nosso futuro comum.
Observamos,
com alarmante clareza, a reafirmação de uma agenda intolerante e autoritária
que ecoa os piores momentos do século XX. Fundamentada no ódio, na ausência de
empatia e na rejeição ao diferente, a extrema-direita atual resgata e moderniza
velhos demônios: o preconceito racial, a homofobia, a misoginia e um
nacionalismo agressivo. Seu projeto não se limita a ganhar eleições; busca
transformar a sociedade a partir da desconstrução sistemática de pilares
civilizatórios.
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A guerra contra a ciência e o conhecimento
Um dos
seus alvos prediletos é o conhecimento. A valorização da ignorância como
virtude, o ataque à educação, à ciência e ao pensamento crítico não são
acidentes, mas estratégias. Ao desacreditar fatos e promover o obscurantismo –
do negacionismo climático ao terraplanismo ideológico –, esse movimento mina a
nossa capacidade coletiva de resolver problemas complexos. A desinformação vira
arma, e a razão, inimiga.
Assistimos
também a um ataque coordenado contra as instituições democráticas. A imprensa
livre e o sistema de justiça são vilipendiados, a violência política é
banalizada e o estado laico é colocado em xeque por uma agenda teocrática
disfarçada de tradição. Este roteiro é conhecido: foi empregado por regimes
fascistas no passado e hoje se repete, buscando subjugar a diversidade sob um
dogma único.
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A aliança perigosa com o capital predatório
Talvez
o aspecto mais sinistro desta nova onda seja sua aliança com um capitalismo
predatório sem freios. Um pequeno grupo de bilionários e corporações vê no
autoritarismo a oportunidade para eliminar limites éticos e legais.
O
resultado é a maximização do lucro a qualquer custo: custo humano, custo social
e, de forma mais grave, custo ambiental. A exploração desregrada dos recursos
naturais, o desprezo pelos direitos territoriais e a ameaça latente de
conflitos por recursos mostram que a agenda da extrema-direita é também uma
declaração de guerra ao planeta.
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O caminho da resistência e da esperança
Contudo,
a história não é um destino. O crescimento dessa onda não é inevitável. A lição
mais importante dos períodos sombrios é que a união em torno de valores
democráticos e humanistas pode derrotar o autoritarismo.
A
resistência deve ser firme e abrangente. Exige a defesa intransigente da
democracia, dos direitos humanos e da justiça social. Requer a celebração ativa
da diversidade – racial, étnica, cultural, religiosa, de gênero e sexual – como
força vital da sociedade.
É
imperativo basear nossas políticas e escolhas em evidências científicas,
promovendo a saúde coletiva e a proteção ambiental como questões centrais da
nossa existência.
Portanto,
esta luta transcende as fronteiras da política tradicional. É um imperativo
moral e uma necessidade prática para a sobrevivência. Enfrentar a
extrema-direita exige coragem, resistência organizada e um compromisso
inabalável com a dignidade e a liberdade.
Não
estou falando em tese. Se a tentativa de golpe de estado, de 8/1/2023, fosse
bem-sucedida, sei que muitas pessoas, como eu, estariam presas ou mortas. Vi e
vivi a ditadura militar e sei da brutalidade que a cultura do ódio desperta.
De
qualquer forma, futuro não está escrito. Diante do desastre que se anuncia, não
podemos ser espectadores passivos. Cabe a nós, agora, a escolha decisiva: nos
curvaremos ao retrocesso ou nos ergueremos como atores determinados na
construção de um mundo mais justo, igualitário e sustentável?
A
resposta definirá não apenas o resultado de uma eleição, mas o legado que
deixaremos para as próximas gerações e a própria saúde do nosso lar comum. A
hora da defesa é agora.
• Extrema direita mira o Senado para
tentar “vingança” contra o STF, diz Alfredo Attié
Em
entrevista à Fórum, o jurista Alfredo Attié analisou a decisão do ministro
Gilmar Mendes que restringe o processo de impeachment contra ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF). A medida, segundo ele, corrige equívocos da Lei
1.079, de 1950, que regulamenta crimes de responsabilidade e que, apesar de ter
atravessado décadas, permaneceu “adormecida” até a redemocratização.
