quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Como Trump vem interferindo na política de outros países

Presidente dos EUA tem apoiado abertamente aliados ideológicos em outras nações. Enquanto ações são mais sutis em países aliados, como Alemanha e Israel, mão da Casa Branca paira mais pesada sobre a América Latina.

Os Estados Unidos têm um longo histórico de intervenções políticas em outros países, que remonta há décadas.  Somente entre 1947 e 1989, período que coincide com a Guerra Fria, a Casa Branca tentou mudar os governos de outros países 72 vezes – seis delas abertamente –, segundo uma análise da cientista política Lindsey A. O'Rourke, do Boston College, publicada no jornal The Washington Post .

Outro cientista político, Dov Levin, contabilizou em um livro publicado em 2021 mais de 80 intervenções desde o fim da Segunda Guerra Mundial – mais do que qualquer outro país, até mesmo a Rússia. Mas nenhum presidente da história moderna americana tentou interferir tão descaradamente em governos estrangeiros quanto Donald Trump . O líder republicano tem apoiado abertamente seus aliados de ultradireita em outros países, e recorre para isso frequentemente a postagens em sua rede social própria, a Truth Social. Num exemplo mais recente disso, Trump ameaçou "consequências" para Honduras caso o candidato apoiado por ele, o conservador Nasry "Tito" Asfura, do Partido Nacional, não vença.

<><> O caso de Honduras: guerra ao 'narcocomunismo', perdão para um ilustre traficante?

Trump define Asfura como "único amigo de verdade da liberdade" contra o "narcocomunismo" . A vitória dele, assegura, garantiria "muito apoio" da Casa Branca ao país assolado pela pobreza e pela migração de hondurenhos para o exterior em busca de uma vida melhor.

O país foi às urnas no último domingo (30/11), e a apuração dos resultados evolui a passos lentos. Com 57% das urnas apuradas até agora, Asfura aparece em empate técnico com Salvador Nasralla, do Partido Liberal, com vantagem de pouco mais de 500 votos. O vencedor do pleito será o candidato que obtiver o maior número de votos, já que o sistema eleitoral hondurenho não prevê disputa em segundo turno.

Em uma mensagem publicada em sua conta oficial na Truth Social, Trump afirmou que "Honduras está tentando mudar os resultados" e alertou que "haverá consequências" se isso acontecer. "A democracia deve prevalecer!", advertiu, alegando que a vontade expressa pelos eleitores "em números esmagadores" deve ser respeitada.  Apesar dos alertas de Trump contra uma suposta ameaça "narcocomunista" a Honduras, o apoio de Washington, a poucos dias das eleições, veio juntamente com o aceno de um possível indulto para um ilustre traficante de drogas hondurenho condenado pela justiça americana: o ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), correligionário de Asfura que pegou pena de 45 anos de prisão por, nas palavras do jornal The New York Times, ter "inundado os EUA com cocaína" .

Nesta segunda-feira (02/12), a esposa de Hernández, Ana García, anunciou nas redes sociais que ele foi de fato indultado e solto. "Depois de quase quatro anos de dor, de espera e de provas difíceis, meu esposo voltou a ser um homem livre, graças ao perdão presidencial outorgado pelo residente Donald Trump", celebrou Ana García. "Eu não consigo pensar em uma época em que um presidente americano esteve disposto a declarar abertamente suas preferências em uma eleição estrangeira dessa forma, pelo menos na história moderna", afirmou o jurista e especialista em relações internacionais Thomas Carothers, do think tank americano Carnegie Endowment for International Peace, à agência de notícias AFP.

<><> Outros exemplos da América Latina

Trump parece se sentir especialmente confortável em declarar suas preferências políticas a respeito de outros países na América Latina, onde o histórico de intervenções da Casa Branca é particularmente vasto .

A Colômbia, por exemplo, presidida pelo esquerdista Gustavo Petro – um franco antagonista de Trump –, foi punida em outubro pela Casa Branca com um corte de verbas milionárias para o combate ao narcotráfico após Petro criticar os EUA pelos ataques mortais a embarcações no Caribe e no Pacífico supostamente a serviço do tráfico de drogas. Petro foi chamado de "lunático" pelo chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, e de "barão da droga" por Trump.

No Brasil, Washington retaliou o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes , impondo-lhe sanções por ter levado a julgamento o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado , além de uma sobretaxa de 40% sobre as exportações brasileiras. À época, Trump declarou que Bolsonaro era alvo de uma "caça às bruxas" . Eventualmente, Trump acabou mudando de tom e recuando nas tarifas . Mas a pressão colocou o Brasil numa saia-justa.

