sexta-feira, 22 de novembro de 2024


 

"Itamaraty questiona vantagem ao Brasil na Cinturão e Rota", diz especialista

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu nesta quarta-feira (20/11) em Brasília o presidente chinês, Xi Jinping, com uma grande questão de fundo: o Brasil aceitará ou não o convite para aderir à iniciativa global chinesa de investimentos em infraestrutura, a Cinturão e Rota, também conhecida como "Nova Rota da Seda”?

A China tem todo o interesse, pois vê na eventual entrada do Brasil uma chancela ao seu projeto internacional perante os países da América do Sul. Mas o governo brasileiro está dividido sobre o tema, e o Itamaraty apresentou ressalvas.

Ana Tereza Marra, professora de relações internacionais da Universidade Federal do ABC e especialista em China do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (Opeb), afirma à DW que a diplomacia brasileira considera que a relação com a China já é bastante profícua. E que a adesão do Brasil à Cinturão e Rota traria ganhos mais simbólicos do que práticos – simbolismo que poderia, por outro lado, afetar a equidistância com a outra potência global, os Estados Unidos.

A China é o primeiro parceiro comercial do Brasil, e os Estados Unidos, o segundo. E o Brasil "não deve escolher nenhum dos lados, deve manter uma posição de equidistância e de não alinhamento, e tentar tirar vantagens e ter boas relações com os dois países", diz Marra.

Mas também há setores do governo que veem na Cinturão e Rota uma oportunidade para tentar negociar com a China mais investimentos em infraestrutura e na indústria brasileira, que possam contribuir para a neoindustrialização perseguida por Lula. "Se o Brasil tiver clareza daquilo que quer retirar dessa relação e dos projetos que quer propor, pode ser que seja vantajoso", avalia Marra, que não considera uma eventual entrada da Cinturão e Rota sinônimo de alinhamento a Pequim.

Ela também prevê que o novo governo Donald Trump aumentará a pressão sobre o Brasil para conter a expansão da China – como ocorreu no seu primeiro mandato com a escolha da rede de telefonia 5G – mas diz que o país terá condições de sustentar sua posição de não alinhamento.

LEIA A ENTREVISTA:

·        Qual é a fotografia atual das relações entre Brasil e China?

Ana Tereza Marra: Há da parte do Brasil neste momento uma tentativa de elevar a qualidade política e econômica das relações com a China. Desde 2009, a China é a principal parceira comercial brasileira, e o Brasil é um dos países do mundo que tem maior superávit com a China. Esse resultado econômico tem sido importante para o Brasil.

Por outro lado, é uma relação comercial bastante assimétrica, que tem impacto sobre o processo de desindustrialização no Brasil. O governo Lula tem como meta promover uma neoindustrialização, e tem visto a China como uma possível parceira que pode contribuir para isso.

·        Mas como imaginar a China participando da reindustrialização do Brasil, se ela tem interesse em exportar seus produtos industrializados para os brasileiros?

É a discussão desses últimos dois anos – pensar projetos industriais, relacionados a infraestrutura, que os países possam realizar conjuntamente e ajudar no processo interno de industrialização.

É óbvio que isso é mais uma questão relacionada ao Brasil ter capacidade interna e de ter projetos para propor, não só para a China, mas também para outros países. Mas o Brasil considera que para a China é importante, em termos de geopolítica, fortalecer o mundo multipolar.

Existe uma leitura de que, para a China, interessa que [os países da] América do Sul, e o Brasil é o principal país na América do Sul, estejam fortalecidos para que possam atuar como um polo autônomo e possam ter autonomia estratégica em relação às pressões que os Estados Unidos fazem para a contenção da China. Essa vontade política é percebida, vamos ver como ela vai se colocar na prática e se vai produzir resultados.

A China tem aumentado os investimentos no Brasil não só em setores que tradicionalmente ela investia, como energia, mas em setores industriais, de manufatura. Aí temos que pensar como esses investimentos podem contribuir para que o Brasil se coloque em cadeias de valores e crie internamente uma rede de fornecedores que possam contribuir pra esse desenvolvimento industrial.

