terça-feira, 21 de janeiro de 2025

João Lister: Lula, o técnico e o jogo - a militância quer mais que um gol feio

O presidente Lula, mestre em criar metáforas futebolísticas, parece ter esquecido que no campo da política, assim como no futebol, a torcida não quer apenas o resultado. Os eleitores que o conduziram de volta ao Planalto esperavam mais que a simples vitória: queriam um jogo bonito, convincente, com passes precisos, arte e a demonstração clara de que o melhor time estava em campo. Porém, o que se vê até agora, no início do terceiro mandato, são decisões que desanimam a arquibancada, alianças que parecem tabelas com o adversário e uma estratégia que prioriza o pragmatismo sobre o compromisso com o projeto progressista prometido durante a campanha.

·        Um time desfigurado no campo

As escolhas feitas por Lula e seu governo estão longe de serem um espetáculo inspirador. Na composição de sua equipe, figuras como André Fufuca (PP) no Ministério dos Esportes e Juscelino Filho (União Brasil) no Ministério das Comunicações provocaram perplexidade. Nomes ligados ao Centrão e a práticas políticas historicamente criticadas pela esquerda ocupam posições estratégicas, gerando a sensação de que o governo está abrindo mão de seus princípios em troca de uma governabilidade que se assemelha a um jogo defensivo, sem ousadia.

No Congresso, a aprovação da reforma tributária foi um lance importante, mas a construção do placar teve um custo elevado. A liberação de bilhões em emendas parlamentares para garantir apoio transformou a negociação em um modelo que, para muitos, se assemelha ao "toma-lá-dá-cá" tradicional, que a militância progressista sempre combateu. Para a esquerda, essa tática é como um gol em impedimento: pode contar no placar, mas deixa um gosto amargo para quem torce por um jogo limpo.

·        Cadê o futebol bonito?

Durante a campanha, Lula falou de reconstrução, de justiça social e de um Brasil progressista. A expectativa era de passes firmes em direção ao fortalecimento de políticas públicas, ao combate à fome e à retomada do desenvolvimento sustentável. Mas no campo prático, as jogadas parecem travadas. O Auxílio Brasil foi renomeado como Bolsa Família, mas o impacto da medida foi diluído pela inflação e pela falta de uma agenda mais robusta de geração de emprego e renda.

Além disso, há sinais de acomodação nas promessas de enfrentamento ao desmatamento e de fortalecimento da agenda ambiental. Após o primeiro tempo marcado por avanços simbólicos, como a retomada do Fundo Amazônia e a presença destacada na COP28, o segundo tempo parece incerto. A pressão de aliados do agronegócio dentro do governo pode ser comparada a um zagueiro que mais atrapalha do que ajuda o ataque.

·        O que a torcida esperava

Os eleitores que voltaram às urnas para tirar o Brasil de uma crise institucional e moral querem mais que uma vitória eleitoral. A militância que enfrentou o jogo pesado dos últimos anos esperava que o governo Lula fosse um espetáculo de políticas públicas progressistas e transformadoras. Queriam um governo que jogasse de forma limpa, mas que também encantasse.

Na prática, o governo tem demonstrado receio de entrar em divididas. Projetos progressistas, como a regulação da mídia e a taxação de grandes fortunas, permanecem no banco de reservas. O argumento é que o Congresso não permite jogadas ousadas, mas a militância sabe que, sem pressão, o técnico não consegue mudar a postura do time em campo.

·        O jogo não é só pelo título

Lula precisa entender que vencer eleições não é o objetivo final, mas o meio para transformar o país. Governar é mais que conquistar reeleições ou manter o placar favorável. É demonstrar, no campo das ideias e das práticas, que seu time é o melhor, não só porque ganha, mas porque convence e encanta com o futebol que apresenta.

A militância de esquerda quer que seu técnico-mor pare de jogar para o gasto e arrisque um futebol vistoso. Que volte a governar para os milhões que ainda enfrentam a fome e a carestia, não para agradar a quem jamais estará ao seu lado. O Brasil quer ver no campo não apenas um time vencedor, mas um espetáculo que faça jus às bandeiras erguidas durante a campanha.

·        Um chamado às arquibancadas

O descontentamento da militância não pode ser tratado como ruído ou mera pressão. É o grito da arquibancada que sabe o que o time é capaz de fazer. Um técnico experiente como Lula deve entender que os torcedores querem mais que um campeonato vencido a qualquer custo: querem ver a beleza, a arte e o amor ao jogo que, no caso da política, significa governar para quem mais precisa, com um projeto transformador e progressista.

O futebol bonito prometido em 2022 ainda não apareceu em campo. A torcida segue esperando, mas o jogo está longe de ser eterno. Se o técnico não ajustar o time, pode perder o apoio daqueles que sempre estiveram ao seu lado, nos momentos de vitória e de crise. Afinal, no futebol e na política, vencer importa, mas a forma como se vence é o que faz a diferença.

