segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

3 razões por que 'tarifaço' de Trump não é o único problema da China

China divulgará em breve os números do PIB (Produto Interno Bruto) para 2024, que deve ter sido afetado por uma crise imobiliária, endividamento do governo e desemprego entre jovens.

Pequim estabeleceu uma meta de crescimento de "cerca de 5%". Em dezembro de 2024, o presidente Xi Jinping disse que o país — segunda maior economia do mundo — estava a caminho de cumprir a meta.

"Como sempre, crescemos em meio à tempestade, e ficamos mais fortes em tempos difíceis. Devemos ter confiança", disse ele.

Em geral, os especialistas concordam: o Banco Mundial diz que a China pode atingir um crescimento anual de 4,9% devido ao aumento das exportações e do baixo custo do empréstimo no país.

Os investidores, no entanto, estão se preparando para a ameaça de Trump de cobrar impostos sobre os US$ 500 bilhões (R$ 3,018 trilhões) em produtos chineses importados pelos EUA.

E esse não é o único fator que pode impedir a China de atingir suas metas de crescimento em 2025.

A confiança dos empresários e consumidores está baixa e a moeda chinesa (o yuan) continuará a enfraquecer à medida que Pequim corta as taxas de juros em uma tentativa de impulsionar o crescimento.

Entenda três razões pelas quais a China tem desafios maiores do que as taxas de Trump.

<><> 1. Impostos já estão afetando as exportações da China

Os alertas de que a economia da China vai desacelerar em 2025 estão aumentando.

As exportações foram um dos principais fatores de crescimento em 2024 e agora estão em risco.

China apostou na indústria para tentar reverter a desaceleração - então tem exportado um número recorde de carros, impressoras 3D e robôs industriais.

Os EUA, o Canadá e a União Europeia acusaram a China de fabricar produtos em excesso e criaram impostos para produtos chineses para proteger empregos e empresas locais.

Especialistas dizem que os exportadores chineses podem agora se concentrar em outras partes do mundo.

Mas esses países são provavelmente mercados emergentes, que não têm os mesmos níveis de demanda que a América do Norte e a Europa.

Isso pode impactar os negócios chineses que esperam se expandir, o que, por sua vez, pode atingir os fornecedores de energia e matérias-primas.

Xi quer transformar a China de polo mundial de produtos baratos em uma potência de alta tecnologia até 2035, mas não está claro como a indústria continuaria a ser o principal fator de crescimento diante do aumento dos tributos.

<><> 2. As pessoas estão gastando menos

Na China, a riqueza das famílias está em grande parte aplicada no mercado imobiliário.

Antes da crise imobiliária, o setor representava quase um terço da economia da China, empregando milhões de pessoas, de construtoras e incorporadoras a produtores de cimento e designers de interiores.

Pequim implementou uma série de políticas para estabilizar o mercado imobiliário. E o órgão fiscalizador do mercado financeiro do país, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC), disse que apoiará vigorosamente as reformas.

Mas ainda há muitas casas e propriedades comerciais vazias, e esse excesso de oferta continua a forçar a queda dos preços.

A baixa do mercado imobiliário deve chegar ao fundo do poço este ano.

Mas o banco americano Goldman Sachs diz que a crise será um entrave ao crescimento econômico da China por "vários anos".

E a crise imobiliária já atingiu duramente o consumo das famílias.

Nos últimos três meses de 2024, o consumo das famílias contribuiu com apenas 29% para a atividade econômica da China, abaixo dos 59% que representava antes da pandemia.

Essa é uma das razões pelas quais Pequim aumentou as exportações. O país quer compensar a queda no consumo doméstico com exportação de carros novos, itens de luxo e outros produtos.

O governo até introduziu programas como trocas de eletrodomésticos, onde as pessoas podem trocar suas máquinas de lavar, micro-ondas e panelas elétricas de arroz por aparelhos novos.

Mas os especialistas se perguntam se esse tipo de medida por si só é suficiente ou se o país precisa lidar com os problemas mais profundos da economia.

