terça-feira, 21 de janeiro de 2025

O ambicioso plano do México para se tornar uma das 10 maiores economias do mundo

A presidente do MéxicoClaudia Sheinbaum, apresentou um dos planos de desenvolvimento econômico mais ambiciosos dos últimos anos para seu país.

O anúncio veio justamente em um momento de grande incerteza para o México, com a posse do novo presidente americano, Donald Trump, que ocorrerá na segunda-feira (20/1).

Foi uma semana antes da mudança de poder em Washington que altos funcionários do governo e os principais diretores empresariais do país se reuniram na segunda-feira na Cidade do México, para ouvir os objetivos e estratégias apresentadas pela própria presidente, em uma cerimônia especial.

Um dos seus maiores objetivos é que a economia do México passe a ser a décima maior do planeta.

Sheinbaum pretende fazer com que o país produza 50% dos produtos consumidos no mercado interno, criar 100 parques industriais para empregar milhares de pessoas e posicionar o país entre os cinco principais destinos turísticos do mundo.

"Que cada um dos mexicanos e mexicanas saiba que existe um plano, que existe desenvolvimento. Que, frente a qualquer incerteza que surja no futuro próximo, o México tem um plano e está unido para seguir adiante", declarou.

A presidente não mencionou diretamente Donald Trump.

O secretário da Economia do México, Marcelo Ebrard, definiu o projeto como um "mapa de navegação do México para a nova era que iremos enfrentar".

"Nos meus 42 anos de serviço público, nunca vi um instrumento parecido", destacou ele. "Existem incertezas no futuro imediato, mas estamos coesos e temos um rumo nacional que nos permitirá seguir adiante."

Analistas econômicos mexicanos comemoraram. O plano traz objetivos e formas claras de alcançá-los, pelo menos na sua apresentação. Mas outros observaram a falta de voz e reconhecimento do setor operário e sindical.

O analista econômico Mario Campa, formado pelo Instituto Tecnológico Autônomo do México, declarou à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) que, "pelo menos no papel, é a política industrial mais ousada das últimas quatro ou cinco décadas no México".

Por outro lado, o acadêmico Carlos Pérez Ricart, do Centro de Pesquisa e Docência Econômica, destaca que esta "é uma boa resposta ao clima de incerteza vivido no país". Mas ele considera que falta detalhar como atingir este objetivo.

"É uma estratégia de desenvolvimento econômico a médio e longo prazo, que pretende fazer frente a uma situação muito complexa, em meio a decisões domésticas, como a reforma do Judiciário, e à eleição de Donald Trump", explica ele.

Mas os dois especialistas concordam que o plano traz boas expectativas para o futuro do país a curto e médio prazo.

·        As grandes metas

Durante a apresentação do chamado Plano México, a presidente enumerou 13 grandes metas e definiu prazos e ações do governo para atingi-las:

# Ser a 10ª maior economia do mundo. 

- Atualmente, o México ocupa a 12ª posição em relação ao seu Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Banco Mundial.

# Investimentos de mais de 25% do PIB. 

- O governo e o setor privado devem atingir 30% de investimento em relação ao PIB até o ano 2030.

# 1,5 milhão de empregos especializados.

- Criar postos de trabalho na indústria e em profissões especializadas.

# Aumentar a fabricação no México. 

- 50% dos produtos consumidos no país devem ser fabricados no México em "setores estratégicos", como tecidos, calçados e móveis.

# 15% dos produtos mundiais fabricados no México. 

- Aumentar a participação mexicana nas exportações ao nível global.

# Compras do governo de fornecedores locais. 

- O governo deverá realizar a metade das suas compras no mercado nacional.

# Vacinas mexicanas. 

- Realizar no país todo o processo de fabricação de vacinas com "biotecnologia avançada".

# Um ano de trâmites para investir. 

- Reduzir de dois anos e meio para um ano o período de trâmites de novos negócios no país, reduzindo as exigências em 50%.

# Formar 150 mil técnicos e profissionais. 

- A cada ano, aumentar em pelo menos 150 mil o número de pessoas formadas em "setores estratégicos".

# Investimentos favoráveis ao meio ambiente. 

- As indústrias devem manter políticas de reuso, energia limpa e processamento de resíduos.

# Financiar 30% de pequenas e médias empresas. 

- O governo e os bancos particulares devem apoiar quase um terço dos negócios médios e pequenos.

# Top 5 do turismo no mundo. 

- Posicionar o país entre os cinco destinos mais visitados do planeta.

# Reduzir a pobreza e a desigualdade. 

- Manter e ampliar os 9,5 milhões de mexicanos que saíram da pobreza nos últimos seis anos.

Sheinbaum também apresentou uma lista de 15 datas-chave imediatas para a implementação das novas ações, entre janeiro e abril deste ano.

"Saímos de uma época em que o planejamento não era necessariamente o eixo central de uma visão", destacou ela.

Parte do equilíbrio necessário para o desenvolvimento geral do país, saindo do enfoque sobre a região de fronteira com os Estados Unidos, é a definição de 12 "Polos de Bem-Estar" – áreas estratégicas onde serão criadas indústrias, conforme os recursos locais.

