quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Direita brasileira procura novo líder após clã Bolsonaro 'se autodestruir', diz Financial Times

Uma reportagem do jornal britânico Financial Times publicada na segunda-feira (1/12) afirma que a direita brasileira está em busca de um novo líder depois que o "clã Bolsonaro se autodestruiu" — em referência à prisão do ex-presidente brasileiro e a disputas internas envolvendo seus filhos, esposa e outros políticos aliados.

"Jair Bolsonaro era o presidente de direita incendiário do Brasil, que idolatrava Donald Trump e buscava construir uma dinastia política na maior democracia da América Latina", afirma a reportagem do jornal.

"Mas, com o presidente de 70 anos agora preso por conspiração para dar um golpe e seus filhos sofrendo com erros cometidos por eles mesmos, seu movimento bolsonarista está em crise."

A reportagem afirma que a estratégia do clã Bolsonaro de buscar ajuda em Washington "saiu pela culatra de forma espetacular", e que o lobby do deputado Eduardo Bolsonaro por tarifas contra o Brasil "irritou a classe empresarial brasileira e expôs Eduardo a acusações em seu país".

Segundo o jornal, "grande parte do apelo do clã Bolsonaro reside em sua capacidade de leitura do sentimento da população", mas "as tentativas da família de livrar Bolsonaro da prisão, apelando para seu aliado de longa data, Trump, provaram ser desastrosas".

O Financial Times afirma que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é um dos principais nomes da direita na disputa pela vaga de candidato à Presidência em 2026. Mas o governador só estaria disposto a concorrer, segundo o jornal, se Bolsonaro o apoiasse e desistisse de lançar um de seus filhos.

"Aos 70 anos e com a saúde debilitada, Jair Bolsonaro pode passar o resto da vida na prisão. Uma campanha de seus apoiadores por um indulto fracassou. Analistas dizem que a melhor chance do ex-presidente evitar morrer na cadeia é a família abandonar o sonho antigo de eleger outro Bolsonaro e apoiar um novo candidato conservador."

O jornal afirma que mesmo que o governador conquiste o apoio dos bolsonaristas mais radicais, "que representam cerca de 20% do eleitorado, ele enfrentará uma dura batalha pela presidência" em uma eleição contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Lula é um político experiente e de grande capacidade política que já declarou sua intenção de concorrer a um quarto mandato. A economia brasileira apresenta bom desempenho, com forte crescimento de empregos e salários, visto que sua baixa dependência do mercado americano a protegeu dos piores efeitos das tarifas de Trump."

A melhor esperança da direita, segundo o Financial Times, é que assuntos como criminalidade e segurança pública, "amplamente vistos como um ponto fraco de Lula", acabem dominando a eleição.

•        Com 130 pessoas, manifestação pró-Bolsonaro vira símbolo de isolamento

A manifestação convocada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (30), em Brasília, expôs a dificuldade da militância em manter fôlego após sua condenação definitiva. Apenas cerca de 130 pessoas se reuniram em frente ao Museu Nacional da República, um público muito inferior ao esperado. O ato, previsto para durar até as 17h, foi encerrado antes das 16h, esvaziado e sem a presença das principais lideranças políticas.

O encontro tinha como bandeira central a defesa da anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 e a exigência de liberdade para Bolsonaro, que cumpre pena de 27 anos e três meses por tentativa de golpe de Estado. A condenação se tornou definitiva na última terça-feira (25), após conclusão do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em entrevista à Rádio Itatiaia, Deusélis Filho, que liderou o ato, atribuiu o esvaziamento a um suposto “amedrontamento” dos apoiadores. Ele garantiu que as mobilizações continuarão: “No dia 7 haverá um ato em São Paulo, depois outro em Brasília e também em Recife. Vamos percorrer o país para que as pessoas percam o medo. Continuaremos até que a anistia seja aprovada.”

No carro de som, outros oradores repetiram a narrativa de perseguição e minimizaram o público reduzido. O ex-diretor da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do governo Bolsonaro, Edu, afirmou: “Se somos poucos, não importa, pois o foco é lutar pela liberdade dos presos políticos”. Ele também recorreu a uma analogia religiosa: “Jesus começou com 12 seguidores, e um o traiu.”

<><> Presença política discreta e ataques ao STF

A participação de autoridades políticas também foi limitada. Entre figuras com mandato, apenas o deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) e a vereadora Flávia Berthier (PL-MA) compareceram. Mesmo ausente, o senador Izalci Lucas (PL-DF) teve sua imagem projetada em um dos carros de som.

As críticas mais duras miraram novamente o STF, especialmente o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação que transformou a prisão de Bolsonaro de preventiva em definitiva. A detenção inicial foi decretada após Moraes concluir que o ex-presidente havia tentado fugir ao violar a tornozeleira eletrônica. A defesa alegou que Bolsonaro estava “desorientado” devido ao uso de um novo medicamento, argumento rejeitado pela Corte.

O ato deste domingo, porém, terminou refletindo mais a fragilidade da mobilização do que a força da narrativa bolsonarista: um protesto curto, esvaziado e marcado pela insistência em pautas que não têm avançado.

¨      Líderes dos caminhoneiros negam paralisação política por Bolsonaro

Apesar de convocações de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a categoria de caminhoneiros afirmou que não adere a uma suposta paralisação nacional marcada para a próxima quinta-feira (4). Líderes criticam o uso político dos trabalhadores e afirmam que o foco da categoria é em pautas laborais, como o piso mínimo de frete e a aposentadoria especial. A informação é do ICL Notícias.

O movimento, que visa protestar contra a prisão de Bolsonaro e pedir sua anistia, é veementemente rechaçado pelas principais entidades representativas dos motoristas, em um momento de baixa adesão a atos pró-Bolsonaro, como visto no último domingo (30) em Brasília.

<><> Rejeição ao ativismo político

Wallace Landim, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e conhecido como Chorão, manifestou-se por vídeo, divulgado nesta segunda-feira (1º), condenando a tentativa de instrumentalização da categoria.

“Quem estiver insatisfeito que vá para a rua fazer seu movimento. Mas usar o transporte rodoviário de cargas, usar o caminhoneiro que sofre tanto para levantar um movimento para defender político A ou político B eu não concordo e não vou compactuar“, declarou.

Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), segue a mesma linha e também descredita a possibilidade de uma greve em defesa de Bolsonaro.

“Não dá para querer anistiar quem tentou transformar a democracia de um país através de um golpe“, afirmou Litti, que ainda mencionou o pedido de Pix para o movimento como outro ponto de discórdia.

A repercussão da convocação nas redes sociais tem sido amplamente negativa entre os próprios caminhoneiros. Vídeos circulam com motoristas refutando a paralisação e tecendo críticas ao ex-presidente e seus apoiadores.

<><> Baixa adesão em Brasília

O rechaço dos caminhoneiros ocorre em um cenário de esvaziamento dos atos de apoio ao ex-presidente. No último domingo (30), uma manifestação em Brasília em defesa de Bolsonaro e da anistia a condenados pelos ataques de 8 de janeiro registrou baixa adesão.

O evento, que estava programado para ocorrer entre 14h e 17h em frente ao Museu Nacional da República, foi encerrado mais cedo, por volta das 16h, devido ao reduzido número de participantes: cerca de 130 pessoas.

Bolsonaro, que cumpre pena definitiva de 27 anos e três meses, teve sua prisão convertida em definitiva na última terça-feira (25) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após ser condenado por tentativa de golpe de Estado.

¨      A ironia da fome na cela: a greve de Bolsonaro e o legado de insegurança alimentar no Brasil. Por Cibele Amaral

A notícia da recusa de alimentos por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro em sua custódia, logo após sua prisão, expõe uma ironia cruel e pedagógica que ressoa com a experiência de milhões de brasileiros. Enquanto o ex-mandatário, detido por crimes contra o Estado Democrático de Direito, faz uma suposta "greve de fome" – rapidamente mitigada pela aceitação de alimentos providos por seus familiares  –, a nação ainda se recupera do legado de insegurança alimentar que marcou sua gestão.

Como nutricionista e defensora dos direitos humanos, é imperativo traçar um paralelo entre esse ato de privação voluntária e a fome real e imposta que atingiu o Brasil sob a égide do desgoverno anterior.

<><> O Desmonte da Segurança Alimentar e Nutricional

O Brasil de 2023 herdou um cenário dramático de volta ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), um retrocesso inédito que atingiu o país após anos de políticas de combate à miséria.  A insegurança alimentar moderada ou grave afetou mais de 70 milhões de brasileiros entre 2020 e 2022.

O retorno à miséria alimentar é um reflexo direto do desmonte institucional promovido pelo desgoverno Bolsonaro. O primeiro e simbólico ato de desestruturação foi a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) por Medida Provisória em janeiro de 2019, um órgão fundamental de participação social que articulava políticas públicas de combate à fome e promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Essa decisão, mantida com o veto presidencial, sinalizou o desprezo do desgoverno pela discussão da fome como uma questão de direito e não de caridade.

<><> A Crise do Acesso e a Qualidade dos Alimentos

A crise se materializou de forma mais visível na disparada dos preços dos alimentos. Itens básicos como arroz e feijão registraram altas de até 180% durante o governo. O aumento foi impulsionado por uma política econômica que priorizou a exportação de commodities em detrimento do abastecimento interno, somada ao fim dos estoques públicos de alimentos e à desvalorização cambial.

A consequência mais chocante dessa política foi a popularização da "fila do osso" . Imagens de brasileiros, mesmo em centros do agronegócio milionário como Cuiabá, buscando ossos e pelancas em açougues para alimentar suas famílias, tornaram-se o símbolo da regressão social. Este é o retrato de um país onde o direito à nutrição básica foi negado a uma parcela massiva da população.

Paralelamente, o desgoverno promoveu uma verdadeira "abertura de porteira" para o uso de agrotóxicos. Foram mais de 1.600 liberações em cerca de três anos, muitos deles classificados como altamente perigosos e banidos em países desenvolvidos. A flexibilização da regulação, sem justificativa científica, não apenas colocou em risco a saúde pública, associando substâncias a diversos tipos de câncer e malformações, mas também reforçou um modelo de produção que negligencia a sustentabilidade e a agroecologia.

<><> Conclusão

A "greve de fome" de Bolsonaro, um protesto de alguém com total acesso à alimentação e apoio familiar, serve como uma nota de rodapé irônica na história recente do Brasil. O verdadeiro drama da fome não é uma escolha, mas uma condição imposta pelo desmonte de políticas públicas e pela adoção de um modelo econômico que aprofundou as desigualdades.

A lição, contudo, é clara: o combate à insegurança alimentar é indissociável da defesa da democracia e dos direitos humanos. O direito à alimentação é um direito inegociável, e a sociedade deve permanecer vigilante para que os crimes cometidos contra a dignidade do povo brasileiro não sejam esquecidos ou relativizados.

 

Fonte: BBC News Brasil/Jornal GGN/Brasil 247

 

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