Eles dizem que as pessoas precisam de mais renda para que o consumo volte a ser o que era antes da covid-19.

"A China precisa trazer de volta o espírito de consumo da população e ainda estamos longe disso", diz Shuang Ding, economista-chefe para a China e Norte da Ásia no banco britânico Standard Chartered.

"Se o setor privado começar a investir e inovar, isso pode aumentar a renda e as perspectivas de emprego, e as pessoas terão mais confiança para consumir."

A dívida pública alta e o desemprego também afetaram a poupança e os gastos.

Os números oficiais sugerem que a taxa de desemprego entre os jovens continua alta em comparação com antes da pandemia, e que os aumentos salariais estagnaram.

<><> 3. Empresas não estão mais se mudando para a China como faziam antigamente

O presidente Xi prometeu investir nas indústrias de ponta que o governo chama de "novas forças produtivas".

Até agora, isso ajudou a China a se tornar líder em produtos de energia renovável, como painéis solares e baterias de veículos elétricos.

No ano passado, a China também ultrapassou o Japão como o maior exportador de carros do mundo.

Mas o cenário econômico que deixa a desejar, as dúvidas sobre tarifas e outras incertezas geopolíticas significam que o apetite de empresas estrangeiras por investimentos na China está contido.

"As empresas não veem um futuro brilhante. E o que o país quer é um conjunto mais diversificado de investidores chegando", diz Stephanie Leung, da plataforma de gestão de patrimônio StashAway.

Por todos esses motivos, os especialistas acreditam que as medidas para apoiar a economia aliviarão apenas parcialmente o impacto de possíveis novas taxas dos EUA.

"Pequim deve tomar medidas grandes e ousadas ou aceitar que a economia não vai crescer tão rápido", escreveu em um relatório recente Hui Shan, especialista em China do Goldman Sachs. "Esperamos que eles escolham o primeiro."

"A China precisa estabilizar os mercados imobiliários e criar empregos suficientes para garantir a estabilidade social", diz Ding, do banco Standard Chartered.

De acordo com o China Dissent Monitor, iniciativa que monitora a situação sociopolítica chinesa, houve mais de 900 protestos na China entre junho e setembro de 2024, 27% a mais do que no mesmo período do ano anterior. Eles foram liderados por trabalhadores e proprietários de imóveis.

Esse tipo de tensão social como resultado de insatisfações econômicas e perda de riqueza é um problema para o Partido Comunista Chinês.

Afinal, o crescimento explosivo transformou a China em uma potência global, e a promessa de maior prosperidade ajudou amplamente seus líderes a manterem um controle rígido sobre a dissidência.

 

¨      O que está por trás de nova foto oficial de Donald Trump

Sério. Sinistro. Uma "foto que carrega uma mensagem".

Essas são algumas das descrições do novo retrato oficial de Donald Trump, capturado por seu fotógrafo-chefe, Daniel Torok.

Na foto, o presidente eleito, que toma posse na segunda-feira (20/1), encara a câmera com uma expressão séria e a sobrancelha levantada.

"O retrato oficial do presidente é a imagem mais impressa e mais vista do presidente", disse o ex-fotógrafo da Casa Branca Eric Draper à BBC.

Ele trabalhou para George W. Bush durante seus oito anos na presidência dos Estados Unidos, e foi quem fez os retratos oficiais dos dois mandatos.

A primeira impressão que Draper teve da imagem de Trump foi que ela teria sido "fortemente manipulada", tanto com iluminação de estúdio quanto com retoques após a captura da imagem.

A foto parece usar uma iluminação "monstruosa", disse ele, para iluminar de forma dramática o presidente eleito por baixo e fazer seus olhos se destacarem.

A configuração da iluminação dá à imagem uma aparência "sinistra" frequentemente vista em filmes de terror, disse Eliska Sky, fotógrafa de retratos do Instituto de Fotografia de Londres. Ela comparou a representação de Trump a de um boxeador antes de uma luta.