"O objetivo [...] é que todos nós nos incorporemos a esta visão do nosso país, que façamos parte, cada um dos mexicanos e mexicanas, por mais diferenças que possamos ter, de uma visão de longo prazo do nosso país", declarou a presidente. "É para isso que estamos convidando a todos."

Fabricado no México

O México é o principal parceiro comercial dos Estados Unidos. E a estratégia de industrialização de Sheinbaum é manter o país como fornecedor para o grande mercado norte-americano.

Mas um dos principais destaques do Plano México é voltar a fabricar no país produtos que, nas últimas décadas, eram trazidos do exterior, principalmente da China.

Ao longo do tempo, o país deixou de produzir o que consumia para importar produtos da Ásia. Atualmente, 10% das exportações chinesas têm como destino o México, segundo o secretário da Fazenda mexicano, Rogelio Ramírez.

"Esta queda de participação nos custou, sobretudo ao México e aos Estados Unidos – os dois países com maior população e menos ao Canadá –, muitas indústrias, muitos empregos, muita perda de atividade", destacou ele. "Principalmente, setores completos da economia."

Campa explica que o novo plano não prevê a substituição de importações como no passado, quando havia outro contexto. Trata-se de um novo enfoque sobre o mercado nacional.

A existência de um plano integral possibilita atingir metas como as apresentadas, explica ele, mas sua execução será fundamental.

"Parece para mim ser um plano abrangente, pois aborda aspectos como tarifas de importação específicas, um fundo de desenvolvimento para pequenas e médias empresas, investimentos em energia, investimentos mistos em infraestrutura e logística, simplificação de trâmites de investimento, aumento do número de engenheiros, a parte fiscal que facilita o nearshoring (relocalização), a construção de polos com parques industriais e a pesquisa científica", destaca Campa.

Mas o desenvolvimento social é fundamental e precisa acompanhar o plano. Afinal, a mão de obra qualificada e aspectos básicos, como morar perto do trabalho, são essenciais para o bom desenvolvimento dos polos industriais.

"Existem casos de diretores de indústrias muito grandes que comentam sobre o déficit de moradias, que causa rotação de pessoal", destaca ele. "E a mão de obra qualificada, às vezes, é subestimada, mas é muito importante porque evita a rotação."

Pérez Ricart é cético sobre a disponibilidade de orçamento em valores suficientes para o investimento público da magnitude defendida por Sheinbaum.

"O plano é inovador porque apresenta um diagnóstico, metas claras e formas de atingir seu objetivo. Existe uma ideia de país", destaca ele.

"Mas não está claro se será investido muito mais dinheiro do que já se investia em tudo aquilo."

·        E Trump?

O retorno de Donald Trump à Casa Branca em 20 de janeiro gerou expectativas sobre suas futuras decisões políticas.

Pérez Ricart relembra que, diferentemente do primeiro mandato, o republicano já não tem expectativas de reeleição. Por isso, suas políticas poderão ser mais agressivas, já que ele não receia o voto de reprovação, se algo sair mal no seu governo.

O México e o Canadá – dois vizinhos e parceiros comerciais dos Estados Unidos – já foram ameaçados de tarifas de importação por problemas como a migração ou o tráfico de drogas. E a reação dos dois países frente a Washington também é motivo de expectativa.

Para Pérez Ricart, não existe um plano que possa preparar o México para o que surgir a partir da posse de Trump nos Estados Unidos.

"Não existe uma receita nem resposta adequada para Donald Trump", destaca ele. "Aqui, ninguém tem a solução."

"A presidente [mexicana] está fazendo o melhor que pode dentro das circunstâncias. Mas a incerteza em termos de tarifas e intervencionismo é tão grande que nada pode ser planejado."

Mario Campa também acredita que não existe garantia de que o Plano México possa avançar conforme o previsto. Mas ele o considera um bom "instrumento de defesa e negociação" – especialmente as tarifas de importação que o México pretende impor a certos produtos industrializados da China, o que também é esperado por parte de Trump.

"O protecionismo dos Estados Unidos chegou para ficar por um bom tempo e o México precisa deste tipo de projeto, como o Plano México, como opção 'B' de longo prazo", conclui ele.

<><> Análise de Daniel Pardo, correspondente da BBC News Mundo no México

Seja ou não uma resposta à eleição de Donald Trump, é inevitável entender a apresentação do Plano México como exatamente isso: uma convocação à calma, um gesto de unidade nacional, um exercício de ordem e prudência ante os tempos convulsionados que podem estar à nossa frente.

Claudia Sheinbaum mostrou mais uma vez seu perfil acadêmico, rigoroso e meticuloso. Sua apresentação gera consenso em seu diagnóstico e nas soluções, mas também ceticismo pela sua viabilidade.

Se existe alguma dúvida de que havia outro objetivo, além de definir as bases do futuro (como oferecer um golpe de opinião), é preciso observar que a apresentação ocorreu no majestoso pátio do Museu Nacional de Antropologia do México, uma entidade que ensina a grandeza do país. E contou com a presença de importantes figuras do empresariado, como Carlos Slim Domit, filho do homem mais rico do México, Carlos Slim Helú.

"O objetivo é fazer do México o melhor país do mundo", anunciou a presidente. E não são poucos os mexicanos, ricos ou pobres, empresários ou trabalhadores, que acreditam que é possível alcançar esta meta.

O pessimismo alarmista gerado em 2016, com a primeira eleição de Trump, passou longe desta vez. A maioria dos mexicanos, mesmo frente à ameaça de impostos de importação e das deportações trumpistas, agora acredita que o país segue por bom caminho e que está em boas mãos.

Sheinbaum conta com uma popularidade inédita de 80%. É um índice invejável para qualquer presidente, atribuído ao seu perfil técnico e às suas posições políticas.

O desafio, agora, será manter este índice.

 

¨         Como o México pode se tornar potência econômica global competindo com a China e contando com a ajuda dos EUA

Com um plano ambicioso para fortalecer o “Made in Mexico”, reduzir a dependência de importações asiáticas e atrair investimentos dos EUA, o México mira entrar no top 10 das maiores economias do mundo enquanto enfrenta desafios impostos pela China e as tarifas de Trump.

Nos últimos anos, o México tem sido palco de uma transformação econômica significativa, tentando se consolidar como uma das dez maiores economias do mundo. Entrelaçado com seu maior parceiro comercial, os Estados Unidos, e enfrentando uma relação ambígua com a China, o país se encontra em uma encruzilhada que pode definir seu futuro econômico.

Com um plano audacioso apresentado pela presidente Claudia Sheinbaum, o México propõe fortalecer sua produção local e reduzir a dependência das importações asiáticas. Mas será que essa estratégia é suficiente para superar os desafios impostos por potências globais como a China?

<><> O contexto atual: México entre os EUA e a China

O México tem uma relação histórica e econômica profunda com os Estados Unidos. A proximidade geográfica e o Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá (T-MEC) garantem uma troca comercial robusta, posicionando os EUA como o principal destino das exportações mexicanas.

Por outro lado, a China desempenha um papel estratégico no comércio mexicano. Desde 2016, a China tem se consolidado como o segundo maior parceiro comercial do México, aproveitando o país como um ponto de entrada para os produtos chineses no mercado norte-americano. Essa dinâmica, no entanto, enfrenta críticas e desafios, especialmente no cenário de tensões comerciais globais.

<><> O impacto do primeiro mandato de Trump no comércio global

Durante seu primeiro mandato, Donald Trump implementou tarifas rigorosas sobre produtos chineses, alterando significativamente o comércio global. Para a China, isso significou buscar alternativas, e o México se tornou uma dessas rotas estratégicas. Empresas chinesas aproveitaram as cadeias logísticas mexicanas para driblar as tarifas e acessar o mercado dos EUA.

Essa situação, embora benéfica para o México em termos de investimentos, também gerou críticas de Trump, que acusou o país de ser uma “porta dos fundos” para produtos chineses. Agora, com a possibilidade de um segundo mandato, novas tarifas podem atingir não apenas a China, mas também o México, colocando ainda mais pressão sobre a economia mexicana.

<><> Uma resposta estratégica à dependência da China

Para enfrentar esses desafios, o México lançou um plano ambicioso que visa revitalizar sua produção local. A estratégia é clara: reduzir as importações asiáticas e fortalecer as cadeias de valor internas.

O projeto inclui a criação de 100 parques industriais em 12 regiões estratégicas, conhecidos como “Pólos do bem-estar”. O governo oferece incentivos fiscais, financiamento para pequenas e médias empresas (PMEs) e apoio à adoção de tecnologias avançadas. Esses esforços ecoam a estratégia usada pela China nas décadas de 1990 e 2000, quando o país investiu maciçamente em sua cadeia produtiva para se tornar um gigante global.

<><> Nearshoring e o fortalecimento do “Made in Mexico”

Outro ponto crucial do plano é o nearshoring, uma tendência que aproveita a proximidade geográfica do México com os Estados Unidos para atrair investimentos e reduzir custos de transporte. Essa estratégia busca transformar o “Made in Mexico” em um selo de qualidade e competitividade no mercado global.

Os setores têxtil, tecnológico, de calçados e móveis estão no centro dessa transformação. O objetivo é aumentar a participação mexicana no comércio internacional para 15%, consolidando o país como um dos principais players globais.

<><> México no comércio global

Apesar das iniciativas promissoras, o México ainda enfrenta desafios consideráveis. O segundo mandato de Trump pode trazer novas tarifas e tensões comerciais, enquanto a China continua a ser um concorrente poderoso no mercado global.

No entanto, com uma estratégia clara de autossuficiência econômica e integração regional, o México tem o potencial de se posicionar como um líder econômico na América do Norte. O tempo dirá se o país conseguirá transformar sua ambição em realidade e equilibrar sua relação com os EUA e a China.

 

Fonte: BBC News Mundo/ClickPetróleoeGas

 

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