BRICS
poderia reorganizar Arranjo Contingente de Reservas para lidar com sanções, diz
especialista
Na
última Cúpula Virtual do BRICS, em setembro, o presidente do Irã, Massoud
Pezeshkian, chegou a propor que o grupo criasse um mecanismo interno para
evitar sanções. Isso solucionaria as medidas unilaterais do Ocidente?
O Irã
convive há pelo menos quatro décadas com
sanções, seja
por parte dos Estados Unidos, do Canadá ou da União Europeia. Fora do sistema
internacional e obrigado a fazer esquemas de triangulação para comercializar
seus produtos, Teerã sugeriu ao BRICS um mecanismo para driblar as restrições.
"O
BRICS poderia desenvolver um mecanismo comum com o objetivo de apoiar os
membros da organização diante de sanções unilaterais ilegais e continuar o
desenvolvimento das economias dos países, sem que haja pressões políticas
injustas", disse Pezeshkian, segundo a assessoria do governo iraniano.
Em
entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas
afirmam que a pauta deve ser vista com cautela por alguns membros do grupo, que
têm relações diferentes com outros atores globais no quesito negociação.
"A
gente tem outros países-membros com relações muito diferentes com os Estados
Unidos, com a União Europeia, que não necessariamente querem assumir uma
posição de confronto", afirma Luana Paris, doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
A
posição de cada país nas relações internacionais pode ser um entrave para um
apoio profícuo por parte das nações do BRICS. Jorge Mortean, mestre em
estudos regionais do Oriente Médio pela Academia Diplomática do Irã e doutor em
geopolítica pela Universidade de São Paulo (USP), cita a postura neutra adotada
pelo Brasil no campo. Outro exemplo é a Etiópia, que pode viver um dilema, dadas as boas
relações comerciais com Israel.
Por
outro lado, Luana Paris ressalta que o discurso que endossa a caracterização
das sanções como um instrumento colonial e, consequentemente, lança mão do
apoio à ideia do mecanismo pode vir de países que também sofrem com
sanções, caso da Rússia e de países africanos que compõem o grupo.
Apesar
disso, situações recentes, como as tarifas disparadas pelo presidente dos EUA,
Donald Trump, contra o BRICS, mostraram que, apesar das diferentes agendas, no
limite, pode acontecer da aplicação de uma política "sancionar todo
mundo".
A ideia
de propor um mecanismo antissanções a partir do BRICS está
relacionada, segundo Mortean, a uma espécie de mecanismo de compensação
econômica. "Seria um propósito de tentar fomentar o intercâmbio comercial
naquilo que, de fato, os iranianos têm a oferecer e também têm a comprar, fora
dos setores críticos que abarcam essas sanções."
Nesse
sentido, de acordo com ele, estariam nessa relação, por exemplo, o petróleo e
hidrocarbonetos.
Dessa
forma, o projeto deveria criar "caminhos alternativos para que os países
que estão sancionados não fiquem tão prejudicados, tendo em vista que o Irã
entende que a quantidade de sanções e a forma como elas são aplicadas ao seu
próprio país são, de certa forma, injustas", acrescenta Paris.
Ainda
segundo a pesquisadora, o BRICS já possui uma arquitetura financeira própria,
que pode servir de base para qualquer mecanismo que for operacionalizado e
desenvolvido. Conforme ressalta, o BRICS tem o Arranjo Contingente de Reservas
(ACR), criado no âmbito do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do
BRICS.
"O
Arranjo Contingente de Reservas, que é o CRA [sigla em inglês], tem um fundo de
US$ 100 bilhões [R$ 533 bilhões] e foi criado para apoiar os países do BRICS em
casos de crise de balança de pagamento. Ele é um instrumento que já existe,
fornece uma liquidez emergencial, fora dessas instituições que são dominantes
nos dias de hoje, e já funciona de forma interessante — como esse mecanismo
emergencial, no momento de sanções financeiras que vão restringir o acesso a
mercados", explica.
O
ponto, portanto, não seria a criação de um fundo, mas um rearranjo do ACR
às novas demandas.
Questionada
sobre, caso o mecanismo seja concretizado, quem seria o responsável pela
governança, Paris aposta que pode ser a China, uma vez que Pequim já possui
"certo desenvolvimento de
liquidação internacional conectado a outros países e "talvez seja a
principal fornecedora dessa tecnologia e dessa arquitetura digital". Além
disso, o gigante asiático já é sede do NBD.
