Ao optarem por
Trump, eleitores decidiram que o preço dos ovos importa mais que a invasão do
Capitólio
Há quatro anos, o
cientista político americano Steven
Levitsky,
da Universidade de Harvard, foi um dos primeiros a caracterizar a insurreição
no Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro como uma
"tentativa de autogolpe" de Donald Trump.
Autor do livro
clássico da ciência política Como as democracias morrem, Levitsky diz à
BBC News Brasil que o retorno ao poder de Trump,
quatro anos depois e pela via eleitoral, deve levar os Estados Unidos a deixar
de ser uma democracia e se converter no
que ele chama de "um regime autoritário competitivo", no qual as
eleições seguem existindo, mas sem que as regras do jogo sejam devidamente
cumpridas.
Levitsky, no
entanto, recusa a ideia de que a maior parte dos cidadãos da mais longeva democracia
moderna da história tenham decidido conscientemente por uma guinada
autoritária.
Segundo ele,
eleitores nas democracias latinas e europeias, assim como nos EUA, estão de mau
humor com seus governos e votando contra o status quo. Para ele, em novembro
passado, os eleitores americano decidiram que "o preço dos ovos importa
mais do que a invasão do Capitólio", optaram por mudança e votaram contra
o governo.
Para o pesquisador,
que a opção na cédula fosse Donald Trump é o resultado de falhas sucessivas,
tanto da elite política quanto de todas as instituições e seus mecanismos de
pesos e contra-pesos, dos quais os EUA costumavam se orgulhar. "Nunca
fomos o modelo de democracia que fingíamos ser", diz Levitsky.
Levitsky espera ver
um governo Trump com muito mais condições de executar políticas públicas do que
o republicano fez no primeiro mandato e chama de "besta feroz" a
coalizão do líder carismático com os bilionários donos das maiores redes
sociais, em especial Elon Musk, dono do X.
"Não
regulamentadas, redes sociais podem ser uma ameaça real à qualidade e
estabilidade das democracias", diz Levitsky.
<><>
Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Levitsky:
·
Você
foi um dos primeiros pensadores a dizer que o 6 de janeiro foi uma tentativa de
autogolpe de Trump. No momento em que o ataque ao Capitólio completa 4 anos,
Trump está voltando para a Casa Branca, depois de vencer as eleições no voto
popular e no colégio eleitoral. O que o atual momento político dos EUA
significa?
Steven
Levitsky - É um mau sinal. Uma das coisas críticas ou mais importantes
para preservar uma democracia ao longo do tempo é que, quando há tentativas de
subverter as instituições democráticas, seja um golpe presidencial ou uma
tentativa de roubar uma eleição ou violência política, esses atos contra a
democracia devem ser denunciados com força e rejeitados por toda a elite
política. Como ocorreu no Brasil em 2023, muito mais do que nos Estados Unidos
em 2021.
Mas o fato de
termos Donald Trump como presidente novamente, apesar de ele ter tentado muito
abertamente derrubar uma eleição e bloquear uma transferência pacífica de
poder, em primeiro lugar, é um sinal de que nossas instituições falharam.
Os nossos
alardeados controles constitucionais de que os americanos tanto se orgulham
falharam sistematicamente: o Congresso dos EUA não conseguiu destituir e
condenar Trump, o que o teria impedido de concorrer em 2024; a justiça
norte-americana não conseguiu responsabilizar Trump; e, então, o Partido
Republicano, apesar de uma tentativa de golpe, o nomeou candidato novamente.
E não há sequer um
consenso realmente alargado contra a insurreição de 6 de janeiro, apesar de a
maioria dos americanos a rejeitar. Donald Trump e muitos dos seus apoiadores
continuam abraçando essa insurreição. Esse é um sinal do que os cientistas
políticos chamam de democracia não consolidada.
·
Ao
longo de décadas, os EUA tomaram todo tipo de medidas ao redor do mundo
justificando a necessidade de implantar e defender a democracia. Em alguma
medida foi o que vimos com a China, na Venezuela, em relação a Cuba, etc. O
senhor, no entanto, avalia que o país está enfraquecendo a sua própria
democracia com Trump. O que as escolhas do eleitorado americano neste momento
revelam?
