quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Zuckerberg, Bezos, Musk e o arco de apoio das bigtechs à solução cesarista do trumpismo

A vitória de Trump nos Estados Unidos é ao mesmo tempo um "sintoma mórbido" da crise de hegemonia norte americana e um catalisador das tendências à decomposição da ordem neoliberal que definem este momento.

Já analisamos o significado das últimas eleições nos EUA bem como os impactos internacionais da vitória de Trump no Brasil e ao redor do mundo em diversos materiais, aqui quero voltar os olhos à recente declaração de Mark Zuckerberg sobre a política de regulação da Meta e refletir uma hipótese de análise sobre alinhamento de grandes figuras da burguesia americana, como Zuck, Bezos e Musk a Trump e ao trumpismo.

·        Afinidades eletivas

Diferentemente de Elon Musk (Dono do X/Twitter, bem como da Tesla, Starlink e SpaceX) que já vem há anos sendo um franco apoiador de Donald Trump (e que agora vai ocupar o "Departamento de Eficiência Governamental" em seu governo), o alinhamento aberto de Jeff Bezos (fundador da Amazon) e Mark Zuckerberg (CEO da Meta, empresa dona do Instagram e do Facebook) a Trump é mais recente.

No caso de Bezos, se destaca mais recentemente seu papel em impedir o apoio do Washington Post (jornal do qual é dono) à candidatura de Kamala Harris, em seguida parabenizando Trump por sua vitória e doando 1 milhão de dólares à posse de Trump, bem como suas declarações após um jantar com Trump em Mar-a-Lago, do qual participaram CEOs de outras gigantes como Apple, Microsoft, etc., onde se disse "muito otimista" com um novo governo Trump e declarando seu apoio a quaisquer políticas de "redução de regulações".

Já na relação de Zuckerberg com Trump destacam-se três pontos. O primeiro foi o escândalo da Cambridge Analítica, onde informações de 50 milhões de usuários do Facebook foram concedidas sem consentimento à empresa de análise de dados presidida por Steve Bannon (então principal assessor de Trump) e que trabalhou com o time de Trump em sua primeira eleição, em 2016, para potencializar sua propaganda política. Anos depois, em 2021, os perfis de Trump no Instagram e no Facebook foram suspensos após a sua influência na invasão do capitólio nos EUA, sendo desbloqueadas em janeiro de 2023, seguindo a medida de Musk no X (então Twitter). O terceiro ponto é a nova movimentação de Zuckerberg nesta semana, anunciando a suspensão do uso de checagem independente de fatos no Instagram e no Facebook, sob um discurso demagógico de "liberdade de expressão" que agora vai permitir abertamente ataques a imigrantes e definir LGBTs como doentes nas redes da Meta.

A declaração de Zuckerberg cita também se aliar a Trump contra "tribunais secretos" da América Latina que podem "mandar companhias derrubarem conteúdo de forma silenciosa" em clara alusão ao STF e à tensão imperialista da disputa entre Elon Musk e o bonapartismo judiciário brasileiro na metade do ano passado. No que se resgata esse evento é preciso também reafirmar, como dissemos à época, que se por um lado Musk é uma face da ingerência imperialista na América Latina e tem interesses muito bem definidos no Brasil seja em sua sanha extrativista, seja no consumo da Starlink no Brasil pela Marinha e pelo garimpo, por outro lado o STF não poderia estar mais longe de ser um garantidor da soberania nacional ou defensor da democracia e da liberdade de expressão tendo sido um dos operadores do reacionário golpe institucional de 2016, bem como da prisão arbitrária de Lula em 2018.

Isto dito, há que se entender o que significa o alinhamento de setores tão expressivos da burguesia norte americana do mercado tecnológico à figura de Trump.