Porém
ela destaca que esse posicionamento poderia alçar a China à liderança do
agrupamento, algo que pode não ser bem visto por outros países,
que enxergam um bloco horizontal, com presidências temporárias.
"O
Brasil não quer estar nessa sombra. A política externa brasileira sempre
enxergou o BRICS como uma forma, justamente, de se projetar, de ter um
destaque. Então eu imagino que, quanto mais centralizado na China,
provavelmente pior é para a imagem e para essa narrativa do grupo",
finaliza.
¨ China aproveita
isolamento dos EUA para reformar FMI e OMC, avalia especialista
De
acordo com um especialista da Universidade de Cambridge, os Estados Unidos
arriscam isolamento econômico ao insistirem em tarifas contra a China, enquanto
Pequim busca reformar instituições como FMI e OMC, sem abandonar políticas
internas que inundam mercados globais com produtos baratos.
Os
Estados Unidos correm o risco de se isolar em um bloco econômico próprio ao
insistirem em tarifas comerciais, segundo o professor
William J. Hurst, da Universidade de Cambridge. Falando à Folha da
S.Paulo, o especialista acredita que essa estratégia não conterá o
protagonismo crescente da China, que encontra espaço para remodelar
instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial
do Comércio (OMC).
Hurst
afirma que Pequim não pretende revisar práticas
criticadas pelo Ocidente, como a inundação dos mercados globais com produtos
subsidiados. Em sua avaliação, "deixar de manter essas políticas pode, a
curto prazo, levar ao colapso da economia chinesa". A prioridade do
governo é evitar uma crise política interna, mesmo que isso mantenha tensões
comerciais.
Ainda
segundo a apuração, o especialista considera que as tarifas norte-americanas
têm dois objetivos: proteger a indústria
doméstica e
pressionar parceiros comerciais a fazer concessões. No entanto, ele avalia que
a medida é ineficaz contra a China, que possui mercados alternativos mais
relevantes, como a Asean, grupo de países do Sudeste Asiático.
A
disputa comercial, segundo Hurst, fortalece a imagem da China como parceiro
confiável, em contraste com os EUA. Pequim busca aproveitar esse momento
para reformar regras e estruturas das instituições internacionais, onde
ainda tem pouca representação proporcional ao seu peso econômico.
O
professor lembra que a crise de 2008 enfraqueceu países ocidentais e ampliou a
ansiedade diante da ascensão chinesa. Incidentes de interferência política em
países como Austrália e Canadá também contribuíram para que a China fosse
vista como ameaça, embora sua retórica atual seja mais branda e voltada à cooperação.
Historicamente,
a China passou de "contestadora"
da ordem global até
os anos 1970 para "integradora" das regras internacionais nas décadas
seguintes. Agora, segundo Hurst, Pequim entende ser o momento de moldar
novas instituições e atrair aliados por meio de discurso conciliador.
O
especialista alerta que a política americana pode levar os EUA a um isolamento
prejudicial, enquanto países do Sudeste
Asiático não
têm como se desvincular da China devido à proximidade geográfica e à
dependência econômica. "O risco é que os Estados Unidos acabem em um
bloco de si mesmos, com mínima integração a redes maiores", afirma.
Por
fim, Hurst considera improvável que a China abandone suas práticas comerciais
atuais no curto prazo. Reformas estruturais são debatidas internamente, mas o
dilema é manter políticas que geram desequilíbrios ou arriscar um colapso
imediato ao interrompê-las. Esse impasse explica por que Pequim continua a
inundar mercados globais com produtos baratos, sustentando sua economia
doméstica.
¨
China aposta em sistema integrado de infraestrutura
aeroespacial, terrestre e marítima
A China
anuncia avanços estratégicos na exploração de recursos naturais, com destaque
para o satélite Ludi Tance-1, que garante monitoramento geológico nacional,
além de descobertas de cobre no Tibete, inovações em metais raros e exploração
dos recursos do fundo do mar.
O
Ministério de Recursos Naturais da China anunciou a conclusão do projeto até o
final do 15º Plano Quinquenal (2026-2030), segundo o Global Times
(GT). O principal objetivo da iniciativa é
acelerar o desenvolvimento em setores-chave como geologia, recursos
minerais, oceanos, silvicultura e informação geográfica.
Um
componente fundamental dessa estratégia é o satélite Ludi Tance-1, desenvolvido
de forma independente pela China. Essa inovação representa um
avanço crucial na tecnologia de radar interferométrico de banda L (InSAR) do
país, permitindo a aquisição de cobertura de dados mensais em todo o
território nacional para o monitoramento de deformações geológicas.
Antes
dessa conquista, a China dependia de satélites estrangeiros para obter dados
InSAR. Os dados do Ludi Tance-1 já foram amplamente
distribuídos e
aplicados em todo o país, auxiliando rotineiramente na identificação de
riscos de desastres geológicos, observou o GT.
Na área
de recursos terrestres, a China alcançou descobertas significativas e melhorias
em sua segurança de abastecimento. Desde o 14º Plano Quinquenal,
progressos significativos foram alcançados nas teorias de depósitos de cobre e
nas tecnologias de exploração.
Esses
avanços levaram a descobertas substanciais de cobre na Região Autônoma do
Tibete (sudoeste da China), transformando o panorama da exploração e
desenvolvimento de cobre no país e melhorando sua capacidade de garantir o
abastecimento.
Inovações
importantes também foram desenvolvidas na extração e utilização de metais
raros e dispersos, como gálio, germânio e índio. O artigo explica que, graças a
esses avanços, as empresas chinesas superaram as limitações técnicas na extração eficiente desses metais
de baixa qualidade encontrados em minérios de carvão, alumínio, cobre, chumbo e
zinco.
Como
resultado dessas melhorias, a taxa geral de recuperação de germânio do carvão
aumentou significativamente, de 55% para mais de 80%, enquanto a recuperação de gálio, germânio e índio
durante a fundição de chumbo-zinco cresceu aproximadamente 10%.
Na área
de engenharia naval, foram apresentadas tecnologias essenciais e aplicações
inovadoras relacionadas ao projeto, fabricação e instalação de dutos
submarinos. Essas tecnologias foram implementadas com sucesso em 15
grandes projetos de engenharia, tanto nacionais quanto internacionais,
incluindo operações no mar do Sul da China. Esses avanços são cruciais para o
desenvolvimento da infraestrutura marítima e a exploração dos recursos do fundo
do mar.
Uma
conquista significativa na exploração marítima foi o primeiro mergulho
tripulado da China no Ártico, realizado entre julho e outubro deste ano pelo
navio de pesquisa Deep Sea No. 1, equipado com o submersível Jiaolong, com
apoio do quebra-gelo Xuelong 2.
A
equipe realizou 12
mergulhos e
foi pioneira em um modelo de missão subaquática com o submersível tripulado
Fendouzhe, capaz de atingir mais de 10.000 metros de profundidade. Os
repetidos mergulhos do Fendouzhe sob o denso gelo marinho tornaram a China o
primeiro país do mundo a realizar operações tripuladas de rotina em águas
profundas em condições árticas.
Para
alcançar esses objetivos, explica a mídia, o Ministério de Recursos Naturais da
China planeja intensificar seus esforços em inovação e descobertas
importantes durante o 15º Plano Quinquenal. Isso inclui o planejamento
estratégico de grandes projetos nacionais de ciência e tecnologia, bem como
a promoção da criação de um novo fundo conjunto denominado "Oceano e
Terra".
Essas
medidas visam fortalecer a pesquisa básica organizada e acelerar a produção, a
transformação e a aplicação de conquistas científicas em todos os domínios
da infraestrutura de recursos naturais.
¨
Mídia: investidores focam em IA e corte de juros do Fed
para estabilizar mercado acionário dos EUA
Investidores
acompanham sinais da lucratividade da inteligência artificial e da economia dos
EUA em geral, após a recente recuperação das bolsas e em meio à expectativa de
corte de juros pelo Fed em dezembro. A volatilidade de ações como a Nvidia e
Alphabet mantém o mercado sensível às incertezas.
Os investidores
vão ficar atentos na próxima semana à lucratividade das empresas de
inteligência artificial (IA) e aos sinais da economia norte-americana,
fatores considerados essenciais para estabilizar o
mercado acionário.
A recente recuperação das bolsas, após a maior queda desde abril, foi
impulsionada pela expectativa de corte de juros pela Reserva Federal (Fed) em
dezembro.
