Quem
são os foragidos do 8 de janeiro que podem ser extraditados da Argentina?
Um
tribunal criminal da Argentina decidiu, na quarta-feira, 3/12, pela extradição
de cinco brasileiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro
por ataques golpistas em 8 de janeiro de 2023.
Eles
estavam foragidos. Ainda cabe recurso sobre a decisão à Suprema Corte.
A
decisão atinge Joelton Gusmao de Olveira, Joel Borges Correa, Rodrigo de
Freitas Moro, Wellington Firmino e Ana Paula de Souza.
Eles
foram condenados a penas entre 13 e 17 anos de prisão. Todos iniciaram, na
época, o processo de refúgio na Argentina, que até o momento não foi resolvido.
O STF
condenou centenas de pessoas por atentar contra o Estado Democrático de
Direito, por atentar contra o Estado Democrático de Direito, ao participarem
dos atos de 8 de janeiro de 2023, quando radicais bolsonaristas depredaram as
sedes dos Três Poderes.
Parte
desses condenados recebeu penas consideradas elevadas, de 14 a 17 anos de
prisão, algo que gerou controvérsia entre juristas e dividiu até os próprios
ministros do Supremo.
Mais de
2 mil pessoas chegaram a ser investigadas. Parte delas admitiu a prática de
crimes menos graves e fez acordo com o Ministério Público Federal. A maioria
dos condenados teve suas ações classificadas como graves.
Os
crimes pelos quais foram condenadas incluem tentativa de abolição do Estado
Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa
e deterioração de patrimônio público.
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'Atos terroristas'
Em
novembro de 2024, a justiça argentina tinha mandado prender 61 brasileiros que
estavam no país foragidos, depois de terem sido condenados pelos atos
golpistas.
Segundo
o jornal Clarín, os mandados de prisão foram emitidos pelo juiz Daniel Rafecas
a pedido do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O
governo da Argentina havia enviado em junho ao Ministério das Relações
Exteriores do Brasil uma lista de brasileiros que haviam pedido refúgio no país
vizinho após serem condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Em
outubro, o ministro Alexandre de Moraes, responsável por supervisionar o
inquérito, pediu a extradição dos brasileiros foragidos na Argentina.
Na
lista de crimes graves estão "atos terroristas", "violação grava
de direitos humanos" e ações que possam comprometer "a paz e a
segurança internacional".
Segundo
a Comissão Nacional para Refugiados da Argentina, orgão responsável por
autorizar asilos e refúgios para migrantes, mais de 180 brasileiros pediram
refúgio no país desde janeiro de 2024.
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Foragido da Justiça
Rodrigo
de Freitas Moro era considerado foragido pela Justiça brasileira desde abril de
2024, quando a polícia perdeu o sinal de sua tornozeleira eletrônica. Foi
detido em novembro na Argentina.
Preso
em flagrante em 8 de janeiro, ele estava em liberdade provisória em sua cidade
natal de Marília (interior de São Paulo), cumprindo medidas cautelares como o
uso da tornozeleira e proibição de deixar a cidade.
Ele foi
condenado em 2024 a mais de 14 anos de prisão por abolição violenta do estado
democrático de direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado de
deterioração de patrimônio tombado.
Joelton
Gusmão de Oliveira foi condenado em 2024 a 17 anos de prisão por abolição
violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado,
deterioração do Patrimônio e associação criminosa armada.
Ele foi
preso no ano passado na cidade de La Plata, a cerca de 60 km de Buenos Aires.
Morador
de Vitória da Conquista, no interior da Bahia, ele foi preso em Brasília em 8
de janeiro, mas liberado da prisão para cumprir medidas cautelares em novembro
de 2023.
Wellington
Luiz Firmino foi condenado a 17 anos de prisão. Em sua conta no Instagram ele
se apresenta como "refugiado político vivendo na Argentina."
Em
novembro, quando foi detido no país vizinho, ele publicou um vídeo falando
sobre seu caso. "Estou aqui. Triste, tomando mate junto com a polícia. E
que deus me proteja e me dê sabedoria e força para passar por mais essa."
Ana
Paula de Souza, condenada a 14 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado,
em entrevista à CNN Brasil em agosto, disse que ela e outros brasileiros na
mesma situação estavam "jogados às traças" e mencionou a falta de
apoio de parlamentares.
