quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

"Ozempic oral" não retarda progressão do Alzheimer, aponta estudo

Uma versão oral da semaglutida, princípio ativo dos medicamentos de sucesso Ozempic e Wegovy, não conseguiu retardar a progressão do Alzheimer em testes clínicos muito aguardados, anunciou a Novo Nordisk nesta segunda-feira (24).

Em dois ensaios de Fase 3 com mais de 3.800 adultos que recebiam tratamento padrão para Alzheimer, a empresa avaliou se uma forma mais antiga do medicamento em comprimido funcionava melhor que um placebo. A empresa informou que o medicamento demonstrou ser seguro e levou a melhorias nos biomarcadores relacionados ao Alzheimer, mas o tratamento não retardou a progressão da doença.

A Novo há muito tempo tratava o Alzheimer como uma aposta arriscada para os populares medicamentos GLP-1. O uso desses medicamentos para diabetes e perda de peso explodiu nos últimos anos, e eles demonstraram benefícios para uma ampla gama de condições adicionais de saúde, como proteção do coração e dos rins, redução da apneia do sono e potencial auxílio no tratamento de vícios.

Estudos menores e testes em animais haviam sugerido que os GLP-1 poderiam ajudar a retardar o declínio cognitivo ou reduzir a neuroinflamação, mas eram necessários ensaios maiores como os da Novo para confirmar se os pacientes observavam benefícios reais.

"Com base na significativa necessidade não atendida na doença de Alzheimer, bem como em diversos dados indicativos, sentimos que tínhamos a responsabilidade de explorar o potencial da semaglutida, apesar da baixa probabilidade de sucesso", disse Martin Holst Lange, diretor científico e vice-presidente executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Novo Nordisk em comunicado na segunda-feira, agradecendo aos participantes do estudo.

Uma extensão de um ano dos ensaios será descontinuada, informou a Novo. Os resultados dos testes ainda não foram revisados por pares ou publicados, mas serão apresentados em próximas conferências científicas.

A Novo tem enfrentado maior concorrência no mercado de perda de peso e recentemente anunciou preços mais baixos para alguns pacientes que pagam em dinheiro pelo Ozempic e Wegovy. As ações da Novo caíram na segunda-feira após o anúncio sobre o teste de Alzheimer.

•        Ozempic e similares podem reduzir risco de morte por câncer de cólon

Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, conhecidos popularmente como "canetas emagrecedoras", podem reduzir o risco de morte em pacientes com câncer de cólon. É o que sugere um estudo realizado na Universidade da Califórnia em San Diego e publicado na revista Cancer Investigation no último dia 11.

Ao analisar mais de 6.800 pacientes com o tumor em todos os centros de saúde da Universidade da Califórnia, os pesquisadores descobriram que aqueles que tomavam medicamentos com peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) -- a mesma classe das canetas -- tinham menos da metade da probabilidade de morrer em cinco anos em comparação com aqueles que não usavam esses medicamentos.

Os resultados foram consistentes mesmo após ajustes para idade, IMC (índice de massa corporal), gravidade da doença e outros fatores de saúde. Isso sugere que os medicamentos podem oferecer um forte efeito protetor independente.

De acordo com o estudo, o benefício na sobrevida (tempo de vida desde o diagnóstico do câncer) pareceu maior em pacientes com IMC muito alto (acima de 35), sugerindo que os medicamentos GLP-1 podem ajudar a neutralizar condições inflamatórias e metabólicas que pioram o prognóstico do câncer de cólon.

Além disso, os pesquisadores acreditam que os efeitos protetores podem estar relacionados ao próprio mecanismo das canetas: elas reduzem a inflamação sistêmica, melhoram a sensibilidade à insulina e promovem a perda de peso, todos fatores que podem reduzir o crescimento do tumor.

Estudos laboratoriais também sugerem que os medicamentos GLP-1 podem prevenir diretamente o crescimento de células cancerígenas, desencadear a morte celular e remodelar o microambiente tumoral.

Apesar das descobertas, os autores do estudo enfatizam que mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados e determinar se o benefício observado na análise representa um efeito anticancerígeno direto ou um resultado indireto da melhora da saúde metabólica.

•        Benefícios à saúde se perdem após suspensão do Mounjaro

Pacientes que interrompem o uso do Mounjaro – medicamento injetável usado contra a diabetes de tipo 2 e que se popularizou por sua eficácia na perda de peso – e voltam a engordar perdem benefícios à saúde conquistados com o tratamento, revela um novo estudo publicado nesta segunda-feira (24/11).

A pesquisa – que contou com a participação de especialistas da farmacêutica dona do Mounjaro, a Eli Lilly –, realizada com 308 pessoas, constatou que aqueles que recuperaram 25% ou mais do peso perdido após 36 semanas de tratamento perderam também os benefícios à saúde inicialmente conquistados, como redução da circunferência da cintura, melhora na pressão sanguínea e nos índices glicêmicos e de colesterol, bem como de resistência à insulina.

A regressão no quadro clínico dos pacientes foi pior quanto mais quilos eles recuperaram do antigo peso. Dentre os 308 pacientes que participaram do estudo, 77 recuperaram de 25% a 50% do peso perdido após 52 semanas sem usar o Mounjaro; em 103, o ganho foi de 50% a 75%; em 74, acima de 75%.

Neste último grupo, dos que retomaram mais de 75% do peso antigo, os parâmetros cardiometabólicos voltaram ao mesmo ponto do início do tratamento.

<><> Mudança de estilo de vida é importante

O princípio ativo do Mounjaro, a tirzepatida, pode ajudar pessoas a perder em média 20% de seu peso corporal em 72 semanas de tratamento – mais que outros tratamentos similares disponíveis, como Wegovy e Ozempic .

Porém, outras pesquisas já constataram que o peso perdido geralmente tende a ser recuperado passados alguns meses após a suspensão do medicamento – a um ritmo muito mais acelerado do que no caso de pessoas que emagrecem apenas com dietas, exercícios e mudanças no estilo de vida.

Os autores do estudo publicado nesta segunda-feira afirmam que as conclusões "reforçam a importância da manutenção da redução do peso a longo prazo através de intervenções no estilo de vida e medicamentos para gerenciamento da obesidade, de modo a manter os benefícios cardiometabólicos e uma melhor qualidade de vida".

Ao jornal britânico The Guardian, Jane Ogden, professor emérito da escola de ciências da saúde da Universidade de Surrey, ressaltou que o uso de medicamentos injetáveis para perda de peso nem sempre vem acompanhado de mudanças no estilo de vida e na dieta.

Segundo ela, a manutenção de velhos hábitos prejudiciais à saúde pode levar ao ganho de peso e, consequentemente, à reversão de benefícios cardíacos.

Outro estudo publicado recentemente na revista Nature aponta que o uso da tirzepatida consegue acalmar o desejo incessante por comida, mas só temporariamente.

 

Fonte: CNN Brasil/DW Brasil

 

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