·        A recente ampliação do Brics afetou a relação do Brasil com a China?

O Brasil não queria a expansão dos Brics, considerava que isso ia diluir o poder do país dentro do grupo. E acho que o Brasil ainda não está completamente confortável com o grupo expandido.

É um grupo que tem uma identidade ainda incerta, mas que é lido no chamado Ocidente como um grupo que tem se tornado cada vez mais antiocidental. E a perspectiva do Brasil no Brics sempre foi pensá-lo como um elemento para fortalecer o mundo multipolar e o pleito de desenvolvimento dos países mais pobres, que ajudaria o Brasil a colocar pautas de interesse brasileiro.

Dito isso, acho que as relações entre Brasil e China são hoje suficientemente maduras pra ter desacordos, como esse que aconteceu sobre a expansão do Brics, e para compartimentar as coisas. Uma coisa é o Brics e outra coisa são as as relações Brasil-China.

·        No conflito geopolítico entre Estados Unidos e a China, que tipo de política externa o Brasil deve adotar?

O Brasil não deve escolher nenhum dos lados, deve manter uma posição de equidistância e de não alinhamento, e tentar tirar vantagens e ter boas relações com os dois países.

A China é o primeiro parceiro comercial do Brasil, e os Estados Unidos são o segundo. Em termos das relações políticas e das conexões históricas, os Estados Unidos são um país no centro da política externa brasileira.

É claro que essa estratégia pode se tornar cada vez mais difícil ao longo do tempo. Agora temos a volta do Trump na Presidência dos Estados Unidos. Quando ele foi presidente da outra vez, pressionou a América Latina a ter uma estratégia de contenção contra a China, muito mais do que o governo Biden – inclusive na discussão sobre a atuação das empresas de tecnologia chinesa na rede 5G. Ele pressiona mais, e o aumento das pressões pode dificultar a equidistância.

Mas o Brasil tem condições de sustentar essa posição. A posição tradicional da política externa brasileira é de não alinhamento. Geralmente os períodos de alinhamento são explicados por momentos em que figuras do Executivo, por motivos variados, acabam se sobrepondo à posição tradicional do Itamaraty.

·        Em relação à Iniciativa Cinturão e Rota [Belt and Road Initiative], qual é o interesse chinês em atrair a adesão o Brasil?

A China tem hoje um grande interesse de legitimar cada vez mais sua atuação internacional, de ser percebida como um país internacionalmente responsável, que contribui para o desenvolvimento de outros países. E para isso a Belt and Road é um dos principais pilares.

Mais de 150 países fazem parte dessa iniciativa. Mas a China quer atrair países que são mais importantes, e o Brasil é visto como um desses países muito importantes, que ajudaria a legitimar esse projeto, não só para os países do Sul Global, mas também para os países da região. A entrada do Brasil é vista como uma espécie de chancela a esse projeto chinês.

·        Para o Brasil, aderir à iniciativa traria mais vantagens ou desvantagens?

Existe hesitação com relação a entrar nesse projeto, principalmente do Itamaraty, que tem algumas considerações. A primeira é pensar o que a entrada do Brasil na Belt and Road agregaria para as relações Brasil-China. A avaliação é de que, em termos políticos, as relações Brasil e China já são maduras o suficiente, e o Brasil já tem relações comerciais importantes com a China e tem recebido cada vez investimentos chineses.

Aí se pergunta: o que a Belt and Road agregaria pra isso? A impressão de algumas pessoas é de que não mudaria muito, que seria uma entrada simbólica, e diplomaticamente isso não faria tanto sentido da perspectiva brasileira.

O segundo ponto de hesitação é que o Itamaraty tem uma posição de não alinhamento, de tentar resguardar uma distância nesse conflito entre China e Estados Unidos. Embora eu, particularmente, não ache que se o Brasil entrar na Belt and Road isso signifique alinhamento com a China. Há mais de 150 países na Belt and Road, não dá pra dizer que eles são alinhados à China.

