Valério
Arcary: A esquerda radical deveria apoiar Lula desde o primeiro turno. Por quê?
A
esquerda radical deveria apoiar Lula desde o primeiro turno em 2026. O PSol é o
maior partido anticapitalista e deve fazê-lo, repetindo a tática eleitoral de
2022, embora a decisão ainda não tenha sido, formalmente, aprovada. Diferente
de 2022, quando a decisão de renunciar à apresentação de candidatura, pela
primeira vez desde a fundação foi, intensamente, polêmica, o mais provável é
que a discussão provoque uma controvérsia menor. O PSol não considera a sua
autoconstrução o primeiro critério de definição da tática eleitoral, e avalia
que será mais útil construindo uma Frente de Esquerda com o PT para abrir
caminho de uma situação política mais favorável.
O PSol
deverá, evidentemente, defender o seu próprio programa. Apoiar Lula não é o
mesmo que silenciar a crítica. O PSol não apoiou e não defenderá o arcabouço
fiscal, porque não concorda nem com o fiscalismo. O PSol não apoiou e nem
defenderá o quietismo diante da chantagem da maioria reacionária no Congresso
reacionário, inimigo do povo. O PSol não apoiou e nem defenderá a exploração de
petróleo na Foz do Amazonas, só para citar três exemplos. Mas o PSol compreende
que o desafio central de 2026, em uma situação em que a relação social de
forças permanece, infelizmente, defensiva, é impedir o retorno ao poder em
Brasília do movimento de extrema-direita que elegeu os três governadores do
triângulo estratégico do Sudeste – Tarcísio em São Paulo, Zema em Minas Gerais,
e Castro no Rio de Janeiro – além de uma maioria reacionária na Câmara de
Deputados.
A
esquerda revolucionária está muito fragmentada e, muito provavelmente, deverá
se dispersar em diferentes candidaturas à presidência. Três partidos – PSTU,
Unidade Popular e PCB – estão legalizados, e já o fizeram em 2022 através de
Vera Lúcia, Leo Péricles e Sofia Manzano. O desempenho foi muito modesto, seja
na audiência da base social da esquerda durante a campanha, seja nas votações.
Até agora não parece haver qualquer articulação para sequer tentar uma
aproximação mútua. Outras organizações sem registro legal e em diferentes
estágios de construção escolheram o campo de oposição de esquerda ao governo
Lula, diferente do PSol que decidiu pela independência. A oportunidade de
apresentar candidaturas próprias é, evidentemente, um direito legítimo, e obedece
ao cálculo de defender um programa próprio e projetar lideranças aproveitando o
momento de visibilidade nacional. Mas a opção de repetir em 2026 o que foi
feito quatro anos atrás deveria impor uma avaliação do que foi feito nas
eleições de 2022. Um coração rebelde tem pressa de mudar o mundo. A força da
vontade pode muito. Mas o voluntarismo não é bom conselheiro. Ideias
revolucionárias são poderosas e podem colocar em movimento milhões de pessoas
até então desesperançadas. Mas é imprudente desconhecer a impiedosa força da
realidade objetiva.
A
apresentação de candidatos próprios não deveria ser um imperativo estratégico,
mas uma opção tática. O PSol e até algumas das correntes históricas da esquerda
petista, como a Articulação de Esquerda, a Democracia Socialista e O Trabalho,
embora no interior do PT, defendem, também, um balanço crítico do mandato de
Lula, com maior ou menor severidade. Mas isso não é o bastante para concluir
que não se deveria apoiar Lula. Apresentar candidaturas no primeiro turno só
faz sentido se for para criticar o governo Lula. Existem razões justas para
fazer essas críticas, mas elas devem ser apresentadas no interior do campo de
defesa do governo Lula contra a extrema-direita, não exterior. O argumento de
que é possível e seria mais eficaz a delimitação contra Lula pela esquerda, sem
prejudicar a luta contra o neofascismo, é uma teimosia ingênua. A aposta no
“antipetismo pela esquerda” já foi testada e condenada à invisibilidade. O
único argumento sério para candidaturas no primeiro turno contra Lula é a
autoconstrução, mas em nível molecular. A explicação deste desfecho repousa em
três fatores objetivos e subjetivos: (a) o espaço de oposição ao lulismo foi
ocupado, não só nas camadas médias, mas, também, em estratos remediados da
classe trabalhadora, nos últimos dez anos pelo bolsonarismo, por variadas
razões, mas de forma, inexorável; (b) a experiência das maioria da classe
trabalhadora e do povo oprimido com os limites do lulismo, que tinha avançado
até 2013, depois refluiu, drasticamente, e permanece muito incompleta; (c) a
tentativa de explorar um espaço de “terceira via” foi testado, em especial
pelas candidaturas de Ciro Gomes, mas não só, pela esquerda e pela direita do
lulismo, e fracassou, porque a polarização eleitoral responde a uma polarização
social real.
