sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Trump forma gabinete na Casa Branca com objetivo de frear 'influência da China' na América Latina

Com a inclusão de figuras como Elon Musk, Marco Rubio, Tulsi Gabbard e Pete Hegseth em sua equipe, Donald Trump parece montar um gabinete que combina experiência militar, midiática e política para enfrentar os desafios de seu retorno à Casa Branca.

Em entrevista à Sputnik, Jesús Ricardo Mieres Vitanza, especialista em relações internacionais e gestão de conflitos, analisa como essas nomeações representam uma nova estratégia nas guerras híbridas que os Estados Unidos travam globalmente.

Segundo o especialista, a estratégia norte-americana evoluiu significativamente desde a Guerra Fria, quando o foco era conter o comunismo e consolidar sua influência comercial na América Latina e na Europa. Esse esquema mudou radicalmente após os ataques de 11 de setembro de 2001.

"Na América Latina, podemos identificar rastros de como os EUA utilizam formas não convencionais de guerra em cada país do continente. Não apenas ao imporem mais de 900 sanções a uma nação soberana, mas também ao sabotarem novas formas de relacionamento entre países, proibirem aproximações a nações desalinhadas com as políticas norte-americanas, como China e Rússia, ao buscarem fortalecer a dependência tecnológica dos EUA, entre outras ações", aponta Mieres Vitanza.

<><> Trump e as nomeações 'pouco convencionais'

As nomeações de Trump, que incluem Marco Rubio como figura central, Pete Hegseth na Defesa, e Tulsi Gabbard, ex-democrata e agora republicana, foram interpretadas como pouco convencionais. No entanto, Mieres Vitanza discorda.

"Minha opinião é que esse gabinete é muito ortodoxo. A maioria dos indicados está vinculada à ala radical da direita norte-americana e possui ampla experiência em temas de defesa", afirmou.

Para o analista, o foco da equipe de Trump é priorizar a contenção da China e romper alianças estratégicas na América Latina. "O objetivo desse time é frear a influência de Pequim na região e enfraquecer blocos como o BRICS ou a Aliança do Pacífico", assegurou.

<><> Pressão sob a Ucrânia para negociar fim do conflito

O especialista também destacou que uma possível negociação no conflito ucraniano poderia liberar recursos para uma agenda mais voltada à revitalização da indústria norte-americana e à redução da inflação.

"Essas prioridades internas também afetarão as dinâmicas globais, particularmente em economias emergentes como as da América Latina", acrescentou.

Um componente crucial das guerras híbridas é a dimensão cognitiva, na qual as redes sociais desempenham um papel central. Para Mieres Vitanza, essas plataformas não são apenas ferramentas de comunicação, mas também instrumentos de controle e manipulação.

"Minha percepção é que essas redes sociais buscam criar um padrão de pensamento que elimina a presença do Estado. Em determinado momento, isso parecia um plano da elite digital de Silicon Valley, com redes sociais. [...] mas com o surgimento do TikTok, que não foi criado por esses círculos, boa parte da elite política dos EUA se alarmou", detalhou Mieres Vitanza.

Para o especialista, as redes sociais "são fundamentais na fabricação de um senso comum que molda nossa compreensão da realidade". Ele destacou como essas plataformas uniformizaram padrões de pensamento e comportamento globalmente. "Criam novos conceitos, novas formas de nos comunicarmos, novas maneiras de entender a realidade", observou.

A aquisição do Twitter por Elon Musk foi interpretada pelo especialista como uma manobra estratégica e parte dessa guerra cognitiva que contribuiu para levar Trump à presidência. Nesse sentido, Mieres Vitanza não acredita que o papel de Musk se limite a tornar a estrutura governamental mais eficiente.

¨      Xi em Brasília: visita visa promover sinergia nas estratégias de desenvolvimento dos 2 países

O presidente da China, Xi Jinping, chegou a Brasília ainda na terça-feira (19) para uma visita de Estado ao Brasil após participar da 19ª Cúpula dos Líderes do G20 no Rio de Janeiro, com objetivo de ampliar a colaboração em diversas áreas de interesse mútuo para promover o desenvolvimento no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota.

O presidente chinês já havia expressado seu interesse em ter um diálogo aprofundado com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva sobre o aprimoramento das relações China-Brasil. Em um artigo publicado na Folha de S.Paulo, Xi afirmou que pretendia inaugurar os novos "50 anos dourados" das relações bilaterais entre Pequim e Brasília.

O Brasil foi o primeiro país da América Latina a estabelecer uma parceria estratégica com a China, tendo sido caracterizado por Xi como "um precursor nas relações entre a China e outras nações em desenvolvimento". Durante esses 50 anos, os países resistiram a profundas mudanças no cenário geopolítico e seguem sendo parceiros estratégicos em diversos setores.