A norma
foi elaborada ainda sob a Constituição de 1946, muito antes da Constituição de
1988. Por isso, explica Attié, enfrenta incompatibilidades óbvias com o modelo
atual de separação de poderes e garantias constitucionais.
O
Senado quer acelerar uma nova lei de crimes de responsabilidade contra a
decisão. A liminar elevou o quórum necessário para afastá-los e determinou que
só o procurador-geral da República pode apresentar denúncias contra membros da
Corte. A proposta que agora entra no horizonte foi protocolada em 2023 por
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), após um anteprojeto elaborado por uma equipe
conduzida por Ricardo Lewandowski.
Embora
debatida naquele ano, a iniciativa ficou parada desde agosto de 2023. Dirigentes do Senado afirmam que o presidente
Davi Alcolumbre trabalha para votar o projeto antes do recesso. O texto em
análise ainda amplia o elenco de autoridades sujeitas ao rito de
responsabilização, incluindo juízes, desembargadores e membros do MP. Outro
ponto de atrito é o dispositivo que permite que partidos políticos, sindicatos
e a OAB sejam legitimados para apresentar denúncias, bem como cidadãos.
No
entanto, segundo o jurista, qualquer debate técnico sobre o tema precisa
considerar o contexto. “O direito não existe assim no ar. Ele sempre tá ligado
a um momento determinado da vida pública”, disse. E o momento, avalia, é claro:
“A extrema direita está fazendo uma campanha para tomar conta do Senado,
simples, né? Eles tão dizendo isso claramente: Nós vamos tomar conta do Senado.
E um dos objetivos deles, ao tomar conta do Senado na eleição do ano que vem, é
que em cada estado vai ter estar em jogo duas vagas, quer dizer, dois terços do
Senado vai se modificar", afirma.
Attié
afirma que o objetivo desse movimento é “vingança” contra o STF. "Porque
eles entendem que o Supremo Tribunal Federal é o responsável é por brecar o seu
o projeto de acabar com o Estado Democrático de Direito, acabar com a
Constituição, acabar com a ligação entre o povo e o poder", diz. Ele
lembra que dezenas de pedidos de impeachment contra ministros já foram
protocolados, todos sem fundamento. “Como se esse pessoal pensasse que o Senado
Federal fosse um lugar de brincadeira, de fazer arruaça".
Attié
detalha os principais pontos em que a lei se mostrou incompatível com a
Constituição e onde o ministro interveio:
• Ao contrário do impeachment
presidencial, cujo pedido pode ser apresentado por qualquer cidadão mas passa
por triagem rigorosa na Câmara, o impeachment de ministros do STF não tinha
filtro. Gilmar corrigiu isso: “O filtro mais plausível... é que qualquer pessoa
do povo pode representar ao Procurador-Geral da República, e caberá ao MPF
decidir se há razão para encaminhar”, disse.
• A Lei de 1950 permitia que o presidente
do Senado encaminhasse o pedido diretamente à votação. “Não tem paralelo, não
tem ampla defesa, não tem nada”, afirma Attié. A decisão passou a exigir
processo completo, defesa, provas, etapas, antes de qualquer afastamento.
• Pela regra da lei, maioria simples
bastava. Na prática, “pode ser apenas 11 senadores de 81” decidindo o destino
de um ministro, diz o jurista. Gilmar equiparou o quórum ao necessário para
impeachment presidencial: dois terços. “Qualquer pessoa que olha até o bom
senso... entende que era uma brincadeira”, completa.
Nas
redes e na política institucional, diz, essa pressão tem influenciado
interpretações equivocadas sobre separação de poderes e funcionamento da
Justiça. Para Attié, parte da reação negativa vem do “barulho” da extrema
direita: “Ela é minoritária, mas barulhenta, ela pressiona, ela ameaça. Isso
tudo faz as pessoas se confundirem.”
