terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Forças Armadas: 641 militares foram condenados por ligação com drogas

Em 2019, um sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) chocou o mundo após ser preso com 39 kg de cocaína na bagagem, em um voo da comitiva da Presidência da República. O avião tinha como destino Tóquio, no Japão, mas fez escala em Sevilla, quando a alfândega espanhola identificou os entorpecentes. O caso chegou à última página em setembro de 2024, depois de a maior instância da Justiça Militar manter a condenação de Manoel Silva Rodrigues.

O agora ex-sargento é apenas um dos 641 militares condenados nos últimos sete anos por envolvimento com drogas. De 2018 a 2024, o Superior Tribunal Militar (STM) condenou integrantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha.

Os dados das condenações foram obtidos pelo Metrópoles por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), com o detalhamento do tipo penal e das patentes dos envolvidos.

Soldados do Exército foram os mais condenados, somando 563 do total. Apenas em 2019, 158 militares foram condenados pelo crime, a FAB teve 6, sendo 1 cabo e 5 soldados, e a Marinha, 1 cabo, 8 marinheiros e 2 soldados navais. No ano anterior, o Exército teve 77 soldados condenados e 1 cabo; a Aeronáutica, 4 soldados e 1 cabo; e a Marinha, 1 cabo, 3 marinheiros e 2 soldados navais.

<><> Veja os dados por ano:

# Em 2018

- Aeronáutica

3 soldados

- Exército

1 cabo

77 soldados

- Marinha

1 cabo

3 marinheiros

2 soldados fuzileiros navais

# Em 2019

- Aeronáutica

1 cabo

5 soldados

- Exército

1 sargento

1 cabo

158 soldados

- Marinha

1 cabo

8 marinheiros

2 soldados navais

# Em 2020

- Aeronáutica

5 soldados

Exército

57 soldados

- Marinha

3 cabos

4 marinheiros

2 soldados fuzileiros navais

# Em 2021

- Aeronáutica

8 soldados

- Exército

1 cabo

57 soldados

- Marinha

3 marinheiro

1 soldado fuzileiro naval

# Em 2022

- Aeronáutica

2 soldados

1 cabo

- Exército

75 soldados

2 cabos

- Marinha

5 marinheiros

# Em 2023

- Aeronáutica

2 soldados

Exército

66 soldados

Marinha

2 marinheiros

# 2024

- Aeronáutica

1 sargento

2 soldados

- Exército

55 soldados

- Marinha

2 marinheiros

<><> Relembre o caso do Sargento FAB:

Manoel Silva Rodrigues fazia parte de uma comitiva com 21  militares que acompanhava a viagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) a Tóquio, no Japão, para reunião do G20;

Antes de partir da Base Aérea de Brasília, Manoel recebeu a droga em um motel, no Núcleo Bandeirante;

Ele foi preso no aeroporto de Sevilla, na Espanha, com 39 kg de cocaína na mala;

A droga foi avaliada em 1.306.695 euros, o equivalente a R$ 6.399.083,62 na época;

Em 2022, o ex-sargento foi condenado a 14 anos de prisão pela Justiça Militar. O sargento recorreu;

Em 2024, o STM não só manteve a condenação como a aumentou para 17 anos.

·        214 tabletes de cocaína

Também em 2024, o STM manteve a condenação de dois militares do Exército que foram flagrados transportando 230 kg de cocaína em viatura militar. A droga saiu de Corumbá (MS), região oeste do estado, fronteira com a Bolívia, com destino a Campo Grande (MS), capital do estado de Mato Grosso do Sul.

Informações de inteligência indicaram que os dois militares estavam utilizando uma viatura Toyota Hilux 4×4, do quartel, para o transporte de entorpecentes, conforme foi divulgado pelo próprio tribunal.

Feita na rodovia BR-262, próximo à região do Indubrasil, em Campo Grande, por uma equipe do 9º Batalhão de Polícia do Exército (9º BPE), a abordagem possibilitou a descoberta de que a Toyota Hilux tinha como motorista um soldado do efetivo profissional do Exército e como chefe de viatura o sargento indiciado nos autos.

Os militares conduziam 214 tabletes de cocaína acondicionados dentro de três caixas e três sacolas guardadas na carroceria.

