Moraes
pede comprovação do histórico clínico de Augusto Heleno
Relator
do processo da trama golpista, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), solicitou neste sábado (29) comprovação do histórico de
saúde do general Augusto Heleno para decidir sobre pedido da defesa de
cumprimento da pena de 21 anos em prisão domiciliar, devido ao diagnóstico de
Alzheimer e a antecedentes de transtorno depressivo e transtorno misto ansioso
depressivo.
De
acordo com a defesa do general, que tem 78 anos e está custodiado em uma cela
especial do Comando Militar do Planalto (CMP), em Brasília, ele apresenta
sintomas psiquiátricos e cognitivos desde 2018.
Em
despacho, Moraes cobrou a anexação de documentos comprobatórios do histórico do
estado de saúde do ex-ministro de Jair Bolsonaro.
"Não
foi juntado aos autos nenhum documento, exame, relatório, notícia ou
comprovação da presença dos sintomas contemporâneos aos anos de 2018, 2019,
2020, 2021, 2022, 2023; período, inclusive, em que o réu exerceu o cargo de
Ministro de Estado do Gabinete de Segurança Institucional, cuja estrutura
englobada a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) - responsável por
informações de inteligência sensíveis à Soberania Nacional -, uma vez que,
todos os exames que acompanham o laudo médico foram realizados em 2024",
apontou o magistrado do STF.
A
concessão do regime de prisão domiciliar em favor de Augusto Heleno recebeu
parecer favorável da Procuradoria Geral da República (PGR), em manifestação
publicada nesta sexta-feira (28), mas a decisão final sobre o pleito caberá ao
STF.
Alexandre
de Moraes determinou que a defesa de Heleno junte aos autos, no prazo de 5
dias, o exame inicial que teria identificado ou registrado sintomas ou
diagnóstico de demência mista (Alzheimer e vascular) e todos os relatórios,
exames, avaliações médicas, neuropsicológicas e psiquiátricas produzidos desde
2018, "inclusive prontuários, laudos evolutivos, prescrições e documentos
correlatos que comprovem o alegado".
O
magistrado também solicitou "documentos comprobatórios da realização de
consultas e os médicos que acompanharam a evolução da demência mista, Alzheimer
e vascular durante todo esse período".
Por
fim, Moraes pediu esclarecimento, por parte da defesa, se em virtude do cargo
ocupado entre 2019 e 2022, o réu teria comunicado ao serviço de saúde da
Presidência da República, do Ministério ou a algum órgão seu diagnóstico de
deterioração cognitiva.
<><>
Condenação
Augusto
Heleno, o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais cinco aliados começaram a cumprir
pena nesta terça-feira (25) após o Supremo Tribunal Federal (STF)determinar o
fim do processo para os réus do Núcleo 1 da trama golpista que planejava
impedir a posse de Luís Inácio Lula da Silva como presidente da República em
2023..
A
condenação ocorreu no dia 11 de setembro. Por 4 votos a 1, a Primeira Turma do
STF condenou os sete réus pelos crimes de:
Organização
criminosa armada,
Tentativa
de abolição violenta do Estado Democrático de Direito,
Golpe
de Estado,
Dano
qualificado pela violência e grave ameaça e
Deterioração
de patrimônio tombado.
• Diagnóstico de Alzheimer de Heleno é de
2025, e não de 2018, diz defesa
A
defesa do general Augusto Heleno apresentou, na tarde deste sábado (29/11), ao
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um documento
com esclarecimentos sobre o estado de saúde do ex-ministro do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI) no governo de Jair Bolsonaro (PL). Segundo os
advogados, a informação de que Heleno teria recebido diagnóstico de Alzheimer
em 2018 está incorreta. O parecer definitivo, afirmam, foi firmado apenas em
janeiro de 2025.
Os
detalhes dos laudos médicos protocolados no processo foram revelados pelo
Correio na quarta-feira, um dia após Moraes determinar a prisão de Heleno,
condenado a 21 anos por envolvimento na trama golpista. A manifestação foi
protocolada horas depois de o ministro determinar, à defesa, a apresentação dos
documentos que comprovem o diagnóstico de Alzheimer, no prazo de cinco dias.
Diferentemente
do relatado por Heleno ao ser interrogado pela médica responsável pelo exame de
corpo de delito, a data de 2018 decorreu de um equívoco, alega a defesa. “[...]
O que, provavelmente, deve ter sido um equívoco por parte do perito ao indagar ao
Requerente sobre seu estado de saúde, considerando que apresenta diagnóstico de
Alzheimer e não tem condições de explanar sobre marcos temporais.”
Com
exceção desse episódio, os advogados afirmam que não há menção à data de 2018
como início da doença. A defesa técnica apresentou alegações de que Heleno
manifestou os primeiros sinais de falha de memória no fim de 2022, mas que o
diagnóstico definitivo, com base médica, ocorreu apenas em janeiro deste ano.
<><>
Cronologia
Os
relatórios médicos protocolados na quarta-feira evidenciam a cronologia do
quadro clínico do general, com resultados de exames, remédios prescritos e
pareceres de consultas periódicas. Em dezembro de 2022, constam os primeiros
sinais de falhas de memória. Em 2023 e 2024, Heleno passou por averiguações
médicas, exames e acompanhamento com médicos psiquiatra e geriatra. Em janeiro
de 2025, confirma a defesa, veio o diagnóstico de demência mista: Alzheimer e
demência vascular.
Na
manifestação, a defesa anexou uma planilha com a evolução do estado de saúde do
general, com registros que vão de 2000 a 23 de novembro de 2025. Este último,
detalhando a emissão do relatório médico especializado, em que reitera que o
tratamento em regime fechado eleva as chances de agravamento do estado de
saúde, em caráter irreversível.
Ao
final, a defesa pede a concessão da prisão domiciliar de Heleno, em caráter
humanitário, com urgência.
• O grito de Ulysses, o golpe de 1964 e a
prisão dos generais golpistas. Por Gustavo Tapioca
Na
terça-feira, 22 de novembro de 2025, o Brasil atravessou o marco que faltava.
Generais de quatro estrelas, almirantes e ministros de Estado começaram a
cumprir longas penas de prisão por atentarem contra a democracia. Pela primeira
vez na história, a farda descobriu que não é dona do país. A democracia —
tantas vezes humilhada, chantageada e ameaçada — levantou-se e disse, como
Ulysses em 1988: “Tenho nojo da ditadura.”
O ciclo
iniciado com a violência armada de 1889 — quando o marechal Deodoro da Fonseca
liderou um movimento militar que derrubou Dom Pedro II — aprofundado pela
tortura de 1964 e ressuscitado pelo bolsonarismo, termina agora atrás das
grades.
<><>
O mito que transformou covardia em projeto
Jair
Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses, caiu como sempre viveu: covarde,
teatral, patético, tentando manipular uma tornozeleira cumprindo prisão
domiciliar. Mas Bolsonaro jamais foi o cérebro. Ele foi o biombo — o boneco
colorido colocado na frente de um projeto fardado e autoritário que, durante
décadas, transitou livre pelos subterrâneos da República.
Caiu
Jair Bolsonaro. Caíram Braga Netto, Almir Garnier, Augusto Heleno, Paulo
Sérgio, Anderson Torres. Caiu o círculo militar que acreditou que o Brasil
ainda era o latifúndio privado dos quartéis. E cai, sobretudo, o mito da farda
como licença para destruir o Estado de Direito.
<><>
O 8 de janeiro nasceu em 1964
O golpe
de 1964 ensinou, geração após geração, que as Forças Armadas eram “poder
moderador”, “árbitro”, “reserva moral”, “última instância”.
Mentira.
Propaganda. Ideologia de caserna.
Essa
mentira produziu 21 anos de ditadura, milhares de perseguidos, centenas de
desaparecidos e torturados. Um país inteiro traumatizado. E essa mentira
continuou viva porque o Brasil nunca puniu seus torturadores.
A
sentença que recai agora sobre generais golpistas não é só sobre 2023. Ela é,
sobretudo, o que o país não teve coragem de enfrentar em 1979, quando anistiou
os torturadores. Um deles ídolo dos Bolsonaros — um dos mais sádicos
torturadores da “safra” dos anos 1970 — exaltado em camisetas que homenageiam
Carlos Alberto Brilhante Ustra, “o pavor de Dilma Rousseff”, no dizer cúmplice
de Jair Bolsonaro.
<><>
A memória dos torturados exige este momento
O livro
Brasil: Nunca Mais revelou ao país, com documentos da própria Justiça Militar,
o inventário da barbárie: Choques elétricos, Pau-de-arara, Estupros, Execuções,
Afogamentos, Desaparecimentos, Corpos nunca encontrados.
Foram
mais de 700 processos — e nenhum torturador punido. A democracia pós-1985 deveu
às vítimas a justiça que nunca veio. As prisões dos generais de 2025 não
compensam a omissão. Mas finalmente deixam claro: quem conspira contra a
democracia não terá o mesmo destino dos torturados — a porta da frente da
história.
<><>
O pecado original que gerou o golpismo
A
anistia que perdoou torturadores também perdoou a ideia de que militares podem
tudo. Ela inoculou o vírus que renasceu sob Bolsonaro. Foi o pacto que permitiu
que, em pleno século XXI, generais acreditassem poder derrubar um governo
eleito com fake news, culto messiânico, sabotagem institucional e manifestações
nos portões dos quartéis clamando por intervenção militar, com a baderna
generalizada do 8 de janeiro.
A
sentença da história é clara: se o Brasil tivesse julgado seus torturadores,
nenhum general teria ousado conspirar em 2023. A impunidade é mãe do golpe. A
punição é a única vacina.
<><>
O filho político do porão
Entre
todos os condenados, Augusto Heleno tem um significado especial. Não é apenas
um general. É o herdeiro direto da linha-dura. Formou-se politicamente como
ajudante de ordens de Silvio Frota, o mais autoritário e golpista dos generais
da ditadura.
De
Frota, Heleno aprendeu o ódio à política civil, o desprezo pela democracia, a
fantasia de tutela militar, o gosto pela conspiração. Entre 1974 e 1977,
período em que Frota ocupou o Ministério do Exército, a ditadura assassinou
alguns dos casos mais emblemáticos de presos políticos mortos sob custódia:
Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho.
Heleno
levou as lições do chefe Frota para dentro do governo Bolsonaro. E agora
termina onde tantos dos seus mestres deveriam ter terminado: na cadeia. É o fim
simbólico de uma linhagem. A derrota histórica de um projeto.
<><>
O papel do Supremo
O
Congresso hesitou. Governadores se omitiram. A mídia hegemônica normalizou o
golpe continuado do governo Bolsonaro e seus generais. As Forças Armadas
fingiram surpresa. Quem segurou a República foi o STF. Não por ativismo, mas
porque, diante do fascismo, defender a Constituição é dever — não escolha.
Ao
condenar generais golpistas, o Supremo inscreveu seu nome na tradição das
Cortes que impedem países inteiros de desabar.
<><>
“Traidor da Constituição é traidor da pátria"
No dia
5 de outubro de 1988, quando ergueu a Constituição diante de um Congresso
lotado, Ulysses Guimarães não apenas promulgou uma Carta — ele acendeu uma
sentença moral contra todos os que haviam comandado, servido ou aplaudido o
regime de 1964. Sua mensagem atravessou 37 anos para aparecer mais atual do que
nunca.
Seu
famoso brado, “Tenho nojo da ditadura”, não foi figura de linguagem. Foi
acusação direta. Foi dedo em riste. Foi a voz do Brasil que sobreviveu aos
porões e aos covardes que os administravam.
Hoje,
quando generais — herdeiros diretos da mentalidade que Ulysses repudiou — são
presos, em 2025, por tentar outro golpe, suas palavras ganham um sentido ainda
mais afiado. Ulysses sabia que a ditadura não acabava numa assinatura, mas num
enfrentamento moral permanente.
Aqui
está o trecho mais célebre do discurso de Ulysses Guimarães na sessão solene de
5 de outubro de 1988, quando promulgou a Constituição Cidadã:
“Temos
ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amor e repulsa. A Constituição certamente não é
perfeita. Ela própria o confessa, ao admitir a reforma. Quanto a ela,
discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor
da Constituição é traidor da pátria.”
• Para entender a gênese do
fascismo-bolsonarismo. Por Jair de Souza
As
mazelas do fascismo estão de volta para atormentar a vida das classes
trabalhadoras. Para os que temos um pouco mais de tempo no percurso da estrada
da vida, este ressurgimento pode chegar a ser um tanto inexplicável. É difícil
entender como, mesmo após as nefastas experiências ocorridas na primeira metade
do século passado, essas correntes de extrema direita tenham regressado ao
cenário principal do mundo político de uma maneira para nada desprezível.
Porém,
jamais seremos capazes de compreender os mecanismos que possibilitaram o
ressurgimento vigoroso dessa ideologia ultrarreacionária, sem estudar a
evolução das estruturas sócio-econômicas nas quais o fascismo se ampara. E as
bases do fascismo estão profundamente assentadas no capitalismo em sua fase
mais oligopolizada, ou seja, nos momentos em que o capitalismo ingressa em uma
etapa de acentuada crise.
Em
condições de normalidade e pujança, as chances de o fascismo se impor são quase
nulas. Como podemos constatar ao rever a história, em períodos em que o
capitalismo não se sente ameaçado, as lideranças de tipo fascista costumam ser
desprezadas e rejeitadas pelos próprios capitalistas, que as veem como
grotescas e vulgares.
Mas,
tudo muda drasticamente quando as relações de dominação do capitalismo
oligopolizado já não conseguem ser aceitas pelas massas populares sem grandes
resistências. Nos momentos em que o descontentamento popular atinge níveis tão
elevados que as massas deixam de acreditar que seja possível sair de sua
tragédia por meio de reacomodações cosméticas, o fascismo passa a ser visto com
outros olhos pelas elites sócio-econômicas que antes o viam com desdém.
A
mudança de atitude das classes dominantes em relação com as lideranças de cunho
fascistoide não se deve a nenhuma variação no sentimento de asco que lhes
nutriam anteriormente. É que, acima de quaisquer outras questões, os senhores
do grande capital sabem que, em primeiro lugar, devem preservar as estruturas
do sistema de exploração do qual dependem para manter seus privilégios. Nestas
circunstâncias de crise intensa e ameaça a seus interesses, o fascismo desponta
como a principal alternativa de transformar tudo na superfície para que nada
mude nas estruturas. Em outras palavras, o fascismo é a tábua de salvação do
grande capital nos momentos de grandes tormentas.
Assim,
para neutralizar a fúria das massas, recorre-se a certos anjos da guarda que,
embora dotados de feições pouco palatáveis, são úteis na tentativa de
redirecionar a sanha popular para que os interesses reais dos capitalistas não
sejam atingidos. Por isso, não é de estranhar a peculiaridade de que as grandes
lideranças fascistas tenham sido, e continuem sendo, figuras notoriamente
grotescas. Na verdade, não apresentar nada que as identifique, em termos de
modos e costumes, com as classes dominantes é quase que condição sine qua non
para alguém ter êxito como fascista. É preciso falar e se comportar de maneira
tão vulgar a ponto de que o povo não sinta que elas façam parte das elites
exploradoras tradicionais.
Nos
grandes expoentes do fascismo de quase todos os tempos e lugares, como
Mussolini, na Itália, Hitler, na Alemanha, Milei, na Argentina, Bolsonaro, no
Brasil, é comum que predominem as características que ressaltam sua pouca
qualificação, sua incultura, sua grosseria, sua falta de fineza, ou seja, tudo
aquilo que as elites sócio-econômicas considerariam repugnante para si própria
em condições normais. É o preço que têm de pagar para que seus sagrados
interesses de classe não sejam violados.
Como a
burguesia não consegue angariar apoio entre os setores populares com sua
própria cara, são os fascistas que cumprem esse papel. É contra o fascismo que
as classes trabalhadoras acabam tendo de se chocar no dia a dia. O principal
recurso utilizado pelos fascistas para se imporem politicamente é o emprego da
violência para acuar e intimidar seus adversários. No entanto, quando são
encarados sem temor, os fascistas demonstram sua enorme covardia. Então, a
melhor receita para o trato com fascistas é jamais demonstrar-lhes medo, sempre
enfrentá-los com coragem e determinação.
Como
forma de ilustrar o panorama que tentei esboçar nas linhas anteriores, gostaria
de recomendar que assistam (ou voltem a assistir) àquele tido como um dos
principais filmes já produzidos em todos os tempos. Refiro-me ao clássico
Novecento, de Bernardo Bertolucci, que trata da questão da gênese do fascismo
na Itália nos períodos prévios à Segunda Guerra Mundial. Sugiro que o façam,
não apenas para deleitarem-se com sua inegável qualidade artística, senão que
também para tê-lo como um valioso instrumento para refletir e entender melhor a
variante do fascismo da qual somos vítimas no Brasil atual, o bolsonarismo.
Fonte:
JB/Correio Braziliense/Brasil 247

Nenhum comentário:
Postar um comentário