A iluminação "sugere seriedade e intenção", segundo Paul Duerinckx, professor sênior de fotografia documental no Swansea College of Art, no Reino Unido.

Esta imagem é impressionante, acrescentou, porque a fonte de luz na maioria das fotos vem de cima, como do sol ou das luzes do teto, e inverter a fonte nesta foto "tende realmente a ter um efeito sobre nós".

Nas redes sociais, muitas pessoas compararam a imagem oficial do novo mandato à "foto policial" de Donald Trump, tirada no condado de Fulton, na Geórgia, depois de ele ter sido acusado de tentar anular a derrota nas eleições de 2020 – uma acusação que Trump nega.

O YouTuber de fotografia Jared Polin disse que discutiu o retrato com Torok e foi informado de que a foto forneceu inspiração.

"A foto policial foi uma das imagens mais pesquisadas, talvez de todos os tempos", afirma Polin, disse Torok.

Torok não respondeu ao pedido de comentários da BBC.

A foto policial, tirada em 2023, passou a fazer parte da cultura norte-americana, enfeitando de canecas de café a camisetas.

<><> Sorriso

O estilo do novo retrato de Trump difere da aparência de sua imagem de 2017, e também de presidentes anteriores, incluindo George W. Bush.

"Você definitivamente tira fotos para agradar o cliente e, neste caso, acho que esse é o tipo de imagem que eles queriam retratar", disse Draper à BBC.

Ele se lembra de ter conversado com o então presidente Bush e a primeira-dama Laura Bush para examinar uma seleção de imagens antes de escolherem a favorita deles.

"A ideia era fazer com que parecesse uma iluminação bonita e agradável, parecesse um retrato profissional, com uma expressão bonita, porque essas fotos vão dar as boas-vindas às pessoas quando elas entrarem nos correios", disse ele, em referência aos usos das fotografias oficiais.

Andrew Parsons, um fotógrafo político que trabalhou para quatro primeiros-ministros britânicos durante 13 anos, disse sobre a foto de Trump: "É uma imagem de mensagem, estou entregando uma mensagem a você".

"Não é como um sorriso sincero, é um olhar severo e duro, direto para a lente."

Em comparação, Parsons disse que a imagem do mandato que se iniciou em 2017 foi uma "imagem do empresário Donald Trump".

É difícil ampliar a importância de imagens políticas como a de Trump, disse ele. "Uma imagem pode fazer ou quebrar uma campanha política."

¨      Como será a cerimônia de posse que levará Trump de volta à Casa Branca

Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, voltará para a Casa Branca nesta segunda-feira (20/1), após ser oficialmente empossado como o 47º presidente do país.

O dia da posse incluirá uma cerimônia formal de juramento, além de apresentações musicais, um desfile comemorativo e bailes formais à noite.

Algumas mudanças na programação foram feitas dias antes devido à previsão de forte frio em Washington — com parte da agenda prevista para ser realizada em áreas internas.

O vice-presidente eleito, J.D. Vance, também prestará o juramento na segunda-feira, juntando-se a Trump no palco para dar início ao novo governo.

A seguir, veja o que você precisa saber sobre o dia que marcará o retorno de Trump ao governo dos Estados Unidos.

O que é a posse?

A posse é a cerimônia formal que marca o fim do mandato de um presidente e o início da administração de um novo presidente.

É a parte mais visível da transição de poder entre os líderes do governo em Washington, capital dos EUA.

Uma parte essencial da cerimônia inclui o presidente eleito fazendo o juramento de posse: "Eu juro solenemente que executarei fielmente o cargo de presidente dos Estados Unidos, e farei, ao melhor da minha capacidade, preservar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos."

Embora tenha vencido a eleição em novembro, Trump se tornará oficialmente o 47º presidente assim que proferir essas palavras.

Ele também deverá discursar, apresentando seus objetivos para os próximos quatro anos.

Vance também fará o juramento antes de assumir formalmente o cargo de vice-presidente.

<><> Quando será a posse de Trump?

