Implantes
cerebrais melhoram 50% dos casos resistentes de depressão
A
depressão maior — ou transtorno depressivo maior (TDM) — é uma doença mental
grave, que afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo inteiro, e se
caracteriza por tristeza profunda e persistente e/ou perda de prazer nas
atividades do dia a dia.
Embora
os antidepressivos e as terapias cognitivas ajudem muitos pacientes, os
tratamentos convencionais para a doença não funcionam para todos. Segundo a
literatura científica estabelecida, a resistência às terapias atinge entre 30%
e 50% dos casos, deixando milhões de pessoas sem opções eficazes para aliviar
seus sintomas.
Aprovada
em 1997 para distúrbios do movimento como tremor essencial e Parkinson, a
técnica de estimulação cerebral profunda (ECP) passou a ser estudada para
condições psiquiátricas. Após sucesso em pacientes com transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC), pesquisadores têm explorado seu uso para depressão.
Agora,
em um estudo recente publicado na Nature Communications, pesquisadores do
Hospital Ruijin de Xangai (China) testaram a ECP em 26 pacientes com depressão
resistente. A técnica utiliza eletrodos finos implantados cirurgicamente no
cérebro que emitem pulsos elétricos para modular a atividade cerebral anormal.
Para
participar do estudo aberto — em que tanto os pesquisadores quanto os pacientes
sabiam que a ECP estava sendo administrada —, a depressão foi considerada
resistente quando pelo menos três tipos diferentes de tratamento não
funcionaram: antidepressivos, psicoterapia ou eletroconvulsoterapia.
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Descobrindo biomarcadores cerebrais que preveem respostas ao tratamento
Para
testar o uso da estimulação cerebral profunda, a equipe a direcionou para duas
regiões cerebrais: o núcleo do leito da estria terminal (BNST), envolvido na
regulação de estresse, ansiedade e medo prolongado; e o núcleo accumbens,
crucial para o processamento de recompensas, motivação e prazer.
Pesquisando
padrões cerebrais prévios ao tratamento que indicassem quem teria melhora, os
autores gravaram sinais elétricos diretamente do cérebro logo após a cirurgia,
e continuaram as medições no período pós-operatório e durante os meses de
acompanhamento com estimulação ativa ou desligada.
Após um
ano de tratamento, os resultados revelaram uma resposta clínica considerável:
cerca de metade dos pacientes respondeu ao estímulo e 35% entraram em remissão.
Os ganhos envolveram melhoras em sintomas depressivos, ansiosos, qualidade de
vida e funcionalidade.
A
metodologia registrou a atividade elétrica do cérebro diretamente do BNST —
região profunda ligada à ansiedade e ao estresse — com oscilações entre 4 e 8
Hertz na frequência teta. Valores mais baixos dessa oscilação se
correlacionaram com melhores níveis de humor diários nos pacientes.
A
medição prévia da atividade elétrica no BNST revelou que os pacientes com menos
atividade teta nessa estrutura cerebral antes da cirurgia responderam melhor ao
tratamento. Isso significa que a atividade teta funciona como um biomarcador
que ajuda a prever quem responderá melhor à terapia.
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Perspectivas e potencial terapêutico das descobertas
Em um
comunicado, a pesquisadora-líder Valerie Voon, da Universidade de Cambridge,
afirmou que, além de ser um potencial tratamento, a ECP “nos forneceu um
marcador objetivo, possível e muito necessário, para indicar quais pacientes
responderão melhor ao tratamento”.
Essa
transição da psiquiatria, de uma abordagem baseada apenas em sintomas para uma
medicina de precisão biologicamente fundamentada, representa uma mensagem real
de esperança para os milhões de pessoas que vivem com depressão resistente ao
tratamento.
Nesse
contexto futuro, podemos imaginar um cenário no qual pacientes com depressão
grave passam por avaliações multimodais — como EEG, ressonância magnética,
testes neuropsicológicos — para orientar tratamentos personalizados e mais
adequados ao seu perfil.
A ideia
é desenvolver sistemas de “circuito fechado” capazes de monitorar o cérebro em
tempo real e ajustar automaticamente a estimulação conforme as mudanças no
humor ou na ansiedade do paciente. Isso seria como um marcapasso cardíaco para
regular continuamente o estado emocional das pessoas.
