terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Israel perdeu a guerra em Gaza. Entenda os motivos

Nos últimos dias, um artigo publicado originalmente no The Times of Israel levantou uma questão polêmica: teria Israel perdido sua primeira guerra contra o Hamas? A análise é assinada por David Rees, um advogado, ex-ativista de direitos civis nos Estados Unidos e atual residente em Israel, que dedicou grande parte de sua vida a causas públicas e a estudos geopolíticos. Segundo ele, a recente trégua firmada com o Hamas representa uma derrota estratégica para o governo israelense, com impactos profundos na opinião pública mundial.

Rees construiu a argumentação em torno de diversos pontos, enfatizando que Israel teria perdido apoio internacional, algo que pode se agravar após as imagens de destruição em Gaza e as críticas recorrentes em fóruns diplomáticos. Para o especialista, a pressão global sobre a condução do conflito acabou desgastando a reputação de Israel, abrindo espaço para a narrativa de que as ações militares foram desproporcionais. “O Hamas conseguiu virar a opinião mundial contra Israel”, diz ele em seu texto, lembrando que, enquanto a guerra se desenrolava, grande parte da comunidade internacional clamava por um cessar-fogo imediato.

Principais pontos da análise

1.    Inversão da opinião pública

- Segundo Rees, a forma como o conflito foi conduzido abalou o apoio que Israel historicamente encontrava em vários países. Ele destaca que “o Hamas conseguiu provar que é lucrativo tomar reféns, pois negociou a libertação de centenas de prisioneiros palestinos em troca de apenas uma fração dos reféns mantidos em Gaza”.

2.    Danos à economia israelense

- O autor salienta o impacto econômico: os custos da guerra elevaram a dívida nacional de Israel e prejudicaram sensivelmente a atividade econômica do país, estimada, conforme ele aponta, em uma redução de 20% durante o conflito.

3.    Enfraquecimento militar

- Embora Israel tenha neutralizado vários membros do Hamas, Rees destaca que a organização está em processo de reconstruir seu braço armado, o que manteria o país em alerta permanente. “Israel pode ter que enfrentar outro conflito em Gaza novamente em breve”, alerta.

4.    Risco de novos fronts

- O texto chama atenção para a aliança que envolve o Irã, os houthis e outros grupos, o que amplia as frentes de preocupação para Israel. O autor recorda que a situação na Cisjordânia (com apoio do Hamas) e a possibilidade de ataques vindos de outros locais aumentam as tensões regionais.

5.    Perda de prestígio e questionamentos internos

- Rees também menciona que a aliança política do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com facções ultranacionalistas contribuiu para o isolamento diplomático. “O governo se vê criticado não só pela comunidade internacional, mas também internamente, por não cumprir os objetivos de aniquilar o Hamas e trazer estabilidade”, observa.

·        Quem é David Rees?

David Rees é advogado e fez Aliyah (termo hebraico para a imigração de judeus à Terra de Israel) após décadas de atuação nos Estados Unidos, onde trabalhou em casos de direitos civis e constitucionais, tendo colaborado com a American Civil Liberties Union (ACLU) e, em algumas ocasiões, argumentado em tribunais de justiça. Ele presidiu e integrou comissões estaduais ligadas ao Judiciário americano. Paralelamente, envolveu-se em questões ambientais, atuando em processos sobre descarte de resíduos tóxicos e radioativos e participando de conselhos de organizações como a Environmental Defense Fund (EDF).

Segundo Rees, sua decisão de morar em Israel foi motivada pelo sentimento de pertencimento ao país, sobretudo por suas origens familiares de refugiados judeus alemães. Hoje, embora aposentado, segue escrevendo análises e comentários sobre a situação política e social de Israel e do Oriente Médio, trazendo uma perspectiva que combina experiência legal, ativismo e vivência na região.

Na visão de David Rees, o mais preocupante para Israel não é apenas a trégua em si, mas a “perda simbólica” do apoio internacional e a sensação de que o Hamas teria saído fortalecido, mesmo em meio à destruição em Gaza. Ele alerta que, sem propostas inovadoras de solução para o conflito, o ciclo de violência pode se repetir. Com a possibilidade de que o Hamas volte a se armar e que outros grupos regionais intensifiquem suas ações, a estabilidade de Israel enfrenta novos desafios — tanto no front diplomático quanto no militar.

 

¨         Ualid Rabah: “Genocídio na Palestina fez o mundo saber o que é Israel e apartheid”

Em entrevista concedida ao programa Boa Noite 247, Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), denunciou o que classificou como o maior genocídio da história da Palestina, destacando o papel decisivo dos Estados Unidos no apoio a Israel. Segundo Rabah, “mais de 25 mil, talvez 30 mil pessoas” foram mortas desde a declaração de cessar-fogo pelo Conselho de Segurança da ONU, vetada diversas vezes pelos Estados Unidos.

