quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Trump sugere 'postura menos escandalosa e mais focada em negociação' na América Latina, diz analista

O segundo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos começou oficialmente com um discurso que, marcado por seus conhecidos slogans e propostas, revela uma postura inclinada a um pragmatismo mais calculista, disse à Sputnik o sociólogo e analista político venezuelano Ángel González.

"Trump é um mestre da mídia, um mestre do discurso", disse González sobre o novo presidente, que assumiu o cargo para um novo mandato como presidente dos Estados Unidos na segunda-feira (20).

O discurso de posse de Trump, no qual ele anunciou a declaração de emergência nacional na fronteira sul e sua intenção de revitalizar a indústria de hidrocarbonetos, oferece pistas sobre as prioridades deste novo período. Para González, esse pragmatismo também se reflete na maneira como Trump aprendeu com suas experiências passadas.

Um dos aspectos mais marcantes do discurso de posse foi a referência à retomada do controle sobre recursos essenciais e à reafirmação da soberania norte-americana em diversas frentes. Segundo González, esse tipo de declaração é consistente com a visão expansionista de Trump.

"A proposta de recuperação do canal do Panamá, assim como seus comentários sobre a Groenlândia ou a possibilidade do Canadá se tornar o 51º estado, faz parte de uma estratégia discursiva que busca projetar uma ascensão dos Estados Unidos. É uma narrativa geopolítica", explicou.

Trump, diz González, usa essas ideias para consolidar seu apoio entre seus apoiadores mais leais, apelando ao populismo como uma ferramenta fundamental para manter seu apoio político.

"É uma estratégia circular: polarizar, galvanizar suas bases e garantir seu apoio constante. No caso do Panamá, seu objetivo final poderia ser uma renegociação favorável das tarifas do canal. Se conseguir esse acordo, o discurso expansionista perde força porque alcançaria seu objetivo sem a necessidade de medidas extremas", acrescentou.

Confronto e pragmatismo

O especialista também aborda a postura de Trump em relação à América Latina, região que esteve amplamente ausente do discurso de posse, exceto por menções indiretas. Para o sociólogo, isso é um sintoma de uma abordagem pragmática, principalmente em relação a Venezuela, Cuba e Nicarágua.

"Isso indica que Trump pode optar por uma postura menos escandalosa e mais focada em negociação. Não veremos discursos sobre invasões ou ameaças diretas, mas sim tentativas de usar alavancas para torcer o braço do governo venezuelano e seus aliados", afirmou o analista, ressaltando que "os republicanos ainda não entendem a configuração do poder político e social na Venezuela".

O relacionamento de Trump com outros países latino-americanos também será marcado pela busca de objetivos específicos. González destacou três eixos principais: México, Brasil e Argentina.

No caso do México, prevê um relacionamento distante, mas cortês, semelhante ao que teve com Andrés Manuel López Obrador, embora com possíveis tensões se Claudia Sheinbaum for percebida como uma figura mais fraca.

Quanto ao Brasil, González espera um diálogo diplomático com Lula, embora sem a proximidade que Trump teve com Jair Bolsonaro. Por outro lado, a aliança com Javier Milei na Argentina pode servir mais como um gesto político do que como uma parceria de peso real, dada a fragilidade econômica daquela nação.

Um dos pontos centrais do discurso de Trump foi sua posição sobre migração. Embora a declaração de emergência na fronteira sul tenha sido anunciada, González acredita que essa abordagem será principalmente para encenação.

"Trump vai criar um espetáculo midiático com essa emergência, mas, na prática, ele terá que negociar com o México para implementar soluções sustentáveis. O que pode acontecer é a assinatura de ordens executivas que aumentem a perseguição de imigrantes dentro dos Estados Unidos, criando um clima de terror e possível convulsão social", alertou.

Ángel González concluiu dizendo que o discurso de posse de Trump deixa claro que, embora o tom possa parecer menos estridente, as prioridades geopolíticas e econômicas continuarão focadas na consolidação do poder norte-americano tanto internamente quanto no exterior. Um período de pragmatismo calculado, marcado por sua capacidade de polarizar e negociar a partir de uma posição de força.