A
principal razão para apoiar Lula, embora não seja a única, é que a esquerda
radical deve agir com responsabilidade. O neofascismo de Trump, Milei, Kast é o
movimento mais dinâmico de representação da classe dominante na atual etapa e
seu retorno ao poder é a maior ameaça aos trabalhadores. Não é possível
derrotar a extrema-direita sem Lula. Não há palavra de ordem mágica, não há
“frase revolucionária”, não há “ação exemplar” que possa ser um atalho na
experiência de milhões. Sem uma aliança, que deve preservar a independência da
esquerda radical diante da moderação reformista do PT, não é possível sequer
ser ouvidos pelas amplas massas. As margens de risco da eleição presidencial
permanecem muito elevadas porque, embora as condições objetivas e subjetivas
tenham evoluído favoravelmente, diante de um provável segundo turno, a
incerteza é grande. Por quê? Existem, sumariamente, cinco fatores a serem
considerados: (a) porque as mudanças na vida das massas populares foram somente
quantitativas, não qualitativas; (b) porque a economia não é tudo, a disputa é
sobre valores e visão de mundo que definem o sentido da vida; (c) porque Trump
está no poder, engajado em ofensiva sobre a América Latina, e vai interferir;
(d) porque as campanhas em defesa da “bukelização” têm audiência como
confirmamos após a operação nas comunidades no Rio de Janeiro; (e) porque
devemos aprender com as derrotas na Bolívia, Equador, Argentina e,
provavelmente, Chile. Não fosse isso o bastante, há que considerar que serão
eleições gerais e, se Lula tem uma autoridade que vai além da esquerda, nas
eleições para governador e senadores as dificuldades serão muito maiores, em
especial no Sudeste, Sul, Norte e Centro-Oeste, e as eleições para deputados
são muito mais personalizadas e despolitizadas.
Existem
cinco boas razões para apostar na reeleição de Lula: (a) a redução do
desemprego, apesar do desaquecimento, a redução da inflação, apesar da
previsível queda das exportações para os EUA, o aumento do consumo popular,
apesar das taxas de juro reais mais altas do mundo, a redução da pobreza
extrema e, não menos importante, a isenção do imposto de renda para quem ganha
até cinco mil reais, são cinco processos positivos ao final do mandato; (c) o
giro à esquerda do governo após a derrota da votação do aumento do IOF, mesmo
se limitado a respostas atrasadas diante da PEC da Blindagem e da aprovação da
Anistia na Câmara de Deputados, favoreceu a maior mobilização de massas desde
2022 no dia 21 de setembro, incidindo na relação política de forças; (d) a evolução
das pesquisas de opinião sinalizam um aumento da aprovação do governo a partir
de meados do ano de 2025, apesar de oscilações recentes; (e) o desfecho do
julgamento dos golpistas com a condenação de Bolsonaro e do seu núcleo duro de
generais produziu um enfraquecimento da extrema-direita, e confusão na
articulação de uma unidade da oposição.
Lula
deve vencer. Esse deve ser nosso compromisso. Mas está colocada no horizonte do
pós-2026, também, uma disputa em função da previsível crise do ciclo lulista, o
que não é o mesmo que o seu fim. Grosso modo podemos considerar quatro
hipóteses. Três regressivas e uma progressiva; (a) a ala direita do PT racha
contra o núcleo central lulista, liderada por Quaquá ou outros, como aconteceu
com o giro do PSD contra o PTB de Brizola ao fim do ciclo varguista; (b) o PT
não racha como aconteceu com o peronismo n Argentina, mas mergulha em
decadência como no pós-kirchnerismo; (c) o PT desagrega como foi o destino do
PCB após a ascensão do PT nos anos oitenta;
(d) a ala esquerda do PT racha, com fez Mariguella ao fim do ciclo do
PCB, após a revolução cubana. O que é certo é que o amanhã da esquerda
brasileira começa hoje.
• Mídia liberal inicia ataque orquestrado
a Lula mentindo e distorcendo dados da economia
Em meio
à guerra na ultradireita bolsonarista, que balança a candidatura Tarcísio Gomes
de Freitas (Republicanos) pela chamada terceira via - consórcio que une Centrão
e Faria Lima aos oligarcas dos veículos de comunicação - e o avanço das
investigações da Polícia Federal (PF) sobre o elo da direita com facções
criminosas como o CV e o PCC, a mídia liberal deu início a um ataque
orquestrado ao governo Lula mentindo e distorcendo dados da economia, um dos
principais trunfos que deve ser usado pelo petista na tentativa de se reeleger
ao quarto mandato em 2026.
A ação
orquestrada foi desencadeada pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (4) e
ecoada por praticamente todos os veículos - de Globo a CNN - da mídia liberal.
Citando
dados "compilados pela agência de classificação de risco Austin Rating a
partir das projeções feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)" de
outubro, o jornal da família Frias estampou a manchete dizendo que "Brasil
é ultrapassado pela Rússia e deixa ranking das 10 maiores economias do
mundo".
"Barriga
da Folha. Baseou-se na comparação dos PIBs convertidos em dólares a taxa de
câmbio correntes. Por esse critério um país que experimenta uma grande
valorização em relação ao dólar registra um crescimento espetacular do
PIB", afirmou o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, que foi diretor
executivo pelo Brasil e outros países no FMI e vice-presidente do Novo Banco de
Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017.
Segundo
o economista, que é colunista desta Fórum, "pelo critério mais correto de
comparação, que pode se baseia em PIBs calculados por paridade de poder de
compra, o Brasil continua a ser a oitava economia do mundo. A Rússia é a quarta
ou quinta".
O
"compilado" da Austin contrariam o próprio relatório World Economic
Outlook, que o FMI divulgou em outubro e detalha a chamada “corrida dos PIBs”
até 2030, último ano para o qual o organismo apresenta previsões.
Segundo
o estudo, a projeção é que o Brasil cresça 2,4% em 2025, superando a média da
América Latina e do Caribe - dado confirmado pelo Banco Mundial. Caso sejam
confirmadas as estimativas, o Brasil vai apresentar a 5ª maior expansão
econômica entre os membros do G20 neste ano.
O FMI
lista como um dos principais fatores que influenciam o bom momento da economia
brasileira, mesmo dia de riscos globais com a guerra tarifária desencadeada por
Donald Trump, o aumento do consumo interno devido à taxa de desemprego, de
5,4%, o que coloca o país em uma situação de pleno emprego. O Fundo ainda cita
as exportações do agronegócio, o investimento interno e as reservas cambiais -
que funcionam como um "colchão" contra choques externos - como
trunfos econômicos do Brasil.
O que a
Folha - e os cúmplices da mídia liberal - esquecem de dizer é que a Austin
Rating, única agência brasileira de classificação de risco, tem origem em uma
empresa de consultoria financeira e, após briga judicial entre sócios que se
acusavam de fraude, se envolveu em um movimento especulativo para beneficiar
seu fundador e atual CEO Erivelto Rodrigues.
Em
2012, a Austin Rating classificava o Banco BVA como uma instituição de
"baixo risco" até dois meses antes da intervenção do Banco Central.
Posteriormente, foi descoberto que o BVA mantinha negócios em sociedade com
Rodrigues.
Responsável
pelo ranking, a Austin tem como economista-chefe, responsável por análises e
metodologia da agência, Alex Agostini, que recentemente atacou o fim da escala
6x1, classificando como "medida populista", que "mantém a
economia limitada em seu crescimento e aumenta a vulnerabilidade fiscal".
Lembrando
as previsões de "especialistas" sobre o fim da escravidão e o
pagamento do 13º salário - que quebrariam a economia - Agostini afirmou que a
redução da jornada de trabalho pode resultar em uma perda de 1,2 milhão de
empregos e reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A análise,
obviamente, ganhou grande repercussão na mídia liberal.
<><>
Veja distorce
Após a
"barrigada" - jargão jornalístico para fake news ou notícia com erros
crassos - da Folha, a revista Veja estampa em sua capa "o mito do pleno
emprego", apontando supostos erros na contabilização do índice histórico
do desemprego, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o
IBGE, festejado pelo presidente Lula que, segundo a publicação, estaria
"ávido por boas notícias que impulsionem sua popularidade e suas chances
de reeleição em 2026".
Sem
dados para contestar, a publicação primeiramente recorre a uma máxima de
Roberto Campos, ministro de Planejamento da Ditadura e avô de Roberto Campos
Neto, alçado à Presidência do Banco Central por Jair Bolsonaro (PL) e um dos
artífices das armadilhas fiscais que beneficiam especuladores e agentes do
sistema financeiro: “as estatísticas são como biquíni: o que revelam é
interessante, mas o que ocultam é essencial”.
Em
seguida, a publicação porta-voz da Faria Lima convoca o José Pastore, um dos
maiores especialistas brasileiros no tema para atacar a metodologia usada pelo
IBGE, mesmo reconhecendo que a autarquia "segue padrões mundiais
estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho".
O que a
Veja não diz é que em 2001, Pastore se tornou "consultor informal" de
Francisco Dornelles, então ministro do Trabalho do governo Fernando Henrique
Cardoso, na tentativa de "flexibilizar o artigo 7º, que trata dos direitos
dos trabalhadores - entre eles férias, 13º, FGTS e licença-maternidade",
segundo reportagem da Folha de S.Paulo à época.
Com
Lula colecionando, mais uma vez, números positivos na economia e colocando o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como porta-voz, a mídia liberal liga o
modo pânico e passa a usar o histórico "terrorismo econômico" contra
governos progressistas para antecipar a disputa eleitoral, que pode levar o
presidente a seu quarto mandato na Presidência da República.
Fonte:
A Terra é Redonda/Fórum

Nenhum comentário:
Postar um comentário