Rabah criticou a insistência dos EUA e de Israel em bloquear propostas de cessar-fogo, afirmando que “todas as vezes o boicote ao cessar-fogo foi estadunidense e israelense”. Ele destacou ainda o papel do governo norte-americano no fornecimento de armas: “Os Estados Unidos continuaram fornecendo armamento, munições e sistemas, e o genocídio prosseguiu”.

Ao abordar a dinâmica do conflito, Rabah apontou a desproporcionalidade do impacto na população civil palestina. “Foram sequestrados por Israel, incluindo profissionais de saúde, 18.700 pessoas, dos quais 6.600 em Gaza e 12.100 na Cisjordânia”, afirmou. Ele também ressaltou a ausência de discussão sobre temas cruciais para a Palestina: “Nenhuma palavra sobre o desbloqueio, nenhuma palavra sobre Jerusalém, nenhuma palavra sobre a retirada dos colonos da Cisjordânia”.

Rabah relacionou o apoio incondicional dos EUA a Israel ao governo do presidente Joe Biden. “Biden é o gestor desse genocídio… sem o apoio incondicional dos Estados Unidos, Israel não teria condições de manter esse conflito”, afirmou. Ele comparou a atuação de Biden com a gestão nazista na Alemanha, dizendo que “Biden faz a mesma coisa” ao dedicar um terço de seu mandato ao conflito.

Ao ser questionado sobre a disputa política nos EUA e as tentativas de Donald Trump em se apropriar de méritos por um eventual cessar-fogo, Rabah declarou: “Quem determina o cessar-fogo é quem determina que ele aconteça, e esses são os Estados Unidos”. Ele ainda criticou a proposta de Israel de estabelecer uma área desmilitarizada em Gaza: “Não tem cabimento… cinco vezes mais zona de segurança israelense, onde a soberania é de Israel”.

Sobre as causas econômicas envolvidas no conflito, Rabah destacou a existência de reservas de gás na costa de Gaza e a proposta de construção do Canal Ben-Gurion, que ligaria o Mediterrâneo ao Mar Vermelho. Segundo ele, “a ideia é roubar isso dos palestinos e ficar com essa reserva”.

Rabah também alertou para o risco de apagamento das provas do genocídio durante a reconstrução de Gaza. “Se você não reconstrói Gaza sob coordenação palestina… você corre o risco de apagar os vestígios e as provas do genocídio”, disse, referindo-se à destruição de hospitais e ao assassinato de profissionais de saúde e jornalistas.

Encerrando a entrevista, Rabah ressaltou que, apesar da tragédia, o conflito tornou visível a realidade vivida pelos palestinos. “Graças aos próprios palestinos, o mundo hoje sabe o que é Israel, o mundo sabe hoje o que é o sionismo, o mundo sabe hoje o que é apartheid”, concluiu.

 

¨         Jornalistas destroem narrativa americana na última coletiva de Blinken em Gaza

Vários jornalistas, críticos veementes do apoio dos EUA a Israel, atacaram verbalmente o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na quinta-feira, durante uma coletiva de imprensa sobre a guerra em Gaza, interrompendo repetidamente suas declarações enquanto ele tentava defender a gestão do conflito de 15 meses.

O ataque de Israel a Gaza provavelmente será o marco mais importante da política externa do governo Biden, que está de saída, apesar de um acordo alcançado na quarta-feira com o grupo militante palestino Hamas para um cessar-fogo em troca da libertação de reféns.

“Criminoso! Por que você não está em Haia?”, gritou Sam Husseini, jornalista independente e crítico de longa data da abordagem de Washington ao cenário global. Haia é a sede do Tribunal Penal Internacional.

A cena excepcionalmente confrontadora na sala de imprensa do Departamento de Estado só terminou quando seguranças removeram Husseini à força, carregando-o para fora enquanto ele continuava a interromper Blinken.

Blinken enfrentou críticas por fornecer armas e apoio diplomático a Israel desde o início do mais recente derramamento de sangue no conflito israelense-palestino, em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas atacou Israel, matando 1.200 pessoas e sequestrando cerca de 250, segundo contagens israelenses.

O subsequente ataque militar de Israel a Gaza matou mais de 46.000 palestinos, de acordo com o ministério da saúde local, e gerou acusações de genocídio em um caso no Tribunal Mundial movido pela África do Sul, além de alegações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional. Israel nega as acusações. O ataque deslocou quase toda a população de 2,3 milhões de Gaza e despertou a preocupação do principal monitor global de fome.

“Por que você continuou enviando bombas quando já tínhamos um acordo em maio?”, perguntou Max Blumenthal, editor do Grayzone, um veículo que critica fortemente muitos aspectos da política externa dos EUA, antes de ser escoltado para fora.

