segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

2025, será um ano decisivo para Lula?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrou na quarta-feira (01/01) na segunda metade de seu atual mandato na Presidência da República, em meio a conflitos com o Congresso, mais conservador que o governo, e embates com operadores do mercado, que pressionam por equilíbrio fiscal. E com um fator novo no cenário internacional: a volta de Donald Trump à Casa Branca.

Aos 79 anos, Lula também será cada vez mais questionado se será candidato à reeleição em 2026. Em entrevista recente à CNN Internacional, ele não descartou essa hipótese: "Se chegar na hora e os partidos entenderam que não há outro candidato para enfrentar uma pessoa de extrema direita – que seja negacionista, que não acredita na medicina e na ciência –, obviamente, estarei pronto para enfrentar", disse, pontuando, no entanto, que espera que isso "não seja necessário".

Ele está na frente nas pesquisas. Um levantamento feito pela Genial/Quaest divulgado em 12 de dezembro aponta que Lula derrotaria os principais nomes da direita – Tarcísio de Freitas (Republicanos), Pablo Marçal (PRTB), Ronaldo Caiado (União) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral que o condenou por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em ataques às urnas eletrônicas.

Por outro lado, uma pesquisa do Datafolha divulgada em 17 de dezembro identificou leve piora nos índices de avaliação do seu governo, considerado ótimo ou bom por 35% (um ponto percentual a menos que em outubro) e ruim ou péssimo para 34% (dois pontos percentuais a mais).

·        Crescimento e emprego, com alta da inflação

"Tem uma luz amarela para o governo e para as forças progressistas. É de se esperar que neste ano se façam mudanças de rumo e de governabilidade", afirma à DW a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). 

Ela avalia que um dos principais problemas para a popularidade de Lula é o aumento do custo de vida. O Banco Central estima que a inflação anual de 2024 ficará em 4,84%, acima do teto da meta, que é 4,5%.

Pesam no bolso da população itens como as carnes, cujo preço subiu mais de 8% só em novembro. E isso se reflete na popularidade, principalmente no segmento entre 2 a 5 salários mínimos, um eleitorado importante para o petista. Nessa faixa de renda, a avaliação de ruim ou péssimo do governo passou de 39% em outubro para 42% em dezembro, segundo o Datafolha.

Também há bons números, como alta no PIB, aumento da renda do trabalhador e taxa de desemprego na mínima histórica, que no entanto aparecem em meio a derrotas do governo no Congresso, como a desidratação de medidas fiscais, recuos como o adiamento do envio do projeto para ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil, e aumentos da taxa de juros e do dólar.

"Vem o governo e fala que vai reduzir o imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Passou? Nem passou. É mais um descrédito que passa, e até agora não tem uma comunicação mostrando que tentou fazer algo e não conseguiu", afirma Braga.

·        Falta de alternativa na esquerda? 

É justamente no ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), envolvido diretamente na economia, que reside a principal alternativa a Lula em 2026. O candidato derrotado por Bolsonaro em 2018, porém, acumula fracassos recentes nas urnas: além da Presidência, perdeu a reeleição para a prefeitura de São Paulo, em 2016, e para o governo paulista, em 2022.

"Haddad não tem capital político quase nenhum fora do Lula. Ele não tem autonomia política, como a Dilma não tinha, e a gente sabe quais são as consequências disso num governo de coalizão, o que é inevitável no Brasil", afirma o cientista político Paulo Henrique Cassimiro, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Para ele, o desempenho macroeconômicos da gestão Lula tem despertado reação negativa do mercado por um ruído ideológico. "Qualquer governo que assuma um discurso que não seja em primeiro lugar um equilíbrio fiscal sofre essa reação. O Bolsonaro também sofreu, mas ele tinha um ministro (Paulo Guedes) que era fiador do mercado, mesmo quando Bolsonaro contradizia isso", diz Cassimiro. "Haddad não deixa de discutir a questão fiscal, mas coloca como prioridade o crescimento, não só do PIB, mas também de renda. E o governo não tem conseguido converter isso em melhora da avaliação, é uma sinuca de bico."

Outra dúvida sobre o papel de Haddad como liderança alternativa a Lula é o desempenho do PT. Nas eleições de 2024, o partido teve apenas um candidato eleito em uma capital brasileira, com Evandro Leitão em Fortaleza (CE).

"O PT é um partido em franca decadência, do ponto de vista do tamanho de bancada e de votos que consegue amealhar, muito dependente da capacidade do Lula de atrair votos. E não vai querer abrir mão da cabeça de chapa, vai querer emplacar um candidato do partido, mas não há uma alternativa a Lula", diz Cassimiro.

Ele vê como uma das lições de 2024 a vantagem da centro-direita, que se mostrou vitoriosa nos embates contra a esquerda e também contra a extrema direita, ao assumir discursos "menos truculentos". Para Braga, da Ufscar, isso pode levar a uma composição de chapa do PT com um candidato mais afinado às elites econômicas, como ocorreu em 2002 e 2006, com o empresário José Alencar como vice de Lula.

A questão da saúde de Lula também coloca interrogações sobre uma possível disputa à reeleição. Em dezembro, ele foi submetido às pressas a uma cirurgia no cérebro para conter um sangramento, resultado tardio de um acidente doméstico ocorrido em outubro. Segundo os médicos, contudo, não há sequelas. "Ele não está mal de saúde, é diferente do que ocorreu na questão do Biden. Apesar da idade, política não tem isso, se a pessoa está coerente e pensando", diz Braga.

·        Efeito Trump e pragmatismo nas relações internacionais

No caso de Joe Biden, de 82 anos, dúvidas sobre a saúde levaram a uma pressão por parte do Partido Democrata, que acabou escolhendo a vice-presidente Kamala Harris para concorrer contra Donald Trump. A estratégia não deu certo, e o republicano foi reeleito e assume o governo dos Estados Unidos em 20 de janeiro.

Líder da extrema direita mundial e aliado de Bolsonaro, Trump será outro desafio da segunda metade do governo de Lula. No entanto, diferentemente de Bolsonaro, que relutou em reconhecer a vitória de Biden em 2020, o atual presidente da República parabenizou o republicano prontamente, até mesmo antes da imprensa confirmá-lo como vencedor, lembra Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional de Estudos sobre os Estados Unidos.

"O Brasil vai procurar agir de forma pragmática em relação ao Trump. Mas dada a turbulência que ele vai criar, talvez o pragmatismo não dê conta", diz, lembrando do interesse do republicano em retomar o canal do Panamá, atualmente administrado por uma empresa chinesa. Em dezembro, Trump disse que o Brasil impunha tarifas altas sobre produtos importados dos EUA e que seu governo adotaria medidas semelhantes sobre produtos brasileiros.

Já na América do Sul, Lula tentou mediar o impasse eleitoral na Venezuela, mas foi rechaçado por Nicolás Maduro, com quem acabou rompendo laços. Mudou a rota para tentar minimizar os danos da chegada do populista de direita Javier Milei na Argentina e, com isso, reforçou o diálogo com o Mercosul.

Os esforços com os países vizinhos levaram à conclusão dos termos do tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE), depois de 25 anos de negociações. Além disso, o país sediou a cúpula do G20, em novembro, com a presença do líder chinês, Xi Jinping, e do presidente dos EUA, Joe Biden.

Para 2025, a expectativa é com a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro, em Belém (PA), marcando os dez anos do Acordo de Paris – cuja saída dos Estados Unidos já foi anunciada por Trump. Isso significa que mais 50 milhões dólares anunciados por Biden para o Fundo Amazônia provavelmente não vão chegar, diz Menezes.

"O Brasil sabe que vai fazer uma COP 30 provavelmente com a ausência dos EUA. Mas vai trazer os chefes de Estado e tentar retomar o protagonismo internacional na questão da Amazônia. O país vai colocar todas as forças nisso", afirma.