Conhecido por seu carisma e sua habilidade em fazer comparações sobre o futebol, Lula precisa escutar as arquibancadas de sua militância. O apito inicial de seu terceiro mandato trouxe promessas de um futebol bonito: um jogo progressista, desenvolvido com passes humanitários e gols que tirassem o povo da carestia. No entanto, a torcida começa a murmurar. Afinal, a militância não quer um campeonato vencido com gols de canela, impedidos ou, pior, com decisões controversas que lembram os piores erros do VAR.

Governar, assim como jogar, não é apenas sobre o placar. A vitória não pode ser comprada por alianças espúrias com jogadores que sequer respeitam as regras do jogo ou os valores do time. Recentemente, a composição do governo tem dado espaço a figuras da direita e personagens com histórico ético questionável. Essas movimentações não são percebidas como estratégias táticas de um técnico experiente, mas como passes errados que comprometem a beleza e a essência do jogo prometido.

A militância e os eleitores que estiveram nas ruas, segurando bandeiras e resistindo nos tempos mais sombrios, não lutaram por um futebol burocrático, em que se joga pelo empate ou por uma vitória magra. Eles querem um espetáculo. Querem que o governo governe com a mesma paixão com que promessas foram feitas. A questão não é apenas ganhar em 2026, mas mostrar que se tem o melhor time, o melhor projeto, a melhor estratégia.

Gol roubado não vale. Gol de canela não empolga. A reeleição não pode ser um fim em si mesma, mas um meio para implantar um projeto progressista, desenvolvimentista e transformador. É preciso jogar bonito, com arte, demonstrando que o time não apenas merece ganhar, mas que encanta ao fazê-lo.

O Brasil está no campo, esperando que seu técnico-mor inspire seus jogadores a trazerem esperança e dignidade de volta ao gramado político. Que Lula ouça as arquibancadas e lembre-se de que o futebol, como a política, é mais que resultado: é paixão, beleza e transformação.

 

¨         "2026 já começou", segundo Lula. Por Esmael Moraes

Em discurso nesta segunda-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que “2026 já começou”, atribuindo essa antecipação ao desejo da oposição. No entanto, enfatizou a importância de não antecipar as eleições do próximo ano. O pronunciamento ocorreu durante reunião ministerial na Granja do Torto, em Brasília, marcada como a última antes da esperada reforma ministerial.

Lula destacou que a missão para 2025 é atender aos mais necessitados, incluindo os mais pobres e os comerciantes. Expressou também preocupação com a posse de Donald Trump nos Estados Unidos, desejando uma gestão profícua e ressaltando a importância da paz nas relações internacionais.

O presidente reforçou o compromisso com a continuidade do processo democrático, afirmando: “Não queremos entregar o país para o neofascismo, ao neonazismo.” Além disso, mencionou a proibição de celulares nas escolas como estratégia para privilegiar as crianças e o pensamento crítico, em vez do algoritmo.

Lula determinou que nenhuma portaria será criada sem antes passar pela Presidência da República e solicitou que os ministros confirmem se os partidos aliados desejam continuar na base de sustentação do governo.

O mandatário também abordou temas internacionais, como o BRICS e a realização do G20 em novembro, destacando a necessidade de lutar e acolher, promovendo reconstrução, união e comida barata na mesa dos trabalhadores.

A reunião ministerial antecede a maior reforma ministerial do atual governo, prevista para ocorrer após as eleições na Câmara e no Senado, marcadas para 1º de fevereiro.

Em meio a seu discurso, Lula ainda revelou que está bem de saúde e que já tirou o chapeú. Brincou dizendo que terá cabelos mais bonitos que do vice Geraldo Alckmin (PSB). Na prática, o presidente se lançou à reeleição de 2026.

 

¨         Lula sobre 2026: "não queremos entregar esse país de volta ao neofascismo, neonazismo, ao autoritarismo"

O presidente Lula (PT) destacou, nesta segunda-feira (20), durante reunião ministerial na Granja do Torto, que a corrida eleitoral de 2026 já está em curso. Em um discurso firme, Lula alertou sobre a necessidade de intensificar os trabalhos do governo para evitar a volta do que classificou como “neonazismo” e “autoritarismo”, em alusão à gestão de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), segundo informa a Folha de S. Paulo. "Precisamos dizer em alto e bom som, queremos eleger governo para continuar processo democrático do pais, não queremos entregar esse país de volta ao neofascismo, neonazismo, autoritarismo. Queremos entregar com muita educação", afirmou, sob aplausos dos presentes.

“2026 já começou. Se não por nós, porque temos que trabalhar, capinar, tirar todos os carrapichos. Mas pelos adversários, a eleição do ano que vem já começou. Só ver o que vocês assistem na internet para perceber que já estão em campanha. A antecipação de campanha para nós é trabalhar, trabalhar, trabalhar e entregar o que o povo precisa”, afirmou Lula, sob aplausos.

<><> Cenário de desafios e cobranças internas

 A reunião foi marcada pela cobrança de resultados aos ministros, com foco em acelerar as entregas e fortalecer a imagem do governo diante de um cenário político competitivo. O encontro ocorre em meio a discussões sobre uma possível reforma ministerial e ao desgaste provocado por crises recentes, como a polêmica sobre a suposta taxação do Pix.

