sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Barreiras a ações contra o Credcesta mostram influência do Banco Master no TJ-BA

As dificuldades em levar adiante ações que pedem o cancelamento dos contratos de empréstimos consignados do Credcesta para servidores do governo do estado foram apontadas por integrantes da Operação Compliance Zero como indícios da forte influência que os donos do Banco Master possuem junto ao Tribunal de Justiça da Bahia (TJ). Mais precisamente o mineiro Daniel Vorcaro e o baiano Augusto Ferreira Lima, o Guga Lima, ambos presos no último dia 17 e soltos na sexta-feira passada (28), em decisão do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1) contestada pelo Ministério Público Federal (MPF).

<><> Me inclua fora dessa!

Fontes com acesso a detalhes da investigação citam como exemplo dessa influência o andamento de uma ação de 2023 na qual a Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia (Afpeb) pede o cancelamento de todos os contratos de empréstimos consignados já firmados pelo Credcesta, tido como o filé do Banco Master, a proibição de novos contratos e a suspensão de descontos em folha de pagamentos até que a Justiça julgue o caso em definitivo.  

<><> Passa e repassa

Apesar da vitória da Afpeb na primeira instância, o Master recorreu e conseguiu anular a decisão favorável aos servidores do estado, muitos deles afundados em dívidas decorrentes de juros extorsivos. De lá para cá, dois desembargadores já se declararam suspeitos - Lisbete Maria Teixeira Almeida Cézar Santos e Josevando Sousa Andrade. O processo está agora sob relatoria do desembargador José Jorge Lopes Barretto.

<><> Batata quente

Em 13 de novembro de 2023, foi a vez da promotora de justiça Joseane Suzart Lopes da Silva, considerada uma das principais referências do Ministério Público do Estado (MP) em questões ligadas às relações de consumo, pedir afastamento do caso ao também se declarar suspeita por "razões de foro íntimo".

<><> Para recordar

Conforme revelou a Metropolítica, a associação dos servidores moveu uma ação direta de inconstitucionalidade contra o Credcesta, na qual acusa o Banco Master de fraudes massivas em consignados operados pela instituição. Entre os quais, descontos indevidos sobre empréstimos não solicitados e compras inexistentes.

<><> Olho gordo

Como em matéria de dinheiro não existe vácuo, assim como na política, não é pequeno o número de interessados em uma decisão judicial favorável ao emparedamento dos consignados do Credcesta junto aos servidores do estado e de aproximadamente 40 prefeituras baianas, incluindo a de Salvador. É o caso do megabanqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual e classificado como um dos maiores tubarões do mercado financeiro.

<><> Cheiro de malandragem

Investigadores da Operação Compliance Zero, deflagrada pela PF no último dia 17 para apurar crimes contra o sistema financeiro praticados pelo Banco Master, detectaram um crescimento substancial de transações com indícios de fraude em empréstimos consignados para servidores do estado e de pelo menos 40 prefeituras da Bahia, realizadas pelo Credcesta desde o fim de  2024.

<><> Fermento na massa

Segundo fontes com acesso a detalhes da ofensiva contra o banco e seus dois principais sócios - o mineiro Daniel Vorcaro e o baiano Augusto Lima, libertados na sexta (28) após 11 dias na prisão -, a suspeita é de que o Master fez milhares de descontos nos contracheques de servidores públicos relativos a empréstimos não solicitados e compras inexistentes pelo Credcesta, com um só objetivo: inflar o balanço de ativos do Master e facilitar sua venda para o Banco Regional de Brasília (BRB),  negócio que acabou barrado Banco Central.

 Associação de servidores da Bahia denuncia fraudes em consignados do Banco Master

Em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ) segunda-feira passada (24), a Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia (Afpeb) denuncia uma série de fraudes em empréstimos consignados concedidos aos servidores estaduais pelo cartão Credcesta, que até este ano era o principal braço de negócios do Banco Master. No processo, a Afpeb pede a anulação dos decretos que garantiram ao Master a exclusividade sobre os contratos de consignados com a categoria, baixados em 2018 e 2022 pelo então governador Rui Costa (PT), e a suspensão dos descontos em folha até o julgamento final da ação pela corte.