Em
entrevista concedida ao canal de TV por telefone, ela contou que antes estava
em um lugar pior do complexo penitenciário. "Estava num pavilhão com onze
pessoas. Sem banho de sol. Sem porcaria nenhuma."
Segundo
o canal, ela pediu refúgio para a Conare, a Comissão Nacional para os
Refugiados da Argentina, e acreditava estar protegida. Ela contou à CNN que
fugiu do Brasil em um ônibus e entrou na Argentina por uma fronteira seca
regular.
Já Joel
Borges Correa foi detido em um controle de trânsito na província de San Luís,
também segundo a CNN. Ele foi condenado a mais de 13 anos.
• Milei é esperança de condenados pelo 8
de Janeiro foragidos na Argentina. Por Paulo Motoryn
Buenos
Aires, 27 de fevereiro de 2025. Eram 8 horas da manhã quando avistei, em uma
das mais movimentadas avenidas da capital da Argentina, um homem condenado a 16
anos e meio de prisão por envolvimento na tentativa de golpe de estado no
Brasil.
Não era
só isso. Em volta daquele homem, que trabalhava tranquilamente abordando
pedestres na tentativa de vender passeios turísticos, dezenas de viaturas da
Polícia Federal Argentina faziam uma operação em torno do prédio do Ministério
da Educação.
Mas a
condenação no Brasil ou a presença policial na Argentina não pareciam colocar
medo em Josiel Gomes de Macedo — condenado por, entre outras acusações, ter
ateado fogo em uma viatura da Polícia Legislativa Federal no fatídico 8 de
Janeiro.
Depois
da reportagem em que revelei seu paradeiro, talvez você saiba o que houve: fui
alvo de uma enxurrada de ameaças de morte, perseguição e violência física, além
de ter meus dados pessoais e os de meus familiares vazados por políticos e
militantes bolsonaristas.
Talvez
você diga: “Paulo, foi por uma boa causa”. Afinal, Josiel e as outras dezenas
de condenados na Argentina devem ter sido presos e extraditados desde então.
Ledo engano. Não houve absolutamente nenhum avanço na responsabilização dos
foragidos.
Até
aquela altura, apenas cinco bolsonaristas estavam presos no país vizinho e 61
eram alvo de pedidos de extradição. Tudo continua igual. Josiel está solto e,
até agora, nenhum condenado foi extraditado. Mas nesta semana, finalmente, as
coisas podem começar a mudar.
Nesta
edição de Cartas Marcadas, convidei o repórter argentino Facundo Iglesia para
contar o atual estado de coisas da colônia golpista do Brasil em terras
argentinas.
A
partir de amanhã, começa o julgamento da extradição dos cinco bolsonaristas que
estão presos. Mas nem isso parece ser motivo de alento. Afinal, caberão
recursos à Suprema Corte da Argentina e, por fim, a Javier Milei. E tem mais:
cerca de uma centena segue vivendo no país sem ser incomodada pela polícia.
Vamos aos fatos.
No dia
8 de janeiro de 2023, a especialista em marketing digital Ana Paula de Souza
saiu de Florianópolis, em Santa Catarina, para integrar a horda bolsonarista
que invadiu o Palácio do Planalto durante o ataque à Praça dos Três Poderes, em
Brasília.
A
viagem não terminou bem. A Polícia Militar do Distrito Federal prendeu Ana
Paula dentro do Palácio do Planalto. Liberada para responder o processo
judicial em liberdade, agora ela está detida na Argentina. Eu tive autorização
para entrevistá-la e perguntei o que levou ela a fazer parte do 8 de Janeiro.
Ana
Paula afirmou que apenas exigia transparência no sistema de votação. “É meu
direito constitucional. Eu achava que o Brasil era uma democracia. Por que não
posso questionar?”, ela me perguntou.
Depois
de ser condenada pelo STF a 14 anos de prisão, Ana Paula contou que, em
fevereiro de 2024, rompeu sua tornozeleira eletrônica e fugiu para a Argentina,
onde entrou como turista. Segundo ela, ninguém a ajudou: só contou à família
onde estava depois que chegou.
Há mais
de 100 brasileiros, condenados ou acusados por participação na tentativa de
golpe, que tomaram a mesma decisão, confiando que o governo de Javier Milei, um
grande aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, os receberia de braços abertos.
Apenas
em 2024, 181 brasileiros solicitaram asilo político na Argentina por meio da
Comissão Nacional de Refugiados, a Conare. Mas, em novembro de 2024, o juiz
federal Daniel Rafecas ordenou a prisão de 61 condenados pelo golpe que estavam
no país. No mesmo mês, cinco deles, entre eles Ana Paula, foram presos.
