sábado, 21 de junho de 2025

Estudo comprova que usar celular demais pode causar transtorno psiquiátrico

Um estudo comprovou o que já era suspeita: o uso excessivo do celular pode desencadear quadros de ansiedade, principalmente entre mulheres jovens. A pesquisa, feita pela Associação Europeia de Psiquiatria e apresentada no Congresso Europeu de Psiquiatria em abril deste ano, revelou que o gênero está diretamente ligado ao tempo de exposição às telas e aos impactos negativos sobre a saúde mental.

Em um mundo cada vez mais cheio de telas, o celular se tornou um companheiro constante: está presente ao acordar, antes de dormir, nas refeições e até no banheiro. Embora qualquer pessoa esteja sujeita a desenvolver ansiedade por uso excessivo de telas, a pesquisa indica que mulheres jovens são as mais afetadas.

Segundo a neurocientista e psicanalista Ana Chaves, o problema está ligado às pressões sociais que recaem com mais força sobre as mulheres. “Existe um histórico em que a expectativa é sempre colocada em cima da mulher, como se ela tivesse que dar conta de tudo. Isso cria uma necessidade de comparação, que é ainda mais intensificada com as redes sociais, em que as pessoas aparentam terem vidas perfeitas”, explica Ana.

A especialista lembra que o conteúdo publicado nas redes não representa a totalidade da vida real. “É apenas o que as pessoas desejam mostrar.”

A pesquisa analisou os comportamentos de 400 jovens adultos, incluindo 104 homens, 293 mulheres e três pessoas de outro gênero. O levantamento mostrou que as mulheres são o grupo mais vulnerável aos efeitos negativos do tempo excessivo de tela.

Entre os motivos, os pesquisadores apontam:

-Pressões sociais relacionadas à aparência

-Comparação social constante

-Maior sensibilidade emocional

-Necessidade de conectividade digital

<><> Como reduzir o impacto do uso do celular

Ana Chaves destaca que a sobrecarga de informações do dia a dia afeta diretamente a capacidade de concentração. “Entre reuniões, mensagens instantâneas e redes sociais, é fácil se sentir perdido. Mas a neurociência vem ganhando destaque ao oferecer dicas eficazes para melhorar nosso foco”, afirma.

Entre as estratégias recomendadas pela neurocientista estão:

-Praticar atividades ao ar livre

-Socializar presencialmente

-Fazer intervalos durante o dia

* Manter uma boa qualidade de sono

Também é importante estabelecer momentos específicos para uso do celular e buscar hobbies que não envolvam telas.

•        Estudo alerta sobre riscos do excesso digital e suicídio entre adolescentes

Um recente relatório do grupo de defesa dos direitos da criança KidsRight revelou recentemente que o uso excessivo das redes sociais alimenta o problema de saúde mental entre crianças e adolescentes.

De acordo com o estudo, publicado no dia 11 de junho, uma em cada sete crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos sofre com algum desafio relacionamento à saúde mental. A pesquisa foi feita pelo grupo, com sede em Amsterdã, e pela Universidade Erasmus de Roterdã.

Em um comunicado, o fundador e presidente da KidsRights, Marc Dullaert, afirmou que "o relatório deste ano é um alerta que não podemos mais ignorar".

Ainda segundo ele, a crise de saúde mental entre crianças e adolescentes atingiu um "ponto crítico, exacerbado pela expansão descontrolada de plataformas de mídia social que priorizam o engajamento em detrimento da segurança infantil".

O estudo também analisou a correlação entre o uso excessivo das redes sociais e a taxa de suicídios entre adolescentes de 15 a 19 anos, que é de 6 por 100.000, citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Estamos testemunhando governos lutando para conter uma crise digital que está remodelando fundamentalmente a infância”, continuou Dullaert.

Segundo o fundador do grupo de defesa dos direitos da criança, “precisamos de ações concretas para garantir que a revolução digital sirva para melhorar, e não colocar em risco, o bem-estar dos 2,2 bilhões de crianças do mundo. O tempo das meias-medidas acabou.”

•        O uso excessivo de telas desenvolve deficiências mentais e intelectuais em crianças

Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que 72% das crianças avaliadas tiveram o aumento da depressão associado ao uso de telas. A pesquisa também apontou a diminuição do quociente de inteligência (QI) pelo uso exagerado de telas entre as crianças. A psicóloga Giovanna Antunes Botazzo Delbem, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, afirma que o uso excessivo de celulares, computadores e videogames pode causar problemas para a saúde mental e desenvolver deficiências mentais e intelectuais em crianças: “Principalmente no desenvolvimento de depressão, ansiedade e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)”.

 “Existem estudos que começam a relacionar a radiação do dispositivo e como influencia até mesmo durante a gravidez. Depois que a criança nasce, nós percebemos que o uso excessivo de telas atrapalha na interação entre as crianças e os seus cuidadores, além da hiperestimulação a partir das luzes da tela e dos desenhos na televisão que podem comprometer outras atividades”, diz a especialista.

Segundo a psicóloga, o uso de tecnologias na pandemia trouxe benefícios para a aprendizagem e educação, mas o uso exagerado das telas fez com que os transtornos mentais aumentassem. “Na pandemia tivemos as aulas on-line e a superexposição pode ter sido uma das causas para o desenvolvimento de transtornos mentais. O excesso prejudica a memória, criatividade, capacidade de resolução de problemas e o desenvolvimento da linguagem, pois há uma diminuição da quantidade e qualidade das interações com os cuidadores. As crianças falam menos com as pessoas e acabam demorando mais para aprender a falar, podendo gerar déficits, deficiência mental e intelectual e transtornos mentais.”

Por isso, Giovanna diz que existe uma recomendação do tempo ideal para o uso de telas por dia. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que crianças até 2 anos de idade não tenham nenhuma exposição a telas, de 2 a 5 anos, as telas podem ser usadas no máximo 1h por dia, de 6 a 10 anos, de 1h a 2h por dia e de 11 a 18 anos, 3h por dia. Nós pensamos, inclusive, nos adolescentes, pois muitas das interações sociais hoje em dia acontecem através das telas.”

>>>> Cuidados

Os pais precisam ficar atentos pois há alguns sinais como a diminuição das práticas físicas, obesidade, alterações no sono, isolamento social, queda de memória e no desempenho acadêmico que podem indicar o uso em excesso dos dispositivos eletrônicos, aponta Giovanna. “É importante estarem atentos até para o motivo dessa utilização, será que é para escapar de alguma emoção desconfortável ou ter uma recompensa fácil de dopamina? O uso excessivo também faz com que as crianças sejam menos tolerantes à frustração, por isso temos que impor limites.”

A psicóloga diz que proibir nunca é o melhor caminho, mas é necessário criar estratégias para limitar o uso e prevenir problemas para a saúde das crianças. “Precisamos mostrar que dizer não também é uma forma de cuidado. Ter momentos de socialização e brincadeiras com as crianças que não envolvam as telas é importante. Inclusive, pensando dos dois lados, para os pais também se desconectarem das telas e passarem mais tempo com seus filhos.”

 

Fonte: Correio/CNN Brasil/Jornal da USP

 

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