·        Estelionato

O levantamento ainda apontou casos de estelionato, em que de aspirantes a coronel foram penalizados por esse tipo de crime. No recorte pesquisado, dois coronéis do exército foram condenados como estelionatários. Os julgamentos ocorreram em 2018 e 2024.

·        2.140 militares condenados

A pesquisa via LAI é a mesma que o Metrópoles fez ao apontar que o Superior Tribunal Militar (STM) condenou 2.140 militares, de 2018 a 2024, mas poupou generais, brigadeiros e almirantes.

Pelo levantamento, foram 1.615 militares do Exército Brasileiro, 281 da Força Aérea Brasileira e 244 da Marinha do Brasil condenados de 2018 a 2024;

Dezessete coronéis formam a mais alta patente a receber condenação, sendo 15 do Exército e dois da Aeronáutica;

Exército teve 17 tenentes-coronéis condenados, e a Marinha, 1 capitão de fragata.

Em 2024, um dos oficiais foi considerado culpado pelo crime de favorecimento da prostituição ou exploração sexual de vulnerável;

Um soldado e um cabo do Exército foram condenados por estupro;

Também foram condenados por importunação sexual ao longo dos últimos sete anos um capitão e um 1º tenente da FAB;

Do Exército, foram um cabo, um soldado, um 2º sargento e um 3º sargento por importunação;

A Marinha não teve condenação pelo crime.

Por meio de nota, o Centro de Comunicação Social do Exército destacou que os integrantes da Força são “um estrato da sociedade brasileira e dos que fazem parte dela”; por isso, assim como todos os cidadãos, os militares estão sujeitos ao que preveem as leis penais civis e a legislação vigente especificamente para eles.

O Exército acrescentou que não cabe à instituição tecer comentários a respeito de decisões judiciais.

 

¨         PMs acusados de dirigir carro e atirar em Gritzbach trabalharam juntos

Os policiais militares (PMs) Dênis Antonio Martins e Fernando Genauro da Silva, apontados pelas investigações respectivamente como o autor dos disparos que mataram Vinícius Gritzbach e o motorista do carro usado na execução, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro de 2024, trabalharam no mesmo batalhão de polícia.

A informação foi confirmada ao Metrópoles pelo advogado do tenente Fernando Genauro da Silva, Mauro Ribas Júnior. Segundo ele, no entanto, os dois nunca tiveram relações próximas.

“Genauro já não via, não trabalhava com esse Dênis, há pelo menos 10 anos”, afirmou o advogado. “Uma coisa é trabalhar no mesmo batalhão outra é trabalhar como parceiro”, disse Mauro. A defesa alega que o tenente é inocente, não fazia parte da escolta de Gritzbach e não esteve no local do crime.

O tenente Fernando Genauro da Silva foi preso nesse sábado (18/1), apontado como motorista do carro usado para cometer o crime.

Genauro e Dênis teriam trabalhado juntos em um batalhão que pertence ao Comando de Policiamento de Área Metropolitana Oito (CPA-M8).

O Comando é responsável por cidades da Grande São Paulo como Osasco, Carapicuíba e Barueri.

Além do tenente Genauro, o irmão dele, que também é policial militar, também teria atuado com Dênis em um outro batalhão.

A ligação entre o tenente e o policial apontado como atirador que matou Gritzbach estaria entre os indícios levantados pela investigação da polícia para sugerir uma possível proximidade entre os dois suspeitos.

O caso está em segredo de Justiça.

Na última quinta-feira (16/1), o corregedor da Polícia Militar, Fabio Sergio Amaral, afirmou em coletiva de imprensa que Dênis tinha um comparsa na corporação, sem identificar quem seria.

<><> PMs presos

Até agora, 16 policiais militares foram presos durante as investigações sobre a morte de Vinícius Gritzbach. Na quinta-feira foram 15 prisões, incluindo a de Dênis, apontado como o executor do empresário delator da facção Primeiro Comando da Capital (PCC).

Entre os detidos estão ainda 14 policiais que prestavam escolta privada ao empresário apesar do histórico criminal conhecido de Gritzbach. Eles também são investigados por suspeita de ligação com o PCC, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Nesse sábado, a Polícia prendeu o 16º agente da corporação, o tenente Fernando Genauro da Silva, apontado como motorista do carro usado para cometer o crime.

