quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Europa, a tênue linha entre cautela e imprudência

"A questão crucial, portanto, é esta: se entrarmos em guerra com a Rússia, os Estados Unidos se juntarão a nós ou nos tratarão como os ucranianos — vamos lhes fornecer armas para enfraquecer os russos, não para derrotá-los? A segunda opção parece menos improvável", escreve Luca Caracciolo, jornalista e analista geopolítico italiano, diretor da revista Limes.

<><> Eis o artigo.

Tambores de guerra ecoam na Europa. O ministro alemão da Defesa, Pistorius, alerta que a Rússia poderia atacar seu país e outros países da OTAN antes de 2029. O chanceler Merz afirma que a Alemanha ainda não está em guerra, mas também não está em paz. A Bundeswehr está deixando vazar detalhes sobre a mobilização de 800 mil soldados para conter uma potencial agressão de Moscou.

Nos países escandinavos e bálticos, e especialmente na Polônia, a sensação é de que uma invasão russa poderia ser iminente. Na França, Alemanha e Itália, estão planejando o retorno a alguma forma de serviço militar obrigatório ou o aumento das reservas, apesar da impopularidade de tais medidas. Nessa situação de emergência, até mesmo os cálculos eleitorais estão sendo deixados de lado em nome da segurança nacional.

Esse clima não diz respeito apenas à preparação das forças armadas, mas também à conversão da opinião pública à pré-guerra. Porque o conflito seria travado em todos os domínios estratégicos, a começar pelas comunicações, e envolveria a população civil em todos os sentidos. Acima de tudo, a condição de vitória seria a eliminação do front interno do inimigo antes de sua derrota no campo.

Nesses aspectos, nos quais partimos do zero, já estamos em modalidade bélica. Mas onde se situa a linha divisória entre prudência, prevenção de riscos e o acionamento de um mecanismo bélico semiautomático? Em outras palavras, é possível que, após oitenta anos de paz, um conflito devastador possa assolar a Europa sem que ninguém tenha decidido, de fato, desencadeá-lo? A resposta é sim. A história das duas únicas guerras mundiais, ambas eclodindo em solo europeu e — sinistra coincidência — ambas com a Ucrânia como campo de batalha estratégico, informa que a linha divisória entre guerra e paz foi cruzada por "sonâmbulos" ou agressores inconscientes de estarem desencadeando um conflito mundial.

E, nos duelos de propaganda e contrapropaganda, até que ponto podemos distinguir a desinformação da realidade? Sem mencionar os interesses industriais e financeiros que na atmosfera belicista veem incentivados programas de reconversão industrial de civil para militar. Muitos daqueles que anunciam publicamente a iminente agressão russa na frente oriental da OTAN, em privado, a descartam como provável, considerando as capacidades de Moscou antes que suas intenções. No entanto, não é preciso um diploma em psicologia para perceber que, de tanto martelar constantemente a iminência da guerra, pode-se acabar acreditando nela. E cair na armadilha. De ambos os lados.

A diferença é que o outro lado já está em guerra. Resta saber por que os europeus, temendo se tornarem alvos da Rússia, tenham ficado à margem das negociações informais para pôr fim, ou pelo menos amenizar, a guerra da Ucrânia. Assim contribuindo a convencer russos e estadunidenses da inutilidade de envolver os europeus em seus comércios semissecretos e nos quais a futura estrutura do que restará da Ucrânia é corolário de uma negociação global, como é costume entre potências que aspiram a um status mundial.

Portanto, o destino dos ucranianos e de nós outros, europeus, dependerá dos acordos ou desacordos entre Washington, Moscou e, por extensão, Pequim. Não somos donos do nosso destino, mas ficamos pensando que podemos decidi-lo. Muito se tem discutido nos últimos anos sobre uma nova Guerra Fria. Uma tese enganosa, especialmente após a explosão da verdadeira guerra em 24 de fevereiro de 2022. A paz europeia, conhecida como Guerra Fria, baseava-se na dissuasão, EUA-URSS, inimigos que se conheciam bem e reconheciam a esfera de influência bem delimitada um do outro.