Levitsky - O
que aconteceu [com a eleição de Trump] foi um fracasso das instituições e das
elites. Nenhuma sociedade pode confiar nos eleitores para defender a
democracia. E isso foi essencialmente o que os políticos nos EUA fizeram.
Com raras exceções,
os eleitores não votam a favor da democracia ou contra a democracia ou qualquer
tipo de regime. Os eleitores votam por muitas e muitas outras razões. Votam por
causa do estado da economia, porque gostam ou não do presidente, porque têm
lealdade a um determinado partido. Mas os eleitores não votam pela democracia,
que é abstrata demais, nunca é a coisa mais importante na mente dos eleitores.
Portanto, o fato de
a maioria ter votado em Donald Trump não significa que a maioria dos americanos
estivesse escolhendo o autoritarismo. O que 49,8% dos americanos fizeram foi
votar contra o status quo, contra um partido incumbente com o qual estavam
descontentes por causa dos efeitos persistentes da pandemia de covid-19, por
causa da inflação.
Os eleitores em
todo o mundo, inclusive no
Brasil, estão mal-humorados, estão muito descontentes com o status quo. Na
Europa, na América do Norte, na América Latina, os eleitores têm votado
consistentemente na oposição. E fizeram isso nos Estados Unidos, mas não
estavam escolhendo conscientemente um autoritário.
Agora, em termos de
atuação no exterior, sempre foi um pouco hipócrita para os Estados Unidos se
promoverem como padrão da democracia – nunca fomos o modelo de democracia que
fingíamos ser. Mas vai ser cada vez mais difícil, eu acho, para os Estados
Unidos promoverem a democracia no exterior com qualquer autoridade, dado o quão
ruim, quão disfuncional sua democracia se tornou e quão gravemente suas
instituições falharam.
Agora, isso não
significa que somos equivalentes à Venezuela. Os EUA ainda condenarão a fraude eleitoral na
Venezuela,
que é, aliás, a pior fraude eleitoral da história moderna no continente
americano. Mas certamente não temos o tipo de autoridade que tínhamos na década
de 1990, quando promovíamos tão ativamente a democracia no exterior. Esses dias
acabaram.
·
Mas
o senhor avalia que os cidadãos não conseguem ver a importância da democracia?
A democracia não tem entregado para as pessoas, elas estão mal informadas?
Levitsky - Os
políticos foram irresponsáveis, em particular os políticos republicanos, ao
nomear um candidato que eles sabiam que era uma ameaça à democracia e deixar
essa decisão para os eleitores.
Os eleitores tiveram
uma série de opiniões diferentes sobre o dia 6 de janeiro. Cerca de 25% do
eleitorado total pensava que a eleição [de 2020] foi realmente roubada e que
este era um ato legítimo de defesa da democracia. Algumas pessoas realmente não
sabem o que aconteceu, não prestam muita atenção às notícias, podem ter ouvido
coisas mistas sobre o 6 de janeiro e realmente não sabem ao certo como
interpretá-lo.
Alguns eleitores
acham que tudo foi exagerado, que, sim, foi ruim, mas havia outras coisas que
importam mais. No final das contas, o preço dos ovos, a inflação e o emprego
importam mais do que a invasão do Capitólio.
Mais uma vez, os
eleitores não são cientistas políticos. Cabe aos cientistas políticos
determinar se algo é uma ameaça à democracia ou não. Cabe às elites políticas
defender a democracia. Não é função dos eleitores.
·
O
primeiro governo Trump muitas vezes operava no caos e com pouco domínio da
máquina burocrática. Isso, de acordo com os analistas, parece tê-lo impedido de
implementar algumas políticas. Que diferença haverá entre o primeiro e o
segundo mandatos do republicano na sua perspectiva?
Levitsky -
Haverá uma diferença dramática. Da primeira vez, Trump não esperava ganhar, ele
não tinha experiência, não tinha um plano e não tinha equipe. E por isso teve
de governar em coligação com os republicanos tradicionais e os tecnocratas
conservadores. A maioria de seu gabinete era de tecnocratas econômicos,
empresários, militares aposentados e republicanos convencionais.