Na manhã de segunda-feira, o dia da segunda posse de Trump começará com uma cerimônia na Igreja de São João, uma igreja histórica na praça Lafayette, em Washington, seguido de um chá na Casa Branca.

As apresentações musicais e os discursos de abertura estão programados para começar no palco principal do evento, às 9h30 no horário local (11h30 no horário de Brasília).

Em seguida, ocorrerá o juramento de Trump e Vance, seguido pelo discurso inaugural.

Os discursos serão realizados em área interna, dentro da rotunda do Capitólio, devido à previsão de frio em Washington. Antes, essa parte da cerimônia ia ser realizada no gramado oeste do Capitólio.

O último presidente a ser empossado em ambientes fechados foi Ronald Reagan em 1985, quando o clima frio também se impôs em Washington.

Trump então se dirigirá à Sala do Presidente, perto da câmara do Senado, para assinar documentos-chave e iniciar seu novo mandato.

Depois, o Comitê Conjunto do Congresso para as Cerimônias Inaugurais organizará um almoço no qual ele participará.

O desfile inaugural também será realizado em ambiente fechado, na arena Capital On, no centro de Washington, com os três bailes inaugurais à noite — o Commander in Chief, o Liberty Inaugural e o Starlight. A previsão é que ele fale nos três.

<><> Como assistir?

Normalmente, há uma grande demanda para assistir à posse pessoalmente, e os ingressos são muito procurados.

Membros do Congresso recebem um número determinado de ingressos para a cerimônia, que podem distribuir para seus eleitores.

Esses ingressos são gratuitos, mas muitas vezes difíceis de conseguir.

Os americanos podem entrar em contato diretamente com parlamentares para obter ingressos.

Também há várias maneiras de assistir remotamente. A Casa Branca transmitirá a posse ao vivo. A BBC News também transmitirá a cobertura ao vivo da posse em seu site em inglês.

<><> Quem participa da cerimônia?

Autoridades locais e federais esperam que cerca de 200 mil pessoas compareçam a Washington, incluindo apoiadores entusiastas e manifestantes contrários a Trump.

Muitos senadores e membros do Congresso dos EUA também estarão presentes, assim como convidados do novo governo.

Após Trump, Vance e suas famílias, os próximos convidados mais importantes são o presidente e a vice-presidente em exercício.

Isso significa que veremos o presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris — que perdeu as eleições de novembro para Trump — acompanhados de seus cônjuges Jill Biden e Doug Emhoff.

Ex-presidentes e ex-primeiras-damas também costumam comparecer à posse.

Este ano, espera-se que isso inclua George e Laura Bush e Barack Obama, embora Michelle Obama não vá comparecer, segundo relatos.

<><> Quem vai se apresentar?

A cantora country Carrie Underwood, ex-estrela do popular programa de talentos American Idol, está escalada para interpretar a canção America the Beautiful durante a posse.

A canção histórica patriótica já foi gravada por nomes como Ray Charles e Frank Sinatra.

"Eu amo nosso país e estou honrada por ter sido convidada a cantar na posse e ser uma pequena parte deste evento histórico", disse Underwood em um comunicado.

"Estou humildemente respondendo ao chamado em um momento em que todos devemos nos unir no espírito de unidade e olhar para o futuro."

O grupo The Village People, uma banda pop que fez muito sucesso no fim dos anos 1970, também se apresentará em um dos bailes inaugurais de Trump, como anunciado pelo grupo.

Durante a campanha, Trump tocou frequentemente as músicas do grupo — como Y.M.C.A. e Macho Man — em seus comícios.

"Sabemos que isso pode não agradar a alguns de vocês, mas acreditamos que a música deve ser apresentada sem levar em conta a política", disse a banda em uma postagem no Facebook.

"Nossa música Y.M.C.A. é um hino global que, esperamos, ajude a unir o país após uma campanha tumultuada e dividida, na qual nosso candidato preferido perdeu."

O cantor country Lee Greenwood — um amigo de longa data e colaborador de Trump — e o cantor de ópera Christopher Macchio também se apresentarão.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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