 

¨      Os riscos para o governo Lula e a democracia. Por Luís Nassif

No artigo “Xadrez de 2025 e as cinco bestas do apocalipse” procurei detalhar didaticamente os desafios, os avanços e os riscos.

A partir do mensalão teve início um processo de desmonte institucional do país, cujo ápice foram a Lava Jato e a eleição de Jair Bolsonaro.

A partir da eleição de Lula, em 2022, começou um processo lento e delicado de remontagem das instituições, cujos pontos altos foram os inquéritos das fake news e de 8 de janeiro, tocados pelo Ministro Alexandre de Moraes, e, agora, a medida visando moralizar as emendas parlamentares, de autoria do Ministro Flávio Dino.

Se dezembro marcou uma virada em relação aos abusos do orçamento, também mostrou a extraordinária vulnerabilidade do país em relação aos movimentos especulativos com câmbio e juros.

<><> Há um cartel operando esses ativos. Como enfrentá-lo?

De um lado, o trabalho de Sísifo, de administrar o dia a dia do mercado, que vem sendo desempenhado pelo Ministro da Fazenda Fernando Haddad.

Mas é apenas para administrar o tempo, enquanto o governo prepara a pauta positiva, o projeto de país, organizando as inúmeras oportunidades que se abrem na próxima revolução industrial, baseada nas mudanças climáticas e nas novas tecnologias. Enfim, um plano de governo que repita 2008, permitindo a recuperação da credibilidade das políticas públicas.

Enquanto não houver um projeto claro de país, a convicção de que há um governo construindo saídas, algo que permita à opinião pública recuperar a confiança nas políticas públicas – como ocorreu em 2008 – será um processo de enxugar gelo até onde der.

E, aí, há um vácuo amplo, a começar da inação do próprio Lula.

O Lula de 2002 a 2010 era uma esponja, absorvendo informações por todos os poros, aberto a conversas com políticos e analistas. E, depois, atuando como um maestro organizando as ações  do ministério.

Esse Lula ainda não apareceu em 2023 e 2024. Está isolado, desinteressado do dia a dia da gestão, fechado a conversas com especialistas de fora do governo, fechado a novas ideias. E, aí, comete a pior das estratégias: enfrenta o mercado com declarações e sem nenhuma estratégia de governabilidade.

Não apenas isso. Em dois anos de gestão, é um governo sem Casa Civil, sem Secretaria de Comunicação e sem Secretaria Geral da Presidência. Não há interlocutores no Palácio, e a queixa é generalizada entre praticamente todos os ministros. 

Na Casa Civil – que deveria ser a porta de entrada para a Presidência – há um político limitado, com baixíssima visão de problemas nacionais e empenhadíssimo em ampliar seu espaço político sem dispor de planos nem ideias e praticamente barrando o acesso a Lula por todos os demais ministros.

Há dois programas promissores – a transição energética e a Nova Indústria Brasileira. Na 5a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, o próprio Lula – no discurso de encerramento – entendeu a importância de um plano, um modelo de gestão integrada, com prazos e metas. E encomendou o plano à Conferência – algo inusitado, já que seria um plano de governo.

De lá para cá, nada ocorreu. Houve uma tentativa de montar um grupo de trabalho entre Fazenda, Indústria e Comércio e Minas e Energia, para administrar os planos de transição energética. Não saiu do lugar. O Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira – o candidato favorito a uma segunda Lava Jato – não quis abrir mão de seu poder atual, que lhe permite atender às demandas de lobbies do setor.

Resta o trabalho solitário da NIB (Nova Indústria Brasil), graças a um grupo de especialistas com visão de desenvolvimento.

Na solidão cósmica do Palácio, uma das únicas exceções identificadas por observadores qualificados é o vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem atuado como conselheiro político de Lula, evitando algumas armadilhas.

Sem um plano de metas, a economia fica à mercê da bancada ruralista, bem montada mas, devido aos benefícios do crédito subsidiado, sem nenhum interesse em fazer um contraponto ao poder avassalador do mercado.