Blinken, que deixará o cargo na segunda-feira com a posse do presidente eleito Donald Trump, pediu calma enquanto fazia suas declarações e posteriormente respondeu perguntas de repórteres.

Ele foi frequentemente alvo de interrupções durante aparições em Washington desde o início do conflito em Gaza. Manifestantes acamparam por meses do lado de fora de sua casa na Virgínia e repetidamente jogaram tinta vermelha – semelhante a sangue – em carros que transportavam Blinken e sua família.

Questionado durante a coletiva de imprensa se mudaria algo em suas negociações com Israel, Blinken afirmou que o governo israelense havia implementado políticas “basicamente apoiadas por uma esmagadora maioria de israelenses após o trauma de 7 de outubro” e que isso precisava ser levado em conta na resposta dos EUA.

A administração Biden não conseguiu chegar a determinações finais sobre incidentes individuais que poderiam constituir violações do direito internacional porque o Hamas se embrenhou na população civil, disse ele.

“Eu também gostaria de apontar que em Israel existem centenas de casos que estão sendo investigados”, disse Blinken. “Eles têm um processo, têm procedimentos, têm estado de direito… Isso é a marca de qualquer democracia.”

¨         Hamas espera que Rússia desempenhe papel importante na reconstrução de Gaza, diz porta-voz

O movimento palestino Hamas espera que a Rússia desempenhe um papel importante na reconstrução da Faixa de Gaza após o cessar-fogo. Além disso, o envolvimento de Moscou nesses processos criará o equilíbrio de forças necessário, afirmou Sami Abu Zuhri, membro da liderança do Hamas, à Sputnik.

"Esperamos que a liderança russa desempenhe um papel importante no processo de reconstrução de Gaza e não deixe essa região sob os cuidados das partes ocidentais", disse ele.

Segundo o Hamas, a participação da Rússia nesses processos deve criar o equilíbrio de forças necessário. "Sem dúvida, a presença da Rússia e seu papel fundamental na próxima etapa, em relação à situação em Gaza e na Palestina como um todo, são muito importantes. Isso cria equilíbrio e impede as tentativas ocidentais de monopolizar esses processos", explicou.

Abu Zuhri destacou que a liderança do Hamas "valoriza muito a posição da Rússia como um todo e, especialmente, durante a guerra", incluindo o fato de Moscou ter impedido tentativas dos Estados Unidos de impor resoluções de reconhecimento do Hamas como uma organização terrorista ou em apoio à ocupação israelense.

Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo com a mediação do Catar, Egito e Estados Unidos, que começou neste domingo (19) e terá duração de 42 dias.

Ainda foi anunciado o compromisso com o término definitivo das hostilidades, que, em 15 meses, resultaram na morte de mais de 46 mil palestinos e cerca de 1,2 mil israelenses, com repercussões no Líbano e no Iêmen, além de uma troca de ataques de foguetes entre Israel e o Irã.

<><> Restauração da Autoridade Palestina em Gaza

Já o presidente francês, Emmanuel Macron, durante uma conversa telefônica com o homólogo Mahmoud Abbas, apontou a necessidade de restaurar a governança da Autoridade Palestina na Faixa de Gaza.

"O chefe de Estado indicou ao presidente Abbas que é importante ser capaz de restaurar a Autoridade Palestina na Faixa de Gaza. O presidente sublinhou que o futuro da Faixa de Gaza deve fazer parte do futuro do Estado palestino e é necessário garantir isso para que nenhum massacre como o ocorrido em 7 de outubro possa se repetir contra o povo israelense", aponta comunicado divulgado também neste domingo.

A primeira fase do acordo prevê a libertação de 33 reféns israelenses em troca de cerca de mil prisioneiros palestinos. Além disso, as tropas israelenses devem recuar para as fronteiras da Faixa de Gaza, embora ainda permaneçam em seus arredores.

A partir do primeiro dia de trégua, o fornecimento de ajuda humanitária aumentará para 600 caminhões por dia, incluindo 50 com combustível. Os palestinos também receberão 200 mil tendas e 60 mil casas móveis.

Catar, Egito e Estados Unidos são os garantidores do acordo e estabelecerão um centro de coordenação no Cairo. No 16º dia da trégua, Israel e Hamas se comprometeram a iniciar negociações para a segunda fase do acordo, que deve prever a libertação dos reféns restantes, um cessar-fogo permanente e a retirada total das tropas israelenses. Já a terceira fase, que inclui a troca de restos mortais, está prevista a reconstrução da Faixa de Gaza e o fim de seu bloqueio.

Este é o segundo cessar-fogo no conflito: o primeiro foi acordado em novembro de 2023 e durou apenas seis dias.

 

Fonte: Brasil 247/Reuters/Sputnik Brasil

 

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