terça-feira, 26 de novembro de 2024

PF investiga dez generais e outros 25 militares por plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes

A Polícia Federal (PF) revelou nesta terça-feira (19) que a trama envolvendo militares de alta patente para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes pode ser ainda mais ampla do que inicialmente estimado. A Operação Contragolpe, que investiga a conspiração, já identificou a participação de pelo menos 35 militares, incluindo dez generais, 16 coronéis e um almirante, mas as evidências indicam a existência de uma rede maior de apoio e articulação.

Entre as provas coletadas pela PF estão mensagens, áudios e documentos apreendidos com os alvos da operação. O material mostra um planejamento detalhado que previa desde o envenenamento de Lula até o uso de explosivos para assassinar Moraes. O general Mário Fernandes, ex-secretário-executivo do governo Jair Bolsonaro, é apontado como figura central na articulação. Em seu celular, foram encontrados planos golpistas, como o chamado “Punhal Verde Amarelo”, e uma minuta de gabinete de crise que seria implementada após a ruptura institucional.

•                                    Articulações no alto escalão militar

As investigações expõem o descontentamento de setores do Exército com a decisão do Alto Comando de não apoiar um golpe para manter Bolsonaro no poder após a derrota nas urnas. Em conversas reveladas pela PF, militares manifestam insatisfação com a cúpula da força, chegando a dizer que ela "tinha que acabar". Em um dos trechos mais polêmicos, Fernandes desdenha da Constituição, afirmando: “Quatro linhas da Constituição é o c...”.

Além de Fernandes, outros oficiais foram citados. Com o major Rafael de Oliveira, a PF encontrou registros da operação “Copa 2022”, que tratava da prisão ou execução de Alexandre de Moraes. Essa ação teria sido planejada e iniciada, mas foi abortada em cima da hora. Já com o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, os investigadores localizaram uma planilha com mais de 200 etapas descritas para a execução de um golpe militar.

•                                    Documentos comprometem aliados de Bolsonaro

Os registros obtidos também conectam o plano aos generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, ex-ministros e aliados próximos de Jair Bolsonaro. Ambos são mencionados como figuras-chave em uma eventual “pacificação” do país após a quebra da ordem democrática, sob uma nova liderança militar.

A descoberta dos planos de golpe e assassinato destaca uma escalada preocupante nas articulações antidemocráticas, com mensagens e documentos indicando que a rede pode ter se espalhado além do núcleo inicialmente identificado. Segundo fontes ligadas à investigação, outros nomes relevantes podem surgir à medida que o inquérito avança.

•                                    Reação das Forças Armadas

Em resposta às revelações, o Exército Brasileiro divulgou nota afirmando que não comenta investigações conduzidas por outros órgãos, reiterando seu respeito às instituições da República. A Marinha e as defesas dos militares presos ainda não se manifestaram sobre o caso.

A Operação Contragolpe representa um marco na investigação das ações antidemocráticas realizadas após as eleições de 2022. A descoberta de um plano tão elaborado, envolvendo oficiais de alta patente, não apenas lança luz sobre as ameaças à democracia, mas também destaca a necessidade de maior supervisão e transparência nas Forças Armadas.

Com as investigações em curso, a expectativa é que a rede de conspiradores seja totalmente exposta, permitindo que os responsáveis enfrentem a justiça e reforçando o compromisso com a preservação do Estado Democrático de Direito.

<><> Múcio: Forças Armadas querem punição de golpistas. Por Tereza Cruvinel

O ministro da Defesa, José Múcio, começou a conversa comigo confessando seu incômodo com as prisões de militares que, para executarem um golpe de Estado, planejaram até matar o presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Morais:

- Estou me sentindo de volta ao 8 de janeiro. Naquele momento, diz o ministro, fala-se genericamente do envolvimento das Forças Armadas, quando não foram elas, mas alguns de seus membros, que participaram dos planos golpistas. E estes precisam ser logo identificados e punidos, para que a generalização deixe de desgastar as Forças Armas.  - Isso um dia tem que acabar e quanto antes, melhor.

Mais uma vez Múcio afirma que as Forças Armadas, longe de terem endossado a conspiração, impediram a consumação de um golpe, através da oposição firme dos comandantes e membros da alta hierarquia.

De fato, numa das trocas de mensagens entre os golpistas recuperadas pela Polícia Federal, o general Mario Fernandes e seu chefe de gabinete, Reginaldo Vieira de Abreu, falam sobre as resistências ao golpe no Alto Comando do Exército. “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente”, disse Vieira.

O ministro diz poder assegurar, hoje, que a maioria absoluta dos militares não participou de conspirações golpistas: “Mas enquanto o joio e o trigo não forem separados”, diz ele, o conjunto das instituições militares sofrerá um desgaste injusto. Por isso ele torce para que as investigações avancem e identifiquem todos os envolvidos, para que sejam devidamente punidos.

Múcio informa também que as Forças Armadas vão dar sua contribuição ao esforço fiscal do governo, com uma mudança na regra de aposentadoria dos militares. A idade mínima passa a ser de 55 anos. Hoje não há limite e os militares costumam se aposentar muito jovens.

A Fazenda certamente desejava uma regra mais dura, mas Múcio insinua que esta foi a pactuação interna possível neste momento.

•                                    Braga Netto nega envolvimento em plano golpista que envolvia a execução de Lula, Alckmin e Moraes

O general da reserva Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, afirmou a interlocutores não ter qualquer participação no plano golpista que previa a morte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Segundo a CNN Brasil, Braga Netto tem negado em conversa com interlocutores a existência de uma reunião, no dia 12 de novembro de 2022, em sua residência, em Brasília, com oficiais de patentes inferiores para discutir a trama golpista, como apontado pela Polícia Federal (PF). O general destacou que não há qualquer prova material que comprove a realização desse encontro.

De acordo com a coluna do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, Braga Netto também tem ressaltado a aliados próximos que “assessorava” Jair Bolsonaro até o final do governo. Ainda conforme a reportagem, ele “menciona ‘a lealdade’ ao ex-presidente e usa termos como “correção ética e moral” para descrever os conselhos a Bolsonaro, sem fazer qualquer menção sobre a trama golpista revelada pela PF”.

Ainda conforme Braga Netto, a residência, localizada em um prédio utilizado por outros militares do Ministério da Defesa e do governo, como os generais Luiz Eduardo Ramos e Paulo Sérgio Nogueira, possui um espaço na cobertura para reuniões sociais e particulares o que poderia justificar os relatos de encontros, mas sem vinculação a qualquer plano ilícito.

Diante das investigações, o general sugeriu que uma acareação entre os suspeitos presos poderia esclarecer os fatos e reforçar sua inocência.

Na terça-feira (19), a Polícia Federal deflagrou a Operação Contragolpe, que resultou na prendeu cinco suspeitos apontados - sendo quatro militares e um policial federal - como integrantes do grupo que teria elaborado o plano, cuja execução estava prevista para 15 de dezembro de 2022. Entre os presos está o general reformado Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Presidência da República e ex-assessor do também general e deputado federal Eduardo Pazuello.

As investigações revelaram a existência de um documento intitulado “Planejamento – Punhal Verde e Amarelo”, que detalhava o plano. Segundo a PF, o material foi impresso nas dependências do Palácio do Planalto. Braga Netto reiterou que não há qualquer mensagem, escrita ou verbal, que o conecte ao general Mário Fernandes, e afirmou que não possuía qualquer relação hierárquica com ele. Fernandes é apontado como o responsável por materializar o documento com o passo a passo da trama golpista.

 

•                                    General preso por tramar golpe sugeriu a Bolsonaro recolocar Braga Netto à frente do Ministério da Defesa após as eleições

A Polícia Federal revelou novos detalhes sobre o plano de golpe de Eestado - que incluía o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes - , envolvendo integrantes do governo Jair Bolsonaro (PL) em 2022. De acordo com a CNN Brasil o relatório da Polícia Federal (PF) sobre o caso, aponta que o general da reserva Mario Fernandes, preso na terça-feira (19), sugeriu ao então presidente que substituísse o ministro da Defesa pelo general Walter Braga Netto, movimento que teria sido recusado por Bolsonaro sob a justificativa de evitar acusações de tentativa de golpe. O militar foi ex-ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência.

Documentos e transcrições de diálogos, obtidos pela PF no âmbito da Operação Contragolpe, apontam que o plano incluía a criação de um “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, que seria liderado pelos generais Augusto Heleno e Braga Netto, ambos ex-integrantes de alto escalão do governo Bolsonaro.

Segundo o relatório, Fernandes teria relatado ao ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, o diálogo que teve com o então presidente. Na conversa, Fernandes sugere que Braga Netto reassuma o comando do Ministério da Defesa, argumentando que isso resultaria em um “apoio mais efetivo”. Na época, Braga Netto havia sido candidato a vice na chapa encabeçada por Bolsonaro. Ele, porém, teria recusado a proposta, afirmando que a mudança poderia ser interpretada como preparação para um golpe de Estado.

“Cara, eu tô aloprando por aqui. E eu queria que tu reforçasse também, pô, eu falei com o Cordeiro [Sergio Rocha Cordeiro, ex-assessor de Bolsonaro] ontem, falei com o presidente. P***a, cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, porra, ele pensar em mudar de novo o MD [ministro da Defesa], porra. Bota de novo o General Braga Neto lá. General Braga Neto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo. Reestrutura de novo, p***a”, disse Fernandes, segundo a transcrição da PF.

Em seguida, Fernandes conta a reação de Bolsonaro sobre a sugestão de mudança no Ministério da Defesa. “‘Ah, não, p***a, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe’ [teria dito Bolsonaro]. P***a, negão. Qualquer solução, Caveira [apelido de Marcelo Câmara], tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parti pra cima, apoio popular é o que não falta”.

A PF acredita que o “Gabinete Institucional de Gestão da Crise” seria ativado em 16 de dezembro de 2022, logo após a realização do golpe de Estado. O grupo teria como missão estabelecer diretrizes para gerenciar a crise institucional que se seguiria. O relatório destaca que a organização criminosa planejava justificar suas ações por meio de declarações de apoio popular e de medidas emergenciais conduzidas pelo gabinete.