Trump ficou muito
frustrado, assim como acho que Bolsonaro provavelmente também ficou, quando
chegou ao cargo e percebeu que as instituições do Estado não se curvariam
automaticamente à sua vontade, que havia uma institucionalidade e uma
burocracia que ele não poderia simplesmente manipular da maneira que ele
quisesse.
Mas ele aprendeu.
E, oito anos depois, Donald Trump controla totalmente o Partido Republicano e
sabe que, se quiser atingir os seus objetivos, precisa expurgar os funcionários
do Estado e preencher os cargos públicos chave com pessoas que lhe sejam leais.
Ele aprendeu que
precisa ser um Somoza [dinastia autoritária da Nicarágua], um [Rafael] Trujillo
[ex-autocrata da República Dominicana] ou um [François] Duvalier [Papa Doc,
líder autocrata do Haiti]. Ele não será capaz de destruir o Estado americano da
noite para o dia, mas ele deixou muito claro que tem planos para enfraquecer o
serviço público e ocupar todas as principais instituições estatais, do
Departamento de Justiça ao Departamento de Estado, passando pelas agências reguladoras
e pelas instituições fiscais.
Então, desta vez,
você terá um Estado que é muito mais sensível às necessidades de Trump. Ainda
será um governo bastante caótico, mas muito mais preparado, inclusive para se
virar contra críticos e rivais de uma forma bastante autoritária, muito mais do
que da primeira vez.
·
Você
diz que uma pessoa sozinha não pode destruir uma democracia. Donald Trump
contará com maiorias na Câmara, no Senado e na Suprema Corte. Considerando sua
avaliação sobre o republicano, temos um cenário em que a democracia americana
está em risco?
Levitsky - Com
o controle sobre o Partido Republicano, maioria no Congresso, que será
cooperativo, e uma Suprema Corte aliada, Trump causará muito mais danos à
democracia do que no primeiro mandato.
Penso que a
democracia dos EUA não desmoronará a ponto de vermos uma ditadura tradicional.
Não será um regime de partido único, não será fascismo, não será o Estado Novo
[de Getúlio Vargas, no Brasil], mas será o que em outros trabalhos chamei de
regime autoritário competitivo: um modelo em que ainda há eleições, mas no qual
a concorrência é injusta porque o incumbente abusa sistematicamente do Estado e
o instrumentaliza e usa contra seus rivais.
·
Neste
retorno de Trump ao poder, há um novo elemento em cena: o bilionário Elon Musk,
dono da rede social X. Como vê seu papel político?
Levitsky - Por
um lado, é algo incrivelmente perigoso porque em Musk você tem o homem mais
rico do mundo, que possui um dos maiores e mais influentes sites de mídia
social do mundo e que agora está em uma posição em que alguns já o chamam de
copresidente dos Estados Unidos.
Trata-se um poder
político maciço unido a um poder econômico e midiático monumentais. Isso é
demasiado poder para qualquer indivíduo deter. E esse tipo de concentração de
poder político, econômico e midiático é extraordinariamente perigoso para
qualquer democracia.
Musk também
introduz discórdia interna ou, pelo menos, potencial discórdia interna na
coligação de Trump. Este é um governo populista e, como tal, é muito
heterogêneo. Ele tem um líder personalista no topo e abaixo muitas tendências
diferentes e até mesmo concorrentes.
Então, dentro do
trumpismo, há esse tipo de facção populista nacionalista, etno-nacionalista e
anti-imigrante que visa consolidar o apoio entre a classe trabalhadora, mas
agora há esse novo grupo de bilionários com uma agenda muito diferente competindo
por espaço. Os bilionários da tecnologia e os etno-nacionalistas
anti-imigrantes vão provavelmente entrar em conflito.
E Donald Trump é um
líder personalista clássico. Ele é como [o argentino Juan Domingo] Perón, [o venezuelano
Hugo] Chávez, líderes mais carismáticos. Não gosta de partilhar o palco - ele
quer 100% da atenção, 100% da adulação, e não vai querer dividir o palco com
Elon Musk. E então eu acho que há um risco, uma boa chance de que haja tensão,
que haja atrito entre Trump e Musk.
