José
Reinaldo Carvalho: Xi Jinping propõe no G20 cooperação internacional pelo desenvolvimento
compartilhado
A
realização da 19ª Cúpula do G20 no Brasil, nos dias 18 e 19 de novembro, sob o
tema "Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável", foi um
evento transcendental em um mundo marcado por turbulências, conflitos,
injustiças e inauditas transformações. Não foi um encontro de rotina entre
líderes. Pela relevância dos temas em discussão, desperta esperanças. A reunião
reflete as expectativas dos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos de
enfrentamento da crise global, sob a ótica da multipolaridade, da luta por
justiça, do combate à fome e à pobreza, da governança global democrática e do
enfrentamento dos graves problemas ambientais.
O
presidente chinês Xi Jinping fez um discurso impactante, defendeu uma
globalização inclusiva e um mundo multipolar, em que todas as nações tenham voz
e relevância, propugnou o desenvolvimento e a cooperação com base em elevados
valores e na rica experiência da China, sempre em linha com os ideais e valores
do desenvolvimento, paz e justiça. O Presidente Xi foi na cúpula do Rio de
Janeiro uma voz de destaque para impulsionar os esforços em prol do combate às
desigualdades estruturais e às hegemonias unilaterais.
Ele
ressaltou: “Atualmente, transformação de escala nunca vista em um século está
acelerando em todo o mundo, e a humanidade enfrenta oportunidades e desafios
sem precedentes. Como líderes dos principais países, não podemos deixar que a
nossa visão seja bloqueada pelas nuvens. Temos que ver o mundo como uma
comunidade com futuro compartilhado, e assumir as responsabilidades pela
história, tomar iniciativa histórica e levar adiante a história.” Foi uma
mensagem forte, enfática sobre as responsabilidades compartilhadas e a
necessidade de que todos se empenhem por construir uma comunidade de futuro
compartilhado.
O
presidente chinês reiterou um ponto de vista já apontado por ele em outras
ocasiões em favor da prosperidade comum no mundo, destacando a importância de
colocar o desenvolvimento no centro das políticas macroeconômicas do G20:
“Apontei neste fórum que a prosperidade e a estabilidade não seriam possíveis
em um mundo onde os ricos passam a ser mais ricos enquanto os pobres passam a
ser mais pobres, e os países devem tornar o desenvolvimento global mais
inclusivo, benéfico para todos e mais resiliente. Na Cúpula em Hangzhou, a
China colocou o desenvolvimento pela primeira vez no centro da coordenação das
políticas macroeconômicas do G20, e a Cúpula adotou o Plano de Ação do G20
sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e a Iniciativa do G20
sobre o Apoio à Industrialização na África e nos Países Menos Desenvolvidos
(PMDs).”
O
discurso do presidente chinês apresentou quatro ideias-força para construir um
mundo justo de desenvolvimento comum:
“Para
construir um mundo assim, precisamos canalizar mais recursos às áreas como
comércio, investimento e cooperação de desenvolvimento e fortalecer
instituições de desenvolvimento. Tem que haver mais pontes de cooperação e
menos "pequeno quintal, muros altos", para que cada vez mais países
em desenvolvimento tenham vida melhor e alcancem modernização.
Para
construir um mundo assim, precisamos apoiar os países em desenvolvimento a
adotar produção e estilo de vida sustentáveis e dar resposta adequada aos
desafios como mudanças climáticas, perda da biodiversidade e poluição
ambiental, destacando a conservação ecológica e a harmonia entre o homem e a
natureza.
Para
construir um mundo assim, precisamos criar um ambiente aberto, inclusivo e não
discriminatório para a cooperação econômica internacional. Devemos promover uma
globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva, energizar o
desenvolvimento sustentável com novas tecnologias, novas indústrias e novas
formas de negócios, e apoiar os países em desenvolvimento a se integrar melhor
ao desenvolvimento digital, inteligente e verde e diminuir o fosso entre o Sul
e o Norte.
Para
construir um mundo assim, precisamos persistir no multilateralismo. Devemos
defender o sistema internacional centrado nas Nações Unidas, a ordem
internacional alicerçada no direito internacional, e as normas básicas das
relações internacionais que se baseiam nos propósitos e princípios da Carta das
Nações Unidas.”
Xi
explicou aos líderes presentes na 19ª Cúpula do G20 sobre a experiência chinesa
no combate à pobreza: “O desenvolvimento da China é uma parte importante do
desenvolvimento comum do mundo. Temos tirado 800 milhões de pessoas da pobreza,
e atingimos com antecedência o objetivo de redução da pobreza estabelecida na
Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Essa
conquista não caiu do céu. É fruto dos esforços conjuntos e árduos do governo e
povo chineses. Em tudo o que a China faz, o povo é sempre colocado no centro.”