Braga Netto foi uma figura de destaque no governo Bolsonaro, tendo ocupado os cargos de ministro da Casa Civil, ministro da Defesa e candidato a vice-presidente em 2022. Sua volta ao Ministério da Defesa teria sido vista, por Fernandes, como um passo estratégico para viabilizar o apoio militar necessário para o plano golpista.

 

•                                    Ainda estou aqui exigindo Justiça. Por Florestan Fernandes Jr

O plano macabro articulado pelos oficiais militares bolsonaristas para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes e abrir caminho para um golpe de Estado no país, "foi pelos ares". Falta agora um acerto de contas com a história e com a Justiça. O passado e o presente, já que o autoritarismo e o golpismo, no Brasil, têm se repetido como uma reinfecção de doença não tratada.

Os ataques contra a democracia de agora são praticamente a repetição do que ocorreu no século passado, envolvendo hoje, inclusive, alguns militares reincidentes do mesmo crime.

A diferença é que desta vez os golpistas deixaram suas digitais em mensagens que não se pode apagar. Não são mais documentos em papel, que podem ser queimados às pressas, como fizeram com parte dos arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), no fim da ditadura militar. Hoje, os arquivos virtuais flutuam em nuvens e podem ser acessados mesmo depois de apagados. Um vasto material foi recuperado, tendo um deles sido produzido na residência do general Braga Netto e impresso pelo general Mário Fernandes em computador funcional do Palácio do Planalto.

Por tudo isso que temos visto e vivido nos últimos anos, é premente o acerto de contas das nossas Forças Armadas com a Justiça.

A impunidade nos trouxe até aqui, sofrendo as mesmas ameaças de um passado sombrio. Em 1979, a Lei de Anistia, cunhada no governo do general João Figueiredo, sob o pretexto de permitir o regresso dos exilados políticos, premiou com anistia os crimes cometidos pelos militares golpistas durante a ditadura, uma das mais violentas do mundo. A anistia aos torturadores foi uma condição imposta pelos militares aos civis. Ou seja, a redemocratização no Brasil se deu em um ambiente de ameaças, chantagem e coação.

Importante ressaltar que muitos dos golpistas de hoje são oriundos do grupo que se beneficiou da Lei de Anistia.

Nos anos 70, Augusto Heleno e o próprio Bolsonaro eram ligados à ala militar que apoiava as ideias do então Comandante do Exército, general Sylvio Frota. Considerado "linha dura" da ditadura militar, Frota foi o maior opositor à proposta do general presidente, Ernesto Geisel, de uma “abertura lenta, gradual e segura”. Na tentativa de viabilizar seu nome como sucessor de Geisel, Frota e seus asseclas fizeram de tudo para fortalecer a narrativa de que o comunismo ainda era uma ameaça ao Brasil e que precisava ser combatido com a violência peculiar da ditadura militar do período do general presidente Emílio Garrastazu Médici. A partir de meados dos anos 70, quando a luta armada já tinha sido aniquilada, o grupo de Sylvio Frota desencadeou uma perseguição violenta contra jornalistas, líderes estudantis, religiosos e sindicais. Dentre os presos e torturados, estavam o jornalista Vladimir Herzog e o líder operário Manoel Fiel Filho. Ambos mortos nos porões do temido DOI-CODI, em São Paulo.

A esse grupo é creditado também os ataques terroristas a bancas de jornais, o envio de uma carta-bomba que matou a secretária da presidência da OAB do Rio, Lyda Monteiro da Silva, e da explosão de uma bomba no estacionamento do Rio Centro, na festa do 1º de maio de 1981.

Cinquenta anos se passaram e por muito pouco a ditadura não foi mais uma vez instalada no país. No planejamento da intentona que contou com a colaboração do general Braga Neto, candidato a vice-presidente da chapa de Bolsonaro e defensor entusiasmado dos anos de chumbo - após a prisão e assassinato de adversários políticos, o poder seria transferido temporariamente para um gabinete de crise, comandado pelo general Augusto Heleno, o mesmo que no passado foi ajudante de ordens de Sylvio Frota.

As informações da investigação, levantadas e divulgadas pela Polícia Federal, são aterradoras. Falar em anistia nesse momento é incidir no mesmo erro que cometemos durante a redemocratização do país. A tal pacificação ao preço da impunidade dos crimes de ataque ao estado democrático de direito, nos manterá na condição de eternos reféns das Forças Armadas, de uma parte delas que se vê no direito de tutelar a república, que não se conforma com o lugar que lhes foi reservado no desenho democrático – de subordinação ao poder civil.

As instituições da justiça têm a responsabilidade histórica de punir exemplarmente os golpistas verde-oliva e aderentes. Nós, cidadãos, temos o dever histórico de zelar pela democracia, não esquecendo o passado.

Termino com uma sugestão para os que viveram (mas parece que esqueceram) e para os mais jovens: “Ainda estou aqui”. Filme com brilhante atuação de Fernanda Torres, que revela o drama da família de Rubens Paiva, vítima de um regime de horror, que teima em querer voltar.

 

Fonte: Brasil 247

 

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