E eu não ficaria
nada surpreso se, dentro de meses, Musk estiver fora do governo. Honestamente,
ficaria surpreso se Trump partilhasse o palco pacificamente com alguém como
Elon Musk durante quatro anos. Em última análise, acho que pode ser bastante
desestabilizador para o governo Trump.
·
Agora
vemos Mark Zuckerberg, CEO da Meta, controladora do Facebook, Instagram e
Whatsapp, tentando emular o comportamento de Musk, ao alterar as regras de suas
redes sociais, defendendo a liberdade de expressão como na primeira emenda da
Constituição americana. Qual é o peso das redes sociais no jogo democrático?
Como elas deveriam ser vistas e reguladas?
Levitsky - Com
a eleição de Trump, estamos vendo uma mudança dramática para a direita em
muitas dimensões. Veremos provavelmente uma desregulamentação bastante
dramática em favor das grandes empresas e das big techs. Ainda estamos
aprendendo as consequências das mídias sociais na política democrática, mas há
evidências crescentes de que as redes sociais não regulamentadas podem ser
realmente problemáticas. O problema da desinformação, da polarização extrema e
do isolamento dos indivíduos, dos cidadãos, é real.
E assim se pode
argumentar, como bem fez o Supremo Tribunal Federal do Brasil, que as redes
sociais precisam ser regulamentadas. Trata-se de uma nova tecnologia midiática
com consequências importantes para o funcionamento da política, e todos os
Estados democráticos têm de aprender a coexistir com ela. E, como todas as
tecnologias de mídia, rádio, televisão, vamos ter que regulá-la.
E acho que é
razoável dizer que, se completamente desregulamentadas, as mídias sociais podem
ser uma ameaça real à qualidade e à estabilidade das democracias. E é por isso
que as democracias na Europa e em partes da América Latina estão tomando
medidas para regulá-las, de maneiras diferentes.
Graças à eleição de
Trump e à resposta de Zuckerberg e Musk, os Estados Unidos foram empurrados
numa direção radical, afastando-se da regulamentação, o que terá consequências
negativas para a democracia.
A coalizão de ricos
empresários das maiores mídias sociais com o poder político é uma besta feroz.
Os bilionários da tecnologia em coligação com este novo governo são um poder
formidável Pode não durar, pode não ser tão forte quanto parece, mas agora eles
têm muito poder e vão se mover em uma direção de desregulamentação que é
preocupante para a democracia.
·
Trump
é abertamente elogioso a Jair Bolsonaro, ao salvadorenho Nayib Bukele, ao
argentino Javier Milei, todos cujas atuações são tidas como ameaçadoras da
democracia por boa parte dos cientistas políticos. Que tipo de impacto o
segundo mandato de Trump pode ter para democracias na América Latina?
Levitsky -
Provavelmente nada muito bom. Há duas maneiras pelas quais Trump pode afetar
negativamente as democracias na América Latina e em outros lugares, e ambas
foram vistas durante seu primeiro mandato. A primeira coisa é que Trump não
está nem aí para a democracia e, por vezes, admira autocratas. Então, o tipo de
promoção da democracia que os Estados Unidos fizeram no passado, nem sempre de
forma muito consistente, nem sempre de forma muito eficaz, isso vai abrandar,
se não parar.
Os Estados Unidos
não levantaram um dedo quando o governo de [Juan Orlando] Hernández roubou as
eleições em Honduras durante o primeiro mandato de Trump. O governo Trump não
fez nada para retardar a consolidação de uma ditadura na Nicarágua ou o
estabelecimento de uma autocracia sob Bukele em El Salvador. A América Central se
tornou muito mais autoritária sob Trump porque ele não fez o mínimo movimento
para apoiar a democracia.
O tipo de
comportamento que o governo Biden teve durante a crise no Brasil, ajudando a
persuadir os militares brasileiros a ficarem de fora de qualquer tipo de
tentativa golpista, isso não acontecerá sob Trump.