Sobram as bancadas do mercado e os novos imperadores: André Esteves, do BTG, os irmãos Batista, da J&F, em um plano menor Rubens Ometto, da Vibra, e o lobby permanente de Carlos Suarez, um fenômeno do que a política brasileira tem de pior.

2025 será a prova de fogo. Se Lula não acordar logo, se o Lula de 2008 não reaparecer, o país será um barco à deriva.

 

¨       Agenda de Trump para América Latina preocupa governo Lula

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está apreensivo com os indícios do que devem ser as prioridades de Donald Trump em sua volta à Casa Branca, nas políticas voltadas à América Latina.

Os principais pontos de preocupação são: medidas repressivas de imigração, protecionismo em relação aos produtos dos países vizinhos e distanciamento de iniciativas pelo desenvolvimento regional e transição energética.

Fontes da diplomacia brasileira lembram o tratamento dado pelo governo Trump a imigrantes, quando chegaram a separar centenas de mães e filhos e a manter crianças apreendidas durante a política de tolerância zero em relação aos imigrantes ilegais.

As reiteradas críticas de Trump em relação aos valores das tarifas praticadas pelo Brasil dão pistas de que o republicano pode impor represálias a produtos brasileiros.

Por fim, fontes governamentais brasileiras indicam que serão quatro anos com pouca ou nenhuma atenção em relação a medidas para o desenvolvimento regional, combate às desigualdades e esforços regionais para a transição energética.

Por enquanto, a equipe de Lula, em Brasília, ainda não está em contato direto com a equipe de transição de Trump. Os contatos iniciais ainda estão sendo feitos apenas pela embaixada do Brasil em Washington.

 

¨      Alex Solnik: Frente de direita ameaça reeleição de Lula

Dos mais de 5500 prefeitos que tomaram posse ontem, 4000 foram eleitos por seis partidos que vão da centro-direita à extrema-direita: PSD (885), MDB (853), PP (746), União (583), PL (516) e Republicanos (433). 

Os mesmos seis partidos empossaram 542 dos 645 prefeitos do estado de São Paulo: PSD (206), PL (104), Republicanos (84), MDB (67), PP (47) e União (34).

O carro-chefe dessa frente de direita é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, manda-chuva do estado que soma 22% do eleitorado do país, com mais de 34 milhões de eleitores.

Está claro que essa frente, embora cinco de seus partidos comandem ministérios no governo Lula, não vai apoiar Lula em 2026 nem que a vaca tussa e sim Bolsonaro ou quem Bolsonaro indicar, é o que já disse o presidente do partido e também Ricardo Nunes, o prefeito reeleito de São Paulo, que sonha com Tarcísio, daqui a dois anos, disputando o Planalto, e ele, o Bandeirantes.

A dupla Tarcísio-Kassab ficou tão forte que, se for preciso, elege até um poste no estado. 

Bolsonaro tem um pé na canoa de Tarcísio, com Derrite, provável candidato ao Senado, e outro na de Nunes, com o vice Mello Araújo que poderá assumir se Nunes alçar voos mais altos. Os orçamentos da capital e do estado somam R$500 bilhões em 2025. 

Lula não tem pé em canoa alguma. Márcio França cogita sair candidato, mas seu partido, o PSB, elegeu apenas nove dos 645 prefeitos. Todos os partidos aliados de Lula elegeram 17. Dificilmente Lula terá um palanque forte.

E o pior é que não faz sentido Lula retaliar esses partidos. É melhor contar com alguns de seus parlamentares do que com nenhum.

Não precisa ser Mãe Dinah para cravar duas previsões.    

Lula só vai revelar se será candidato ou não aos 45 minutos do segundo tempo. 

Bolsonaro vai manter seu nome na urna até os 45 minutos do segundo tempo, mesmo preso, até ser impugnado pelo TSE. 

 

Fonte: DW Brasil/Jornal GGN/CNN Brasil/Brasil 247

 

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