China e Brasil são dois dos principais países em desenvolvimento do mundo e, segundo o líder chinês, "devem trabalhar juntos com outros no Sul Global para garantir resolutamente os interesses comuns das nações em desenvolvimento, abordar os desafios globais por meio da cooperação e promover um sistema de governança global que seja mais justo e equitativo".

A visita de Estado de Xi fortalece a profunda parceria de ambos os países diante das mudanças climáticas, redução da pobreza, comércio justo, sistemas financeiros e ajuda ao desenvolvimento.

De acordo com o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, Brasil e China já assinaram 15 atos governamentais e anunciaram 32 acordos empresariais, em áreas como energias renováveis, indústria automotiva, agronegócio, linhas de crédito verde, tecnologia da informação, saúde e infraestrutura, entre outras iniciativas no combate às mudanças climáticas.

Saboia afirmou ainda na semana passada (13) que desta vez, o foco da visita chinesa será em finanças, infraestrutura, desenvolvimento de cadeias produtivas, transformação ecológica e tecnologia — o que poderia beneficiar o Novo PAC do governo, o Plano de Transição Ecológica e as Rotas de Integração Sul-Americana.

De acordo com a apuração do Estadão, uma fonte diplomática brasileira sob condições de anonimato afirmou que o resultado prático mais aguardado da visita é a participação do Brasil no projeto chinês Iniciativa Cinturão e Rota — que já mobilizou US$ 1 trilhão (cerca de R$ 5,7 trilhões) em investimentos externos, conectando Ásia, África, Europa, Oriente Médio e América Latina — "mas com as suas condições, seus projetos e interesses, sem assinar um contrato de adesão".

Atualmente, a China é o principal parceiro comercial do Brasil. Segundo dados do Governo Federal, de janeiro a outubro de 2024, o intercâmbio entre os países foi de US$ 136,3 bilhões (cerca de R$ 787,2 bilhões). As exportações brasileiras alcançaram US$ 83,4 bilhões (aproximadamente R$ 481,8 bilhões) e as importações, US$ 52,9 bilhões (mais de R$ 305,6 bilhões), um superávit de US$ 30,4 bilhões (cerca de R$ 175,6 bilhões).

¨      Fórum de diálogo entre Índia, Brasil e África do Sul reforça aliança do Sul Global após G20 no Rio

Em meio ao encerramento da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, o Fórum de Diálogo entre Índia, Brasil e África do Sul (IBAS, na sigla em inglês) realizou o encontro dos líderes dos três países na capital fluminense e reforçou a necessidade de ampliar a cooperação entre países do Sul Global.

A declaração do encontro foi divulgada também nesta terça-feira (19) pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Criado há mais de 20 anos, o IBAS tem o objetivo de ampliar a cooperação trilateral entre Brasil, Índia e África do Sul com foco em multilateralismo, democracia e promoção do direito humanitário internacional, entre outros.

O texto confirmou, ainda, a realização de uma cúpula do IBAS na África do Sul em 2025, país que também vai receber o G20. O grupo reafirmou a preocupação com a escalada de tensões globais e os diversos conflitos em várias partes do mundo.

"Sublinhamos a urgência de valorizar o diálogo e a diplomacia como instrumentos primordiais para a resolução pacífica de conflitos. Reiteramos o nosso compromisso com o multilateralismo e com os princípios da Carta das Nações Unidas e apelamos à defesa do direito internacional, incluindo o direito humanitário internacional. Apelamos ao reforço do controle global de armas, do desarmamento e da não proliferação, incluindo esforços no âmbito da Conferência sobre Desarmamento", pontua.

Ademais, o documento pede uma ordem internacional mais justa, equilibrada e "atenta aos anseios dos países em desenvolvimento", que só podem ser garantidos com uma reforma urgente da governança global e instituições ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU).

"Reiteramos nosso compromisso com o aprimoramento da governança global por meio da promoção de um sistema multilateral internacional mais ágil, eficaz, efetivo, eficiente, responsivo, representativo, legítimo, democrático e responsável. Apelamos a que seja assegurada uma participação maior e mais significativa de mercados emergentes e países em desenvolvimento e de países de menor desenvolvimento relativo, em especial na África, na América Latina e no Caribe, nos processos e nas estruturas de tomada de decisão, tornando-os mais ajustados às questões contemporâneas", acrescenta.

<><> Inclusão de novos membros permanentes no Conselho de Segurança da ONU

Outra pauta defendida pelo IBAS é a reforma do Conselho de Segurança da ONU, com a participação efetiva dos países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina. Para o grupo, a medida é crucial para enfrentar as realidades globais contemporâneas. "Apoiamos a aspiração legítima dos países africanos de terem uma presença permanente no Conselho de Segurança da ONU e apoiamos os esforços do Brasil e da Índia para ocuparem assentos permanentes no Conselho de Segurança".

O fórum trilateral também ressaltou o apoio à presidência brasileira rotativa no BRICS, em 2025, que terá como lema "Aprimorando a Cooperação Global do Sul para uma Governança Mais Inclusiva e Sustentável". Além disso, reforçou o apoio à declaração final dos líderes do G20 no Rio de Janeiro.

"Saudamos o sucesso do Brasil em sediar a Cúpula dos Líderes do G20 no Rio de Janeiro, em novembro de 2024, e reafirmamos nossa disposição de coordenar nossas posições para aumentar a inclusão e ampliar a voz do Sul Global e integrar ainda mais suas prioridades na agenda do G20, por meio das consecutivas presidências do G20 dos estados-membros do IBAS — Índia, Brasil e África do Sul — de 2023 a 2025. Nesse sentido, reafirmamos o nosso apoio à organização bem-sucedida da África do Sul na presidência do G20 em 2025", finaliza.

¨      Arábia Saudita pode ser o 'freio de mão' para a gestão Trump em relação ao Oriente Médio, diz mídia

Após as nomeações pró-Israel de Donald Trump para sua próxima gestão à frente da Casa Branca, os Estados árabes apostam na Arábia Saudita para evitar articulações israelenses para anexar a Cisjordânia ocupada, ocupar Gaza ou aumentar as tensões com Teerã.

Os Estados árabes apostam no relacionamento do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman com Donald Trump para moderar as políticas do novo governo de Washington na região, alavancando o apetite do presidente eleito por acordos financeiros e seu desejo de fechar um "grande acordo" que levaria a Arábia Saudita e Israel a normalizar as relações, segundo o Financial Times.

Segundo a apuração, o príncipe Mohammed seria "chave" para influenciar as políticas de Trump para acabar com a guerra de Israel contra o Hamas em Gaza.

Durante a gestão Trump (2017-2021), a Arábia Saudita adotou um estilo transacional e uma campanha de "pressão máxima" contra o Irã. Trump apoiou o príncipe Mohammed quando outros líderes ocidentais o ignoraram, especialmente depois do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, por agentes sauditas.

Esta intermediação com o Reino foi usada por Trump na região. O líder norte-americano chegou a se proclamar um intermediário final para um acordo que desse fim ao conflito entre Israel e a Palestina.

Embora sua investida diplomática tenha fracassado, ele intermediou os chamados Acordos de Abraão, nos quais os Emirados Árabes Unidos e três outros Estados árabes normalizaram as relações com Israel, e é nisso que a região se apoia para usar sua influência sobre Trump a seu favor no atual cenário de conflito.

No mês de outubro, Trump disse ao canal saudita Al Arabiya, que as relações entre os EUA e a Arábia Saudita durante sua presidência foram "ótimas, com letras maiúsculas, Ó.T.I.M.A.S".

Mesmo após a posse de Joe Biden, Riad manteve laços com Trump, apesar de suas políticas regionais durante a gestão democrata terem sido recalibradas quando restaurou as relações diplomáticas com o Irã em 2023 — recentemente suspensas em razão do conflito entre Hamas e Israel, desde 7 de outubro do mesmo ano.

¨      Visita de Putin à Índia expõe o fracasso das tentativas do Ocidente de isolar a Rússia, diz agência

A visita planejada do presidente russo Vladimir Putin à Índia é mais uma evidência de que os esforços do Ocidente para isolar o líder russo não estão tendo sucesso, relata a Bloomberg.

Ontem (19), o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Moscou espera em breve chegar a um acordo sobre as datas da visita de Putin à Índia. "O presidente russo Vladimir Putin planeja visitar a Índia [...] que é outro sinal de que os esforços liderados pelos EUA para isolá-lo na arena mundial estão fracassando", diz o artigo.

Enquanto as datas ainda estão para ser definidas para a viagem de Putin para se encontrar com o premiê indiano Narendra Modi, "estamos aguardando ansiosamente" por isso, disse Peskov em comentários à agência de notícias ANI na terça-feira (19).

"Depois de duas visitas do primeiro-ministro Modi à Rússia, agora temos uma visita do presidente Putin à Índia", disse Peskov. "Atribuímos uma grande importância a estes contatos."

Anteriormente, o chanceler russo Sergei Lavrov afirmou que os resultados da recente cúpula do BRICS em Kazan mostraram que as tentativas do Ocidente de isolar a Rússia na arena internacional fracassaram.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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