Por outro lado, existem atores dentro do governo que são favoráveis, que querem que o Brasil use a oportunidade da Belt and Road para tentar negociar com a China mais investimentos em infraestrutura e na indústria, na perspectiva de um plano de desenvolvimento nacional. Particularmente, acho que se o Brasil consegue ter clareza daquilo que quer retirar dessa relação e dos projetos que quer propor, pode ser que seja vantajoso.

Outra coisa é que aderir à Belt and Road, no fim das coisas, é assinar um memorando de entendimentos. Não é uma coisa que signifique mudar políticas internas, aderir a instrumentos formalmente vinculantes. É bastante flexível e para ser negociada, para que se coloque projetos que sejam de interesse mútuo.

 

¨      Por que Brasil resiste a entrar em Nova Rota da Seda da China

A visita oficial do presidente da China, Xi Jinping, ao Brasil, nesta quarta-feira (20/11), é marcada por protocolos, forte esquema de segurança e uma série de acordos e memorandos assinados.

Nos últimos meses, diplomatas dos dois países se revezaram em visitas mútuas e reuniões para reunir um “pacote” de entregas para celebrar os 50 anos das relações diplomáticas entre os dois países.

Mas a visita do líder chinês não é marcada apenas pelo que é anunciado.

A expectativa entre diplomatas e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil nas últimas três semanas é de que a visita do líder chinês também seja marcada por uma ausência: a não adesão do Brasil ao projeto “Cinturão e Rota”, também conhecido como “Nova Rota da Seda”.

Trata-se de um programa trilionário chinês iniciado em 2013 que prevê a realização de obras e investimentos para ampliar mercados para a China e a presença do país no mundo.

Nos bastidores, os chineses vêm cortejando o Brasil a aderir ao projeto há anos.

Havia até a expectativa de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse anunciar uma adesão ao projeto em 2023, quando fez uma visita oficial à China.

Isto, porém, não se concretizou e governo brasileiro vem mantendo a política de seguir perto o suficiente dos chineses sem aderir ao projeto do país asiático.

As investidas chinesas vêm incluindo acenos ao Brasil como a concordância do país para que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) assumisse a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics, visitas de delegações governamentais chinesas ao Brasil e de brasileiros à China, além de bilhões de dólares em investimentos em diversas áreas.

Mas, mesmo com todas as investidas chinesas, contudo, a expectativa era de que não fosse dessa vez que o Brasil aderisse à “Nova Rota da Seda”.

Confirmando o que já era esperado, em seu discurso ao receber Xi Jinping, Lula descreveu a forma como o Brasil equilibra o desejo chinês de ter o país na "Nova Rota a Seda" e o pragmatismo brasileiro.

Em vez de adesão, Lula prometeu uma espécie de conexão entre o programa chinês e projetos de interesse do Brasil. Para isso, usou o termo que vem sendo repetido por diplomatas brasileiros quando o assunto é mencionado: sinergias.

"Estabeleceremos sinergias entre as estratégias brasileiras de desenvolvimento, como a Nova Indústria Brasil (NIB), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Programa Rotas da Integração Sul-Americana, e o Plano de Transformação Ecológica, e a Iniciativa Cinturão e Rota", disse o presidente brasileiro.

Nas últimas semanas, a BBC News Brasil conversou com diplomatas e especialistas em relações internacionais para entender o que faz com que o país, um dos principais aliados da China fora da Ásia, hesite tanto em aderir à “Nova Rota da Seda”.

Segundo eles, a decisão faz parte de uma mistura de fatores que envolve a tradição diplomática brasileira, o cenário internacional conturbado e a percepção entre os tomadores de decisão brasileiros de que o país teria pouco a ganhar com uma eventual adesão ao projeto.

<><> O que é a “Nova Rota da Seda”

O “Belt and Road Initiative” é o nome em inglês ao que ficou conhecido como “Nova Rota da Seda” ou “Iniciativa Cinturão e Rota”, na tradução direta para o português.

Lançado em 2013 pelo governo chinês, é um projeto trilionário voltado à construção de infraestrutura, incluindo rodovias, ferrovias, portos e obras no setor energético, como oleodutos e gasodutos que conectam a Ásia à Europa.

