terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Nem mesmo novo governo dos EUA interromperá processo de desdolarização no mundo, dizem especialistas

A desdolarização, promovida ativamente pelo Sul Global, por exemplo, no quadro do BRICS, é uma tendência que já dificilmente será parada, levando em conta que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, tem pouco poder para aplicar a política externa de formato estadunidense antigo, acreditam especialistas entrevistados pela Sputnik.

Há algum tempo, Trump ameaçou os países do BRICS de impor "tarifas de 100%" sobre seus produtos se não abandonassem os planos de criar uma moeda alternativa ao dólar norte-americano.

Ao mesmo tempo, o presidente russo Vladimir Putin disse anteriormente que é muito cedo para falar sobre a criação de uma moeda única do BRICS.

Em resposta às preocupações de Trump, a África do Sul e a Índia declararam que a associação não planejava criar uma moeda de substituição ao dólar estadunidense.

Contudo, o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, afirmou que a ideia de realizar o comércio entre os países do BRICS em suas próprias moedas é uma "medida legítima".

"Embora a desdolarização seja um caminho muito longo e difícil, já é uma tendência que, para o novo governo da Casa Branca, acredito, será difícil deter", disse à Sputnik o diretor-geral do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, Ivan Timofeev.

Ele admite que o BRICS ainda não tem a força política e econômica suficiente no cenário mundial, mas é um bloco de partes com a mesma opinião, unidas pela ideia de um mundo multipolar.

Cada país do BRICS tem sua própria abordagem nas relações com os Estados Unidos, mas todos eles estão interessados em se afastar do "americanocentrismo" e do domínio do dólar na economia mundial.

"No entanto, não é só o BRICS que está se esforçando para isso. Muitos países do Sul Global querem isso hoje", concluiu Timofeev.

Neste contexto, a chegada de Trump ao poder pode trazer mudanças indesejáveis, pois sua equipe é inadequada para o atual cenário global, opinou o especialista japonês da Universidade Meiji Gakuin, Takao Takahara.

O acadêmico acredita que a tendência de enfraquecimento dos EUA como superpotência, ao mesmo tempo em que mantém seu poderio militar, está repleta de grandes riscos.

"Trump tem poucos poderes para conduzir habilmente a política externa de grande potência do formato antigo, algo que ele insiste em fazer. Para que os EUA demonstrem poder diplomático, ele precisa de assessores talentosos. No entanto, neste momento, Trump está cercado de pessoas focadas em assuntos domésticos e não em assuntos externos", disse Takahara.

Segundo ele, a administração Trump é composta por pessoas com mentalidade da época do presidente dos EUA Ronald Reagan (1981-1989).

Takahara acredita que o novo governo dos Estados Unidos não poderá deixar de infligir um impacto na situação de segurança na região da Ásia-Pacífico, com a China, e no Oriente Médio, com Israel.

"Se, como foi durante o primeiro mandato de Trump, ele ficar apenas do lado de [primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu, não pode ser descartada a possibilidade de terrorismo com armas atômicas."

Donald Trump venceu as eleições presidenciais em 5 de novembro de 2024.

Ele se tornou o primeiro político norte-americano desde o século XIX a retornar à Casa Branca após um intervalo de quatro anos.

<><> Nigéria promete fortalecer cooperação econômica com BRICS como país parceiro do grupo

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) da Nigéria afirmou que o país está comprometido em fortalecer a cooperação econômica com o BRICS em diversas áreas; a adesão do país africano foi confirmada na última sexta-feira (17) pelo Brasil, presidente do grupo neste ano.

"A aceitação formal para participar como um país parceiro [do BRICS] ressalta o comprometimento da Nigéria em promover a colaboração internacional, alavancar oportunidades econômicas e avançar parcerias estratégicas que se alinhem com os objetivos de desenvolvimento da Nigéria. O BRICS, como um coletivo de grandes economias emergentes, representa uma plataforma única para a Nigéria melhorar o comércio, o investimento e a cooperação socioeconômica com os países-membros", diz a declaração do MRE nigeriano.

