Lula
propõe a Trump cooperação internacional com inteligência contra crime sem uso
de armas
Em
conversa com Donald Trump, Lula defendeu cooperação internacional contra o
crime organizado baseada em inteligência, sem uso de armas, destacando que
Brasil e EUA podem unir forças para enfrentar facções, narcotráfico e lavagem
de dinheiro sem recorrer a soluções militares.
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta quarta-feira (3) que, em
conversa com Donald Trump, defendeu uma estratégia conjunta de
enfrentamento ao crime organizado baseada em inteligência, sem recorrer ao uso
de armas.
O diálogo, ocorrido na terça-feira (2), teve como foco a cooperação
internacional contra facções criminosas e o narcotráfico.
Durante
entrevista à TV Verdes Mares, no Ceará, Lula destacou os principais
trechos de sua conversa com o presidente norte-americano.
"Vamos
utilizar a inteligência que nós temos, dos países que fazem fronteira com o
Brasil, dos EUA e de outras partes do mundo, para que a gente possa jogar todo
o peso do mundo para derrotar as facções criminosas, o narcotráfico e
tantas outras coisas ilícitas", disse Lula durante a entrevista.
O
presidente reforçou ainda que "a gente não precisa utilizar arma, podemos
usar inteligência para acabar com o narcotráfico e o crime organizado",
defendendo uma abordagem que privilegia tecnologia e cooperação
internacional em vez de soluções
militares.
Ao
apresentar diretamente a Trump propostas de colaboração contra o crime e a
lavagem de dinheiro, Lula buscou projetar a imagem de um Brasil capaz de atuar de forma eficiente contra
irregularidades, fortalecendo sua posição no cenário global.
Essa
postura também responde às críticas da oposição e de
setores bolsonaristas,
que defendem a classificação de facções como o PCC e o Comando Vermelho
como organizações terroristas.
Segundo a Folha de
S.Paulo, para auxiliares do governo, tal enquadramento poderia abrir
espaço para operações militares externas, como já ocorre na Venezuela, onde
os EUA utilizam esse
argumento como
justificativa.
Nesse
contexto, interlocutores do Planalto já deixaram claro que brechas legais desta
natureza devem ser evitadas para que não possam abrir precedentes futuros
para ações unilaterais contra o país, e lembram que a questão é sobre
"soberania" o
que não impede, contudo, o reforço à defesa com soluções baseadas em
inteligência e cooperação internacional.
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O que Lula pediu a Trump em nova conversa por telefone
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) telefonou
para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta terça-feira
(2/12) para pedir revisão das tarifas sobre
produtos brasileiros e
falar sobre combate ao crime organizado.
As
crescentes tensões entre EUA e Venezuela não foram
abordadas durante a ligação. Lula já criticou o envio de forças miltares
americanas para o Mar do Caribe e classificou os ataques a embarcações como
"intervenções ilegais".
Segundo
informações divulgadas pelo governo, a chamada aconteceu às 12h (horário de
Brasília) e teve duração de 40 minutos.
Na
conversa, Lula apontou que apesar da retirada da tarifa de 40% sobre
alguns produtos,
ainda há mercadorias que estão sendo taxadas e, por isso, são necessárias novas
negociações.
A
situação dos manufaturados, especialmente, preocupa o governo, segundo informou
à BBC Brasil uma fonte do Palácio no Planalto, que pediu para não ser
identificada.
Segundo
essa fonte, a ligação não teve como objetivo pressionar o governo americano,
mas manter o assunto em pauta e avançar para reduzir ao máximo o tarifaço.
Trump e
Lula teriam combinado de manter as reuniões das equipes negociadoras e o
presidente americano disse estar aberto pra cooperação.
O combate ao crime organizado também foi pauta
durante a ligação.
Os dois
presidentes têm posições distintas no assunto. O governo americano já quis
classificar facções brasileiras como organizações terroristas, e solicitou que
o Brasil adotasse a designação.
O
governo brasileiro foi contra e argumentou que, apesar de suas atividades
criminosas, esses grupos não se enquadram na definição de organização
terrorista, que tem seus atos motivados por xenofobia, discriminação ou
preconceito.
Além
disso, o Brasil costuma tratar o combate ao crime organizado com políticas
internas e cooperação regional, por preocupações de soberania e segurança.
Apesar
disso, o Planalto informou que Lula expressou para Trump seu desejo em reforçar
a cooperação com os EUA para enfrentar o crime organizado internacional.
O
presidente brasileiro teria destacado operações recentes realizadas no país
para "asfixiar financeiramente" organizações criminosas, indicando a
existência de ramificações que operam do exterior.
Trump,
por sua vez, teria mostrado "total disposição em trabalhar junto com o
Brasil" e apoio a iniciativas conjuntas entre os dois países.
Segundo
a fonte ouvida pela BBC, o presidente brasileiro não chegou a mencionar a operação policial que envolveu a
Refit,
dona da Refinaria de Manguinhos, e que tem algumas empresas no estado de
Delaware, nos EUA.
Mas,
para o governo brasileiro, é preciso combater financiadores do crime organizado
que atuam no país norte-americano.
A Refit
é investigada por manter relações financeiras com empresas e pessoas ligadas à Operação Carbono Oculto,
realizada em agosto de 2025, contra postos de combustíveis e fundos de investimento
usados para lavar dinheiro do crime organizado.
O caso
notoriedade por ter chegado ao coração financeiro de São Paulo, a avenida
Brigadeiro Faria Lima.
¨ Justiça brasileira
abre caminho para retorno de suposto espião à Rússia
O
suposto espião Sergey Vladimirovich Cherkasov ficou mais
perto de retornar à sua terra natal, a Rússia. Manifestações da
Justiça Federal e do Ministério Público Federal (MPF) nos últimos dois meses
informaram que ele não teria mais nenhuma pendência jurídica que o impedisse de
ser extraditado para a Rússia.
Atualmente,
ele cumpre pena de cinco anos de prisão por falsidade ideológica em uma
penitenciária federal de Brasília. A sua entrega à Rússia, agora, depende
apenas da Presidência da República, pois as entregas em casos de extradição
precisam ser deliberadas pela chefia do Poder Executivo.
Uma
fonte do governo brasileiro que falou à BBC News Brasil em caráter reservado
afirmou que o caso ainda não teria chegado ao conhecimento do presidente
brasileiro.
Cherkasov
está preso no Brasil desde abril de 2022 e é apontado pela Polícia Federal e
pelo FBI (a polícia federal americana) como um agente de inteligência russo que
usava uma identidade falsa brasileira para atuar no exterior. Cherkasov nega,
até hoje, ser um espião a serviço do governo russo.
O
governo russo pede sua extradição desde 2022 e sua entrega, que já havia sido
validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), dependia do fim de investigações
sobre contra Cherkasov, que já foram encerradas.
Documentos
obtidos pela BBC News Brasil apontam que a Justiça Federal de São Paulo e
procuradorias da República do Rio de Janeiro e do Distrito Federal informaram
que não há mais "óbices" à extradição de Cherkasov.
As
manifestações que deixaram o caminho de Cherkasov à Rússia mais aberto
começaram chegar ao MJSP nos últimos dois meses. Em outubro, o Ministério
Público Federal no Rio de Janeiro e a 4ª Vara Federal Criminal do Rio de
Janeiro disseram, em ofícios, que não haveria óbice à extradição de Cherkasov.
No dia
14 de novembro deste ano, foi a vez do Ministério Público Federal no Distrito
Federal informar que não identificava obstáculos à extradição do russo.
Além
disso, a 15ª Vara Federal de Guarulhos, em São Paulo, também havia informado
que o processo pelo qual foi condenado já havia transitado em julgado.
No dia
17 de novembro, o juiz Frederico Botelho de Barros Viana, da 15ª Vara Federal
de Execução Penal do Distrito Federal, determinou a entrega de Cherkasov ao
governo russo. A decisão, que referenda uma ordem do STF, de 2023, e foi
encaminhada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
Em
nota, a pasta disse que "recebeu a comunicação do Poder Judiciário e que a
partir de agora seguirá a tramitação do caso, conforme dispõe a legislação
brasileira".
A
reportagem também enviou questionamentos ao Ministério de Relações Exteriores
(MRE) e à Presidência da República. A Presidência disse que caberia ao MJSP e
ao MRE responder sobre o tema. O MRE não enviou respostas.
A BBC
News Brasil apurou que a expectativa é de que Cherkasov seja levado de volta à
Rússia em uma aeronave disponibilizada pelo governo russo. A data de sua
entrega ainda não foi formalizada.
Sua
eventual entrega à Rússia vai na contramão de um pedido de extradição feito pelos Estados Unidos, em 2023, sob a
alegação de que Cherkasov teria praticado crimes naquele país.
A BBC
News Brasil enviou questionamentos sobre o assunto às embaixadas da Rússia e
dos Estados Unidos no Brasil mas não obteve respostas. A defesa de Cherkasov no
Brasil também foi procurada, mas não se pronunciou até o momento.
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Trajetória interrompida
A
trajetória como suposto espião de Cherkasov foi interrompida, ao menos até
agora, no dia 2 abril, quando ele viajou do Brasil para a Holanda, onde tentava
atuar como estagiário no Tribunal Penal Internacional, organismo que julga
crimes de guerra e é baseado na cidade de Haia.
Dois
meses antes, em fevereiro, a Rússia havia dado início à invasão da
Ucrânia.
A
inteligência holandesa e investigações tanto da Polícia Federal quanto do FBI
(a polícia federal norte-americana) apontaram que Cherkasov usava uma
identidade brasileira falsa e adotava o nome de Victor Muller Ferreira.
De
acordo com as investigações da Polícia Federal, não há elementos apontando que
Cherkasov praticou espionagem contra autoridades, empresa sou instituições
brasileiras.
Segundo
as investigações, o russo chegou ao Brasil em 2010 e usava o país e sua
identidade brasileira como cobertura para atuar no exterior sem despertar as
atenções dos serviços de inteligência estrangeiros.
No
Brasil, Cherkasov conseguiu obter documentos como carteira de habilitação,
título de eleitor, certificado de reservista e passaporte. Foi com esses
documentos que ele conseguiu se passar por estudante e fazer cursos em
universidades dos Estados Unidos e da Irlanda.
"Victor
Müller/Sergey Cherkasov utiliza-se de técnicas de inteligência de Estado,
recrutamento de colaboradores [...] comunicação deletada, uso de documentos
falsos", diz um trecho da denúncia feita pelo Ministério Público Federal
(MPF) contra o russo.
No
Brasil, ele chegou a ser investigado por espionagem, mas o inquérito foi
arquivado.
Ainda
em 2022, ele foi condenado a 15 anos de prisão por falsidade ideológica. Sua
pena foi posteriormente reduzida para cinco anos de reclusão.
Inicialmente,
ele ficou preso em uma cela da Superintendência da Polícia Federal em São
Paulo, mas foi posteriormente transferido para uma cela em um presídio federal
de Brasília, onde está detido.
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Operação para recuperar suposto espião
Após a
prisão de Cherkasov no Brasil, o governo russo deu início a uma operação diplomática para recuperar
o suposto espião.
Ainda
em 2022, reportagem da BBC News Brasil apontou que o Consulado da Rússia em São
Paulo se ofereceu para abrigar Cherkasov em suas instalações enquanto aguardava
pelo julgamento. O pedido não foi deferido pela Justiça Federal de São Paulo.
Mais
tarde, investigações da Polícia Federal reveladas pelo jornal Folha de S. Paulo
apontaram que funcionários da Embaixada Russa deram suporte logístico a
Cherkasov.
Em
agosto de 2022, o governo do país pediu, formalmente, a extradição de Cherkasov
ao STF.
No
pedido, as autoridades russas alegaram que Cherkasov era, na realidade, um
traficante de drogas procurado em seu país natal.
A
informação, no entanto, vai na contramão do indiciamento feito pelas
autoridades norte-americanas contra Cherkasov.
O
documento, ao qual a BBC News Brasil teve acesso, aponta que o FBI não tinha
evidências de que ele estivesse envolvido com o tráfico de drogas.
Em
março de 2023, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos formalizou uma
acusação contra Cherkasov por crimes como atuação de agente estrangeiro em solo
norte-americano sem autorização, fraudes financeiras e com objetivo de obter um
visto.
Na
acusação, o governo norte-americano afirma que Cherkasov é um oficial do
Departamento Central de Inteligência (GRU) e que usava a identidade brasileira
para se infiltrar em instituições e obter informações estratégicas como a
análise de especialistas em geopolíticas sobre a reação dos países alinhados
aos Estados Unidos à invasão da Ucrânia.
Segundo
o FBI, Cherkasov fazia parte de um grupo considerado a elite da espionagem
russa, formado por espiões que são enviados a outros países pelo governo russo
com a missão de assumir diferentes nacionalidades e personalidades para
conseguir acesso a informações de políticos, acadêmicos, instituições e
empresas de interesse do governo russo. Esse grupo é conhecido popularmente
como "ilegais".
Ele é
conhecido por terem agentes enviados ainda jovens para diferentes países com o
objetivo de viverem nestes locais como nativos sem despertar desconfiança. A
partir daí, a meta é estabelecer relacionamentos e obter informações de acordo
com a demanda dos seus chefes, conhecidos como "controladores".
Também
em março de 2023, o ministro do STF, Edson Fachin, validou um pedido formulado
por Cherkasov para se entregar às autoridades russas. A entrega dele, no
entanto, ficou condicionada ao fim de uma investigação conduzida pela Polícia
Federal sobre lavagem de dinheiro contra o russo e à autorização do presidente
da República.
As
investigações deste inquérito foram finalizadas pela PF neste ano.
Com
base nas investigações do FBI, o governo americano pediu a extradição de
Cherkasov, em abril de 2023. O pedido, no entanto, não chegou a ser julgado
pelo STF.
Segundo
nota divulgada pelo governo brasileiro em julho de 2023, o pedido foi
considerado improcedente porque, na época em que foi feito, o pedido russo já
havia sido homologado pelo Supremo.
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Rede de supostos espiões exposta
As
investigações da Polícia Federal, do FBI e de outros serviços de inteligência
internacionais apontam que Cherkasov faria parte de uma rede de agentes a serviço do
governo russo que começou a ser desmantelada em 2022.
Até o
momento, pelo menos nove pessoas foram identificadas pelas investigações como
potenciais agentes russos usando identidades brasileiras.
Poucos
meses depois de Cherkasov ser preso, em novembro de 2022, a polícia norueguesa
prendeu outro suposto espião russo usando identidade falsa brasileira.
Seu
nome falso era José de Assis Giammaria, mas as autoridades do país europeu
afirmam que ele se chamava, na verdade, Mikhail Mikushin e seria um espião
russo infiltrado em uma universidade na região do Ártico, na fronteira entre
Noruega e Rússia.
Um
terceiro caso surgiu pouco depois, no final de 2022, depois que uma brasileira
reportou o desaparecimento de seu namorado, o também "brasileiro"
Gerhard Daniel Campos.
As
autoridades, no entanto, alegam que Campos, na realidade, seria outro espião
russo cujo verdadeiro nome é Artem Shmyrev. Ele deixou o Brasil pouco antes de
a Polícia Federal deflagrar uma operação para prendê-lo e ele nunca mais foi
visto.
Uma
reportagem do The New York Times enumera outras seis pessoas que teriam usado
documentos brasileiros como parte de seus disfarces: Yekaterina Leonidovna
Danilova, Vladimir Aleksandrovich Danilov, Olga Igorevna Tyutereva, Aleksandr
Andreyevich Utekhin, Irina Alekseyevna Antonova e Roman Olegovich Koval.
Utekhin,
segundo as investigações, se disfarçava em Brasília como empresário do ramo de
joias.
Outra
suposta espiã, cujo nome brasileiro seria Maria Isabel Moresco Garcia,
trabalhava como modelo.
De
acordo com as investigações da Polícia Federal, nenhum dos supostos espiões
identificados até agora colhiam informações sobre o Brasil.
A
passagem pelo país, segundo o que se apurou, fazia parte de uma estratégia de
criar um disfarce sólido o suficiente para não chamar atenção nos países onde,
de fato, os agentes deveriam realizar as suas missões.
Ainda
de acordo com as autoridades brasileiras, os principais motivos pelos quais a
Rússia teria escolhido o Brasil como disfarce para seus espiões são:
fragilidades dos sistemas de emissão e controle de documentos no Brasil;
histórico de não envolvimento do país em conflitos internacionais; e população
miscigenada.
Fonte: Sputnik
Brasil/BBC News Brasil

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