·        Rios, pontes e microchips

O contexto desses acontecimentos é muito significativo. O encontro de Bezos com Trump ocorreu durante a maior greve na história da Amazon que, mesmo com seus limites em parte pela atuação da burocracia sindical do Teamsters, demonstrou um importante apoio da população aos trabalhadores em greve. Aos motoristas e trabalhadores de galpão da Amazon se somaram também os trabalhadores da Starbucks greve, em um fenômeno que podemos entender como uma erguida de cabeça da geração U (de Union/Sindicato), a geração de jovens trabalhadores dentre os quais muitos negros, imigrantes e LGBTs que extraíram de processos de luta como o Black Lives Matter, mesmo após a repressão pelo partido democrata, lições importantíssimas como a necessidade de sindicalização dos trabalhadores para lutar tanto por melhores condições de vida e trabalho mas também contra as opressões.

Junto a isso, os EUA foram palco central em 2024 de uma luta estudantil internacional com dezenas de universidades ocupadas por estudantes em solidariedade à luta do povo palestino exigindo de suas universidades o rompimento de seus financiamentos e acordos de pesquisa com Israel no que ficou marcado como o maior levante estudantil desde a luta contra a guerra do Vietnam.

Esses dois marcos são fenômenos à esquerda muito importantes para pensar os os receios da classe dominante nos EUA frente a uma crise da hegemonia norte americana que segue se alastrando e que se por um lado gera soluções de força à direita como a aposta de um cesarismo trumpista, por outro lado abre espaço para saídas à esquerda para os trabalhadores e setores oprimidos. Seja frente a um movimento operário que se desenvolve com passos limitados mas expressivos, seja frente a um movimento estudantil cuja sensibilidade anti-imperialista pode se chocar com os projetos extrativistas do imperialismo dos quais as grandes bigtechs dependem para conseguir obra-prima a baixos custos, a grande burguesia de Musk, Bezos e Zuckerberg decide apostar em uma resposta ainda mais reacionária contra os explorados e oprimidos para garantir seus lucros. Pegando como exemplo simples e limitado a própria dinâmica das redes da Meta, não é de surpreender que se permita ataques a imigrantes e LGBTs ao mesmo tempo em que se censuram materiais em apoio à Palestina. Mas isso leva a um último questionamento.

A serviço de quê e quem deve estar a tecnologia?

Quando falamos em Bezos, Musk e Zuckerberg, falamos em uma quantidade gigantesca de dados e de um poder de controle das redes sociais que pode efetivamente interferir (bem como já interferiu) na conjuntura política de diversos países. Um exemplo direto de para o que a tecnologia é utilizada pela burguesia: garantir seus lucros aumentando a exploração dos trabalhadores. Mas a conclusão disso não pode ser qualquer forma de “tecnofobia”, de concepção distópica ou decrescionista de que a tecnologia per se é o problema, também não se pode confiar em uma concepção “tecnófila” de que a tecnologia per se é a solução. Sob o capitalismo, o sentido progressista ou reacionário de uma tecnologia está intrinsecamente ligado ao interesse da classe que a opera. Isso por si descarta qualquer possibilidade de que uma regulação do poderío das grandes bigtechs seja uma solução definitiva. As novas tecnologias são utilizadas contra a classe trabalhadora precisamente porque esta não tem o controle do processo produtivo.

Mas ao contrário do que propaga a ideologia neoliberal e suas narrativas de “grandes empreendedores produtores de mil e uma inovações tecnológicas”, toda grande inovação tecnológica é síntese histórica não apenas intelectual mas também material de um esforço coletivo da classe trabalhadora. E se é a classe trabalhadora que desenvolveu essa tecnologia e a opera, é também a classe trabalhadora que pode lhe dar um novo sentido, tomando o controle da produção e construindo sobre a base das suas relações de cooperação uma nova sociedade.

É em sua luta independente da burguesia e da direita, e aliada aos setores oprimidos, que a classe trabalhadora pode pôr em suas mãos a produção da sociedade e dar fim ao projeto da burguesia imperialista de nos explorar até a morte. Utilizando as novas tecnologias para garantir a redução drástica da jornada de trabalho, uma planificação socialista da produção, uma nova relação com o meio ambiente que encerre o extrativismo capitalista, a construção de uma nova sociedade sem qualquer forma de opressão e exploração.

 

¨      "Trump assumiu com importantes fortalezas, mas também com contradições". Por Jimena Vergara

Estamos aqui reportando para La Izquierda Diario desde Washington DC no dia da posse de Donald Trump, que foi o 45º e agora o 47º presidente dos Estados Unidos da América do Norte. Aqui atrás de nós está o Capitólio, onde o presidente Joe Biden passará o poder a Donald Trump nesta cerimônia de inauguração. Donal Trump também fará seu discurso inaugural, seguramente delineadno suas prioridades, agora que está no poder.

Nas últimas semanas Donald Trump vem tratando de se apresentar com muitíssima força para assumir a presidência. Esta fortaleza provém sobretudo de que o grande capital se voltou para "beijar o anel do rei", entre eles obviamente Elon Musk, que vai cumprir um papel muito preponderante na administração de Trump. Obviamente também Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, que são todos multimilionários que estão presentes na tomada de posse. Estarão também presentes setores da ultradireita internacional como Georgia Meloni da Italia, como Javier Milei da Argentina e representantes da ultradireita alemanha e europeia em geral. Está também o vice-presidente da China e outros mandatários.

O que podemos esperar no dia de hoje é que depois do discurso inaugural, Trump firme uma série de leis executivas aprovando este momento e a fortaleza que tem para tentar ir até o final com sua agenda, uma agenda por trás da qual tem organizado esses setores do grande capital, que está baseada em uma regulação fiscal com recortes de impostos para os super-ricos, e austeridade brutal para a classe trabalhadora, além de ataques aos direitos democráticos.

Mas, apesar de todas estas fortalezas, há contradições porque, por um lado o Partido Republicano é um partido no qual há muitas frações (e que hoje se expressam claramente entre os setores mais da basa MAGA e a tecno-oligarquia que acaba de desembarcar).

Há também tensões com esta coalizão do grande capital porque alguns setores dependem das baixas tarifas com China e México.

Por outro lado há dúvidas sobre algumas das ameaças e promessas de Trump e sobre os tempos e formas de aplicação. Recuperando o espírito do Destino Manifesto, Trump ameaçou intervir no Panamá para retomar o controle do canal, comprar a Groenlândia, ou seja, se apresentar como um belicista, mesmo tendo vencido sua campanha como presidente anti-guerra. Agora se apresenta com agressividade imperialista, porque se apresenta como a solução cesarista à crise de hegemonia estadounidense, mas não está claro se vai poder avançar na Ucrânia com os ritmos que quer, ou o cessar fogo na Palestina, que tem sido recebido com entusiasmo pelas massas palestinas depois de um ano de genocídio financiado e perpetrado pelo Estado de Israel, já que se trata de um cessar fogo muito frágil em uma situação muito volátil. Além de que a celebração das massas palestinas estão mostrando que a resistência palestina está viva e que existem muitas contradições para o futuro da região.

Por último, dizer que a fortaleza da conjuntura de Trump também está baseada no apoio de um setor da direção do movimento operário norte-americano como Seam O’Brien, dirigente dos Teamsters, poderoso sindicato transportista de ampla tradição nos Estados Unidos, que já vinha flertando com o Partido Republicano desde antes de Trump ganhar a presidência. E surpreendentemente ontem o presidente do sindicato United Auto Workers, que é talvez o sindicato mais poderoso da indústria automotiva, numa atitude chauvinista disse que apoiava as medidas protecionistas de Donald Trump, que quer avançar na imposição de tarifas a países como o México e para dividir ainda mais os trabalhadores internacionalmente.

 

Fonte: Esquerda Diário

 

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