À Argentina , governada pelo ultradireitista Javier Milei, Trump sinalizou bilhões de dólares em socorro financeiro antes das eleições legislativas. Desse valor, 20 bilhões foram formalizados após resultado favorável para Milei no pleito. "Ele [Milei] teve muita ajuda de nossa parte. Ele teve muita ajuda. Eu lhe dei uma garantia, uma garantia muito forte", disse Trump depois do pleito argentino. "[A] intervenção inédita [de Trump] na política e na economia argentinas foi fundamental para sustentar as aspirações eleitorais do governo [Milei]", resumiu à época o cientista social Nicolás Welschinger em entrevista à DW. 

Já a Venezuela se vê atualmente cercada por um contingente militar americano massivo no Caribe – que inclui o maior porta-aviões do mundo –, supostamente destinado a combater "narcoterroristas" na região. Nos últimos meses, os EUA têm aumentado a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro , afirmando que seu governo é ilegítimo e associando-o a cartéis de drogas e ao terrorismo , no que observadores veem como uma justificativa para legitimar uma eventual intervenção americana no país .  "É uma tentativa consistente de influenciar politicamente, reforçar o que acho que eles [EUA] veem como uma guinada à direita que já está ganhando força na região [América Latina]", analisou o pesquisador Will Freeman, do think tank Council on Foreign Relations, em entrevista à AFP.

<><> Tentativas de interferência também na Europa

Trump também tem tentado interferir em governos no Velho Continente.  Às vezes, isso ocorre de forma mais sutil e indireta, como no caso da Alemanha, que elegeu um novo Parlamento em fevereiro de 2025. Em visita ao país a menos de duas semanas da eleição, o vice-presidente americano JD Vance se encontrou com a líder do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) , Alice Weidel, e palestrou, diante de líderes europeus, sobre o que vê como distorção dos valores comuns que uniriam EUA e Europa. Na ocasião, Vance também condenou a existência de "cordões sanitários" na política – uma clara referência à relutância de políticos alemães em permitir que a AfD exerça qualquer influência sobre as decisões do Parlamento – e a anulação das eleições presidenciais na Romênia por suspeita de interferência russa .

O endosso americano ao candidato pró-Rússia na Romênia não serviu de muita coisa – Calin Georgescu, que surpreendeu ao vencer o primeiro turno original que foi posteriormente anulado, foi barrado da nova corrida presidencial e não conseguiu transferir seu capital político para o eurocético George Simion, líder do partido de ultradireita Aliança para a União dos Romenos (AUR). Na Polônia, porém, a Casa Branca conseguiu emplacar seu favorito na Presidência, o conservador Karol Nawrocki , abertamente apoiado pela secretária de segurança doméstica dos EUA, Kristi Noem, em visita ao país. No Reino Unido, Trump e seus emissários incensaram o parlamentar anti-imigração Nigel Farage; na França, defenderam a líder de ultradireita Marine le Pen após ela ser condenada por desviar recursos do Parlamento Europeu e impedida de se candidatar a cargos públicos.

<><> Oriente Médio

Em Israel, onde o premiê Benjamin Netanyahu tem se equilibrado no cargo nos últimos anos em meio à guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, Trump fez campanha aberta para salvar o aliado de seus problemas com a Justiça: apelou ao presidente Isaac Herzog para perdoá-lo das acusações de corrupção antes mesmo da conclusão dos julgamentos. Já na Arábia Saudita, governada pelo aliado Mohammed bin Salman, Trump discursou contra intervenções estrangeiras, em visita ao país em maio, afirmando que esforços americanos neste sentido no passado foram desastrosos. Recentemente, defendeu o príncipe de perguntas "embaraçosas" de jornalistas em visita dele à Casa Branca.

<><> O que distingue as tentativas de interferência de Trump

Segundo o especialista em relações internacionais Carothers, o que distingue Trump de outros presidentes americanos não são apenas seus métodos, mas também suas motivações aparentes. "É diferente da Guerra Fria, quando os EUA muitas vezes favoreceram uma pessoa específica, mas por razões geoestratégicas", argumentou. "O que temos aqui é mais que Trump acha que tem um grupo de amigos lá fora que ele quer ajudar."