A novidade é que hoje os Estados Unidos e a Rússia não são mais inimigos. Enquanto isso, nós, europeus, ficticiamente reunidos pela queda do Muro, requentamos memórias e estereótipos que ao longo dos séculos nos retrataram como opostos uns aos outros, a ponto de nos reduzir de impérios transcontinentais a atores não protagonistas. Feitos para se submeter, não determinar o próprio futuro.

A questão crucial, portanto, é esta: se entrarmos em guerra com a Rússia, os Estados Unidos se juntarão a nós ou nos tratarão como os ucranianos — vamos lhes fornecer armas para enfraquecer os russos, não para derrotá-los? A segunda opção parece menos improvável. É hora de apresentar soluções de negociação realistas e exigentes, participando assim voluntariamente para a prevenção da grande guerra na Europa.

<><> Político finlandês apela à Europa para mudar o rumo no conflito ucraniano 'antes que seja tarde demais'

A União Europeia (UE) precisa rever sua postura diante do conflito na Ucrânia após a declaração do líder russo, Vladimir Putin, de que Moscou está pronta para repelir qualquer ataque europeu, avaliou o político finlandês Armando Mema, integrante do partido Aliança da Liberdade, em mensagem publicada no seu perfil na rede social X.

"O conflito na Ucrânia se tornou extremamente perigoso para a Europa. Precisamos mudar de rumo antes que seja tarde demais para a diplomacia", afirmou.

Na terça-feira (2), Putin declarou que a Rússia não tem intenção de entrar em guerra com a Europa, mas advertiu que, caso o confronto seja desencadeado, Moscou está pronta para enfrentá-lo imediatamente.

Nos últimos anos, o Kremlin tem denunciado o aumento sem precedentes das atividades militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) perto de suas fronteiras. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia reafirmou que o país permanece aberto ao diálogo com a aliança, desde que seja em condições de igualdade e respeito mútuo, e alertou que o Ocidente precisa abandonar sua política de militarização do continente europeu.

<><> Ocidente emprega o terrorismo como arma neocolonial e aplica duplos padrões, diz vice-ministro russo

Ocidente emprega o terrorismo como arma neocolonial e aplica duplos padrões, diz vice-ministro russo

Os países ocidentais não demonstram verdadeiro interesse em unir esforços internacionais contra o terrorismo e, ao contrário, utilizam essa ameaça como instrumento de política neocolonial, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Lyubinsky, na Conferência Antiterrorista BRICS+ 2025.

Lyubinsky classificou como "inaceitável" a prática ocidental de empregar organizações terroristas "para fins geopolíticos egoístas" e afirmou que essa estratégia "também é amplamente utilizada na Ucrânia".

¨      EUA não estão mais envolvidos financeiramente na crise ucraniana, afirma Trump

"Não estamos mais envolvidos financeiramente neste conflito. [O ex-presidente dos EUA, Joe] Biden distribuiu US$ 350 bilhões [R$1,86 trilhões] como se fossem doces", declarou o presidente norte-americano, Donald Trump, durante uma reunião de gabinete nesta terça-feira (2) na Casa Branca.

Trump também expressou sua esperança de uma solução para a crise ucraniana, classificando-a como uma "situação difícil". O presidente dos EUA ressaltou que representantes americanos na Rússia estão trabalhando para determinar se um acordo na Ucrânia é possível.

Trump também afirmou que países europeus estão comprando armas de Washington a preço integral para transferência posterior à Ucrânia.

"Vendemos equipamentos para a OTAN. Os países europeus nos pagam 100% do custo do equipamento e depois o enviam para a Ucrânia ou fazem o que quiserem com ele", disse.

As declarações foram feitas em meio a um escândalo de corrupção na Ucrânia. A demissão do chefe do gabinete de Vladimir Zelensky, Andrei Yermak, expôs as pressões externas.

Na última sexta-feira (28), o Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU, na sigla em inglês) e a Procuradoria Especializada Anticorrupção realizaram buscas no gabinete de Yermak. Posteriormente, Zelensky assinou um decreto destituindo Yermak do cargo.