<><> Batom na gola

A ofensiva jurídica da associação dos servidores contra o Credcesta é baseada em dezenas de documentos e contracheques de 20 funcionários públicos estaduais com indícios de fraude e descontos ilegais. De acordo com a Afpeb, a partir de 2019, quando assumiu o controle dos consignados do estado como herança da privatização da Ebal (leia-se Cesta do Povo), o "Banco Master passou a realizar ofertas maciças de crédito via Credcesta, incluindo ligações telefônicas insistentes e abordagens agressivas para contratação de empréstimos"  e que foram constatados inúmeros "casos de descontos em folha efetuados sem a devida autorização dos servidores".

<><> Além da conta

Em conversa com a coluna, o advogado da associação, Jorge Falcão Rios, disse que, além dos descontos ilegais, há indícios claros de  cobrança de taxas de juros extorsivas, com encargos que, em alguns contratos, ultrapassaram 100% ao ano. "Essas condutas abusivas, incluindo cobranças por compras no cartão que não foram de fato efetuadas pelo beneficiário, endividaram severamente inúmeros funcionários públicos, que viram grande parte de seus vencimentos ser consumida pelo pagamento de dívidas do Credcesta", acrescentou Rios.

<><> Ecos do passado

Na ação ao TJ, distribuída para a desembargadora Gardênia Pereira Duarte, Jorge Rios acrescentou ainda decisões judiciais de primeira instância que comprovaram fraudes nos consignados operados pelo Banco Master - cujos fundadores, o mineiro Daniel Vorcaro e o baiano Augusto Lima, o Guga, foram presos pela Polícia Federal no último dia 17 por suspeita de cometer crimes contra o sistema financeiro, investigados pela Operação Compliance Zero. Entre os casos, está o de uma servidora que, ano passado, teve descontos de cerca de R$ 800 por uma compra realizada na loja online da Apple por um cartão emitido em seu nome sem autorização.

<><> Sem perdão

"No caso, não vislumbro a hipótese de engano justificável, uma vez que não houve qualquer prova de que a autora (a servidora) tenha solicitado ou contratado o cartão de crédito em questão. Ademais, as características das transações contestadas evidenciam a ocorrência de fraude, situação na qual a instituição financeira deve ser responsabilizada, conforme entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça", destacou a juíza Livia de Melo Barbosa, da 1ª vara dos Juizados Especiais do Consumidor da Capital, em decisão que condenou o Banco Master a indenizar a servidora por danos morais e materiais.

<><> Fio da meada

Fora os pepinos com a Polícia Federal decorrentes de operações fraudulentas bilionárias, a história do Banco Master com os empréstimos consignados para servidores do governo estadual e de pelo menos 40 prefeituras baianas,  incluindo a de Salvador, é um rocambole recheado de pontos obscuros. Em 2018, a Ebal, dona do Credcesta, foi privatizada e arrematada em leilão pela NGV Participações e Empreendimentos, comandada pelo empresário Joel Feldman.

<><> Passa e repassa

Cerca de um ano depois, o negócio foi transferido para o Banco Máxima, antigo nome do Master. Em meio às suspeitas sobre fraudes na instituição financeira, Guga Lima rompeu a sociedade com Daniel Vorcaro no fim de 2024 e levou com ele os contratos de consignados  com o funcionalismo público, agora sob gestão do recém-fundado Banco Pleno.

<><> Alerta amarelo

"Esse quadro revela não apenas a quebra da confiança na instituição, mas também um elevado risco de lesão a milhares de consumidores que contrataram seus serviços - como é o caso dos servidores públicos que contraíram empréstimos consignados vinculados ao programa Credcesta", ressaltou o advogado Joel Falcão Rios, na ação movida junto ao Tribunal de Justiça.

 

Fonte: Metro 1

 

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