As
ideias e propostas do líder chinês foram convergentes com as formulações do
presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, cuja presidência do G20 de
2024 representou um ponto de inflexão, um momento em que se abre a perspectiva
de uma ação coletiva para redefinir os rumos do planeta. A Aliança Global
contra a Fome e a Pobreza, lançada na Cúpula do G20, já conta com a adesão de
82 países, uma proposta que tem por objetivo acelerar os esforços globais para
erradicar a fome e a pobreza. “Compete aos que estão aqui em volta desta
mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade.
Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o
lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, afirmou o presidente
brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
O
Brasil, como anfitrião, propôs uma agenda que reflete as demandas urgentes do
Sul Global. Ao priorizar o combate à pobreza e à desigualdade, a promoção da
sustentabilidade e a reforma da governança global, o governo brasileiro
demonstrou um compromisso claro com os anseios dos povos do mundo.
A
China, representada por Xi Jinping, reafirmou seu papel como uma aliada
indispensável dos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos. A disposição
de Pequim em apoiar iniciativas como a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza
é um exemplo concreto de como o multilateralismo pode produzir resultados
positivos concretos.
“A
China é sempre um membro do Sul Global, um parceiro confiável de longo prazo
para os países em desenvolvimento e um praticante e empreendedor que trabalha
para a causa do desenvolvimento global. Uma só flor não faz a primavera. A
China quer ver o desabrochamento de centenas de flores e avançar de mãos dadas
com os outros países em desenvolvimento rumo à modernização”, afirmou Xi, que
nesse sentido delineou oito ações da China para apoiar o desenvolvimento
global.
Primeiro,
promover a cooperação Cinturão e Rota de alta qualidade. Segundo, implementar a
Iniciativa para o Desenvolvimento Global. Terceiro, apoiar o desenvolvimento na
África. Quarto, apoiar a cooperação internacional na redução da pobreza e
segurança alimentar. Quinto, a China, junto com o Brasil, a África do Sul e a
União Africana, está propondo uma Iniciativa sobre Cooperação Internacional na
Ciência Aberta para ajudar o Sul Global a ter melhor acesso a avanços globais
em ciência, tecnologia e inovação. Sexto, apoiar o G20 a levar a cabo
cooperação prática para o benefício do Sul Global. Sétimo, implementar o Plano
de Ação Anticorrupção do G20. Oitavo, a China está aprimorando a abertura de
alto padrão e unilateralmente ampliando a abertura aos PMDs.
Estas
ideias demonstram que é possível combinar desenvolvimento econômico com redução
da pobreza em larga escala. E também que é possível promover a cooperação com
base no princípio do desenvolvimento compartilhado, um incontornável caminho
por um mundo melhor.
¨
Lula e Xi Jinping
ampliam patamar das relações bilaterais: 'Brasil e China têm uma
responsabilidade histórica no Sul Global'
Os
presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Xi Jinping (China) destacaram
nesta quarta-feira (20), em Brasília (DF), a importância da parceria entre os
dois países para a redução da fome que, de acordo com as Nações Unidas (ONU),
atinge mais de 700 milhões de pessoas no mundo. Segundo o chefe de Estado
brasileiro, o país asiático foi parceiro "de primeira hora nessa
empreitada para devolver a dignidade a 733 milhões de pessoas que passam fome
no mundo em pleno século 21". O líder chinês afirmou que os dois países
"devem assumir proativamente a grande responsabilidade histórica de
salvaguardar os interesses comuns dos países do Sul Global e de promover uma
ordem internacional mais justa e equitativa".
Em
seu discurso, Lula citou a ajuda do governo chinês para uma Aliança Global
contra a Fome e a Pobreza, lançada oficialmente há dois dias, durante a Cúpula
do G20, no Rio de Janeiro, que já tem a adesão de mais de 80 nações. "No
contexto desta visita, quase 40 atos internacionais foram assinados em áreas
como comércio, agricultura, indústria, investimentos, ciência e tecnologia,
comunicações, saúde, energia, cultura, educação e turismo", acrescentou.
O
presidente Xi Jinping também comentou sobre os acordos. "Vamos aprofundar
a cooperação em áreas prioritárias como economia e comércio, finanças, ciência
e tecnologia, infraestrutura e produção ambiental. E reforçar a cooperação em
áreas emergentes, como transição energética, economia digital, inteligência
artificial e mineração verde”.
Na
pauta do encontro também foram incluídos temas como sinergias entre políticas e
programas de investimento e desenvolvimento dos dois países, bem como
estreitamento de relações bilaterais e coordenação sobre tópicos regionais e
multilaterais. “Estabeleceremos sinergias entre as estratégias brasileiras de
desenvolvimento, como a Nova Indústria Brasil (NIB), o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), o Programa Rotas da Integração Sul-Americana, e o Plano
de Transformação Ecológica e a Iniciativa Cinturão e Rota”, listou o presidente
brasileiro.
<><> Mercosul, Oriente Médio e Ucrânia
Lula
garantiu que, para que os acordos sejam implementados, uma Força-Tarefa sobre
Cooperação Financeira e outra sobre Desenvolvimento Produtivo e Sustentável
serão estabelecidas e vão apresentar projetos prioritários em até dois meses,
além dos esforços mantidos para dar seguimento ao Diálogo MERCOSUL-China e ao
aprofundamento da cooperação na área de investimentos.