'Precisam de nós mais do que precisamos deles', diz Trump sobre Brasil e América Latina

O presidente dos EUA, Donald Trump, ao ser perguntado sobre como seria a relação com Brasil e América Latina, respondeu que será positiva, mas ressaltou dependência maior "deles".

"A relação é excelente. Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós", disse o presidente em resposta à pergunta feita por jornalista da TV Globo.

Trump tomou posse como o 47º presidente dos Estados Unidos nesta segunda-feira (20), em cerimônia que ocorreu em Washington. No discurso, ele enfatizou que a "era dourada começa agora" no país.

presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva afirmou torcer por uma "gestão profícua" do novo presidente dos Estados Unidos.

"Tem gente que fala que a eleição do Trump pode causar problema na democracia mundial. O Trump foi eleito para governar os EUA e eu, como presidente do Brasil, torço para que ele faça uma gestão profícua para que o povo americano melhore e para que os americanos continuem a ser o parceiro histórico que é, do Brasil, porque da nossa parte, não queremos briga. Nem com a Venezuela, nem com os americanos, nem com a China, nem com a Índia e nem com a Rússia", afirmou o presidente.

¨      Trump pode mesmo acabar com nacionalidade americana automática para quem nasce nos EUA?

O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, disse que planeja acabar com a "cidadania por direito de nascença" — a cidadania americana automática concedida a qualquer pessoa nascida nos EUA.

Na segunda-feira, minutos após sua posse como presidente, ele assinou uma ordem executiva abordando a definição de cidadania por direito de nascença, embora os detalhes até agora não estejam claros.

A cidadania por direito de nascença está prevista na 14ª Emenda da Constituição dos EUA, que afirma que "todas as pessoas nascidas" nos Estados Unidos "são cidadãos dos Estados Unidos".

Embora Trump tenha prometido acabar com a prática, as tentativas enfrentariam obstáculos legais significativos. A entidade ativista American Civil Liberties Union e outros grupos processaram imediatamente o governo Trump por causa da ordem executiva.

<><> O que é 'cidadania por direito de nascença'?

A primeira frase da 14ª Emenda à Constituição dos EUA estabelece o princípio da "cidadania por direito de nascença":

"Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos e do Estado em que residem."

Os críticos da imigração argumentam que a política é um "grande ímã para imigração ilegal", e que encoraja mulheres grávidas sem documentos a cruzar a fronteira para dar à luz, um ato que tem sido pejorativamente chamado de "turismo de parto" ou "ter um bebê âncora".

<><> Como o direito começou?

A 14ª Emenda foi adotada em 1868, após o fim da Guerra Civil. A 13ª Emenda aboliu a escravidão em 1865. Já a 14ª resolveu a questão da cidadania de ex-escravos libertos nascidos nos Estados Unidos.

Decisões anteriores da Suprema Corte, como Dred Scott vs Sandford em 1857, decidiram que os afro-americanos nunca poderiam ser cidadãos dos EUA. A 14ª Emenda anulou isso.

Em 1898, a Suprema Corte dos EUA afirmou que a cidadania por direito de nascença se aplica aos filhos de imigrantes no caso de Wong Kim Ark vs Estados Unidos.

Wong, de 24 anos, era filho de imigrantes chineses que nasceu nos EUA, mas teve a entrada negada no país quando retornou de uma visita à China. Wong argumentou com sucesso que, por ter nascido nos EUA, o status de imigração de seus pais não afetou a aplicação da 14ª Emenda.

"Wong Kim Ark vs Estados Unidos afirmou que, independentemente da raça ou do status de imigração dos pais, todas as pessoas nascidas nos Estados Unidos tinham direito a todos os direitos que a cidadania oferecia", escreve Erika Lee, diretora do Immigration History Research Center da Universidade de Minnesota. "O tribunal não reexaminou essa questão desde então."

                                    <><> Trump pode anular isso?

A maioria dos estudiosos de direito concorda que o presidente Trump não pode acabar com a cidadania por direito de nascença com uma ordem executiva.

"Ele está fazendo algo que vai incomodar muitas pessoas, mas, no final das contas, isso será decidido pelos tribunais", disse Saikrishna Prakash, especialista constitucional e professor da Faculdade de Direito da Universidade da Virgínia. "Isso não é algo que ele pode decidir sozinho."

Prakash disse que, embora o presidente possa ordenar que funcionários de agências federais interpretem a cidadania de forma mais restrita — agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA, por exemplo — isso desencadearia contestações legais de qualquer pessoa cuja cidadania seja negada.

¨      Na fronteira do México, imigrantes choram após EUA cancelarem entrevistas de asilo

Nidia Montenegro fugiu da violência e da pobreza da Venezuela, sobreviveu a um sequestro enquanto viajava em direção ao México e chegou à cidade fronteiriça de Tijuana no domingo (20), para uma entrevista de asilo nos Estados Unidos. Com isso, ela finalmente se encontraria com o filho, que vive em Nova York. O agendamento, no entanto, foi cancelado.

Enquanto o presidente Donald Trump declarava uma emergência nacional na fronteira sul, imigrantes que aguardavam no México verificavam, ansiosos, o aplicativo do governo dos EUA conhecido como "CBP One" — usado para agendar pedidos de asilo.

Ao atualizar o aplicativo, uma mensagem apareceu: "Entrevistas existentes agendadas pelo CBP One não são mais válidas".

Um choque tomou conta do abrigo em Tijuana, a poucos metros da fronteira.

"Eu não acredito", disse Nidia Montenegro, de 52 anos, com lágrimas escorrendo pelo rosto. "Não, Deus, não."

As autoridades de fronteira dos EUA confirmaram que haviam desativado o aplicativo e cancelado todas as consultas existentes.

Nidia Montenegro está entre milhares de imigrantes que tiveram suas esperanças de chegar legalmente aos EUA destruídas de forma repentina a poucos dias de serem entrevistadas pelas autoridades americanas.

Ao redor dela, outros imigrantes choravam enquanto tentavam, repetidamente, carregar o aplicativo, com o desespero aumentando. Alguns receberam e-mails cancelando os agendamentos, outros simplesmente não conseguiram abrir o aplicativo.

A medida representa uma das primeiras mudanças trazidas pela administração Trump. O presidente prometeu durante a posse que vai enviar tropas à fronteira com o México, aumentar as deportações e designar cartéis criminosos como organizações terroristas estrangeiras.

A Reuters acompanhou a jornada de Nidia Montenegro por dois meses, desde a empolgação ao conseguir um agendamento para a quarta-feira, 22 de janeiro – apenas dois dias após Trump tomar posse – até a decepção com o cancelamento.

Em outras partes da fronteira, houve cenas semelhantes.

Em Ciudad Juarez, do lado oposto de El Paso, no Texas, vários migrantes com entrevistas agendadas pelo CBP One para esta segunda-feira receberam avisos de cancelamento.

“Acabou, eles eliminaram isso”, disse Margelis Tinoco, da Colômbia, que viajava com seu marido e filho. “Eles bloquearam”, disse ao filho de 13 anos. “Não há nada que possamos fazer.”

Em Piedras Negras, em frente a Eagle Pass, no Texas, imigrantes com agendamentos estavam sendo barrados. Eles seguravam mochilas e cobertores enquanto descansavam encostados em uma parede, tentando descobrir o que fazer a seguir. Alguns enviavam mensagens de voz emocionadas para suas famílias em casa.

Para Nidia Montenegro, é uma reviravolta devastadora. Ela chegou a Tijuana no domingo (19) cheia de otimismo e animada para se juntar ao filho de 24 anos em Nova York. Ela não vê o jovem há mais de um ano. “Hoje minha vida recomeça”, disse à Reuters naquele momento, cheia de sorrisos.

No ano passado, ela foi sequestrada junto com dois sobrinhos e dezenas de outras pessoas, incluindo crianças, no dia em que chegou ao sul do México. Dois dias depois, o grupo conseguiu escapar, mas ela carrega o trauma do incidente desde então.

Agora, ela não sabe o que fazer, presa em uma cidade estrangeira a milhares de quilômetros de casa e a poucos metros do país onde esperava começar uma nova vida.

Ainda em estado de choque, ela não consegue abandonar a esperança que carregava desde que seu agendamento foi confirmado. Mesmo ouvindo sobre outros que estão sendo barrados na fronteira, ela insiste: “Eu vou à minha entrevista”.

¨      Novos membros e parceiros: o que pode ser destacado na expansão do BRICS em 2025?