No dia 10 de novembro, os órgãos mencionados deram início a uma operação de grande escala para detectar esquemas de corrupção no setor energético.

Foram realizadas buscas, em particular, na empresa Energoatom, bem como na residência do empresário Timur Mindich, apontado como criador de uma organização criminosa e administrador das finanças de Vladimir Zelensky. Informações indicam que, antes disso, o empresário foi evacuado às pressas da Ucrânia.

Além de Mindich e Yermak, o caso envolve diversas pessoas do círculo mais próximo de Zelensky em tramas ligadas à construção de defesas e à aquisição de coletes à prova de balas.

¨      Inflação e desemprego aumentam na União Europeia

A inflação na zona do euro acelerou novamente em novembro, atingindo 2,2% em comparação com o ano anterior, ligeiramente acima do mês anterior e um pouco mais distante da meta de 2% estabelecida pelo Banco Central Europeu, de acordo com os dados mais recentes do Eurostat.

O aumento deveu-se principalmente a uma menor queda nos preços da energia e a uma subida moderada de 3,5% nos preços dos serviços. A inflação subjacente, por sua vez, manteve-se estável em 2,4%, segundo as estatísticas oficiais do bloco.

Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego na zona do euro subiu para 6,4% em outubro, um décimo de ponto percentual acima do registrado em setembro, enquanto em toda a União Europeia permaneceu em 6%.

No total, mais de 13 milhões de pessoas estavam desempregadas no bloco, incluindo as taxas de desemprego juvenil, que permanecem elevadas.

Enquanto o desemprego e inflação crescem na União Europeia, os líderes do bloco adiaram uma decisão sobre usar ativos russos congelados para financiar a Ucrânia, evitando aprovar o empréstimo de € 140 bilhões e prometendo apenas atender às necessidades urgentes de Kiev até 2026, enquanto crescem dúvidas jurídicas e riscos de retaliação de Moscou.

¨      Banco dinamarquês faz previsão chocante: 'yuan de ouro' acabará com monopólio do dólar

A divisa chinesa nacional yuan, lastreada em ouro, se tornará a segunda "âncora financeira" do mundo e acabará com o monopólio do dólar como moeda de reserva, afirma um relatório do banco de investimento dinamarquês Saxo Bank.

De acordo com o texto, publicado no site oficial do banco, os analistas esperam que a China aumente gradativamente suas reservas de ouro. A projeção é que a moeda nacional fique atrelada ao ouro: os investidores poderão trocar o yuan pelo metal precioso nos centros "offshore" de Hong Kong e Cingapura.

"Este 'yuan dourado' transforma os bancos em Xangai, Shenzhen e Hong Kong no centro de um novo sistema monetário global. Oferece algo que o mundo não via há décadas: uma moeda atrelada a uma reserva tangível e não a meras promessas governamentais", diz-se no relatório.

Segundo os analistas do banco, o yuan de ouro promete reduzir a dependência dos ratings de crédito, da política do Banco Central e dos riscos geopolíticos, dando aos países uma maneira de negociar e armazenar valor sem depender dos sistemas financeiros ocidentais.

De acordo com previsões, a China lançará projetos de petróleo e cobre, nos quais os cálculos poderão ser feitos em ouro, além de abrir linhas de "swap" cambiais para os países do Golfo Pérsico e bancos centrais dos países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês).

Isso permitirá que os parceiros emitam faturas em yuans offshore e, nas entregas, escolham ouro físico, conforme explicado pelos analistas.

Essa arquitetura financeira "dourada" permitirá que os países operem completamente sem o dólar, enfatizam as previsões. Os analistas observam que a confiança no sistema proposto pela China está crescendo e que mais negócios com recursos energéticos e matérias-primas serão realizados usando o "yuan de ouro".

"O 'yuan de ouro' se torna uma segunda âncora global durável, não substituindo o dólar, mas acabando com o seu monopólio", constata-se no relatório.

Junto com a Rússia e vários outros países asiáticos, a China, em sua política econômica externa, adotou uma política de desdolarização e se afastou do uso do dólar. Ao mesmo tempo, nos últimos anos, tem havido um aumento no volume de transações comerciais internacionais em yuan chinês, inclusive com a Rússia.