Carothers observa que a Rússia age de forma parecida em países que estiveram sob sua influência na era soviética, como foi o caso da Romênia e, mais recentemente, da Moldávia – onde o candidato favorecido por Moscou também não prosperou . Já o premiê ultradireitista húngaro Viktor Orbán, que segundo Carothers a maioria dos líderes europeus gostaria de ver como carta fora do baralho nas próximas eleições, deve contar com as bênçãos de Trump em 2026. Orbán foi recebido pelo americano em novembro na Casa Branca, e ouviu dele elogios rasgados.  "Ele fez um trabalho fantástico [...]. Administrou um país realmente grandioso, e não tem criminalidade, não tem problemas, como alguns países têm", declarou Trump a repórteres na ocasião, acrescentando que líderes europeus deveriam valorizar mais o colega húngaro.

¨      Carta de Maduro à OPEP sobre sanha petrolífera dos EUA faz alerta à comunidade internacional

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enviou neste domingo (30) uma carta ao secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Haitham Al Ghais, direcionada também aos demais integrantes do mecanismo de coordenação que inclui outras nações produtoras. Na mensagem, ele apresenta um resumo das “ameaças ilegais” dos Estados Unidos contra o Estado venezuelano e denuncia que Washington “pretende se apoderar das vastas reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do planeta, por meio do uso da força militar total”.

A vice-presidenta, Delcy Rodríguez, leu o comunicado durante a conferência ministerial da organização, realizada no domingo (30), detalhando que o movimento militar dos EUA no Caribe é formado por 14 navios de guerra e 15 mil militares. Maduro explica que essas unidades têm realizado missões de voo e navegação muito próximas do território venezuelano “com o objetivo declarado de executar uma operação militar contra a Venezuela”. Além disso, informa que os Estados Unidos aplicaram “um conjunto de medidas coercitivas unilaterais, ilegais e arbitrárias”, cujo intuito é afetar a indústria petrolífera venezuelana para provocar “uma mudança inconstitucional de governo”. Entre essas medidas, destacam-se as tentativas de impedir pela força a livre circulação dos navios que transportam petróleo e seus derivados. Com esta carta, Maduro denuncia expressamente aos principais países exportadores de petróleo a intenção do governo dos Estados Unidos de se apoderar “das vastas reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do planeta”, por meio do uso da força militar total contra o território, o povo e as instituições da nação bolivariana.

Ele também adverte que tal situação “coloca em grave perigo a estabilidade e a segurança energética internacional”. Por essa razão, Maduro solicita os bons ofícios do secretário-geral Al Ghais e dos países que fazem parte do mecanismo OPEP+ para fazer com que o governo de Washington desista de suas intenções bélicas. “Espero contar com seus melhores esforços para contribuir a deter a agressão que é gestada com cada vez mais força e ameaça seriamente os equilíbrios do mercado energético internacional, tanto para os países produtores como para os consumidores”, diz a carta. Por fim, Maduro assegura que a Venezuela “não sucumbirá a nenhum tipo de chantagem ou ameaça”.

A OPEP é atualmente formada por 12 membros: Arábia Saudita, Argélia, Emirados Árabes Unidos, Gabão, Guiné Equatorial, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, República do Congo e Venezuela. Por sua vez, o mecanismo OPEP+ inclui, além desses, outros 10 países: Rússia, México, Cazaquistão, Azerbaijão, Barein, Brunei, Malásia, Omã, Sudão e Sudão do Sul, totalizando 22 países na aliança.

<><> Assassinatos no Caribe

A Assembleia Nacional (AN) da Venezuela solicitou ao Ministério Público que abra uma investigação formal sobre os assassinatos cometidos por militares estadunidenses no Caribe, nos quais pescadores venezuelanos foram vítimas. Além disso, o Parlamento designará uma comissão especial de deputados para abordar o caso. O presidente da AN, Jorge Rodríguez, explicou que os venezuelanos assassinados por ordens do secretário de Defesa estadunidense, Pete Hegseth, pertenciam à população de Güiria, no estado de Sucre, situado na costa oriental do país. Ele assegurou que os familiares dos pescadores mortos receberam ameaças para não denunciar publicamente que as vítimas eram trabalhadores honestos que não tinham qualquer relação com o narcotráfico — justificativa utilizada por Washington para atirar contra embarcações em movimento em águas do Caribe. A Assembleia Nacional buscará realizar uma reunião com o governo bolivariano e o governo de Sucre para estabelecer estratégias de apoio aos familiares dos assassinados.

<><> Agressão dos EUA contra espaço aéreo da Venezuela é “imoral” e exige rechaço de governos soberanos

No sábado (29), a Venezuela denunciou como uma ameaça colonialista à sua soberania a advertência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um fechamento total do espaço aéreo venezuelano, indicou um comunicado da chancelaria, o que marca uma nova escalada de tensões com o presidente Nicolás Maduro. Além disso, Trump anunciou que as Forças Armadas “começarão muito em breve” a frear os narcotraficantes da Venezuela por terra, após considerar exitosas as operações no mar. Em uma chamada de Ação de Graças com militares a partir de Mar-a-Lago, disse que por terra será mais fácil e que isso começará logo. Desde 1º de setembro, segundo a Casa Branca, as forças estadunidenses teriam matado mais de 80 pessoas e destruído mais de 20 embarcações supostamente vinculadas ao narcotráfico, a maioria com origem venezuelana, em operações no Caribe e no Pacífico. Além disso, o porta-aviões USS Gerald R. Ford opera na região desde 16 de novembro.

<><> Reações do governo venezuelano

Diante da mais recente investida do governo dos Estados Unidos, que pretende bloquear o espaço aéreo venezuelano, Maduro ordenou a execução imediata de um plano especial para assegurar o retorno dos venezuelanos retidos no exterior e facilitar os itinerários de saída daqueles que precisam viajar para fora do país. A medida responde à necessidade de proteger os direitos de mobilidade dos venezuelanos diante de uma ação qualificada como ilegítima e ilícita. A vice-presidente executiva Delcy Rodríguez, por sua vez, afirmou que o governo dos EUA atende à solicitação da dirigente opositora María Corina Machado para tentar bloquear o espaço aéreo da Venezuela. “A Venezuela denuncia e condena a ameaça colonialista que pretende afetar a soberania de seu espaço aéreo, uma nova agressão extravagante, ilegal e injustificada contra o povo da Venezuela”, assinalou um comunicado divulgado no Telegram pelo ministro das Relações Exteriores, Yván Gil. “Este tipo de declaração constitui um ato hostil, unilateral e arbitrário, incompatível com os princípios mais elementares do Direito Internacional e que se inscreve em uma política permanente de agressão contra nosso país, com pretensões coloniais sobre nossa região da América Latina”, destacou.

Outra medida tomada pelo governo de Nicolás Maduro foi a revogação, a seis empresas aéreas, da concessão para operar no espaço aéreo venezuelano. A determinação considera que as mesmas se somaram à campanha terrorista dos EUA. Em resposta, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), que engloba mais de 300 companhias aéreas de todo o mundo, pediu ao governo venezuelano que “reconsidere” a medida e disse que as empresas aéreas “reafirmam seu compromisso com a Venezuela” e manifestaram sua disposição de restabelecer os serviços de maneira segura, mas “tão logo as condições o permitam”. O governo não respondeu imediatamente a essa comunicação da IATA.

<><> “A Venezuela saberá responder com dignidade”

O governo venezuelano denunciou que as afirmações de funcionários estadunidenses representam uma ameaça explícita do uso da força que, assegura, está claramente proibida pela Carta das Nações Unidas, e considerou que se trata de uma tentativa de intimidação. “A Venezuela exige respeito irrestrito a seu espaço aéreo, protegido pelas normas da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI)”, agregou a nota, que ressaltou igualmente que o país sul-americano não aceitará ordens, ameaças nem ingerências provenientes de qualquer poder estrangeiro. “Nenhuma autoridade alheia à institucionalidade venezuelana tem faculdade para interferir, bloquear ou condicionar o uso do espaço aéreo nacional”, acrescentou. O governo assegurou que, com a declaração de Trump, os Estados Unidos suspenderam, de maneira unilateral, os voos de migrantes venezuelanos. “Até o momento foram realizados 75 voos de repatriação de 13.956 migrantes venezuelanas e venezuelanos que foram recebidos com amor e absoluta solidariedade”, mencionou a chancelaria, em referência ao acordo alcançado em janeiro passado por ambas as nações, que não mantêm relações diplomáticas desde 2019.“Fazemos um chamado direto à comunidade internacional, aos governos soberanos do mundo, à ONU e aos organismos multilaterais correspondentes, para rejeitar com firmeza este ato de agressão imoral que equivale a uma ameaça contra a soberania e a segurança da nossa Pátria, do Caribe e do norte da América do Sul”, declarou. “A Venezuela saberá responder com dignidade, com legalidade e com toda a força que o direito internacional e o espírito anti-imperialista do nosso povo conferem”, enfatizou.

<><> Entenda a nova ofensiva de Trump

A tensão envolvendo o espaço aéreo venezuelano avançou quando Trump escreveu em sua plataforma, Truth Social: “A todas as companhias aéreas, pilotos, narcotraficantes e traficantes de pessoas: rogamos que considerem que o espaço aéreo sobre a Venezuela e seus arredores permanecerá fechado em sua totalidade”, sem esclarecer nenhuma circunstância relacionada ao fechamento. O mandatário republicano difundiu a mensagem após o jornal The New York Times informar sobre uma suposta conversa telefônica que manteve com Maduro para explorar um possível encontro. O diálogo foi confirmado por Trump. A notícia se tornou conhecida um dia após Trump advertir que suas Forças Armadas atuarão muito em breve em terra contra supostos narcotraficantes da Venezuela, enquanto mantém o deslocamento naval no Caribe.

Em 21 de novembro passado, a Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA instou a ampliar a precaução ao sobrevoar a Venezuela e o sul do Caribe diante do que considera “uma situação potencialmente perigosa” na região. A declaração desencadeou uma série de cancelamentos de voos desde e para a Venezuela, que, em resposta, revogou as concessões de operação de seis companhias aéreas internacionais. A advertência de Trump ocorre no contexto dos bombardeios estadunidenses contra embarcações no Caribe, que causaram vários mortos e que Washington defende como parte de sua luta contra o narcotráfico, mas que Caracas denuncia como uma ameaça que busca propiciar uma troca de governo.

<><> Monroe 2

Sergio Guzmán, cientista político e docente da Universidade Nacional de San Juan (UNSJ), na Argentina, explica que todas essas ações de Trump fazem parte de uma reformulação da Doutrina Monroe, versão Século 21. Essa doutrina, proposta pelo presidente dos EUA James Monroe em 1823, sustentava a ideia de uma “América para os americanos”, em rejeição à intervenção europeia nos assuntos do continente americano. “É uma ingerência nos assuntos internos de outro país com a desculpa de sempre do narcotráfico, mas além disso, o que Trump tenta não é outra coisa senão a instalação de uma agenda internacional que ele sempre pretende conduzir”, afirma o analista. “Ele marca os temas: se não é Ucrânia, é Gaza, é Rússia, é China, mas ele sempre pretende levar toda a atenção da imprensa mundial a esse tipo de tema e não à gravíssima crise política que enfrenta internamente em razão de, por pressão, ter sido pressionado a desclassificar os arquivos que o envolvem com o caso de Jeffrey Epstein”, destaca. Guzmán indicou que o fortalecimento de Trump é sempre nesta região do mundo e com adversários ou inimigos seletos, neste caso, Nicolás Maduro. “Há algumas semanas, ele se reuniu com o presidente chinês Xi Jinping para tratar questões comerciais e com o presidente russo Vladimir Putin, no Alasca: há alguns líderes aos quais ele enfrenta e outros que não, e a esses ele respeita”, afirma.

<><> Denúncia dos democratas

Enquanto isso, um grupo de congressistas democratas acusou o secretário de Defesa, Pete Hegseth, de cometer homicídio e crime de guerra depois que, na sexta-feira (28), a imprensa estadunidense revelou que os Estados Unidos atacaram duas vezes a mesma embarcação no Caribe para matar sobreviventes. Segundo o jornal The Washington Post, que citava duas fontes com conhecimento direto da operação, depois de o primeiro míssil impactar um barco, os comandantes perceberam que havia dois tripulantes que se agarravam aos restos da embarcação. O comandante encarregado da operação ordenou então um segundo ataque para cumprir as instruções de Hegseth, que havia ordenado matar todos os presentes no barco. Sam Liccardo, congressista pela Califórnia, assegurou na rede social X que, se as acusações forem verdadeiras, Hegseth deveria ser considerado plenamente responsável por homicídio. O democrata respondeu a uma publicação do funcionário na qual defendia a legalidade do primeiro ataque contra uma lancha de supostos narcotraficantes no Caribe em 2 de setembro passado. Seth Moulton, congressista por Massachusetts, somou-se às críticas contra o governo de Donald Trump e afirmou no X que matar os sobreviventes era totalmente ilegal. “A ideia de que os restos de uma pequena embarcação em um oceano imenso representem um perigo para o tráfego marítimo é claramente absurda”, apontou. “Ainda que leve tempo, os norte-americanos serão julgados por isso, seja como crime de guerra ou como assassinato a sangue frio”, acrescentou.

 

Fonte: DW Brasil/Diálogos do Sul Global

 

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