quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

BRICS poderia reorganizar Arranjo Contingente de Reservas para lidar com sanções, diz especialista

Na última Cúpula Virtual do BRICS, em setembro, o presidente do Irã, Massoud Pezeshkian, chegou a propor que o grupo criasse um mecanismo interno para evitar sanções. Isso solucionaria as medidas unilaterais do Ocidente?

O Irã convive há pelo menos quatro décadas com sanções, seja por parte dos Estados Unidos, do Canadá ou da União Europeia. Fora do sistema internacional e obrigado a fazer esquemas de triangulação para comercializar seus produtos, Teerã sugeriu ao BRICS um mecanismo para driblar as restrições.

"O BRICS poderia desenvolver um mecanismo comum com o objetivo de apoiar os membros da organização diante de sanções unilaterais ilegais e continuar o desenvolvimento das economias dos países, sem que haja pressões políticas injustas", disse Pezeshkian, segundo a assessoria do governo iraniano.

Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas afirmam que a pauta deve ser vista com cautela por alguns membros do grupo, que têm relações diferentes com outros atores globais no quesito negociação.

"A gente tem outros países-membros com relações muito diferentes com os Estados Unidos, com a União Europeia, que não necessariamente querem assumir uma posição de confronto", afirma Luana Paris, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).

A posição de cada país nas relações internacionais pode ser um entrave para um apoio profícuo por parte das nações do BRICS. Jorge Mortean, mestre em estudos regionais do Oriente Médio pela Academia Diplomática do Irã e doutor em geopolítica pela Universidade de São Paulo (USP), cita a postura neutra adotada pelo Brasil no campo. Outro exemplo é a Etiópia, que pode viver um dilema, dadas as boas relações comerciais com Israel.

Por outro lado, Luana Paris ressalta que o discurso que endossa a caracterização das sanções como um instrumento colonial e, consequentemente, lança mão do apoio à ideia do mecanismo pode vir de países que também sofrem com sanções, caso da Rússia e de países africanos que compõem o grupo.

Apesar disso, situações recentes, como as tarifas disparadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra o BRICS, mostraram que, apesar das diferentes agendas, no limite, pode acontecer da aplicação de uma política "sancionar todo mundo".

A ideia de propor um mecanismo antissanções a partir do BRICS está relacionada, segundo Mortean, a uma espécie de mecanismo de compensação econômica. "Seria um propósito de tentar fomentar o intercâmbio comercial naquilo que, de fato, os iranianos têm a oferecer e também têm a comprar, fora dos setores críticos que abarcam essas sanções."

Nesse sentido, de acordo com ele, estariam nessa relação, por exemplo, o petróleo e hidrocarbonetos.

Dessa forma, o projeto deveria criar "caminhos alternativos para que os países que estão sancionados não fiquem tão prejudicados, tendo em vista que o Irã entende que a quantidade de sanções e a forma como elas são aplicadas ao seu próprio país são, de certa forma, injustas", acrescenta Paris.

Ainda segundo a pesquisadora, o BRICS já possui uma arquitetura financeira própria, que pode servir de base para qualquer mecanismo que for operacionalizado e desenvolvido. Conforme ressalta, o BRICS tem o Arranjo Contingente de Reservas (ACR), criado no âmbito do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do BRICS.

"O Arranjo Contingente de Reservas, que é o CRA [sigla em inglês], tem um fundo de US$ 100 bilhões [R$ 533 bilhões] e foi criado para apoiar os países do BRICS em casos de crise de balança de pagamento. Ele é um instrumento que já existe, fornece uma liquidez emergencial, fora dessas instituições que são dominantes nos dias de hoje, e já funciona de forma interessante — como esse mecanismo emergencial, no momento de sanções financeiras que vão restringir o acesso a mercados", explica.

O ponto, portanto, não seria a criação de um fundo, mas um rearranjo do ACR às novas demandas.

Questionada sobre, caso o mecanismo seja concretizado, quem seria o responsável pela governança, Paris aposta que pode ser a China, uma vez que Pequim já possui "certo desenvolvimento de liquidação internacional conectado a outros países e "talvez seja a principal fornecedora dessa tecnologia e dessa arquitetura digital". Além disso, o gigante asiático já é sede do NBD.

Porém ela destaca que esse posicionamento poderia alçar a China à liderança do agrupamento, algo que pode não ser bem visto por outros países, que enxergam um bloco horizontal, com presidências temporárias.

"O Brasil não quer estar nessa sombra. A política externa brasileira sempre enxergou o BRICS como uma forma, justamente, de se projetar, de ter um destaque. Então eu imagino que, quanto mais centralizado na China, provavelmente pior é para a imagem e para essa narrativa do grupo", finaliza.

¨      China aproveita isolamento dos EUA para reformar FMI e OMC, avalia especialista

De acordo com um especialista da Universidade de Cambridge, os Estados Unidos arriscam isolamento econômico ao insistirem em tarifas contra a China, enquanto Pequim busca reformar instituições como FMI e OMC, sem abandonar políticas internas que inundam mercados globais com produtos baratos.

Os Estados Unidos correm o risco de se isolar em um bloco econômico próprio ao insistirem em tarifas comerciais, segundo o professor William J. Hurst, da Universidade de Cambridge. Falando à Folha da S.Paulo, o especialista acredita que essa estratégia não conterá o protagonismo crescente da China, que encontra espaço para remodelar instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Hurst afirma que Pequim não pretende revisar práticas criticadas pelo Ocidente, como a inundação dos mercados globais com produtos subsidiados. Em sua avaliação, "deixar de manter essas políticas pode, a curto prazo, levar ao colapso da economia chinesa". A prioridade do governo é evitar uma crise política interna, mesmo que isso mantenha tensões comerciais.

Ainda segundo a apuração, o especialista considera que as tarifas norte-americanas têm dois objetivos: proteger a indústria doméstica e pressionar parceiros comerciais a fazer concessões. No entanto, ele avalia que a medida é ineficaz contra a China, que possui mercados alternativos mais relevantes, como a Asean, grupo de países do Sudeste Asiático.

A disputa comercial, segundo Hurst, fortalece a imagem da China como parceiro confiável, em contraste com os EUA. Pequim busca aproveitar esse momento para reformar regras e estruturas das instituições internacionais, onde ainda tem pouca representação proporcional ao seu peso econômico.

O professor lembra que a crise de 2008 enfraqueceu países ocidentais e ampliou a ansiedade diante da ascensão chinesa. Incidentes de interferência política em países como Austrália e Canadá também contribuíram para que a China fosse vista como ameaça, embora sua retórica atual seja mais branda e voltada à cooperação.

Historicamente, a China passou de "contestadora" da ordem global até os anos 1970 para "integradora" das regras internacionais nas décadas seguintes. Agora, segundo Hurst, Pequim entende ser o momento de moldar novas instituições e atrair aliados por meio de discurso conciliador.

O especialista alerta que a política americana pode levar os EUA a um isolamento prejudicial, enquanto países do Sudeste Asiático não têm como se desvincular da China devido à proximidade geográfica e à dependência econômica. "O risco é que os Estados Unidos acabem em um bloco de si mesmos, com mínima integração a redes maiores", afirma.

Por fim, Hurst considera improvável que a China abandone suas práticas comerciais atuais no curto prazo. Reformas estruturais são debatidas internamente, mas o dilema é manter políticas que geram desequilíbrios ou arriscar um colapso imediato ao interrompê-las. Esse impasse explica por que Pequim continua a inundar mercados globais com produtos baratos, sustentando sua economia doméstica.

¨      China aposta em sistema integrado de infraestrutura aeroespacial, terrestre e marítima

A China anuncia avanços estratégicos na exploração de recursos naturais, com destaque para o satélite Ludi Tance-1, que garante monitoramento geológico nacional, além de descobertas de cobre no Tibete, inovações em metais raros e exploração dos recursos do fundo do mar.

O Ministério de Recursos Naturais da China anunciou a conclusão do projeto até o final do 15º Plano Quinquenal (2026-2030), segundo o Global Times (GT). O principal objetivo da iniciativa é acelerar o desenvolvimento em setores-chave como geologia, recursos minerais, oceanos, silvicultura e informação geográfica.

Um componente fundamental dessa estratégia é o satélite Ludi Tance-1, desenvolvido de forma independente pela China. Essa inovação representa um avanço crucial na tecnologia de radar interferométrico de banda L (InSAR) do país, permitindo a aquisição de cobertura de dados mensais em todo o território nacional para o monitoramento de deformações geológicas.

Antes dessa conquista, a China dependia de satélites estrangeiros para obter dados InSAR. Os dados do Ludi Tance-1 já foram amplamente distribuídos e aplicados em todo o país, auxiliando rotineiramente na identificação de riscos de desastres geológicos, observou o GT.

Na área de recursos terrestres, a China alcançou descobertas significativas e melhorias em sua segurança de abastecimento. Desde o 14º Plano Quinquenal, progressos significativos foram alcançados nas teorias de depósitos de cobre e nas tecnologias de exploração.

Esses avanços levaram a descobertas substanciais de cobre na Região Autônoma do Tibete (sudoeste da China), transformando o panorama da exploração e desenvolvimento de cobre no país e melhorando sua capacidade de garantir o abastecimento.

Inovações importantes também foram desenvolvidas na extração e utilização de metais raros e dispersos, como gálio, germânio e índio. O artigo explica que, graças a esses avanços, as empresas chinesas superaram as limitações técnicas na extração eficiente desses metais de baixa qualidade encontrados em minérios de carvão, alumínio, cobre, chumbo e zinco.

Como resultado dessas melhorias, a taxa geral de recuperação de germânio do carvão aumentou significativamente, de 55% para mais de 80%, enquanto a recuperação de gálio, germânio e índio durante a fundição de chumbo-zinco cresceu aproximadamente 10%.

Na área de engenharia naval, foram apresentadas tecnologias essenciais e aplicações inovadoras relacionadas ao projeto, fabricação e instalação de dutos submarinos. Essas tecnologias foram implementadas com sucesso em 15 grandes projetos de engenharia, tanto nacionais quanto internacionais, incluindo operações no mar do Sul da China. Esses avanços são cruciais para o desenvolvimento da infraestrutura marítima e a exploração dos recursos do fundo do mar.

Uma conquista significativa na exploração marítima foi o primeiro mergulho tripulado da China no Ártico, realizado entre julho e outubro deste ano pelo navio de pesquisa Deep Sea No. 1, equipado com o submersível Jiaolong, com apoio do quebra-gelo Xuelong 2.

A equipe realizou 12 mergulhos e foi pioneira em um modelo de missão subaquática com o submersível tripulado Fendouzhe, capaz de atingir mais de 10.000 metros de profundidade. Os repetidos mergulhos do Fendouzhe sob o denso gelo marinho tornaram a China o primeiro país do mundo a realizar operações tripuladas de rotina em águas profundas em condições árticas.

Para alcançar esses objetivos, explica a mídia, o Ministério de Recursos Naturais da China planeja intensificar seus esforços em inovação e descobertas importantes durante o 15º Plano Quinquenal. Isso inclui o planejamento estratégico de grandes projetos nacionais de ciência e tecnologia, bem como a promoção da criação de um novo fundo conjunto denominado "Oceano e Terra".

Essas medidas visam fortalecer a pesquisa básica organizada e acelerar a produção, a transformação e a aplicação de conquistas científicas em todos os domínios da infraestrutura de recursos naturais.

¨      Mídia: investidores focam em IA e corte de juros do Fed para estabilizar mercado acionário dos EUA

Investidores acompanham sinais da lucratividade da inteligência artificial e da economia dos EUA em geral, após a recente recuperação das bolsas e em meio à expectativa de corte de juros pelo Fed em dezembro. A volatilidade de ações como a Nvidia e Alphabet mantém o mercado sensível às incertezas.

Os investidores vão ficar atentos na próxima semana à lucratividade das empresas de inteligência artificial (IA) e aos sinais da economia norte-americana, fatores considerados essenciais para estabilizar o mercado acionário. A recente recuperação das bolsas, após a maior queda desde abril, foi impulsionada pela expectativa de corte de juros pela Reserva Federal (Fed) em dezembro.

Apesar da recuperação, ações de peso como Nvidia e Alphabet continuam voláteis, refletindo os avanços e incertezas em IA. O setor, que sustentou os ganhos do mercado em 2025, agora enfrenta questionamentos sobre avaliações supervalorizadas e sobre a velocidade com que os investimentos em infraestrutura de IA trarão retorno financeiro.

De acordo com o Reuters, o S&P 500 acumula alta de 16% no ano e historicamente tem bom desempenho em dezembro. No entanto, sinais de menor apetite ao risco preocupam investidores, como a queda do bitcoin para menos de US$ 90.000 (R$ 480.267), após ter superado US$ 125.000 (R$ 667.037) em outubro. Esse movimento é visto como indicador de fragilidade no mercado.

As ações de tecnologia pressionam os índices, enquanto Wall Street observa os impactos da emissão de dívidas por grandes empresas para financiar projetos de IA. Segundo a apuração, analistas destacam que os investidores começam a repensar o ritmo em que esses investimentos se traduzirão em resultados concretos.

A Alphabet ganhou destaque com avaliações positivas para seu modelo Gemini 3 e negociações da Meta (empresa banida na Rússia por atividade extremista) para comprar chips do Google, o que afetou a Nvidia. O valor de mercado da Alphabet chegou a US$ 4 trilhões (cerca de R$ 21,3 trilhões), reforçando seu papel central na corrida pela IA.

Na próxima semana, indicadores de manufatura, serviços e sentimento do consumidor, além dos balanços das principais empresas do setor, devem oferecer pistas sobre a saúde da economia e os gastos de fim de ano. A paralisação de 43 dias do governo norte-americano atrasou dados importantes, e só em janeiro deve haver uma visão mais clara do cenário econômico.

Ainda segundo a Reuters, mesmo diante da incerteza, os investidores apostam no corte de juros pelo Fed em dezembro, com probabilidade acima de 80% de redução de 0,25 ponto percentual.

¨      Ameaças de Trump contra Venezuela minam estabilidade do sistema jurídico nos EUA, acredita analista

As ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump, contra a Venezuela não têm precedentes na história dos próprios Estados Unidos nem quaisquer fundamentos no sistema jurídico nacional do país, disse o vice-diretor do grupo midiático Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, Aleksandr Yakovenko.

O analista criticou as ações do presidente norte-americano contra o governo venezuelano, destacando que isso acontece pela primeira vez na história moderna americana e que as decisões de Trump extrapolam tanto o direito internacional quanto a própria legislação nacional.

"A pressão e as ameaças do governo Trump contra a Venezuela, criadas de forma artificial literalmente do nada, não têm precedentes na história moderna e do ponto de vista do direito internacional e nacional dos próprios Estados Unidos", escreveu Yakovenko em um artigo para a Sputnik.

Além disso, o especialista ressalta que a aplicação das decisões da administração Trump para pressionar a Venezuela acabou por ameaçar a própria arquitetura institucional e jurídica dos Estados Unidos.

Yakovenko destacou que a atual postura declaratória do poder executivo dos Estados Unidos, ao incorporar na sua política para a Venezuela os termos "organização terrorista estrangeira" e "conflito armado não internacional", resulta em violações do direito internacional.

"O topo desta pirâmide de arbitrariedade internacional consiste em acusações contra o governo venezuelano de seu envolvimento em cartéis de drogas. [...] Nesta base ilegal, foi declarado de fato primeiro um bloqueio naval e agora um bloqueio aéreo contra a Venezuela", afirmou.

Ao mesmo tempo, segundo analista, as estatísticas e análises das agências americanas competentes mostram que o tráfico de drogas da América do Sul no Caribe é direcionado para a Europa, e que os embarques para os Estados Unidos são realizados principalmente pelo leste do oceano Pacífico.

O uso de força letal já levou à destruição de 20 pequenas embarcações com 83 mortos, mas as autoridades americanas não fornecem nenhuma evidência de que essas embarcações estavam transportando drogas e estavam indo para os Estados Unidos, disse.

Os EUA justificam sua presença militar na região do Caribe com combates contra o narcotráfico. Em setembro e outubro, eles usaram repetidamente sua força armada para destruir barcos que supostamente transportavam drogas perto da costa da Venezuela.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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