A crueldade
presente nas escolas: entre a crise de sentido e a banalização do mal
Nos corredores da
escola, palco de sonhos e aprendizados, um drama silencioso se desenrola: a
crueldade humana assume formas brutais, falta de respeito e dificuldade em
impor limites a jovens e adolescentes, tem comprometido a vida de muitos.
Hannah
Arendt,
em sua obra "Eichmann
em Jerusalém",
introduziu o conceito da "banalidade
do mal".
Segundo Arendt, o mal pode ser cometido por indivíduos comuns, que não
necessariamente possuem uma natureza malévola, mas que agem de maneira
insensível e irrefletida, seguindo ordens ou normas sociais sem questioná-las.
No contexto escolar, essa teoria pode ser observada no comportamento dos
estudantes que praticam crueldade contra seus colegas. Muitas vezes,
os atos de bullying e exclusão não são perpetrados por jovens
intrinsecamente maldosos, mas por aqueles que seguem a dinâmica do grupo, sem
refletir sobre as consequências de suas ações.
A banalidade
do mal se manifesta na conformidade social e na falta de empatia.
Estudantes podem participar de atos cruéis não por uma intenção deliberada de
causar sofrimento, mas porque essas ações são normalizadas dentro do ambiente
escolar. A pressão para se adequar ao grupo e a necessidade de afirmação social
podem levar jovens a cometerem crueldades, sem considerar a gravidade de seus
atos.
A crueldade humana
na escola é um fenômeno complexo que se manifesta de diversas formas,
desde bullying verbal e físico até a exclusão social, discursos de
discriminação socioeconômicos e o cyberbullying. Para entender essa
problemática, é fundamental considerar os conceitos de Hannah
Arendt e Viktor
Frankl,
cujas reflexões filosóficas e psicológicas proporcionam uma compreensão mais
profunda das dinâmicas envolvidas.
Arendt argumentou
que o mal muitas vezes não surge de intenções malignas ou fanatismo
extremo, mas sim da falta de pensamento crítico e reflexão. A “banalidade do
mal” ocorre quando pessoas comuns se tornam cúmplices de atrocidades, agindo de
forma mecânica e desprovida de empatia. Essa ausência de questionamento e
reflexão leva à privação de responsabilidade e à perpetuação do mal.
·
A
Crise de Sentido de Viktor Frankl
Viktor
Frankl,
em sua obra "Em Busca de Sentido", explora a ideia de que o ser
humano tem uma necessidade intrínseca de encontrar sentido em sua
vida. Frankl argumenta que a falta de sentido pode levar ao vazio
existencial e ao comportamento destrutivo. No ambiente escolar, essa crise de
sentido pode se manifestar de diversas formas, incluindo a crueldade contra os
outros.
Os estudantes que
sofrem de uma crise de sentido podem sentir um profundo vazio interior, que
tentam preencher através de comportamentos agressivos ou de exclusão.
A crueldade, nesse caso, pode ser vista como uma tentativa disfuncional de
lidar com a própria falta de propósito e significado. Ao infligir sofrimento
nos outros, esses jovens podem estar tentando afirmar sua própria existência e
buscar uma sensação de controle e poder em um ambiente onde se sentem
impotentes e desorientados.
Além disso, a falta
de sentido pode ser exacerbada pela ausência de valores e de orientação
moral no ambiente escolar. Quando os estudantes não encontram apoio
emocional e não são incentivados a refletir sobre questões éticas e de
propósito, tornam-se mais suscetíveis a comportamentos cruéis. A crise de
sentido, portanto, não apenas contribui para a crueldade na escola, mas também
é alimentada por ela, criando um ciclo vicioso difícil de romper.
Com o avanço de
algumas realidades, um fator determinante deve ser observado: a crise de
sentido. Sendo assim é necessário explorar como essa ideia se relaciona com a
conduta dos estudantes nas escolas e a crise de sentido proposta
por Viktor Frankl. Sob a ótica de Frankl, a crise de sentido emerge como
um pano de fundo inquietante. O ser humano imerso em um mundo fragmentado,
desprovido de valores e propósito, busca na dor do outro uma falsa sensação de
poder e significado.
Viktor Frankl,
psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, argumentou que a
busca por sentido é fundamental para a saúde mental e emocional. Quando os
estudantes enfrentam uma crise de sentido, como a falta de propósito ou conexão
com os outros, podem se tornar vulneráveis à crueldade. A ausência de
significado em suas vidas pode levá-los a agir de forma insensível e
prejudicial.
Em resumo, a
crueldade humana muitas vezes surge da falta de reflexão e empatia. É essencial
promover a conscientização e a educação para combater essa banalidade do
mal e criar ambientes mais compassivos e solidários.
A integração das
perspectivas de Arendt e Frankl oferece uma compreensão
abrangente da crueldade humana. A banalidade do mal nos alerta para a
importância da reflexão crítica e da resistência à conformidade social,
enquanto a crise de sentido nos lembra da necessidade de oferecer aos jovens um
propósito e uma orientação moral clara.
Para combater a
crueldade nas escolas, é crucial fomentar um ambiente onde a empatia, a
reflexão crítica e a busca por sentido sejam valorizadas e incentivadas. Isso
pode ser feito através de programas de educação emocional e ética, que ajudem
os estudantes a desenvolver habilidades de pensamento crítico e a encontrar um
propósito em suas vidas. Ao abordar tanto a banalidade do mal quanto
a crise de sentido, podemos trabalhar para criar um ambiente escolar mais
humano e compassivo, onde a crueldade seja a exceção, e não a regra.
Fonte: Por Robson
Ribeiro de Oliveira Castro Chaves, em IHU
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