O comunicado informa, ainda, que a Nigéria está pronta para usar a parceria para promover objetivos comuns nas áreas de comércio e investimento, segurança energética, desenvolvimento de infraestrutura, tecnologia e mudanças climáticas.

"Esta parceria também se alinha com nossas aspirações nacionais de crescimento inclusivo, integração regional e participação ativa na formação de uma ordem econômica global justa e equitativa, alinhada com nosso ethos de autonomia estratégica", enfatizou o ministério.

O país da África Ocidental também espera um envolvimento construtivo com os membros do BRICS para estimular a inovação e promover intercâmbios entre pessoas.

¨         Cúpula Putin-Trump pode ser um '1º passo sábio' para a nova administração dos EUA, diz especialista

Após o fracasso da política externa da administração de Joe Biden, Richard Black, do think tank do Instituto Schiller nas Nações Unidas, contou à Sputnik suas expectativas sobre a próxima reunião entre o novo presidente norte-americano Donald Trump e o presidente russo Vladimir Putin.

Uma reunião entre o presidente russo Vladimir Putin e o novo presidente dos EUA, Donald Trump, pode ser um "primeiro passo sábio" para a nova administração dos EUA para evitar a escalada em direção a uma terceira guerra mundial, dado o "fracasso completo" da política externa da administração cessante, disse Richard Black, representante do think tank do Instituto Schiller nas Nações Unidas em Nova York, à Sputnik.

"A intenção declarada de Trump de se encontrar com o presidente Putin, logo após assumir o cargo, é um sinal esperançoso de que a marcha atual, muito real, dirigida pela Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN] para a Terceira Guerra Mundial pode ser interrompida", afirma Black.

Segundo o especialista, "o presidente Putin deixou claro que está aberto ao diálogo, se for baseado no respeito mútuo e no estabelecimento de uma nova arquitetura de segurança que garanta a segurança da Federação da Rússia. Tal reunião Trump-Putin seria um primeiro passo sábio para a nova administração dos EUA".

O especialista chamou "guerra econômica maciça e ilegal — mal nomeadas de sanções", apoio militar à Ucrânia, esforços para armar Taiwan e financiar a guerra genocida de Israel em Gaza como alguns dos itens da "triste lista de fracassos da política externa de Biden".

Em vez de preservar o domínio estratégico anglo-americano global, o governo Biden contribuiu para a mudança do "centro da história" para a Eurásia e o Sul Global, à medida que mais e mais nações expressam interesse em se juntar ao grupo de economias emergentes, BRICS, disse Black.

Em dezembro de 2024, Trump disse que esperaria por uma reunião com Putin após o presidente russo expressar prontidão para contatos pessoais com seu homólogo norte-americano. Nesta segunda-feira (20), o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que não havia preparativos substantivos em andamento para uma reunião com Trump, mas sugeriu a presença de vontade política, pois "tais contatos seriam muito, muito necessários e aconselháveis". No entanto, Trump disse que gostaria de realizar uma reunião "muito rapidamente" já na terça-feira (21) após assumir o cargo.

¨         Político turco: EUA gastam dinheiro em vão na Ucrânia à luz da formação de nova ordem mundial

O dinheiro dos EUA destinado a apoiar a Ucrânia foi desperdiçado, uma vez que está se formando uma nova ordem mundial em meio aos sucessos militares da Rússia e ao renascimento da China, declarou à Sputnik o presidente do partido turco Vatan (Pátria), Dogu Perincek.

Anteriormente, o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, confirmou a alocação de mais um pacote de assistência para a Ucrânia, o valor de US$ 500 milhões (cerca de R$ 3.03 bilhões), que inclui mísseis de defesa aérea dos EUA, equipamentos para caças F-16 e munição.

"A paz na Ucrânia é necessária acima de tudo para os próprios EUA. Porque o conflito na Ucrânia levou a que as sanções introduzidas contra a Rússia prejudicassem os interesses dos próprios EUA. Estados Unidos estão perante uma situação econômica difícil, [eles] têm dívidas. Isto é reconhecido pelos principais economistas mundiais. Todos os dias ouvimos [na mídia] sobre a crise econômica [nos EUA]. Uma das principais razões disso é o desejo dos EUA de dominar o mundo, a alocação de dinheiro para escalar conflitos, incluindo na Ucrânia, e seu apoio aos terroristas. Este dinheiro foi gasto em vão, uma vez que uma nova ordem mundial está sendo criada", explicou Perincek.

Ele acrescentou que o centro econômico está mudando para a Eurásia.

"Começou o processo em que a hegemonia do dólar chegou ao fim. Os sucessos militares da Rússia na Ucrânia, o renascimento da China, tudo isto são os fatores", disse o político turco.

De acordo com ele, o dinheiro dos EUA foi alocado para projetos sem perspectivas.

"Trump entende isso. Ele prometeu [acabar com o conflito na Ucrânia]. Vamos ver se ele manterá a sua promessa. Os EUA não podem mais continuar sendo os 'policiais do mundo'", ressaltou ele.

¨         EUA cederam sua posição no Sudeste Asiático à China, diz premiê malásio

As tarifas prometidas pelo presidente eleito dos EUA Donald Trump no final serão inúteis, pois há uma grande interdependência no comércio global, disse o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, em uma entrevista para o jornal Financial Times.

Hoje, 20 de janeiro, em Washington ocorrerá a posse de Trump, que se tornará o 47º presidente dos Estados Unidos. A cerimônia terá início às 12h00 (14h00, horário de Brasília) na Rotunda do Capitólio.

Segundo o premiê malásio, para muitos no mundo não ocidental Trump parece ser "mais determinado, mais claro" do que o presidente cessante, Joe Biden, que se destacou por uma "posição incerta".

Ele observou que não compartilha dos temores de que o retorno de Trump à Casa Branca e suas políticas tarifárias levem a um período prolongado de turbulência econômica na Ásia.

Depois de se recuperar do choque inicial, o sistema de comércio global continuará funcionando normalmente, disse o primeiro-ministro.

"Os EUA querem proteger seus próprios interesses, mas, a longo prazo, as barreiras comerciais não ajudariam, pois a interdependência é alta."

No entanto, ele advertiu que ainda é muito cedo para afirmar se trabalhar com Trump vai ser mais fácil do que com Biden.

Além disso, Anwar disse ao jornal que os Estados Unidos já perderam algumas posições em sua região, o Sudeste Asiático, uma vez que não estão cooperando intensivamente.

"Nesse sentido, a China tem uma atitude mais positiva. Eles oferecem melhor acesso, você pode se encontrar com eles facilmente. Nós enviamos ministros para lá, eles enviam ministros", explicou.

Ele supõe que Washington tenha derivado sua atenção para a Europa e o conflito ucraniano.

Quando perguntado se os países da região, em particular no quadro da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês), vão tomar uma postura dura em relação à China, o premiê respondeu que não precisam ser duros tanto com a China quanto com os EUA, mesmo que discordem em muitas questões de política externa.

"É melhor para economias menores, como a Malásia, estender seus [laços] com a China", afirmou.

¨         Erdogan quer conversar com Putin sobre o envio de gás à Eslováquia após Kiev cortar o fornecimento

Em coletiva, presidente turco afirma ser necessário tomar medidas para suprir a demanda interrompida por Kiev e diz esperar manter relações amistosas com Trump em seu segundo mandato.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou nesta segunda-feira (20) que a Turquia está pronta para discutir o fornecimento de gás para a a Eslóváquia como forma de suprir o envio de gás ao país interrompido pela Ucrânia no início do mês.

A declaração foi dada em coletiva em Ankara ao lado do primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico. Erdogan afirmou que seu governo espera discutir a questão com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o chanceler russo, Sergei Lavrov.

"Se a Ucrânia cortou o fornecimento de gás da Eslováquia, devemos tomar medidas. O nosso ministro dos Negócios Estrangeiros discutirá a questão da necessidade de gás da Eslováquia com [Sergei] Lavrov, e eu discutirei isso com Lavrov e [Vladimir] Putin. Tomaremos essas medidas nesta semana", afirmou Erdogan.

Abordando o conflito ucraniano, Erdogan disse que "nada pode ser alcançado através da guerra, e uma solução só é possível através da paz". Ele afirmou que vai conversar sobre o tema com o presidente dos EUA, Donald Trump, que tomou posse nesta segunda-feira.

"Discutiremos isso com o Sr. Trump e atuaremos na direção apropriada", disse o primeiro-ministro turco.

Ele acrecentou que é muito importante para a Turquia "manter exatamente a mesma relação amistosa" com Trump vivenciada durante o primeiro mandato do republicano (2017-2021).

Erdogan apontou ainda a necessidade de suspender as sanções internacionais à Síria.

"Enfatizamos a necessidade de levantar as sanções internacionais deixadas pelo regime anterior à Síria", disse Erdogan.

Em 1º de janeiro, a Gazprom anunciou que está técnica e juridicamente impossibilitada de fornecer gás via território ucraniano devido ao término do acordo com a Naftogaz Ucrânia. No mesmo dia, o fornecimento foi interrompido, diante da falta de renovação do acordo pelas autoridades ucranianas.

Analistas apontam que a interrupção do fornecimento perpetrada por Kiev pode causar mais danos à Ucrânia do que à Rússia.

Poucos dias após a interrupção, Fico alertou que com a medida a Eslováquia poderia suspender o envio de ajuda humanitária, interromper o fornecimento de energia à Ucrânia em casos de emergência e reduzir consideravelmente o apoio aos cidadãos ucranianos atualmente no país. Fico também ameaçou usar seu poder de veto na União Europeia em questões relacionadas a Kiev.

A interrupção também agrava o cenário da Europa, já fragilizada pelo conflito ucraniano. Isso porque pode provocar um aumento nas tarifas de energia, fortalecendo as pressões inflacionárias e ampliando a crise do custo de vida no continente europeu. Kiev já havia feito declarações sucessivas sobre não ter intenção ou interesse de estender o acordo, o que reacendeu o medo de uma nova crise energética na Europa.

<><> Importações chinesas de petróleo bruto da Rússia atingem novo recorde em 2024

Totalizaram 108,5 milhões de toneladas métricas os volumes de embarques russos, quer seja por oleodutos ou marítimos, aumentando 1% em 2024 para um recorde em relação a 2023.

Segundo dados compilados pela Administração Geral de Alfândegas da China, as importações de petróleo bruto vindos de seu principal fornecedor, a Rússia, equivaleram a 2,17 milhões de barris por dia (bpd), atingindo uma marca 1% superior em comparação com 2023, ou 108,5 milhões de toneladas métricas.

De acordo com a apuração da Reuters, grande parte deste resultado está apoiado pela demanda de refinadores independentes e grandes petrolíferas estatais, como uma medida de Pequim para ampliar suas reservas.

Esse foi o caso do petróleo importado do Irã pelo país. Quase todas as compras de petróleo iraniano pela China acabam nas refinarias independentes em função das pressões de mercado e da baixa demanda por combustível e produtos químicos. Para se ter ideia, nenhuma importação de petróleo do Irã foi registrada em todo o ano de 2024 pelo governo chinês.

Ainda de acordo com os dados alfandegários, a China reduziu as remessas da Arábia Saudita, o maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), para cerca de 1,57 milhão de bpd enquanto os embarques vindos da Malásia, um dos principais centros de transbordo para petróleo sancionado do Irã e da Venezuela, aumentaram 28%, e do Brasil em 17%.

Muito embora o país seja o maior comprador de petróleo do mundo, as importações totais de petróleo bruto da China caíram 1,9% em 2024 (após números pandêmicos) como um sinal da redução da demanda por combustíveis fósseis diante das preocupações com a transição energética.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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