Lula reconheceu que a base aliada enfrenta desafios para manter a coesão. Partidos como União Brasil, PSD e MDB, que ocupam posições estratégicas na Esplanada dos Ministérios, já ensaiam candidaturas próprias para 2026. “Temos vários partidos políticos, eu quero que esses partidos continuem junto, mas estamos chegando no processo eleitoral e a gente não sabe se os partidos que vocês representam querem continuar trabalhando conosco ou não. E essa é uma tarefa também de vocês no ano de 2025”, declarou o presidente.

<><> A crise do Pix e a comunicação do governo

A crise recente envolvendo rumores sobre a taxação do Pix foi destacada como um exemplo do impacto de desinformações na popularidade do governo. O presidente lamentou o episódio e reforçou a necessidade de uma comunicação mais eficaz e unificada. Para enfrentar esse desafio, o novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, apresentou suas propostas para aprimorar o diálogo com autônomos e empreendedores, públicos que, segundo o Planalto, têm sido mais atingidos por fake news.

“Nem tudo que foi anunciado já deu frutos, é preciso que a gente saiba que 2025 é o ano da grande colheita de tudo o que a gente prometeu ao povo brasileiro. E não podemos falhar. Não podemos errar”, enfatizou Lula, destacando que haverá conversas individuais com ministros para alinhar prioridades e reforçar compromissos.

<><> Projeções e o papel de Sidônio Palmeira

Em sua estreia em uma reunião ministerial, Sidônio Palmeira destacou a importância de alinhar o discurso das diversas pastas ao núcleo estratégico do governo. Entre suas primeiras medidas, está a elaboração de uma campanha voltada a autônomos e pequenos empreendedores, buscando reconquistar a confiança desse segmento após o desgaste provocado pela polêmica do Pix.

O presidente deixou claro que, para os próximos dois anos, o governo precisa acelerar medidas e garantir visibilidade para as realizações. A reunião serviu como um marco para reforçar o compromisso de transformar 2025 no “ano da colheita” e consolidar a base para a próxima disputa eleitoral.

Com o ambiente político já aquecido, Lula reiterou a mensagem de que o governo não pode vacilar e que é imprescindível trabalhar em sintonia com a sociedade e os partidos aliados para evitar retrocessos.

¨         Lula estaria propenso a ceder ministério a Arthur Lira para assegurar neutralidade do PP em 2026

Em meio a novas sinalizações de reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a indicar que pode sacrificar nomes do próprio Partido dos Trabalhadores (PT) em prol de uma estratégia política voltada à reeleição. De acordo com informações inicialmente publicadas pelo jornal Valor, o Palácio do Planalto desenha cenários que incluem a possibilidade de convidar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a integrar o governo.

A entrada de Lira na Esplanada, antes vista como hipótese remota, é parte de uma articulação que mira a eleição presidencial de 2026. A avaliação no núcleo palaciano é de que, ao receber um ministério, o PP — um dos principais partidos do Centrão — tenderia a adotar uma postura neutra no próximo pleito, afastando-se de eventuais alianças com o bolsonarismo. Ainda segundo o Valor, emissários do governo já teriam procurado o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), para negociar uma possível reaproximação.

 “Lira é uma espécie de ‘primeiro-ministro’ do Centrão e, caso fique sem espaço, pode dedicar energia para articular pautas contrárias ao Planalto”, diz uma fonte ligada ao governo, reforçando o temor de que o deputado alagoano, ao deixar a presidência da Câmara em fevereiro de 2025, se coloque em campo de oposição.

Para convencer o PP a adotar um discurso de neutralidade no pleito de 2026, o governo avalia oferecer um ministério de relevância ao presidente da Câmara. Inicialmente, Lira teria manifestado interesse pela pasta da Saúde, mas o Planalto considera inegociável a substituição de Nísia Trindade. Dessa forma, a possibilidade de ceder o Ministério da Agricultura vem ganhando força. A questão envolve, entretanto, a bancada do PSD: hoje o titular da Agricultura é Carlos Fávaro (PSD-MT), alvo de recorrentes ataques do Centrão, enquanto a bancada do partido na Câmara já se mostrou insatisfeita com a condução do Ministério da Pesca, atualmente ocupado por André de Paula (PSD-PE).

A articulação de Lula também passa pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O Planalto quer abrir espaço para o senador na Esplanada, de forma a construir uma candidatura forte em Minas Gerais, estado considerado decisivo em eleições presidenciais. A ideia seria oferecer uma pasta relevante para Pacheco, condicionada a um acordo para que ele se candidate ao governo mineiro em 2026. O Ministério da Justiça chegou a ser cogitado, mas perdeu força, surgindo a hipótese de o vice-presidente Geraldo Alckmin, hoje ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), migrar para a Defesa, liberando o Mdic para Pacheco, caso o ministro José Múcio deixe o cargo.

 

Fonte: Brasil 247

 

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