Estima-se que, desde o início, os investimentos variem entre US$ 890 bilhões (R$ 4,46 trilhões) e US$ 1 trilhão (R$ 5 trilhões).

O nome “Nova Rota da Seda” remete à histórica rota comercial do primeiro milênio que ligava a Ásia à Europa Central.

Originalmente focado na região conhecida como Eurásia, o projeto expandiu-se para regiões como África, Oceania e América Latina.

Segundo o centro de estudos norte-americano sobre relações internacionais Council on Foreign Relations (CFR), 147 países aderiram formalmente ou demonstraram interesse no plano. Isso representa dois terços da população mundial e 40% do PIB global.

Na América Latina, em torno de 20 países integram a iniciativa, incluindo a Argentina, que assinou um memorando de adesão em abril de 2022.

Especialistas consideram o projeto uma estratégia de expansão econômica e política da China, hoje a segunda maior economia global, com previsões anteriores à pandemia indicando que poderia ultrapassar os Estados Unidos até 2028.

No entanto, o projeto enfrenta críticas junto à comunidade internacional, como o risco de superendividamento de países que contratam os financiamentos. Um exemplo foi o Sri Lanka, que em 2018 transferiu para o governo chinês o controle de um porto construído no país com recursos chineses depois que a nação asiática não conseguiu mais pagar as parcelas de sua dívida com o governo de Pequim.

A China rebate essas acusações, alegando que as críticas visam prejudicar sua reputação internacional.

Mas se a China aparenta estar disposta a investir seus recursos e ampliar o fluxo comercial com países como o Brasil, por que o país vem evitando aderir à iniciativa?

<><> Tradição e cálculo

Um diplomata brasileiro ouvido em caráter reservado pela BBC News Brasil disse que um dos motivos pelos quais o Brasil não adere à “Nova Rota da Seda” é tradição da política externa brasileira.

Historicamente, o Brasil evita alinhamentos automáticos com superpotências como a China. Mesmo durante a ditadura militar, fortemente apoiada pelo regime norte-americano entre os anos 1964 e 1985, o regime dos generais brasileiros manteve certo distanciamento em relação aos Estados Unidos.

Conhecido como uma potência média ou uma potência regional, o Brasil é conhecido (e eventualmente criticado), por adotar uma política externa que tenta manter diálogo com diferentes blocos e nações enquanto tenta fazer avançar suas próprias agendas no cenário internacional.

A tese por trás desse comportamento é a de que o alinhamento do Brasil a um determinado bloco econômico ou político não gera, necessariamente, benefícios ao país e ainda pode prejudicá-lo em negociações com outros blocos ou nações.

O diplomata disse, por exemplo, que uma adesão à “Nova Rota da Seda” poderia prejudicar as relações do país com outros blocos ou países como os Estados Unidos, que oficialmente vê a China como sua principal adversária geopolítica no mundo.

“Os diplomatas também temem que o Brasil perderia voz e influência nas relações com a China, tendo que negociar com as dezenas de países que formam a iniciativa. Há o risco de retaliações comerciais por parte dos Estados Unidos. Tudo isso somado fez com que o governo brasileiro optasse por não aderir à Nova Rota da Seda”, afirma o professor.

Pablo Ibañez, coordenador do Centro de Altos Estudos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e ex-pesquisador visitante da Universidade Fudan, em Xangai, na China, também descreve esse cenário.

“O Itamaraty pensa assim: ‘Por que a gente vai passar a ter um alinhamento ainda maior com esse grupo (a China) em um momento extremamente delicado em que, no Ocidente, entende-se que a China é uma aliada da Rússia?’”, diz à BBC News Brasil.

Países europeus e os Estados Unidos veem com desconfiança iniciativas como os Brics, grupo inicialmente fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que vem se expandindo nos últimos anos.

Entre as várias iniciativas discutidas pelo grupo está a adoção de transações comerciais nas moedas locais dos seus países e não do dólar. A ideia é diminuir a dependência dessas nações em relação à moeda norte-americana.