Outro
tema abordado na reunião dos dois líderes foi o fim das guerras na Ucrânia e no
Oriente Médio. Lula lembrou que sem paz o planeta tampouco estará em condições
de construir soluções para a crise climática, outra meta compartilhada com a
China. “O interesse chinês pelo Fundo Florestas Tropicais para Sempre, proposto
pelo Brasil para remunerar a preservação desses biomas, confirma que há
alternativas eficazes para financiar o desenvolvimento sustentável”.
Xi
Jinping ressaltou que somente quando houver uma visão de segurança comum,
cooperativa e sustentável será possível uma trilha de paz duradoura. “China e
Brasil emitiram entendimentos comuns sobre uma resolução política para a crise
na Ucrânia e criaram o Grupo de Amigos da Paz sobre a crise na Ucrânia, junto
com os outros países do sul global. Devemos reunir mais vozes que advocam a paz
e procuram viabilizar uma solução política. Sobre o conflito no Oriente Médio,
o presidente chinês afirmou que é necessário focar na Palestina. “É a causa
raiz. Apelamos por um cessar-fogo imediato”, reforçou o líder chinês.
¨
Brasil lança projeto
de sinergias com a China sem aderir formalmente à Rota da Seda
Os governos do Brasil e da China lançam
hoje uma parceria de investimentos que evita a adesão formal à Iniciativa
Cinturão e Rota, popularmente conhecida como Rota da Seda. Nesta quarta-feira
(20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping
anunciarão o plano conjunto durante a visita de Estado em Brasília, marcando
uma etapa que busca promover investimentos estratégicos e proteger o Brasil de
desgastes geopolíticos.
A
decisão de lançar um projeto de sinergias, sem adesão oficial à Rota da Seda,
reflete o esforço do governo brasileiro em equilibrar suas relações com
potências globais, como Estados Unidos e China. Celso Amorim, assessor especial
da Presidência, explicou: “A gente quer a sinergia. Se para ter a sinergia eles
têm que chamar de Cinturão e Rota, não tem problema. O que interessa são os
projetos que têm essa sinergia”. O enfoque está em manter autonomia e
flexibilidade para escolher os projetos de interesse prioritário ao Brasil,
segundo aponta reportagem de Felipe Frazão, no Estado de S. Paulo.
Desde
o lançamento da Belt and Road Initiative por Xi Jinping, em 2013, a China tem
mobilizado mais de US$ 1 trilhão em investimentos, conectando regiões como
Ásia, Europa, África e América Latina. Embora 151 países tenham aderido
formalmente, o Brasil, ao lado de Colômbia e Paraguai, preferiu manter-se à
margem. Para o governo Lula, a adesão ao projeto poderia ser interpretada como
uma submissão a normas políticas e acordos de confidencialidade, algo
incompatível com a legislação brasileira.
Nos
bastidores, embaixadores e diplomatas brasileiros discutiram as implicações de
uma adesão formal. “Quanto mais você se aproxima da China, mais deixa de ter
apoio em outros cantos. O Brasil precisa calibrar suas atitudes para não se
desacreditar junto a outros países”, afirmou um embaixador sob anonimato.
<><> Interesses estratégicos e projetos futuros
A
parceria Brasil-China contempla pelo menos 50 projetos bilaterais, com destaque
para investimentos em infraestrutura, tecnologia e inteligência artificial.
Entre as propostas está o desenvolvimento de combustível de aviação sustentável
(SAF) e a ampliação de rotas de transporte que conectem o Brasil aos seus
vizinhos sul-americanos. O Palácio do Planalto, inclusive, propôs à China um
fundo para a recuperação de pastagens degradadas, parte de sua agenda
ambiental.
Apesar
de ainda haver incertezas sobre a venda de 20 aeronaves Embraer a empresas
chinesas, sinalizando que a negociação não se concluiu na visita de abril de
2023 de Lula a Pequim, a expectativa é que os projetos discutidos impulsionem
um novo patamar na relação bilateral.
<><> A pressão das potências e a busca pela
independência
A
diplomacia brasileira enfrenta o desafio de equilibrar as relações com a China
e os Estados Unidos, especialmente em um cenário de disputas geopolíticas.
Autoridades norte-americanas, como o embaixador Brian A. Nichols, alertaram
sobre os riscos dos investimentos chineses, mencionando uma “armadilha da
dívida”. Por outro lado, a embaixada chinesa rebateu as críticas americanas,
classificando-as como “irresponsáveis”.
A
postura brasileira, de evitar o alinhamento a uma única potência, reforça a
tradição de não-alinhamento do País. Lula destacou essa abordagem: “Não vamos
fechar os olhos à Rota da Seda”, afirmou, sublinhando a importância de uma
avaliação cuidadosa dos benefícios e riscos.
Fonte:
Brasil 247/Reuters
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