Sobre a
votação no plenário virtual, marcada para a semana de 12 a 19 de dezembro,
Attié vê tendência clara: “8 a 2 ou 7 a 3”. Para ele, o entendimento de Gilmar
deve prevalecer. Para o desembargador:
"O
Supremo tem uma função que é guardar a Constituição. E ao guardar a
Constituição, a tomar conta da Constituição, ele tem que dizer se uma lei vale
ou se ela não vale. Essa é a função do Supremo, e nesse caso específico, foi o
que o ministro Gilmar fez. Ele não tá defendendo é, corporativamente o Supremo
Tribunal Federal ou o judiciário, mas está dizendo tão só e simplesmente que os
os a os artigos da lei de 5 1950 não se coadunam com aquilo que a Constituição
estabelece. E o que que a Constituição estabelece? Que o Supremo Tribunal
Federal é um dos poderes da república e os ministros e ministras que estão lá,
eles têm uma função séria. Eles somente podem ser processados se cometem atos
graves, como corrupção, falta de decoro e assim por diante. Não é possível você
permitir que alguém vá lá e pedir um impeachment de um ministro ou de uma
ministra do Supremo simplesmente porque não concorda com uma decisão que foi
tomada pelo Supremo"
• Jair Bolsonaro escolhe Flávio para 2026
e avisa Tarcísio, diz colunista
O
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) escolheu o filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
como seu candidato nas eleições presidenciais de 2026, informa o jornalista
Paulo Cappelli, do Metrópoles. A decisão já foi comunicada ao governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que era o favorito para ser o
candidato da direita na disputa do ano que vem.
Bolsonaro
avalia que o filho mais velho ganhará força política à medida que assumir o
comportamento de pré-candidato, intensificando viagens pelo país e ocupando
espaços no debate nacional. Para o ex-presidente, Flávio tem potencial para
unificar o partido e se apoiar em governadores aliados, como Tarcísio de
Freitas (Republicanos), em São Paulo, e Cláudio Castro (PL), no Rio de Janeiro.
A
expectativa dentro do grupo político bolsonarista é que o senador comece a
liderar embates diretos com o presidente Lula, reforçando sua presença em
agendas estaduais e nacionais. Integrantes da família também avaliam que Flávio
transmite “previsibilidade” a setores políticos e econômicos, atribuindo essa
percepção ao seu perfil considerado mais moderado em comparação aos irmãos.
No novo
arranjo, cresce a possibilidade de Michelle Bolsonaro disputar uma vaga ao
Senado pelo Distrito Federal, enquanto o posto de vice na chapa de Flávio
poderia ser ocupado por um nome de centro. No campo governista, lideranças do
PT defendem a manutenção da aliança com Geraldo Alckmin, do PSB, como candidato
a vice na chapa de Lula, que deve concorrer à reeleição.
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Tarcísio deve disputar a reeleição em SP
A
mudança de rota foi comunicada diretamente a Tarcísio pelo próprio Flávio
Bolsonaro, em conversa mantida nas últimas horas. Flávio Bolsonaro esteve em
São Paulo ao menos duas vezes nesta semana para tratar do tema com o
governador. Uma dessas agendas ocorreu na quinta-feira (4) e a outra nesta
sexta-feira (5), em movimento interpretado como parte da consolidação de seu
nome como candidato presidencial do grupo bolsonarista.
Com a
decisão de Jair Bolsonaro, o desenho eleitoral interno passa a ser outro: se o
ex-presidente mantiver a posição atual, Tarcísio de Freitas deverá disputar a
reeleição ao governo paulista em 2026, adiando qualquer projeto presidencial
próprio.
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"Prontos para derrotá-lo", diz líder do governo sobre eventual
candidatura de Flávio em 2026
O líder
do governo Lula (PT) na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), reagiu
nesta sexta-feira (5) às informações de que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
teria sido escolhido por seu pai, Jair Bolsonaro (PL), para representá-lo na
disputa pela Presidência da República em 2026.
Segundo
Igor Gadelha, do Metrópoles, a escolha pelo primogênito já foi comunicada a
aliados próximos, inclusive ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos),
um dos cotados para concorrer. Jair Bolsonaro está preso na sede da Polícia
Federal em Brasília, onde cumpre pena por tentativa de golpe de Estado.
Guimarães
disse que o governo está preparado para um eventual embate nas urnas. “Nada de
novo. Estamos prontos e preparados para derrotá-lo”, afirmou ao Metrópoles o
líder do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao comentar a possível
candidatura.
A
avaliação no entorno de Jair Bolsonaro é de que Flávio ganhará projeção
nacional à medida que assumir postura de pré-candidato. Ele deve intensificar
agendas por diferentes regiões do país a partir de agora.
Fonte:
EcoDebate/Fórum/Brasil 247

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