Gripe
aviária provoca abate em massa de aves pelo mundo
Nove
milhões de aves foram abatidas nos EUA, Alemanha e Canadá desde outubro. Até
agora, risco é considerado pequeno para seres humanos. No entanto,
especialistas advertem que falta de controle pode levar a mutações
Mesmo
após o coronavírus, o risco que uma pandemia atinja os seres humanos é baixo,
afirmam entidades e especialistas. Em novembro de 2025, um homem morreu nos
Estados Unidos depois de ter se infectado com um vírus de gripe aviária.
Aparentemente,
no entanto, a doença não foi transmitida para outras pessoas, o que
praticamente exclui a possibilidade de um contágio em larga escala. O mesmo
aconteceu com outros casos de gripe aviária neste ano.
No
entanto, para os animais, a doença tem sido devastadora.
"O
impacto não é mais só ou no setor avícola ou em aves selvagens", afirma
Gregorio Torres, coordenador de pesquisas na Organização Mundial da Saúde
Animal (OIE), à DW.
Dados
obtidos pela DW mostram que quase nove milhões de aves foram abatidas em todo o
mundo desde outubro, especialmente nos Estados Unidos, no Canadá e na Alemanha,
enquanto a América do Norte e a Europa lutam contra surtos em fazendas e na
natureza.
E as
consequências já se espalharam para outros animais. A onda atual, causada
principalmente por um subtipo do vírus H5N1, já infectou espécies de gado,
porco, gatos e cães, além de mamíferos selvagens.
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Doença fatal
O termo
influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) se refere aos vírus de gripe
que podem causar infecções graves em aves.
Apesar
dessa definição ser baseada na forma com que a doença afeta galinhas, patos,
perus e outras aves, as consequências da infecção são basicamente as mesmas em
pássaros selvagens: a morte.
A OIE,
entidade intergovernamental responsável pela coordenação e monitoramento da
saúde animal em todo o planeta, considera o vírus como uma grande ameaça à
biodiversidade – particularmente o clado 2.3.4.4b do vírus H5N1 de gripe
aviária, que vem causando a maioria das infecções em espécies animais.
A
gestão de surtos de doenças é uma tarefa intensa. Para controlar a propagação
desses tipos de vírus, é essencial que haja colaboração entre os responsáveis
pelo monitoramento dos animais, como a OIE, cientistas e especialistas em vida
selvagem e agências de saúde pública humana.
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Alto impacto
A
presença de IAAP foi identificada em todos os continentes do planeta em 2025 –
tanto em terra quanto em mar.
A
situação ficou ainda mais grave em 25 de novembro, quando autoridades
australianas confirmaram que a gripe aviária havia atingido a remota Ilha de
Heard, um território subantártico no Oceano Índico, a cerca de 4,3 mil
quilômetros a sudoeste do continente, onde o vírus infectou elefantes-marinhos.
A gripe
aviária já causou mortes em massa em populações semelhantes ao longo da costa
da América do Sul. Infecções em golfinhos também foram identificadas pelos
pesquisadores.
No
entanto, o mais afetado continua sendo o setor avícola.
No
segundo semestre de 2025, fazendeiros alemães tiveram que lidar com a incômoda
chegada antecipada da temporada de gripe aviária, já que a doença foi espalhada
pela primeira vez por aves migratórias que vieram da Suécia. Por causa disso,
mais de um milhão de aves tiveram que ser abatidas na Alemanha.
Aves
migratórias são a principal razão pela qual a gripe aviária vem se espalhando
pelos continentes.
Com a
chegada do inverno, elas deixam o hemisfério norte, mas fazem escalas perto de
zonas úmidas para descansar e recuperar as forças. Essas paradas podem colocar
essas aves em contato com outras populações locais.
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Mutações
Se
estiverem infectadas com a IAAP, há uma grande chance de que essas aves
migratórias transmitirão o vírus a outros pássaros selvagens ou de criação,
desencadeando uma reação em cadeia. Estudos recentes mostram que as mutações no
clado 2.3.4.4b facilitaram a infecção em todas as espécies aviárias.
Isso
significa que uma pequena contaminação local de grupos de patos, cisnes ou
gansos pode levar o vírus a se espalhar por toda uma região, sem a necessidade
de aves migratórias como transmissoras.
Segundo
especialistas, parte da solução passa por medidas "severas de
biossegurança”, ou seja, pela implementação, por parte de governos, de
protocolos rígidos que garantam que os os espaços agrícolas minimizem os riscos
de gripe aviária em nível local.
Uma
biossegurança forte é essencial para conter surtos da doença, prevenindo a
transmissão e reduzindo o risco de casos futuros, diz o epidemiologista e
especialista em biologia evolucionária Justin Bahl, da Universidade da Geórgia,
nos EUA.
"Enquanto
tivermos biossegurança e estivermos vigilantes, acho que estamos em uma boa
situação neste momento", afirma Bahl à DW. "O maior risco é
provavelmente a falta de rigor na biossegurança."
Controlar
a propagação do vírus entre os animais reduz o risco de um cenário pior, como,
por exemplo, uma mutação que facilite a transmissão para os seres humanos.
De
acordo com a epidemiologista Amira Roess, da Universidade George Mason, nos
EUA, a vigilância ativa e os testes de doenças ajudam não só a prevenir a
propagação do vírus entre as aves, mas também a reduzir esse risco para os
humanos.
"Sempre
que observamos um aumento nas mortes por influenza em aves de criação ou
selvagens, precisamos prestar atenção e manter uma forte vigilância para
identificarmos mutações, caso elas surjam", afirmou Roess por e-mail.
"O
fato de não termos observado casos graves em humanos indica que, até o momento,
as cepas em circulação não parecem causar uma ameaça significativa à saúde
humana."
Os
especialistas consultados pela DW também enfatizaram a importância da
cooperação entre países, já que aves não reconhecem fronteiras e, como
aconteceu durante a pandemia de coronavírus, muito menos os vírus.
"É
um problema global', diz Torres, da OIE. "Precisamos ser transparentes, e
a informação deve ser compartilhada para o benefício de todos, incluindo a
saúde humana e animal."
Fonte:
DW Brasil

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