Entenda o caso:

Gritzbach foi assassinado em novembro de 2024, em frente ao Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. O empresário de 38 anos era jurado de morte pelo PCC;

Durante uma delação, Gritzbach detalhou como a facção lavava dinheiro, além de revelar extorsões cometidas por policiais civis. Tanto eles quanto PMs investigados foram afastados das funções;

Na quinta-feira (16/1), uma operação da Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo (PMSP) que investiga integrantes da corporação suspeitos de terem envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC) prendeu 15 policiais militares;

A Corregedoria da PMSP iniciou a Operação Prodotes após receber uma denúncia anônima, em março de 2024, que mencionava supostos vazamentos de informações sigilosas que favoreciam criminosos ligados ao PCC;

A investigação da Polícia revelou que policiais militares prestavam escolta privada a Gritzbach, apesar do histórico criminal dele, o que levanta a suspeita da participação de PMs na organização criminosa;

As apurações também demonstraram que informações estratégicas teriam sido vazadas por policiais militares da ativa, da reserva e ex-integrantes da corporação, o que permitia a integrantes do PCC evitarem prisões e prejuízos financeiros;

Entre os agentes presos na quinta-feira está o policial militar da ativa Dênis Antonio Martins, suspeito de ser o autor dos disparos que mataram o delator do PCC;

Outro tenente foi preso neste sábado (18/1). Fernando Genauro da Silva é suspeito de ser o condutor do carro usado pelos criminosos na execução do empresário

 

¨         Diretora de “ONG do PCC” foi à Câmara e recebeu passagens do governo

Diretora da ONG Pacto Social & Carcerário, Luciene Neves Ferreira participou de audiência na Câmara dos Deputados e recebeu R$ 1,1 mil em passagens pagas pelo governo federal, além de R$ 4,6 mil de auxílio emergencial. A organização não governamental presidida por ela foi alvo da Polícia Federal, suspeita de vínculo com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Entenda o caso:

PF deflagrou, na última quarta-feira (15/1), a Operação Scream Fake e prendeu 12 pessoas acusadas de terem associação com o PCC.

Entre os presos, estão o presidente e o vice-presidente da ONG Pacto Social & Carcerário.

De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, a apuração começou com base em cartões de memórias e manuscritos apreendidos com um visitante de um presídio.

O material apontou que o PCC dividia sua atuação em setores como “gravatas”, “saúde”, “financeiro” e “reivindicações”, na qual a ONG, supostamente, atua na promoção de manifestações e denúncias para desestabilizar o sistema de justiça criminal. A organização nega.

O pagamento das passagens aéreas foi efetuado para arcar com a participação de Luciene Ferreira como delegada da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em 2016. Ela saiu de São Paulo para Brasília em 10 de maio daquele ano e voltou para a capital paulista três dias depois. O evento teve como objetivo debater com a sociedade civil propostas para formulação de políticas públicas.

Já os R$ 4,6 mil pagos em auxílio emergencial foram divididos entre junho de 2020 e outubro de 2021, em 10 parcelas. Foram cinco pagamentos de R$ 600 e outros três de R$ 150. Ela foi enquadrada como beneficiária extra CadÚnico, o Cadastro Único para Programas Sociais, responsável por identificar as famílias de baixa renda residentes em todo o território nacional.

Em 30 de agosto de 2023, Luciene participou de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara. O encontro ocorreu para debate sobre “condições dos cárceres, prevenção e combate à tortura”. Na ocasião, ela afirmou: “Meu companheiro é graduado e pós-graduado. Eu também sou acadêmica. Minhas filhas, que foram geradas no sistema prisional, são acadêmicas também. Nós temos uma bandeira, nós temos uma causa”.

<><> ONG atuava com coletes e armas

Como revelou a colunista Mirelle Pinheiro, do Metrópoles, a investigação revelou que o PCC planejou manifestações para além de reivindicações pacíficas. A operação envolveu armas, coletes balísticos e radiocomunicadores.

Os equipamentos foram apreendidos pela polícia, supostamente ligados a um esquema coordenado pela facção com a ONG Pacto Social & Carcerário, usada para promover atos judiciais e populares com base nos interesses da organização criminosa.

 

Fonte: Metrópoles

 

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