Ao
mirar uma nova opção terapêutica para alguns dos pacientes mais vulneráveis, a
pesquisa acabou também iluminando os mecanismos neurais fundamentais da
depressão. Os achados abrem caminhos para inovações terapêuticas para pessoas
com diferentes estágios da doença — de moderados até os mais resistentes.
• Por que acordamos no meio da noite com
pensamentos perturbadores?
Você
adormece em um horário adequado, garantindo tempo suficiente para descansar
antes de um grande dia pela frente — apenas para ser subitamente acordado por
pensamentos acelerados: Será que seu amigo ficou secretamente ofendido com sua
piada? Seus filhos estão seguros na escola? Os conflitos internacionais e as
divisões políticas terão fim? Você perderá seu emprego para a inteligência
artificial?
Quanto
mais sua mente gira como uma roda de hamster, mais difícil parece voltar a
dormir.
"Acordar
no meio da noite com pensamentos acelerados ou intrusivos é muito comum e, na
verdade, é um dos sintomas mais frequentemente relatados de insônia
crônica", afirma Michelle Drerup, diretora de educação e medicina
comportamental do sono no Centro de Distúrbios do Sono da Clínica Cleveland, em
Ohio.
Segundo
especialistas, essa ansiedade noturna provavelmente ocorre devido a uma
combinação de fatores biológicos e psicológicos.
"Todos
acordam brevemente várias vezes durante a noite, mas esses despertares são
geralmente tão breves que não os percebemos", explica Drerup. "Quando
alguém está sob mais estresse ou ansiedade, em vez de voltar a dormir
imediatamente, sua mente nota ou se prende a um desses pensamentos ou
preocupações, transformando o que teria sido uma normal 'microexcitação' em um
estado de alerta."
Além
disso, quando as distrações típicas do dia diminuem, o cérebro tem mais
capacidade para revisitar questões não resolvidas, diz Simon Rego, chefe de
psicologia do Centro Médico Montefiore em Nova York.
Quando
você adormece, a parte pensante do cérebro — o córtex pré-frontal — se acalma,
mas durante o sono tarde da noite, o sistema de alarme do cérebro conhecido
como amígdala está ativo, explica Leah Kaylor, psicóloga clínica em St.
Petersburg, Flórida. Kaylor também é especialista em sono do FBI e autora de
"If Sleep Were a Drug: The Science of Sleep Optimization" ("Se
dormir fosse uma droga: a ciência por trás da otimização do sono", em
tradução livre para português).
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Acalmando-se para dormir
Assim
como cada pessoa tem um gatilho pessoal para a ruminação noturna, não existe
uma solução única para essa questão, segundo Drerup. Mas ela e outros
especialistas têm algumas práticas entre as quais você pode escolher.
Uma
delas é o embaralhamento cognitivo, de acordo com Kaylor, que envolve imaginar
mentalmente palavras aleatórias, impessoais e sem carga emocional
Para
cada letra da palavra escolhida, você pensa em quantas palavras correspondentes
conseguir por cinco a oito segundos cada, antes de passar para a próxima letra.
Para a
palavra "piano", por exemplo, você poderia pensar "Pera,
paraquedas, pirueta... Item, intenção, iglu..." e assim por diante. O
embaralhamento cognitivo funciona, geralmente dentro de cinco a 15 minutos,
distraindo o cérebro do estresse e imitando padrões de pensamento fragmentados
e não lineares que tipicamente ocorrem na transição para o sono.
O
aterramento sensorial ancora sua atenção ao mundo físico em vez de histórias
mentais, explica Kaylor. Conte cinco coisas que você pode sentir, por exemplo,
ou uma coisa que pode sentir, uma que pode cheirar, uma que pode provar, uma
que pode ouvir e uma que pode ver.
Passeios
mentais também podem funcionar. Imagine-se caminhando por um antigo
apartamento, uma rua da infância ou um corredor de supermercado. "Imagens
familiares mas neutras acalmam o cérebro", afirma Kaylor.
