Israel
perdeu a guerra em Gaza. Entenda os motivos
Nos últimos dias, um artigo
publicado originalmente no The Times of Israel levantou uma questão polêmica: teria Israel perdido
sua primeira guerra contra o Hamas? A análise é assinada por David Rees, um advogado, ex-ativista
de direitos civis nos Estados Unidos e atual residente em Israel, que dedicou
grande parte de sua vida a causas públicas e a estudos geopolíticos. Segundo
ele, a recente trégua firmada com o Hamas representa uma derrota estratégica
para o governo israelense, com impactos profundos na opinião pública mundial.
Rees construiu a
argumentação em torno de diversos pontos, enfatizando que Israel teria perdido
apoio internacional, algo que pode se agravar após as imagens de destruição em
Gaza e as críticas recorrentes em fóruns diplomáticos. Para o especialista, a
pressão global sobre a condução do conflito acabou desgastando a reputação de
Israel, abrindo espaço para a narrativa de que as ações militares foram
desproporcionais. “O Hamas conseguiu virar a opinião mundial contra Israel”,
diz ele em seu texto, lembrando que, enquanto a guerra se desenrolava, grande
parte da comunidade internacional clamava por um cessar-fogo imediato.
Principais pontos da análise
1. Inversão da opinião pública
- Segundo Rees, a
forma como o conflito foi conduzido abalou o apoio que Israel historicamente
encontrava em vários países. Ele destaca que “o Hamas conseguiu provar que é
lucrativo tomar reféns, pois negociou a libertação de centenas de prisioneiros
palestinos em troca de apenas uma fração dos reféns mantidos em Gaza”.
2. Danos à economia israelense
- O autor salienta
o impacto econômico: os custos da guerra elevaram a dívida nacional de Israel e
prejudicaram sensivelmente a atividade econômica do país, estimada, conforme
ele aponta, em uma redução de 20% durante o conflito.
3. Enfraquecimento militar
- Embora Israel
tenha neutralizado vários membros do Hamas, Rees destaca que a organização está
em processo de reconstruir seu braço armado, o que manteria o país em alerta
permanente. “Israel pode ter que enfrentar outro conflito em Gaza novamente em
breve”, alerta.
4. Risco de novos fronts
- O texto chama
atenção para a aliança que envolve o Irã, os houthis e outros grupos, o que
amplia as frentes de preocupação para Israel. O autor recorda que a situação na
Cisjordânia (com apoio do Hamas) e a possibilidade de ataques vindos de outros
locais aumentam as tensões regionais.
5. Perda de prestígio e questionamentos internos
- Rees também
menciona que a aliança política do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com
facções ultranacionalistas contribuiu para o isolamento diplomático. “O governo
se vê criticado não só pela comunidade internacional, mas também internamente,
por não cumprir os objetivos de aniquilar o Hamas e trazer estabilidade”,
observa.
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Quem é David Rees?
David Rees é advogado e
fez Aliyah (termo hebraico para a imigração de judeus à Terra
de Israel) após décadas de atuação nos Estados Unidos, onde trabalhou em casos
de direitos civis e constitucionais, tendo colaborado com a American Civil
Liberties Union (ACLU) e, em algumas ocasiões, argumentado em tribunais de
justiça. Ele presidiu e integrou comissões estaduais ligadas ao Judiciário
americano. Paralelamente, envolveu-se em questões ambientais, atuando em
processos sobre descarte de resíduos tóxicos e radioativos e participando de
conselhos de organizações como a Environmental Defense Fund (EDF).
Segundo Rees, sua decisão de
morar em Israel foi motivada pelo sentimento de pertencimento ao país, sobretudo
por suas origens familiares de refugiados judeus alemães. Hoje, embora
aposentado, segue escrevendo análises e comentários sobre a situação política e
social de Israel e do Oriente Médio, trazendo uma perspectiva que combina
experiência legal, ativismo e vivência na região.
Na visão de David Rees, o
mais preocupante para Israel não é apenas a trégua em si, mas a “perda
simbólica” do apoio internacional e a sensação de que o Hamas teria saído
fortalecido, mesmo em meio à destruição em Gaza. Ele alerta que, sem propostas
inovadoras de solução para o conflito, o ciclo de violência pode se repetir.
Com a possibilidade de que o Hamas volte a se armar e que outros grupos
regionais intensifiquem suas ações, a estabilidade de Israel enfrenta novos
desafios — tanto no front diplomático quanto no militar.
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Ualid Rabah: “Genocídio na
Palestina fez o mundo saber o que é Israel e apartheid”
Em entrevista concedida ao
programa Boa Noite 247, Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do
Brasil (FEPAL), denunciou o que classificou como o maior genocídio da história
da Palestina, destacando o papel decisivo dos Estados Unidos no apoio a Israel.
Segundo Rabah, “mais de 25 mil, talvez 30 mil pessoas” foram mortas desde a
declaração de cessar-fogo pelo Conselho de Segurança da ONU, vetada diversas
vezes pelos Estados Unidos.
Rabah criticou a insistência
dos EUA e de Israel em bloquear propostas de cessar-fogo, afirmando que “todas
as vezes o boicote ao cessar-fogo foi estadunidense e israelense”. Ele destacou
ainda o papel do governo norte-americano no fornecimento de armas: “Os Estados
Unidos continuaram fornecendo armamento, munições e sistemas, e o genocídio
prosseguiu”.
Ao abordar a dinâmica do
conflito, Rabah apontou a desproporcionalidade do impacto na população civil
palestina. “Foram sequestrados por Israel, incluindo profissionais de saúde,
18.700 pessoas, dos quais 6.600 em Gaza e 12.100 na Cisjordânia”, afirmou. Ele
também ressaltou a ausência de discussão sobre temas cruciais para a Palestina:
“Nenhuma palavra sobre o desbloqueio, nenhuma palavra sobre Jerusalém, nenhuma
palavra sobre a retirada dos colonos da Cisjordânia”.
Rabah relacionou o apoio
incondicional dos EUA a Israel ao governo do presidente Joe Biden. “Biden é o
gestor desse genocídio… sem o apoio incondicional dos Estados Unidos, Israel
não teria condições de manter esse conflito”, afirmou. Ele comparou a atuação
de Biden com a gestão nazista na Alemanha, dizendo que “Biden faz a mesma
coisa” ao dedicar um terço de seu mandato ao conflito.
Ao ser questionado sobre a
disputa política nos EUA e as tentativas de Donald Trump em se apropriar de
méritos por um eventual cessar-fogo, Rabah declarou: “Quem determina o
cessar-fogo é quem determina que ele aconteça, e esses são os Estados Unidos”.
Ele ainda criticou a proposta de Israel de estabelecer uma área desmilitarizada
em Gaza: “Não tem cabimento… cinco vezes mais zona de segurança israelense,
onde a soberania é de Israel”.
Sobre as causas econômicas
envolvidas no conflito, Rabah destacou a existência de reservas de gás na costa
de Gaza e a proposta de construção do Canal Ben-Gurion, que ligaria o
Mediterrâneo ao Mar Vermelho. Segundo ele, “a ideia é roubar isso dos
palestinos e ficar com essa reserva”.
Rabah também alertou para o
risco de apagamento das provas do genocídio durante a reconstrução de Gaza. “Se
você não reconstrói Gaza sob coordenação palestina… você corre o risco de
apagar os vestígios e as provas do genocídio”, disse, referindo-se à destruição
de hospitais e ao assassinato de profissionais de saúde e jornalistas.
Encerrando a entrevista,
Rabah ressaltou que, apesar da tragédia, o conflito tornou visível a realidade
vivida pelos palestinos. “Graças aos próprios palestinos, o mundo hoje sabe o
que é Israel, o mundo sabe hoje o que é o sionismo, o mundo sabe hoje o que é
apartheid”, concluiu.
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Jornalistas destroem narrativa americana na última
coletiva de Blinken em Gaza
Vários jornalistas, críticos
veementes do apoio dos EUA a Israel, atacaram verbalmente o secretário de
Estado dos EUA, Antony Blinken, na quinta-feira, durante uma coletiva de
imprensa sobre a guerra em Gaza, interrompendo repetidamente suas declarações
enquanto ele tentava defender a gestão do conflito de 15 meses.
O ataque de Israel a Gaza
provavelmente será o marco mais importante da política externa do governo
Biden, que está de saída, apesar de um acordo alcançado na quarta-feira com o
grupo militante palestino Hamas para um cessar-fogo em troca da libertação de
reféns.
“Criminoso! Por que você não
está em Haia?”, gritou Sam Husseini, jornalista independente e crítico de longa
data da abordagem de Washington ao cenário global. Haia é a sede do Tribunal
Penal Internacional.
A cena excepcionalmente
confrontadora na sala de imprensa do Departamento de Estado só terminou quando
seguranças removeram Husseini à força, carregando-o para fora enquanto ele
continuava a interromper Blinken.
Blinken enfrentou críticas
por fornecer armas e apoio diplomático a Israel desde o início do mais recente
derramamento de sangue no conflito israelense-palestino, em 7 de outubro de
2023, quando o Hamas atacou Israel, matando 1.200 pessoas e sequestrando cerca
de 250, segundo contagens israelenses.
O subsequente ataque militar
de Israel a Gaza matou mais de 46.000 palestinos, de acordo com o ministério da
saúde local, e gerou acusações de genocídio em um caso no Tribunal Mundial
movido pela África do Sul, além de alegações de crimes de guerra e crimes
contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional. Israel nega as acusações.
O ataque deslocou quase toda a população de 2,3 milhões de Gaza e despertou a
preocupação do principal monitor global de fome.
“Por que você continuou
enviando bombas quando já tínhamos um acordo em maio?”, perguntou Max
Blumenthal, editor do Grayzone, um veículo que critica fortemente muitos
aspectos da política externa dos EUA, antes de ser escoltado para fora.
Blinken, que deixará o cargo
na segunda-feira com a posse do presidente eleito Donald Trump, pediu calma
enquanto fazia suas declarações e posteriormente respondeu perguntas de
repórteres.
Ele foi frequentemente alvo
de interrupções durante aparições em Washington desde o início do conflito em
Gaza. Manifestantes acamparam por meses do lado de fora de sua casa na Virgínia
e repetidamente jogaram tinta vermelha – semelhante a sangue – em carros que
transportavam Blinken e sua família.
Questionado durante a
coletiva de imprensa se mudaria algo em suas negociações com Israel, Blinken
afirmou que o governo israelense havia implementado políticas “basicamente
apoiadas por uma esmagadora maioria de israelenses após o trauma de 7 de
outubro” e que isso precisava ser levado em conta na resposta dos EUA.
A administração Biden não
conseguiu chegar a determinações finais sobre incidentes individuais que
poderiam constituir violações do direito internacional porque o Hamas se
embrenhou na população civil, disse ele.
“Eu também gostaria de
apontar que em Israel existem centenas de casos que estão sendo investigados”,
disse Blinken. “Eles têm um processo, têm procedimentos, têm estado de direito…
Isso é a marca de qualquer democracia.”
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Hamas
espera que Rússia desempenhe papel importante na reconstrução de Gaza, diz
porta-voz
O movimento
palestino Hamas espera que a Rússia desempenhe um papel importante na
reconstrução da Faixa de Gaza após o cessar-fogo. Além disso, o envolvimento de
Moscou nesses processos criará o equilíbrio de forças necessário, afirmou Sami
Abu Zuhri, membro da liderança do Hamas, à Sputnik.
"Esperamos que
a liderança russa desempenhe um papel importante no processo de reconstrução
de Gaza e não deixe essa região sob os cuidados das partes
ocidentais", disse ele.
Segundo o Hamas, a
participação da Rússia nesses processos deve criar o equilíbrio de forças
necessário.
"Sem dúvida, a presença da Rússia e seu papel fundamental na próxima
etapa, em relação à situação em Gaza e na Palestina como um todo, são muito
importantes. Isso cria equilíbrio e impede as tentativas ocidentais de
monopolizar esses processos", explicou.
Abu Zuhri destacou
que a liderança do Hamas "valoriza muito a posição da Rússia como um
todo e, especialmente, durante a guerra", incluindo o fato de Moscou
ter impedido tentativas dos Estados Unidos de impor resoluções de
reconhecimento do Hamas como uma organização terrorista ou em apoio à ocupação
israelense.
Israel e Hamas
chegaram a um acordo de
cessar-fogo com
a mediação do Catar, Egito e Estados Unidos, que começou neste domingo (19) e
terá duração de 42 dias.
Ainda foi anunciado
o compromisso com o término definitivo das hostilidades, que, em 15 meses,
resultaram na morte de mais de 46 mil palestinos e cerca de 1,2 mil
israelenses, com repercussões no Líbano e no Iêmen, além de uma troca de
ataques de foguetes entre Israel e o Irã.
<><> Restauração
da Autoridade Palestina em Gaza
Já o presidente francês,
Emmanuel Macron,
durante uma conversa telefônica com o homólogo Mahmoud Abbas, apontou a
necessidade de restaurar a governança da Autoridade Palestina na
Faixa de Gaza.
"O chefe de
Estado indicou ao presidente Abbas que é importante ser capaz de restaurar a
Autoridade Palestina na Faixa de Gaza. O presidente sublinhou que o futuro
da Faixa de Gaza deve fazer parte do futuro do Estado palestino e é
necessário garantir isso para que nenhum massacre como o ocorrido em 7 de
outubro possa se repetir contra o povo israelense", aponta comunicado
divulgado também neste domingo.
A primeira fase do
acordo prevê a libertação de 33 reféns israelenses em troca de cerca
de mil prisioneiros palestinos. Além disso, as tropas israelenses
devem recuar para
as fronteiras da Faixa de Gaza, embora ainda permaneçam em seus arredores.
A partir do
primeiro dia de trégua, o fornecimento de ajuda humanitária
aumentará para 600 caminhões por dia, incluindo 50 com combustível. Os
palestinos também receberão 200 mil tendas e 60 mil casas móveis.
Catar, Egito e
Estados Unidos são os garantidores do acordo e estabelecerão um centro de
coordenação no Cairo. No 16º dia da trégua, Israel e Hamas se comprometeram
a iniciar negociações para a segunda fase do acordo, que deve prever
a libertação dos reféns restantes, um cessar-fogo permanente e a retirada total
das tropas israelenses. Já a terceira fase, que inclui a troca de restos
mortais, está prevista a reconstrução da Faixa de Gaza e o fim de seu bloqueio.
Este é o segundo cessar-fogo no conflito:
o primeiro foi acordado em novembro de 2023 e durou apenas seis dias.
Fonte: Brasil 247/Reuters/Sputnik
Brasil
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