Apesar
da recuperação, ações de peso como Nvidia e Alphabet continuam
voláteis, refletindo os avanços e incertezas em IA. O setor, que sustentou
os ganhos do mercado em
2025,
agora enfrenta questionamentos sobre avaliações supervalorizadas e sobre a
velocidade com que os investimentos em infraestrutura de IA trarão retorno
financeiro.
De acordo com o Reuters,
o S&P 500 acumula alta de 16% no ano e historicamente tem bom desempenho em
dezembro. No entanto, sinais de menor apetite ao risco preocupam investidores,
como a queda do bitcoin para menos
de US$ 90.000 (R$ 480.267), após ter superado US$ 125.000 (R$ 667.037) em
outubro. Esse movimento é visto como indicador de fragilidade no mercado.
As ações de tecnologia pressionam os
índices, enquanto Wall Street observa os impactos da emissão de dívidas
por grandes empresas para financiar projetos de IA. Segundo a apuração,
analistas destacam que os investidores começam a repensar o ritmo em que esses
investimentos se traduzirão em resultados concretos.
A
Alphabet ganhou destaque com avaliações positivas para seu modelo Gemini 3 e
negociações da Meta (empresa banida na Rússia por atividade extremista) para
comprar chips do Google, o que afetou a Nvidia. O valor de
mercado da Alphabet chegou a US$ 4 trilhões (cerca de R$ 21,3 trilhões),
reforçando seu papel central na corrida pela IA.
Na
próxima semana, indicadores de manufatura, serviços e sentimento do consumidor, além dos balanços
das principais empresas do setor, devem oferecer pistas sobre a saúde da
economia e os gastos de fim de ano. A paralisação de 43 dias do governo
norte-americano atrasou dados importantes, e só em janeiro deve haver uma visão
mais clara do cenário econômico.
Ainda
segundo a Reuters, mesmo diante da incerteza, os investidores apostam no corte
de juros pelo Fed em dezembro, com probabilidade acima de 80% de redução de
0,25 ponto percentual.
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Ameaças de Trump contra Venezuela minam estabilidade do
sistema jurídico nos EUA, acredita analista
As
ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump, contra a Venezuela não têm
precedentes na história dos próprios Estados Unidos nem quaisquer fundamentos
no sistema jurídico nacional do país, disse o vice-diretor do grupo midiático
Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, Aleksandr Yakovenko.
O
analista criticou as ações do presidente
norte-americano contra o governo venezuelano, destacando que isso
acontece pela primeira vez na história moderna americana e que as
decisões de Trump extrapolam tanto o direito internacional quanto a
própria legislação nacional.
"A
pressão e as ameaças do governo Trump contra a Venezuela, criadas de forma
artificial literalmente do nada, não têm precedentes na história moderna e
do ponto de vista do direito internacional e nacional dos próprios Estados
Unidos", escreveu Yakovenko em um artigo para a Sputnik.
Além
disso, o especialista ressalta que a aplicação das decisões da administração
Trump para pressionar a Venezuela
acabou por ameaçar a própria arquitetura institucional e jurídica dos
Estados Unidos.
Yakovenko
destacou que a atual postura declaratória do poder executivo dos
Estados Unidos, ao incorporar na sua política para a Venezuela os termos
"organização terrorista estrangeira" e "conflito armado não
internacional", resulta em violações do direito internacional.
"O
topo desta pirâmide de arbitrariedade internacional consiste em acusações
contra o governo venezuelano de seu envolvimento em cartéis de drogas.
[...] Nesta base ilegal, foi declarado de fato primeiro um bloqueio naval
e agora um bloqueio aéreo contra a Venezuela", afirmou.
Ao
mesmo tempo, segundo analista, as estatísticas e análises das agências
americanas competentes mostram que o tráfico de drogas da América do Sul no
Caribe é direcionado para a Europa, e que os embarques para os Estados
Unidos são realizados principalmente pelo leste do oceano Pacífico.
O uso
de força letal já levou à destruição de 20 pequenas embarcações com 83
mortos, mas as autoridades americanas não fornecem nenhuma
evidência de que essas embarcações estavam transportando drogas e estavam
indo para os Estados Unidos, disse.
Os
EUA justificam sua presença
militar na região do Caribe com combates contra o narcotráfico. Em setembro e
outubro, eles usaram repetidamente sua força armada para destruir
barcos que supostamente transportavam drogas perto da costa da
Venezuela.
Fonte:
Sputnik Brasil

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