A
respiração consciente é um aliviador de estresse comum, e existem várias formas
— incluindo respiração profunda, respiração 4-7-8 e relaxamento muscular
progressivo. Contar regressivamente a partir de 200 ou números próximos também
costuma ser útil para algumas pessoas.
Colocar
rapidamente seus pensamentos no papel pode ajudar, já que você pode então se
sentir confiante de que poderá lidar com o problema amanhã e conseguir
afastá-lo mais facilmente de sua mente. Mas fazer isso não funciona para todos,
especialmente se você sabe que o problema não tem solução fácil — por isso
Drerup recomenda fazer um diário sobre seus pensamentos e próximos passos horas
antes de dormir, para treinar seu cérebro a processar o estresse mais cedo em
vez de deixá-lo para a noite.
Se
nenhuma dessas estratégias funcionar dentro de 15 a 20 minutos, levante-se da
cama e faça algo relaxante até sentir sono novamente, dizem os especialistas.
Isso pode incluir ouvir um podcast ou uma playlist calma, ler um livro, fazer
um quebra-cabeça ou dobrar roupas, segundo Rego e Drerup.
Limitar
o tempo que você permanece na cama ajuda a prevenir uma associação aprendida
entre sua cama e ansiedade, explica Drerup. Isso é importante, pois ter uma
consciência fundamental de que despertares noturnos são normais, confiar que
seu corpo sabe como voltar a dormir e diminuir o medo associado ao despertar
são aspectos críticos.
Por
isso, evite ficar olhando para o relógio — saber as horas provavelmente só
aumentará seu estresse.
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Avalie seus hábitos diários
A dica
do diário pode precisar fazer parte de um conjunto regular de ferramentas para
gerenciamento do estresse diurno que pode estar faltando em sua vida, causando
ansiedade noturna. Esse conjunto pode incluir exercícios, tempo ao ar livre,
meditação e um "horário programado para preocupações", segundo Rego e
Kaylor.
Além
disso, considere sua rotina geral de sono e outros hábitos. Talvez você esteja
acordando porque está com muito calor, enquanto uma temperatura ambiente entre
18 e 19 graus Celsius é ideal para dormir, afirma Kaylor.
E
embora o álcool possa ajudar você a pegar no sono, ele interfere na manutenção
do sono. O uso de telas antes de dormir também é prejudicial, especialmente se
o conteúdo que você está consumindo for estressante ou estimulante.
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Quando procurar um médico
Você
pode precisar consultar um médico sobre seus pensamentos acelerados se eles
estiverem te acordando três ou mais noites por semana durante três meses ou
mais; se eles ou seu impacto no sono estiverem interferindo no seu trabalho,
humor, memória ou outro funcionamento diurno; se você sempre teme a hora de
dormir; ou se você se sente inseguro, explica Kaylor.
"Existem
diversos tratamentos baseados em evidências para o estresse noturno, incluindo
a terapia cognitivo-comportamental para insônia", afirma Drerup. A terapia
também aborda a ruminação e crenças prejudiciais sobre o sono.
Terapias
baseadas em mindfulness, terapia cognitivo-comportamental para ansiedade,
terapias focadas em trauma e terapia de aceitação e compromisso para insônia
também são eficazes, dependendo da causa raiz do problema, segundo os
especialistas.
Para
casos leves, Kaylor indica que os especialistas às vezes recomendam suplementos
como magnésio glicinato ou L-teanina, um aminoácido que ajuda a reduzir o
estresse e promover a calma. Mesmo que os suplementos estejam disponíveis sem
receita, você deve consultar um médico antes de experimentá-los, caso eles não
se misturem bem com medicamentos que você já esteja tomando.
Medicamentos
para dormir — como os antidepressivos doxepina ou trazodona, ou certos
hipnóticos não benzodiazepínicos — podem ser úteis a curto prazo, diz Kaylor.
Mas o uso prolongado pode levar à dependência, abstinência ou diminuição do
impulso natural do sono, alerta Kaylor.
"Algumas
pessoas realmente fazem uso seguro de medicamentos a longo prazo sob supervisão
médica", diz, "mas isso deve ser um plano cuidadosamente monitorado,
não uma estratégia de primeira linha."
Fonte:
CNN Brasil

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