¨      Consultas estratégicas Rússia-China reforçam multipolaridade e estabilidade global, diz analista

O mecanismo de consultas estratégicas entre Moscou e Pequim traz estabilidade a um mundo cada vez mais imprevisível, avaliou Li Haidong, professor da Universidade de Relações Exteriores da China, em entrevista ao jornal chinês Global Times.

Haidong destacou que as reuniões regulares de alto nível entre a Rússia e a China refletem um nível excepcional de confiança estratégica mútua entre os dois países.

"Em meio ao atual cenário internacional complexo e turbulento, o mecanismo de consulta estratégica entre China e Rússia injeta maior certeza e estabilidade em um mundo cada vez mais imprevisível, oferecendo a previsibilidade de que tanto se necessita", afirmou.

Segundo o analista, as conversas entre Pequim e Moscou refletem uma profunda convergência de interesses estratégicos, com ampla coordenação e cooperação em política externa.

Além disso, Haidong observou que o mecanismo bilateral de consultas sobre segurança estratégica contribui para o avanço contínuo da cooperação russo-chinesa em diversas áreas.

Tudo isso, prosseguiu o especialista, permite que ambas as partes alinhem suas posições nos âmbitos regional e global.

Nesse contexto, ele explicou que a coordenação entre China e Rússia não só sustenta o desenvolvimento de alta qualidade das relações bilaterais em meio a um mundo volátil e em constante transformação, como também impulsiona a tendência global rumo à multipolaridade.

"Isso representa um passo concreto e eficaz rumo à construção de um sistema de governança global mais inclusivo, sustentável e equilibrado, além de contribuir para enfrentar o crescente déficit de segurança mundial", concluiu.

As consultas russo-chinesas sobre segurança estratégica, presididas pelo secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Sergei Shoigu, e pelo ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, ocorreram em Moscou, na terça-feira (2). Shoigu e Wang Yi discutiram, em particular, a situação na região Ásia-Pacífico, bem como a cooperação entre as autoridades policiais e os serviços secretos dos dois países.

¨      UE não consegue se firmar como potência geopolítica diante de Rússia, China e EUA, diz mídia

A União Europeia não tem condições de se tornar um ator geopolítico capaz de enfrentar a Rússia, a China e até mesmo os Estados Unidos, segundo análise publicada pela agência Bloomberg.

O autor afirma que a administração do presidente norte-americano Donald Trump não está prioritariamente focada em negociar um acordo para o conflito na Ucrânia, mas sim em buscar uma reaproximação entre Washington e Moscou "às custas de Kiev e de seus patrocinadores europeus".

A publicação do plano de 28 pontos dos EUA para um possível acordo apenas reforçou essa percepção, observa a agência.

"Agora que os líderes europeus parecem enfim ter reconhecido que, no caso da Ucrânia, foram deixados à própria sorte, surge uma questão ainda mais profunda: seria a União Europeia capaz de se tornar um jogador geopolítico, de se impor contra a Rússia, a China e seu aliado nominal, os Estados Unidos? A resposta honesta é 'não'", diz o artigo.

Washington confirmou que trabalha em um plano para o processo de paz, mas evita divulgar detalhes. O Kremlin, por sua vez, afirma manter abertura total ao diálogo e continua disposto a negociar na plataforma de Anchorage.

O presidente russo Vladimir Putin disse, em 21 de novembro, que o plano norte-americano pode servir de base para um acordo final, embora nenhum debate substancial sobre o conteúdo tenha ocorrido ainda com Moscou.

Segundo Putin, isso ocorre porque os EUA não conseguem convencer Kiev, já que a Ucrânia e seus aliados europeus ainda vivem na ilusão de conseguir impor à Rússia uma "derrota estratégica" no campo de batalha. Ele afirmou que os recentes acontecimentos em Kupyansk podem se repetir em outros trechos da linha de frente se Kiev continuar rejeitando as propostas de paz.

 

Fonte: La Repubblica -  tradução de Luisa Rabolini/Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: