Zuckerberg, Bezos,
Musk e o arco de apoio das bigtechs à solução cesarista do trumpismo
A vitória de Trump
nos Estados Unidos é ao mesmo tempo um "sintoma mórbido" da crise de
hegemonia norte americana e um catalisador das tendências à decomposição da
ordem neoliberal que definem este momento.
Já analisamos o significado
das últimas eleições nos EUA bem como os impactos internacionais da vitória de
Trump no Brasil e ao
redor do mundo em
diversos materiais, aqui quero voltar os olhos à recente declaração de Mark
Zuckerberg sobre a política de regulação da Meta e refletir uma hipótese de
análise sobre alinhamento de grandes figuras da burguesia americana, como Zuck,
Bezos e Musk a Trump e ao trumpismo.
·
Afinidades
eletivas
Diferentemente de
Elon Musk (Dono do X/Twitter, bem como da Tesla, Starlink e SpaceX) que já vem
há anos sendo um franco apoiador de Donald Trump (e que agora vai ocupar o
"Departamento de Eficiência Governamental" em seu governo), o
alinhamento aberto de Jeff Bezos (fundador da Amazon) e Mark Zuckerberg (CEO da
Meta, empresa dona do Instagram e do Facebook) a Trump é mais recente.
No caso de Bezos,
se destaca mais recentemente seu papel em impedir o apoio do Washington Post
(jornal do qual é dono) à candidatura de Kamala Harris, em seguida
parabenizando Trump por sua vitória e doando 1 milhão de dólares à posse de
Trump, bem como suas declarações após um jantar com Trump em Mar-a-Lago, do
qual participaram CEOs de outras gigantes como Apple, Microsoft, etc., onde se
disse "muito otimista" com um novo governo Trump e declarando seu
apoio a quaisquer políticas de "redução de regulações".
Já na relação de
Zuckerberg com Trump destacam-se três pontos. O primeiro foi o escândalo da
Cambridge Analítica, onde informações de 50 milhões de usuários do Facebook
foram concedidas sem consentimento à empresa de análise de dados presidida por
Steve Bannon (então principal assessor de Trump) e que trabalhou com o time de
Trump em sua primeira eleição, em 2016, para potencializar sua propaganda
política. Anos depois, em 2021, os perfis de Trump no Instagram e no Facebook
foram suspensos após a sua influência na invasão do capitólio nos EUA, sendo
desbloqueadas em janeiro de 2023, seguindo a medida de Musk no X (então
Twitter). O terceiro ponto é a nova movimentação de Zuckerberg nesta semana,
anunciando a suspensão do uso de checagem independente de fatos no Instagram e
no Facebook, sob um discurso demagógico de "liberdade de expressão"
que agora vai permitir abertamente ataques a imigrantes e definir LGBTs como
doentes nas redes da Meta.
A declaração de
Zuckerberg cita também se aliar a Trump contra "tribunais secretos"
da América Latina que podem "mandar companhias derrubarem conteúdo de
forma silenciosa" em clara alusão ao STF e à tensão imperialista da
disputa entre Elon Musk e o bonapartismo judiciário brasileiro na metade do ano
passado. No que se resgata esse evento é preciso também reafirmar, como dissemos à
época,
que se por um lado Musk é uma face da ingerência imperialista na América Latina
e tem interesses muito bem definidos no Brasil seja em sua sanha extrativista,
seja no consumo da Starlink no Brasil pela Marinha e pelo garimpo, por outro
lado o STF não poderia estar mais longe de ser um garantidor da soberania nacional
ou defensor da democracia e da liberdade de expressão tendo sido um dos
operadores do reacionário golpe institucional de 2016, bem como da prisão
arbitrária de Lula em 2018.
Isto dito, há que
se entender o que significa o alinhamento de setores tão expressivos da
burguesia norte americana do mercado tecnológico à figura de Trump.
·
Rios,
pontes e microchips
O contexto desses
acontecimentos é muito significativo. O encontro de Bezos com Trump ocorreu
durante a maior greve na história da Amazon que, mesmo com seus limites em
parte pela atuação da burocracia sindical do Teamsters, demonstrou um
importante apoio da população aos trabalhadores em greve. Aos motoristas e
trabalhadores de galpão da Amazon se somaram também os trabalhadores da
Starbucks greve, em um fenômeno que podemos entender como uma erguida de cabeça
da geração U (de Union/Sindicato), a geração de jovens trabalhadores dentre os
quais muitos negros, imigrantes e LGBTs que extraíram de processos de luta como
o Black Lives Matter, mesmo após a repressão pelo partido democrata, lições
importantíssimas como a necessidade de sindicalização dos trabalhadores para
lutar tanto por melhores condições de vida e trabalho mas também contra as
opressões.
Junto a isso, os
EUA foram palco central em 2024 de uma luta estudantil internacional com
dezenas de universidades ocupadas por estudantes
em solidariedade à luta do povo palestino exigindo de suas universidades
o rompimento de seus financiamentos e acordos de pesquisa com Israel no que
ficou marcado como o maior
levante estudantil desde a luta contra a guerra do Vietnam.
Esses dois marcos
são fenômenos à esquerda muito importantes para pensar os os receios da classe
dominante nos EUA frente a uma crise da hegemonia norte americana que segue se
alastrando e que se por um lado gera soluções de força à direita como a aposta
de um cesarismo trumpista, por outro lado
abre espaço para saídas à esquerda para os trabalhadores e setores oprimidos.
Seja frente a um movimento operário que se desenvolve com passos limitados mas
expressivos, seja frente a um movimento estudantil cuja sensibilidade
anti-imperialista pode se chocar com os projetos extrativistas do imperialismo dos
quais as grandes bigtechs dependem para conseguir obra-prima a baixos custos, a
grande burguesia de Musk, Bezos e Zuckerberg decide apostar em uma resposta
ainda mais reacionária contra os explorados e oprimidos para garantir seus
lucros. Pegando como exemplo simples e limitado a própria dinâmica das redes da
Meta, não é de surpreender que se permita ataques a imigrantes e LGBTs ao mesmo
tempo em que se censuram materiais em apoio à Palestina. Mas isso leva a um
último questionamento.
A serviço de quê e
quem deve estar a tecnologia?
Quando falamos em
Bezos, Musk e Zuckerberg, falamos em uma quantidade gigantesca de dados e de um
poder de controle das redes sociais que pode efetivamente interferir (bem como
já interferiu) na conjuntura política de diversos países. Um exemplo direto de
para o que a tecnologia é utilizada pela burguesia: garantir seus lucros
aumentando a exploração dos trabalhadores. Mas a conclusão disso não pode ser
qualquer forma de “tecnofobia”, de concepção distópica ou decrescionista de que
a tecnologia per se é o problema, também não se pode confiar em uma concepção
“tecnófila” de que a tecnologia per se é a solução. Sob o capitalismo, o
sentido progressista ou reacionário de uma tecnologia está
intrinsecamente ligado ao interesse
da classe que a opera.
Isso por si descarta qualquer possibilidade de que uma regulação do poderío das
grandes bigtechs seja uma solução definitiva. As novas tecnologias são
utilizadas contra a classe trabalhadora precisamente porque esta não tem o
controle do processo produtivo.
Mas ao contrário do
que propaga a ideologia neoliberal e suas narrativas de “grandes empreendedores
produtores de mil e uma inovações tecnológicas”, toda grande inovação
tecnológica é síntese histórica não apenas intelectual mas também material de
um esforço coletivo da classe trabalhadora. E se é a classe trabalhadora que
desenvolveu essa tecnologia e a opera, é também a classe trabalhadora que pode
lhe dar um novo sentido, tomando o controle da produção e construindo sobre a
base das suas relações de cooperação uma nova sociedade.
É em sua luta
independente da burguesia e da direita, e aliada aos setores oprimidos, que a
classe trabalhadora pode pôr em suas mãos a produção da sociedade e dar fim ao
projeto da burguesia imperialista de nos explorar até a morte. Utilizando as
novas tecnologias para garantir a redução drástica da jornada de trabalho, uma
planificação socialista da produção, uma nova relação com o meio ambiente que
encerre o extrativismo capitalista, a construção de uma nova sociedade sem
qualquer forma de opressão e exploração.
¨ "Trump assumiu com importantes fortalezas, mas
também com contradições". Por Jimena Vergara
Estamos aqui
reportando para La Izquierda Diario desde Washington DC no dia da posse de
Donald Trump, que foi o 45º e agora o 47º presidente dos Estados Unidos da
América do Norte. Aqui atrás de nós está o Capitólio, onde o presidente Joe
Biden passará o poder a Donald Trump nesta cerimônia de inauguração. Donal
Trump também fará seu discurso inaugural, seguramente delineadno suas
prioridades, agora que está no poder.
Nas últimas semanas
Donald Trump vem tratando de se apresentar com muitíssima força para assumir a
presidência. Esta fortaleza provém sobretudo de que o grande capital se voltou
para "beijar o anel do rei", entre eles obviamente Elon Musk, que vai
cumprir um papel muito preponderante na administração de Trump. Obviamente
também Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, que são todos multimilionários que estão
presentes na tomada de posse. Estarão também presentes setores da ultradireita
internacional como Georgia Meloni da Italia, como Javier Milei da Argentina e
representantes da ultradireita alemanha e europeia em geral. Está também o
vice-presidente da China e outros mandatários.
O que podemos
esperar no dia de hoje é que depois do discurso inaugural, Trump firme uma
série de leis executivas aprovando este momento e a fortaleza que tem para
tentar ir até o final com sua agenda, uma agenda por trás da qual tem
organizado esses setores do grande capital, que está baseada em uma regulação
fiscal com recortes de impostos para os super-ricos, e austeridade brutal para
a classe trabalhadora, além de ataques aos direitos democráticos.
Mas, apesar de
todas estas fortalezas, há contradições porque, por um lado o Partido
Republicano é um partido no qual há muitas frações (e que hoje se expressam
claramente entre os setores mais da basa MAGA e a tecno-oligarquia que acaba de
desembarcar).
Há também tensões
com esta coalizão do grande capital porque alguns setores dependem das baixas
tarifas com China e México.
Por outro lado há
dúvidas sobre algumas das ameaças e promessas de Trump e sobre os tempos e
formas de aplicação. Recuperando o espírito do Destino Manifesto, Trump ameaçou
intervir no Panamá para retomar o controle do canal, comprar a Groenlândia, ou
seja, se apresentar como um belicista, mesmo tendo vencido sua campanha como
presidente anti-guerra. Agora se apresenta com agressividade imperialista,
porque se apresenta como a solução cesarista à crise de hegemonia
estadounidense, mas não está claro se vai poder avançar na Ucrânia com os
ritmos que quer, ou o cessar fogo na Palestina, que tem sido recebido com
entusiasmo pelas massas palestinas depois de um ano de genocídio financiado e
perpetrado pelo Estado de Israel, já que se trata de um cessar fogo muito
frágil em uma situação muito volátil. Além de que a celebração das massas
palestinas estão mostrando que a resistência palestina está viva e que existem
muitas contradições para o futuro da região.
Por último, dizer
que a fortaleza da conjuntura de Trump também está baseada no apoio de um setor
da direção do movimento operário norte-americano como Seam O’Brien, dirigente
dos Teamsters, poderoso sindicato transportista de ampla tradição nos Estados
Unidos, que já vinha flertando com o Partido Republicano desde antes de Trump
ganhar a presidência. E surpreendentemente ontem o presidente do sindicato
United Auto Workers, que é talvez o sindicato mais poderoso da indústria
automotiva, numa atitude chauvinista disse que apoiava as medidas
protecionistas de Donald Trump, que quer avançar na imposição de tarifas a
países como o México e para dividir ainda mais os trabalhadores internacionalmente.
Fonte: Esquerda
Diário
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