quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A relação entre a "barriga de cerveja" e problemas no coração, segundo este estudo

A chamada “barriga de cerveja” não é apenas um detalhe estético, mas pode ser um indicador para outros problemas de saúde. É o que indica um novo estudo apresentado na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA).

Esse acúmulo de gordura abdominal pode estar associado a mudanças estruturais perigosas no coração, mais severas até do que aquelas relacionadas ao peso corporal total. E, de acordo com pesquisadores do Centro Médico Universitário de Hamburgo-Eppendorf, na Alemanha, os homens são mais afetados com o problema.

A equipe analisou imagens de ressonância magnética cardiovascular de 2.244 adultos entre 46 e 78 anos, todos sem histórico de doença cardíaca. Os pesquisadores compararam dois indicadores: o índice de massa corporal (IMC), que mede a obesidade geral, e a relação cintura-quadril (RCQ), parâmetro que identifica a obesidade abdominal, mais associada ao acúmulo de gordura visceral, aquela armazenada profundamente ao redor dos órgãos internos.

Os resultados chamaram atenção. Embora o IMC elevado esteja ligado ao aumento do tamanho das câmaras cardíacas, a obesidade abdominal mostrou um efeito mais preocupante. Adultos com RCQ elevada apresentaram espessamento do músculo cardíaco e redução dos volumes internos das câmaras do coração, um padrão chamado hipertrofia concêntrica. Nessa condição, o coração não cresce por fora, mas suas cavidades diminuem, comprometendo a capacidade de bombear sangue de maneira eficiente. Segundo os autores, esse tipo de remodelação pode evoluir silenciosamente até resultar em insuficiência cardíaca.

As alterações foram mais marcantes nos homens, especialmente no ventrículo direito, responsável por enviar o sangue aos pulmões. Para os pesquisadores, isso pode estar relacionado ao impacto da gordura abdominal sobre a respiração e a pressão pulmonar, aumentando o estresse cardíaco.

O estudo também identificou mudanças sutis no tecido cardíaco masculino, perceptíveis apenas com técnicas avançadas de ressonância magnética. Mesmo fatores de risco tradicionais, como hipertensão, tabagismo, diabetes e colesterol alto, não explicaram completamente os resultados, reforçando a influência direta da gordura visceral.

“As diferenças específicas de sexo sugerem que os pacientes do sexo masculino podem ser mais vulneráveis aos efeitos estruturais da obesidade no coração, uma descoberta não amplamente relatada em estudos anteriores”, disse Jennifer Erley, residente de radiologia no Centro Médico Universitário de Hamburgo-Eppendorf, na Alemanha, em comunicado.

Para identificar o risco em casa, os pesquisadores lembram que basta uma fita métrica. A RCQ é calculada dividindo a medida da cintura (no ponto mais estreito) pela medida do quadril (no ponto mais largo). Valores acima de 0,90 para homens e 0,85 para mulheres indicam obesidade abdominal segundo a Organização Mundial da Saúde.

“Em vez de se concentrarem na redução do peso total, os adultos de meia-idade devem se concentrar na prevenção do acúmulo de gordura abdominal por meio de exercícios regulares, uma dieta equilibrada e intervenção médica oportuna, se necessário", orienta Erley.

Os autores também pedem que radiologistas e cardiologistas incluam a obesidade abdominal em suas avaliações de rotina. Segundo a equipe, padrões de remodelamento cardíaco frequentemente atribuídos a outras doenças podem, na verdade, estar ligados diretamente ao excesso de gordura visceral.

•        Cardiologista cita 3 fatores de risco que mais prejudicam as artérias

Atentar-se às artérias é sinônimo de cuidar da saúde em geral, afinal esses vasos levam o sangue oxigenado “para irrigar e fornecer suprimentos” a todos os tecidos e órgãos do corpo. Esse transporte de oxigênio tem por objetivo “manter a vitalidade dessas estruturas”, conforme explica o cardiologista Vagner Vinicius Ferreira. Contudo, hábitos de vida adotados ao longo do tempo tendem a prejudicar o fluxo sanguíneo desses tubos.

Especialista em hemodinâmica e cardiologia intervencionista, o médico ressalta que as artérias “são órgãos vivos que mantêm a produção de uma série de substâncias que controla tanto a contração quanto a dilatação desses vasos“. Vagner Vinicius salienta sobre as fórmulas geradas nesses tubos diminuírem o risco da formação de placas de gordura, processo definido como aterosclerose.

O cardiologista menciona sobre a aterosclerose se formar por acúmulo de colesterol, hábito de tabagismo, sedentarismo, ganho de peso e presença de diabetes. Ele esclarece que, conviver com esses fatores de risco ao longo da vida, cria-se em um determinado momento placas de gordura na camada mais interna das artérias, também chamada de endotélio.

“O endotélio tem células que separam a parede do vaso em que o sangue está correndo, e células inflamatórias captam moléculas de colesterol e se depositam na parede da artéria, começando a formação das placas. Isso vai aumentando com o tempo à medida que não se muda os hábitos de vida”, defende o especialista em hemodinâmica do Hospital Mantevida.

Vagner Vinicius reforça que as artérias têm um papel fundamental de produzir substâncias com a capacidade de diminuir a coagulação do vaso, regulando a contração e a dilatação desses tubos. Ele argumenta que hábitos de vida não saudáveis podem impedir que os vasos desempenhem essa função por ficarem mais rígidos em razão da formação de placas de aterosclerose.

“Os principais fatores de risco que prejudicam a saúde das artérias, dentre eles, estão o tabagismo; a dislipidemia, que a alteração do colesterol; e a diabetes“, lista o médico. O cardiologista endossa que esse processo aterosclerótico é “evolutivo e acumulativo”. “Em algum momento da vida, essas placas podem se tornar graves ou ficarem inflamadas e vulneráveis sendo propensas à ruptura, causando um evento agudo”, emenda.

De acordo com o Vagner Vinicius Ferreira, adotar hábitos saudáveis diminui o risco do aparecimento de eventos que danifiquem as artérias. “Alimentação balanceada, bom controle do sono, prática de atividade física e evitar o tabagismo tendem a reduzir a probabilidade de desenvolver uma doença aterosclerótica. É muito menor a chance de ter um evento no futuro, seja infarto, AVC ou oclusão arterial aguda”, frisa.

 

Fonte: Revista Galileu

 

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