quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Cáries e doença da gengiva aumentam risco de AVC, diz estudo

Cuidar da saúde bucal pode trazer benefícios que vão além dos dentes e das gengivas. Estudos recentes já mostraram que existe uma relação entre saúde oral e doenças neurológicas e cardiovasculares. Agora, uma nova pesquisa revela que cáries e doenças das gengivas está associada ao aumento de 86% no risco de AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico.

O trabalho foi publicado na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, e acompanhou mais de 5 mil adultos com idade média de 63 anos, sem histórico prévio de AVC. O estudo identificou que aqueles com cáries dentárias e doença periodontal, simultaneamente, apresentaram 10% de incidência de AVC ao longo de 20 anos, comparado aos 4% entre participantes com saúde bucal preservada.

A má saúde bucal também foi associada a uma probabilidade 36% maior de ataques cardíacos e outros problemas cardiovasculares, segundo o estudo.

De acordo com Cristiano Demartini, dentista e CEO da Odontotop, essa relação pode ser explicada por processos inflamatórios sistêmicos que acontecem a partir de doenças bucais e que contribuem para alterações vasculares.

"Esse estado inflamatório prolongado está associado ao estreitamento arterial, maior resistência vascular e alteração da função endotelial, mecanismos reconhecidos como gatilhos tanto para doenças cardíacas, quanto cerebrovasculares", explica Demartini.

"A doença periodontal, por exemplo, é reconhecida como uma inflamação crônica capaz de facilitar a entrada de bactérias orais na circulação, que ao alcançarem os vasos sanguíneos, estimulam o desenvolvimento de aterosclerose, processo que leva ao acúmulo de placas nas artérias e aumenta o risco de eventos como infarto e AVC isquêmico. Assim, a boca passa a ser uma espécie de marcador clínico da saúde sistêmica, revelando riscos que vão muito além do consultório odontológico", completa.

Ainda segundo a pesquisa, a frequência de visitas regulares ao dentista teve efeitos protetores. Os participantes que faziam consultas regulares tinham 81% menos chance de apresentar a combinação de gengivite e cáries, e 29% menos chance de ter apenas doença gengival.

Visitas regulares ao dentista devem ser feitas por todos os pacientes, mas aqueles com histórico familiar de doenças cardíacas ou que apresentam fatores de risco, como diabetes e hipertensão, devem ter um acompanhamento mais próximo.

"Visitas regulares ao dentista, diagnóstico precoce, tratamento ideal, atenção aos sintomas e manutenção de uma rotina de higiene bucal eficaz reduzem substancialmente a presença de lesões inflamatórias na cavidade oral. Diminuindo assim a liberação de mediadores inflamatórios e protegendo contra alterações vasculares silenciosas", afirma o especialista.

Essa não é a primeira vez que um estudo aponta para a relação entre saúde bucal e saúde cardiovascular. De acordo com uma pesquisa realizada por pesquisadores finlandeses, bactérias presentes na boca podem aumentar o risco de ataques cardíacos. Segundo os autores, a presença desses microrganismos estava fortemente relacionado à aterosclerose grave, morte por doença cardíaca e morte por ataque cardíaco.

Além disso, outros estudos associaram a saúde bucal com a saúde neurológica. Um trabalho publicado em 2019 na revista Science Advances identificou a presença da bactéria Porphyromonas gingivalis, principal agente patogênico da doença periodontal, no cérebro de pacientes com Alzheimer.

Outra pesquisa, dessa vez publicada na Nature em 2021, apontou uma relação entre doença periodontal e Parkinson. A possível explicação para isso é a inflamação causada pelas bactérias localizadas na região oral.

“Estudos continuam explorando essas conexões, mas a saúde bucal está cada vez mais ligada à saúde neurológica”, afirma a cirurgiã-dentista Bruna Conde em matéria publicada anteriormente na CNN Brasil.

•        Creatina pode afetar saúde dos dentes? Especialista explica

A creatina é um dos suplementos alimentares mais populares no mundo. De acordo com dados da Grand View Research, o mercado global de suplementos de creatina atingiu 1,1 bilhão de dólares em 2024. O produto costuma ser usado para aumento da força e resistência muscular e está associado à prática de exercícios físicos de alta intensidade.

Apesar dos benefícios já bem estabelecidos pela ciência, ainda existem dúvidas sobre os possíveis efeitos da creatina na saúde bucal. Segundo Mário Sérgio Giorgi, integrante da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), os dentes não são afetados pelo suplemento em si, mas pela forma como ele é tomado.

"A creatina em si não é corrosiva nem ácida, portanto não danifica diretamente o esmalte dental quando consumida corretamente (diluída em água ou suco). Porém, a seco, o pó pode: aderir ao esmalte e alterar o microbioma bucal, promovendo desmineralização se o pH ficar ácido e também agir como um abrasivo físico, se houver fricção direta, contribuindo para desgaste do esmalte", esclarece o cirurgião-dentista.

A prática, chamada de dry scooping, consiste em tomar a creatina diretamente do scoop ou da colher, sem diluição em água. Segundo o especialista, esse hábito pode aumentar a abrasão dentária e levar à remoção do esmalte dos dentes.

"O esmalte é a camada protetora externa dos dentes, e uma vez que ele se desgasta, não se regenera. Uma das principais consequências da perda de esmalte é a sensibilidade dentária", afirma Giorgi. "A dentina, a camada logo abaixo do esmalte, fica exposta. Ela possui pequenos túbulos que levam sensações diretamente para o nervo do dente, causando dor ou desconforto ao consumir alimentos e bebidas quentes, frias, doces ou ácidas".

Além disso, a dentina mais visível pode deixar os dentes com aparência amarelada, segundo o especialista.

Outro ponto negativo do dry scooping é a redução da salivação. "A redução da salivação cria um ciclo de risco: menos saliva leva a um ambiente mais ácido e menos limpo, o que causa mais danos ao esmalte e aumenta o risco de cáries e outras infecções bucais", explica Giorgi.

<><> É possível reverter esses danos?

Segundo o especialista, a perda do esmalte dos dentes é permanente. No entanto, é possível controlar a sensibilidade dentária por meio de cremes dentais enzimáticos específicos, que contêm ingredientes como flúor.

"Em casos mais severos, o cirurgião-dentista pode aplicar vernizes com alta concentração de flúor ou, se a perda for muito grande, recorrer a restaurações, coroas ou facetas para proteger o dente", explica.

<><> Cuidados com a suplementação de creatina

Se você faz uso de creatina diariamente, é interessante tomar alguns cuidados para evitar impactos negativos à saúde bucal. A melhor forma de proteger os dentes é consumir o suplemento dissolvido em bastante água.

"Isso não só ajuda a proteger o esmalte dos dentes, mas também melhora a absorção do suplemento. Beba bastante água durante todo o dia. A água ajuda a neutralizar os ácidos e a manter a boca limpa", explica.

Em seguida, Giorgi recomenda esperar, pelo menos, 30 a 60 minutos após consumir a creatina para escovar os dentes. "A escovação logo depois pode esfregar os ácidos presentes na boca contra os dentes, danificando o esmalte", afirma. O cirurgião-dentista também recomenda tomar a creatina dissolvida com a ajuda de canudo, minimizando o contato com os dentes.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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