Europa,
a tênue linha entre cautela e imprudência
"A
questão crucial, portanto, é esta: se entrarmos em guerra com a Rússia,
os Estados Unidos se juntarão a nós ou nos tratarão como os
ucranianos — vamos lhes fornecer armas para enfraquecer os russos, não para
derrotá-los? A segunda opção parece menos improvável", escreve Luca Caracciolo, jornalista e
analista geopolítico italiano, diretor da revista Limes.
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Eis o artigo.
Tambores
de guerra ecoam na Europa. O ministro alemão da Defesa, Pistorius,
alerta que a Rússia poderia atacar seu país e outros países da OTAN antes de 2029.
O chanceler Merz afirma que
a Alemanha ainda não está em guerra, mas também não está em paz.
A Bundeswehr está deixando vazar detalhes sobre a mobilização de 800
mil soldados para conter uma potencial agressão de Moscou.
Nos
países escandinavos e bálticos, e especialmente na Polônia, a sensação é
de que uma invasão russa poderia ser iminente.
Na França, Alemanha e Itália, estão planejando o retorno a
alguma forma de serviço militar
obrigatório ou
o aumento das reservas, apesar da impopularidade de tais medidas. Nessa
situação de emergência, até mesmo os cálculos eleitorais estão sendo deixados
de lado em nome da segurança nacional.
Esse
clima não diz respeito apenas à preparação das forças armadas, mas também à
conversão da opinião pública à pré-guerra. Porque o conflito seria travado
em todos os domínios estratégicos, a começar pelas comunicações, e envolveria a
população civil em todos os sentidos. Acima de tudo, a condição de vitória
seria a eliminação do front interno do inimigo antes de sua derrota no campo.
Nesses
aspectos, nos quais partimos do zero, já estamos em modalidade bélica. Mas onde
se situa a linha divisória entre prudência, prevenção de riscos e o acionamento
de um mecanismo bélico semiautomático? Em outras palavras, é possível que, após
oitenta anos de paz, um conflito devastador possa assolar a Europa sem que
ninguém tenha decidido, de fato, desencadeá-lo? A resposta é sim. A história
das duas únicas guerras mundiais, ambas eclodindo em solo europeu e — sinistra
coincidência — ambas com a Ucrânia como campo de
batalha estratégico, informa que a linha divisória entre guerra e paz foi
cruzada por "sonâmbulos" ou agressores inconscientes de estarem
desencadeando um conflito mundial.
E, nos
duelos de propaganda e contrapropaganda, até que ponto podemos distinguir a
desinformação da realidade? Sem mencionar os interesses industriais e
financeiros que na atmosfera belicista veem incentivados programas de
reconversão industrial de civil para militar. Muitos daqueles que anunciam
publicamente a iminente agressão russa na frente oriental da OTAN, em
privado, a descartam como provável, considerando as capacidades
de Moscou antes que suas intenções. No entanto, não é preciso um
diploma em psicologia para perceber que, de tanto martelar constantemente a
iminência da guerra, pode-se acabar acreditando nela. E cair na armadilha. De
ambos os lados.
A
diferença é que o outro lado já está em guerra. Resta saber por que os
europeus, temendo se tornarem alvos da Rússia, tenham ficado à margem das
negociações informais para pôr fim, ou pelo menos amenizar, a guerra
da Ucrânia. Assim contribuindo a convencer russos e estadunidenses da
inutilidade de envolver os europeus em seus comércios semissecretos e nos quais
a futura estrutura do que restará da Ucrânia é corolário de uma
negociação global, como é costume entre potências que aspiram a um status
mundial.
Portanto,
o destino dos ucranianos e de nós outros, europeus, dependerá dos acordos ou
desacordos entre Washington, Moscou e, por
extensão, Pequim. Não somos donos do nosso destino, mas ficamos pensando
que podemos decidi-lo. Muito se tem discutido nos últimos anos sobre uma nova
Guerra Fria. Uma tese enganosa, especialmente após a explosão da verdadeira
guerra em 24 de fevereiro de 2022. A paz europeia, conhecida
como Guerra Fria, baseava-se na dissuasão, EUA-URSS, inimigos
que se conheciam bem e reconheciam a esfera de influência bem delimitada um do
outro.
A
novidade é que hoje os Estados Unidos e a
Rússia não
são mais inimigos. Enquanto isso, nós, europeus, ficticiamente reunidos pela
queda do Muro, requentamos memórias e estereótipos que ao longo dos
séculos nos retrataram como opostos uns aos outros, a ponto de nos reduzir de
impérios transcontinentais a atores não protagonistas. Feitos para se submeter,
não determinar o próprio futuro.
A
questão crucial, portanto, é esta: se entrarmos em guerra com a Rússia,
os Estados Unidos se juntarão a nós ou nos tratarão como os
ucranianos — vamos lhes fornecer armas para enfraquecer os russos, não para
derrotá-los? A segunda opção parece menos improvável. É hora de apresentar
soluções de negociação realistas e exigentes, participando assim
voluntariamente para a prevenção da grande guerra na
Europa.
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Político finlandês apela à Europa para mudar o rumo no conflito ucraniano
'antes que seja tarde demais'
A União
Europeia (UE) precisa rever sua postura diante do conflito na Ucrânia após a
declaração do líder russo, Vladimir Putin, de que Moscou está pronta para
repelir qualquer ataque europeu, avaliou o político finlandês Armando Mema,
integrante do partido Aliança da Liberdade, em mensagem publicada no seu perfil
na rede social X.
"O
conflito na Ucrânia se tornou extremamente perigoso para a
Europa. Precisamos mudar de rumo antes que seja tarde demais para a
diplomacia", afirmou.
Na
terça-feira (2), Putin declarou que a Rússia não tem intenção de entrar em
guerra com
a Europa, mas advertiu que, caso o confronto seja desencadeado, Moscou está
pronta para enfrentá-lo imediatamente.
Nos
últimos anos, o Kremlin tem denunciado o aumento sem precedentes das atividades militares da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) perto de suas fronteiras. O Ministério das
Relações Exteriores da Rússia reafirmou que o país permanece aberto ao diálogo
com a aliança, desde que seja em condições de igualdade e respeito mútuo, e
alertou que o Ocidente precisa abandonar sua política de
militarização do
continente europeu.
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Ocidente emprega o terrorismo como arma neocolonial e aplica duplos padrões,
diz vice-ministro russo
Ocidente
emprega o terrorismo como arma neocolonial e aplica duplos padrões, diz
vice-ministro russo
Os
países ocidentais não demonstram verdadeiro interesse em unir esforços
internacionais contra o terrorismo e, ao contrário, utilizam essa ameaça
como instrumento de política neocolonial, afirmou o vice-ministro das Relações
Exteriores da Rússia, Dmitry Lyubinsky, na Conferência Antiterrorista BRICS+
2025.
Lyubinsky
classificou como "inaceitável" a prática ocidental de empregar
organizações terroristas "para fins geopolíticos egoístas" e afirmou
que essa estratégia "também é amplamente utilizada na Ucrânia".
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EUA não estão mais envolvidos financeiramente na crise
ucraniana, afirma Trump
"Não
estamos mais envolvidos financeiramente neste conflito. [O ex-presidente dos
EUA, Joe] Biden distribuiu US$ 350 bilhões [R$1,86 trilhões] como se fossem
doces", declarou o presidente norte-americano, Donald Trump, durante uma
reunião de gabinete nesta terça-feira (2) na Casa Branca.
Trump
também expressou sua esperança de uma solução para a crise ucraniana,
classificando-a como uma "situação difícil". O presidente dos
EUA ressaltou que representantes americanos na Rússia estão
trabalhando para determinar se um acordo na Ucrânia é possível.
Trump
também afirmou que países europeus estão comprando armas de Washington a preço
integral para transferência posterior à Ucrânia.
"Vendemos equipamentos
para a OTAN. Os países europeus nos pagam 100% do custo do equipamento e depois
o enviam para a Ucrânia ou fazem o que quiserem com ele", disse.
As
declarações foram feitas em meio a um escândalo de corrupção na
Ucrânia. A demissão do chefe do
gabinete de
Vladimir Zelensky, Andrei Yermak, expôs as pressões externas.
Na
última sexta-feira (28), o Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU,
na sigla em inglês) e a Procuradoria Especializada Anticorrupção realizaram buscas no gabinete de
Yermak.
Posteriormente, Zelensky assinou um decreto destituindo Yermak do cargo.
No dia
10 de novembro, os órgãos mencionados deram início a uma operação de grande
escala para detectar esquemas de corrupção no setor energético.
Foram
realizadas buscas, em particular, na empresa Energoatom, bem como na residência
do empresário Timur Mindich, apontado como criador de uma organização
criminosa e administrador das finanças de Vladimir Zelensky. Informações
indicam que, antes disso, o empresário foi evacuado às pressas da Ucrânia.
Além de
Mindich e Yermak, o caso envolve diversas pessoas do círculo mais próximo
de Zelensky em tramas ligadas à construção de
defesas e
à aquisição de coletes à prova de balas.
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Inflação e desemprego aumentam na União Europeia
A
inflação na zona do euro acelerou novamente em novembro, atingindo 2,2% em
comparação com o ano anterior, ligeiramente acima do mês anterior e um pouco
mais distante da meta de 2% estabelecida pelo Banco Central Europeu, de acordo
com os dados mais recentes do Eurostat.
O
aumento deveu-se principalmente a uma menor queda nos preços da energia e
a uma subida moderada de 3,5% nos preços dos serviços. A inflação subjacente,
por sua vez, manteve-se estável em 2,4%, segundo as estatísticas oficiais do bloco.
Ao
mesmo tempo, a taxa de desemprego na zona do euro subiu para 6,4% em
outubro, um décimo de ponto percentual acima do registrado em setembro,
enquanto em toda a União Europeia permaneceu em 6%.
No
total, mais de 13 milhões de pessoas estavam desempregadas no bloco,
incluindo as taxas de desemprego juvenil, que permanecem elevadas.
Enquanto
o desemprego e inflação crescem na União Europeia, os líderes do bloco
adiaram uma decisão sobre usar ativos russos congelados para financiar
a Ucrânia, evitando aprovar o empréstimo de € 140 bilhões e prometendo apenas
atender às necessidades urgentes de Kiev até 2026, enquanto crescem
dúvidas jurídicas e riscos de retaliação de Moscou.
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Banco dinamarquês faz previsão chocante: 'yuan de ouro'
acabará com monopólio do dólar
A
divisa chinesa nacional yuan, lastreada em ouro, se tornará a segunda
"âncora financeira" do mundo e acabará com o monopólio do dólar como
moeda de reserva, afirma um relatório do banco de investimento dinamarquês Saxo
Bank.
De
acordo com o texto, publicado no site oficial
do banco, os analistas esperam que a China aumente gradativamente
suas reservas de ouro. A projeção é que a moeda nacional fique atrelada ao
ouro: os investidores poderão trocar o yuan pelo metal precioso nos
centros "offshore" de Hong Kong e Cingapura.
"Este
'yuan dourado' transforma os bancos em Xangai, Shenzhen e Hong Kong no centro
de um novo sistema monetário global. Oferece algo que o mundo não via há
décadas: uma moeda atrelada a uma reserva tangível e não a meras promessas
governamentais", diz-se no relatório.
Segundo
os analistas do banco, o yuan de ouro promete reduzir a
dependência dos ratings de crédito, da política do Banco Central e dos
riscos geopolíticos, dando aos países uma maneira de negociar e armazenar
valor sem depender dos sistemas financeiros ocidentais.
De
acordo com previsões, a China lançará
projetos de petróleo e cobre, nos quais os cálculos poderão ser feitos em ouro,
além de abrir linhas de "swap" cambiais para os países do Golfo
Pérsico e bancos centrais dos países da Associação das Nações do Sudeste
Asiático (ASEAN, na sigla em inglês).
Isso
permitirá que os parceiros emitam faturas em yuans offshore e, nas entregas,
escolham ouro físico, conforme explicado pelos analistas.
Essa
arquitetura financeira "dourada" permitirá que os países
operem completamente sem o dólar, enfatizam as previsões. Os analistas
observam que a confiança no sistema proposto pela China está crescendo e que
mais negócios com recursos energéticos e matérias-primas serão realizados
usando o "yuan de ouro".
"O
'yuan de ouro' se torna uma segunda âncora global durável, não substituindo o
dólar, mas acabando com o seu monopólio", constata-se no relatório.
Junto
com a Rússia e vários outros países asiáticos, a China, em sua política
econômica externa, adotou uma política de desdolarização e se afastou do uso do
dólar. Ao mesmo tempo, nos últimos anos, tem havido um aumento no volume de
transações comerciais internacionais em yuan chinês, inclusive com a Rússia.
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Consultas estratégicas Rússia-China reforçam
multipolaridade e estabilidade global, diz analista
O
mecanismo de consultas estratégicas entre Moscou e Pequim traz estabilidade a
um mundo cada vez mais imprevisível, avaliou Li Haidong, professor da
Universidade de Relações Exteriores da China, em entrevista ao jornal chinês
Global Times.
Haidong destacou que as reuniões
regulares de alto nível entre a Rússia e a China refletem um nível excepcional
de confiança estratégica mútua entre os dois países.
"Em
meio ao atual cenário internacional complexo e turbulento, o mecanismo de
consulta estratégica entre China e Rússia injeta maior certeza e
estabilidade em um mundo cada vez mais imprevisível, oferecendo a
previsibilidade de que tanto se necessita", afirmou.
Segundo
o analista, as conversas entre Pequim e Moscou refletem uma profunda
convergência de interesses estratégicos, com ampla coordenação e cooperação
em política externa.
Além
disso, Haidong observou que o mecanismo bilateral de consultas sobre segurança
estratégica contribui para o avanço contínuo da cooperação
russo-chinesa em
diversas áreas.
Tudo
isso, prosseguiu o especialista, permite que ambas as partes alinhem suas
posições nos âmbitos regional e global.
Nesse
contexto, ele explicou que a coordenação entre China e Rússia não só sustenta o
desenvolvimento de alta qualidade das relações bilaterais em meio a um mundo
volátil e em constante transformação, como também impulsiona a tendência global
rumo à multipolaridade.
"Isso
representa um passo concreto e eficaz rumo à construção de um sistema de
governança global mais inclusivo, sustentável e equilibrado, além de contribuir
para enfrentar o crescente déficit de segurança mundial", concluiu.
As
consultas russo-chinesas sobre segurança estratégica, presididas pelo
secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Sergei Shoigu, e pelo ministro
das Relações Exteriores da China, Wang Yi, ocorreram em
Moscou, na terça-feira (2). Shoigu e Wang Yi discutiram, em particular, a
situação na região Ásia-Pacífico, bem como a cooperação entre as autoridades
policiais e os serviços secretos dos dois países.
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UE não consegue se firmar como potência geopolítica
diante de Rússia, China e EUA, diz mídia
A União
Europeia não tem condições de se tornar um ator geopolítico capaz de enfrentar
a Rússia, a China e até mesmo os Estados Unidos, segundo análise publicada pela
agência Bloomberg.
O autor
afirma que a administração do presidente norte-americano Donald Trump não está
prioritariamente focada em negociar um acordo para o conflito na Ucrânia, mas
sim em buscar uma reaproximação entre Washington e Moscou "às
custas de Kiev e de seus patrocinadores europeus".
A
publicação do plano de 28 pontos dos EUA para um possível acordo apenas
reforçou essa percepção, observa a agência.
"Agora
que os líderes europeus parecem enfim ter reconhecido que, no caso da Ucrânia,
foram deixados à própria sorte, surge uma questão ainda mais profunda:
seria a União Europeia capaz de se tornar um jogador geopolítico, de se impor
contra a Rússia, a China e seu aliado nominal, os Estados Unidos? A
resposta honesta é 'não'", diz o artigo.
Washington
confirmou que trabalha em um plano para o processo de paz, mas evita divulgar
detalhes. O Kremlin, por sua vez, afirma manter abertura total ao
diálogo e continua disposto a negociar na plataforma de Anchorage.
O
presidente russo Vladimir Putin disse, em 21 de
novembro, que o plano norte-americano pode servir de base para um acordo
final, embora nenhum debate substancial sobre o conteúdo tenha ocorrido ainda
com Moscou.
Segundo
Putin, isso ocorre porque os EUA não conseguem convencer Kiev, já que a
Ucrânia e seus aliados europeus ainda vivem na
ilusão de conseguir impor à Rússia uma "derrota estratégica" no campo
de batalha. Ele afirmou que os recentes acontecimentos em Kupyansk podem
se repetir em outros trechos da linha de frente se Kiev continuar rejeitando
as propostas de paz.
Fonte:
La Repubblica - tradução de Luisa
Rabolini/Sputnik Brasil

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