Como
um fabricante de inseticidas virou protetor dos insetos
Quando
Hans-Dietrich Reckhaus assumiu o lugar do pai à frente da indústria de
inseticidas da família, em 1995, ele não dava muita importância para insetos.
Assim como o pai, ele produzia todo tipo de produto para exterminá-los: spray
para pragas, pó para formigas, papel antitraças e mata-moscas.
A vida
de Reckhaus mudou radicalmente depois de ele criar uma nova armadilha mortal
para moscas. Para promover o produto e impulsionar as vendas, o empresário
procurou a dupla de artistas conceituais Frank e Patrik Riklin. Eles, no
entanto, rejeitaram a oferta porque consideravam ultrapassada a ideia de
exterminar insetos.
Em vez
disso, a dupla propôs um projeto artístico com foco na preservação de insetos.
A iniciativa teve a participação do vilarejo de Deppendorf, com seus cerca de
mil habitantes. Durante uma semana, os moradores coletaram moscas – sem
matá-las – e, ao final, uma das moscas, "Erika", viajou de limusine,
helicóptero e avião até um hotel e spa cinco estrelas.
Isso
aconteceu há 13 anos, mas o projeto levou Reckhaus a refletir sobre a
importância dos insetos para a natureza e acabou motivando uma reestruturação
total de sua empresa.
Hoje,
todos os seus produtos trazem no verso informações sobre a importância e as
ameaças aos insetos, além de dicas sobre o que as pessoas podem fazer para
mantê-los longe de casa sem matá-los. Alguns produtos também exibem um grande
aviso na parte da frente: "Cuidado, mata insetos importantes".
Reckhaus
explica que sua intenção é chocar os consumidores com informações e provocá-los
a "refletir sobre sua relação com os insetos". "Ele [consumidor]
aprenderá como manter os insetos fora de casa e não comprará o produto
novamente no futuro", acredita.
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Alto custo da transformação
Qual
empreendedor faria algo assim, arriscando a própria essência de seu negócio?
"O que me motivava antes era ganhar o máximo de dinheiro possível e usá-lo
para fazer algo significativo – apoiar organizações sociais, criar uma fundação
e assim por diante", diz Reckhaus à DW. Hoje, porém, diz que é mais sobre
"fazer o máximo de trabalho significativo possível e ganhar algum dinheiro
no processo".
Ele
próprio aprendeu sobre o significado dos insetos após o projeto artístico –
assim como espera que seus clientes também façam – e, consequentemente,
repensou completamente seu modelo de negócios, algo que jamais havia
questionado antes.
Essa
transformação, afirma, lhe custou caro: "Perdi 30% da minha receita e mais
de 80% da minha margem de lucro nos últimos dez anos". Mas ele pondera que
o que ganha atualmente é suficiente para que viva bem.
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Mudando o mercado por dentro
Simplesmente
interromper a produção de pesticidas não parecia uma solução sensata para
Reckhaus. Em vez disso, ele diz querer mudar o mercado por dentro. Sua empresa
agora oferece produtos que capturam insetos vivos, embora também continue
fabricando produtos que os matam.
Para
compensar os danos ecológicos, Reckhaus contratou especialistas para calcular
aproximadamente quantos insetos seus produtos eliminam e criou áreas de
compensação especiais para fornecer habitats a eles. O declínio nas populações
se deve principalmente à falta de habitats adequados, seja pela expansão urbana
ou pela agricultura industrial. "Esse, no entanto, foi o primeiro passo.
Aliviou um pouco minha consciência."
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Selo de aprovação "Insect-Respect"
O
objetivo do selo de aprovação Insect-Respect ("Respeito aos
Insetos'"), idealizado por ele, é também criar equilíbrio. Áreas de
compensação para os insetos são criadas para produtos que são certificados com
este selo.
Embora
os concorrentes de Reckhaus não tenham demonstrado entusiasmo pelo selo –
nenhum deles se certificou –, o setor varejista tem visto algumas mudanças
significativas. Redes como Aldi, Budni, DM, Migros, Rossmann e Spar incluem o
selo em seus produtos de marca própria, alertando os consumidores sobre o uso
desses itens. Só em 2024, 14 milhões de embalagens com o selo de aprovação
Insect-Respect foram vendidas na Europa.
Outras
grandes empresas também passaram a destacar seus compromissos com a
biodiversidade. Com a ajuda do Insect-Respect, a fabricante de móveis Ikea
criou refúgios para insetos na Itália, Sérvia e Romênia. Áreas favoráveis aos
insetos incluem o terraço na cobertura da sede da consultoria de gestão KPMG, o
telhado da fábrica de bolsas Halfar e uma área verde pertencente à fábrica de
chocolates Ritter Sport.
Áreas
favoráveis a insetos não são canteiros de flores, mas sim áreas verdes com
espécies vegetais regionaisFoto: Reckhaus
"Recebemos
consultas de toda a Europa; não conseguimos atender a todos os pedidos",
diz Reckhaus, visivelmente satisfeito. Diante da falta de paisagistas com a
expertise necessária, ele criou a Insectemy – junção das palavras em inglês
insect ("inseto") e academy ("academia"), que treina
paisagistas para projetar áreas com plantas regionais atraentes a insetos.
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Muitos elogios e críticas
A
transformação de sua empresa lhe rendeu inúmeros prêmios e distinções. Reckhaus
também recebe apoio da comunidade empresarial quando dá palestras contando sua
transformação, embora ele não se veja como um modelo para outros
empreendedores. "Eles tentam tornar seus modelos de negócios neutros em
carbono, mas não os questionam de maneira fundamental", afirma.
Em sua
opinião, a neutralidade climática por si só não basta, porque se torna inútil
sem uma flora e fauna saudáveis. Ele afirma que os empreendedores precisam
repensar seus modelos de negócios em vez de se apegarem a ideias equivocadas, e
alega que repensar as coisas não é uma prática incentivada em seu setor.
Loja da
Ikea na Itália construiu área de compensação de cerca de 1.800 m² com o selo de
qualidade Insect-RespectFoto: Reckhaus
Também
foi difícil para Reckhaus o fato de o fundador da empresa, seu pai, já
falecido, não concordar com a transformação. "Ele não entendia ou não
queria entender. Ele era muito descrente até o fim, era um assunto que tínhamos
que evitar em família."
Reckhaus
diz que era muito bem-sucedido antes da transformação. "Tudo ia muito bem,
mas eu não era feliz", relembra. Seu comprometimento abriu muitas portas
para outras pessoas que se importam com os insetos. "Hoje eles são meus
aliados, meus amigos, meus apoiadores. Isso me traz uma alegria incrível todos
os dias."
Fonte:
DW Brasil

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