A
audiência que decidirá a extradição deles acontece na próxima quarta-feira, 3.
O desfecho será decisivo não apenas para os cinco bolsonaristas, mas também
para a já delicada relação entre a Argentina de Javier Milei e o Brasil do
presidente Lula.
O
julgamento da extradição, inicialmente marcado para 18 de junho pelo tribunal
de Rafecas, já foi adiado três vezes. A primeira porque coincidia com uma
marcha convocada por apoiadores da ex-presidente Cristina Kirchner; a segunda
porque o governo brasileiro solicitou ser parte no processo; e a terceira
porque um dos advogados dos presos pediu a suspeição do juiz, sem consultar o
restante das defesas.
“Eles
nos torturam, marcam uma data e cancelam um dia antes como se nada tivesse
acontecido, sempre com desculpas absurdas”, disse Ana Paula, de dentro da
Penitenciária de Ezeiza, onde está presa há um ano.
Além
dela, serão julgados Joelton Gusmão de Oliveira (condenado a 17 anos), Rodrigo
de Freitas Moro Ramalho (14 anos), Joel Borges Correa (13 anos) e Wellington
Luiz Firmino (17 anos). Após a audiência, o tribunal terá três dias úteis para
definir a sentença.
Caso a
extradição seja aceita, resta ainda um recurso à Suprema Corte argentina.
Depois disso, a decisão final cabe ao Poder Executivo — ou seja, a Javier
Milei.
Também
ouvi a advogada Carla Junqueira, que defende Ana Paula e Rodrigo Moro. Ela
afirma que “o Brasil não respeitou o devido processo legal” nos julgamentos do
8 de Janeiro. Segundo ela, houve “desproporção na dosimetria das penas” e
“influência política nas condenações”.
Mas
fontes do Judiciário argentino discordam. “São condenados com sentença
definitiva do tribunal máximo do Brasil. Além disso, fugiram para evitar a
pena”, afirma uma das fontes, acrescentando que os crimes atribuídos a eles
também existem na legislação argentina, o que viabiliza a extradição.
Publicamente,
o governo argentino evita se manifestar. Embora um advogado próximo a Milei
defenda um dos bolsonaristas presos, o presidente nunca se pronunciou
diretamente sobre o assunto.
Nos
bastidores da diplomacia brasileira, a leitura é de que os cinco presos
estariam sendo usados como “bodes expiatórios” como uma maneira de preservar,
ao mesmo tempo, laços comerciais com o Brasil e relações com o bolsonarismo.
O
Itamaraty avalia que a Argentina dificilmente concederá refúgio aos condenados,
já que não quer ser vista como paraíso de foragidos. Mas também não confia que
a polícia argentina fará grande esforço para agilizar a prisão dos foragidos
que seguem no país.
Em
dezembro do ano passado, o próprio Jair Bolsonaro, por meio de uma mensagem
gravada enviada à Conferência de Ação Política Conservadora, o CPAC, em Buenos
Aires, agradeceu a Milei por “sua recepção a essas pessoas que estão em seu
país”.
Um ano
depois, Ana Paula diz se sentir traída pelo governo argentino. “Se você
acredita que Lula está perseguindo pessoas, e essas pessoas pedem refúgio aqui
e você não faz nada, ignora, isso é uma total falta de coerência”, diz. “A
Argentina, assim como os Estados Unidos, sabe muito bem o que acontece no
Brasil. Não são inocentes”, afirma.
Em meio
ao imbróglio, uma dúvida persiste. “Somos muitos, mais de 300 brasileiros. Por
que só existem cinco presos?”, questiona a própria Ana Paula. Fontes do
Judiciário argentino até afirmam que a Interpol e a Polícia Federal estão
procurando os demais.
No
entanto, no mês passado, três deles — Symon Filipe de Castro Albino, Daniel
Luciano Bressan e Claudiomiro Rosa Soares — participaram, na Universidade de
Buenos Aires, de um protesto público contra Gilmar Mendes, ministro do STF.
Durante
uma palestra do magistrado, Symon Filipe de Castro Albino se levantou no meio
da plateia e afirmou, com o microfone em punho, que estava sendo acusado
injustamente por Alexandre de Moraes. Acredite se quiser: nem ele nem nenhum
outro foi detido desde então.
Fonte:
BBC News Brasil/The Intercept

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