Mas, durante a campanha presidencial, o então candidato Donald Trump, que venceu a disputa, prometeu aumentar as tarifas sobre as importações de países que adotarem este tipo de medida, o que poderia ter impactos sobre o Brasil e China, por exemplo.

O cientista político e professor de Relações Internacionais do Centro de Estudos Políticos-Estratégicos da Marinha do Brasil, Maurício Santoro, destaca que, no cálculo do governo brasileiro, também pesa o fato de o país já contar com vultosos investimentos chineses.

“No Itamaraty, há forte ceticismo quanto aos benefícios que a Nova Rota da Seda poderia trazer ao Brasil. Como o país já recebe muitos investimentos chineses — é o principal destino deles entre as nações do Sul Global — não haveria muitos ganhos a extras”, diz Santoro.

O cálculo leva em conta a atual situação do Brasil em relação à China.

A China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil. Entre janeiro e setembro deste ano, o fluxo comercial entre os dois países foi de US$ 122 bilhões, um crescimento de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Além disso, a China é um dos principais investidores diretos no Brasil.

Em 2023, a os chineses investiram US$ 1,73 bilhão no país, um aumento de 33% em relação a 2022, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Ainda de acordo com a instituição, desde 2007, a China destinou US$ 72 bilhões em investimentos no Brasil.

Nos últimos anos, a China passou a investir pesadamente em setores como a construção de linhas de transmissão, exploração de petróleo, energia e, mais recentemente, na implantação de fábricas de carros elétricos ou híbridos.

<><> Retaliação chinesa?

Os dois especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem considerar remota a possibilidade de a China retaliar o Brasil por não aderir à iniciativa.

“O governo chinês certamente preferiria que o Brasil se tornasse parte da Nova Rota da Seda, pois isso seria um grande incentivo para outros países em desenvolvimento, particularmente na América Latina. Mas a decisão de não ingressar também não cria grandes problemas para o Brasil”, diz Santoro.

O professor Pablo Ibañez diz acreditar que uma retaliação seria improvável.

“Até agora, não fomos. O Brasil é o maior parceiro da China na América Latina e há muitos investimentos e sinergias entre os dois países. Além disso, a China é muito pragmática”, diz o professor.

De toda forma, diz Ibañez, o Brasil deverá tentar evitar se indispor com a China em meio à hesitação em aderir à iniciativa.

“Os chineses estão pressionando bastante. O assunto, com certeza, está na pauta. Mas Lula tem uma capacidade grande de convencimento. Ele deverá explicar que Donald Trump está vindo aí e que uma adesão poderia prejudicar a relação do Brasil com os Estados Unidos”, afirma.

Conhecido por seu pragmatismo, o governo chinês já vem dando mostras de que poderá lidar sem maiores complicações com o fato de o Brasil não ter aderido formalmente à "Nova Rota da Seda".

O exemplo mais recente foi um artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo na semana passada e assinado por Xi Jinping. Nele, o líder chinês defende o aumento das parcerias entre os dois países, mas dentro de um cenário em que o Brasil não faz parte formal do projeto.

"Vamos promover continuamente o reforço das sinergias entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil", diz um trecho do artigo.

Enquanto a adesão à "Nova Rota da Seda" não vem (se é que um dia virá), China e Brasil deverão assinar acordos em diversas áreas nesta quarta-feira. Entre eles estão acordos nas áreas cultural, energética, mineral e espacial.

Um deles, aliás, prevê a entrada em funcionamento no Brasil da empresa SpaceSail, que opera satélites de órbita baixa para transmissão de internet de banda larga em locais sem acesso à rede cabeada.

Ainda não há previsão para que o serviço comece a funcionar, mas o acordo é visto como uma tentativa de Brasil e China de diminuírem a dependência do mercado em relação à empresa Starlink, do bilionário sul-africano Elon Musk.

Nos últimos meses, o empresário entrou em embates com o Supremo Tribunal Federal (STF) após sua plataforma de rede social, o X (antigo Twitter) descumprir ordens expedidas pela Corte.

Atualmente, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Starlink é líder no mercado de internet via satélite.

 

Fonte: DW Brasil/BBC News Brasil


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