O ano de 2024 foi marcado pela adesão de novos membros do BRICS como membros plenos. Um total de quatro países se juntaram a Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, que formaram a espinha dorsal da associação por muitos anos. O ano de 2025 começou com uma tendência clara de continuidade do processo.

O BRICS agora tem dez membros plenos depois que a Indonésia se juntou oficialmente ao grupo em 6 de janeiro de 2025.

Atualmente, os países parceiros são Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia.

<><> O que a entrada da Indonésia traz para o BRICS?

A Indonésia é o quarto país mais populoso do mundo (com 281.562.465 de habitantes).

É a décima sexta maior economia do mundo em PIB nominal (produto interno bruto) e a oitava maior em paridade de poder de compra.

O país é um grande exportador de petróleo bruto e gás natural, bem como um grande fornecedor de borracha, café, cacau, óleo de palma, açúcar, chá, tabaco, copra e especiarias.

Segundo dados do Banco Mundial, seu PIB médio deverá crescer anualmente em 5,1% entre 2024 e 2026.

O grupo BRICS é uma associação interestatal criada em 2011. A Rússia assumiu a presidência rotativa da organização em 1º de janeiro de 2024, ano que começou com a entrada de novos membros: Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos.

Cúpula do BRICS de 2024, realizada na cidade russa de Kazan em outubro, definiu os critérios para novos membros e delineou planos para expandir o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento do BRICS, entre outras decisões.

<><> Conheça os novos Estados parceiros do BRICS

# Belarus: o aliado de segurança mais próximo da Rússia, localizado no coração da Europa.

# Bolívia: Estado que possui as maiores reservas de lítio do mundo.

# Cazaquistão: o nono maior país do mundo, com os portos de Aktau e Kurik no mar Cáspio.

# Cuba: um país rico em minerais como níquel e cobalto com uma posição estratégica no Caribe.

# Malásia: o país que oferece uma localização neutra e não alinhada para um grande centro de semicondutores por meio de sua Estratégia Nacional para os Semicondutores.

# Tailândia: Desempenha o papel de construir pontes de paz e colaboração com grupos regionais como a Associação das Nações do Sudeste Asiático, a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, o Diálogo de Cooperação Asiática e a Iniciativa da Baía de Bengala para Cooperação Técnica e Econômica Multissetorial.

# Uganda: o Estado que é estrategicamente crítico para o comércio e investimento regional na África Oriental.

# Uzbequistão: um país ativo em projetos como o Corredor Internacional de Trânsito Norte-Sul, que conecta portos russos aos iranianos.

# Nigéria: a maior economia da África, o PIB deve crescer 3,6% ao ano em 2025-2026, de acordo com o Banco Mundial.

¨      Sob a gestão de Trump, EUA designarão cartéis do narcotráfico como organizações terroristas

Medida foi anunciada por Trump em discurso de posse e confirmada em comunicado da Casa Branca; mudança permite aos EUA usar a jurisdição extraterritorial para processar e combater criminosos envolvidos com cartéis.

O novo presidente dos EUA, Donald Trump, designará cartéis do narcotráfico como organizações criminosas, medida que inclui a gangue venezuelana Tren de Aragua e a salvadorenha MS-13, grupos cuja presença violenta aumentou nos EUA nos últimos anos.

A informação foi dada pela Casa Branca nesta segunda-feira (20), data em que o republicano tomou posse.

"O presidente Trump iniciará o processo de designação dos cartéis, incluindo o perigoso Tren de Aragua, como organizações terroristas estrangeiras e usará a Lei dos Inimigos Estrangeiros para expulsá-los", afirmou o comunicado.

A medida havia sido anunciada por Trump em seu discurso de posse, ao abordar a série de decretos que iria assinar.

"De acordo com as ordens que assino hoje, os cartéis também serão designados como organizações terroristas estrangeiras. Como comandante-chefe não tenho maior responsabilidade do que defender o nosso país de ameaças e invasões", disse Trump em seu discurso.

Com a mudança de status o governo dos EUA poderá utilizar a jurisdição extraterritorial para processar e combater criminosos envolvidos com cartéis ou atividades relacionadas a eles.

 

Fonte: Sputnik Brasil/BBC News Brasil/g1

 

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