E, além de não
protegerem a democracia, os EUA se tornarão cada vez mais um modelo
autoritário. Se antes de 2020, quando Donald Trump se recusou a aceitar os
resultados de uma eleição, era muito raro, com exceção de López-Obrador
[México] no México, na América Latina os candidatos simplesmente dizerem: 'eu
rejeito, eu não aceito os resultados'. As pessoas aceitavam a derrota. Mesmo em
eleições apertadas em países como Bolívia, Equador, Argentina, Brasil, Chile e
Peru, os candidatos aceitaram a derrota. É uma norma básica da democracia.
Mas quando o
presidente dos Estados Unidos em 2020 se recusou a aceitar os resultados da
eleição, políticos de outros lugares olharam e disseram: 'bem, se o presidente
dos Estados Unidos não vai aceitar os resultados da eleição, talvez não haja
problema em eu não aceitar os resultados de uma eleição aqui'. Então, Bolsonaro
teve um comportamento muito semelhante. Keiko Fukimori, no Peru, recusou-se a
aceitar a derrota nas eleições na sequência do comportamento de Trump. Os EUA
tornaram-se um modelo negativo, um modelo de comportamento autoritário em vez
de comportamento democrático.
Se Trump cumprir
sua promessa de deportar milhões de pessoas, você pode ver líderes em outros
países fazendo isso também com custos tremendos em termos de liberdades humanas
e civis. Se Trump começar a travar, como já começou a fazer, processos
judiciais contra a mídia, processos por difamação contra a mídia, isso se
tornará algo que é feito com mais frequência também na América Latina. Alguns
comportamentos autoritários que foram rejeitados na América Latina no passado
podem agora ser legitimados novamente.
·
Devemos
esperar que Trump use sanções ou outras medidas para prejudicar os governos da
América Latina com os quais ele não é próximo?Devemos esperar a deterioração da
relação entre Brasil e EUA sob Lula e Trump?
Levitsky -
Muito possivelmente. Vai depender um pouco da estratégia do governo Lula, se
vai escolher enfrentar Trump ou não. Mas Trump gosta de se fazer de valentão no
cenário internacional, gosta de fazer exigências e ameaças. Nem sempre realiza
essas ameaças, mas muitas vezes consegue que os governos cooperem por causa
delas.
E seu maior alvo na
América Latina é o México, onde ele vai usar todos os tipos de ameaças de
tarifas para tentar coagir o governo [Claudia] Scheinbaum a se comportar como
ele quiser. Eu não ficaria surpreso se ele fizesse algo bem semelhante em
relação ao Brasil, inclusive com o uso de tarifas.
·
Ele
também está se voltando contra o Canadá e o Panamá na região, mas também já
mencionou a Groenlândia. Como vê essas
intenções expansionistas?
Levitsky -
Trump às vezes diz coisas malucas que ele acaba por não fazer. Às vezes, ele
age de acordo com seus anúncios. E, às vezes, ele diz coisas e depois os seus
apoiadores descobrem formas de materializá-las.
Honestamente, ainda
não sabemos quão sério Trump é sobre o Panamá e a Groenlândia. Suspeito que não
muito, que ele pode tentar usar essas ameaças para obter algumas concessões,
talvez do Panamá em relação ao Canal, mas seria bastante radical se os EUA
tentassem tomar o controle do
Canal do Panamá ou
da Groenlândia (militarmente). Mas se Trump realmente seguir em frente com
isso, provavelmente ele conseguiria.
O Panamá nem sequer
tem Forças Armadas. Os Estados Unidos poderiam, se quisessem, tomar o controle,
roubar o Canal do Panamá. Acho que ninguém nos Estados Unidos está
suficientemente ciente do perigo que isso representa para a ordem
internacional. Foi assim que o mundo funcionou durante centenas e centenas de
anos: os mais poderosos tiravam o que queriam dos mais fracos. Mas quando entramos
na era industrial moderna, esse tipo de comportamento mercantilista se mostrou
incrivelmente destrutivo. Isso nos levou à Primeira Guerra Mundial e à Segunda
Guerra Mundial.
A ordem
internacional que construímos após a Segunda Guerra Mundial foi precisamente um
esforço para evitar um mundo anarquista brutal em que os poderosos faziam o que
queriam aos fracos. Se Trump romper a ordem do pós-guerra, o que não é super
provável, mas é possível, vai nos lançar em um lugar muito sombrio.
Fonte: BBC News Mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário