sexta-feira, 22 de novembro de 2024

José Reinaldo Carvalho: Xi Jinping propõe no G20 cooperação internacional pelo desenvolvimento compartilhado

A realização da 19ª Cúpula do G20 no Brasil, nos dias 18 e 19 de novembro, sob o tema "Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável", foi um evento transcendental em um mundo marcado por turbulências, conflitos, injustiças e inauditas transformações. Não foi um encontro de rotina entre líderes. Pela relevância dos temas em discussão, desperta esperanças. A reunião reflete as expectativas dos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos de enfrentamento da crise global, sob a ótica da multipolaridade, da luta por justiça, do combate à fome e à pobreza, da governança global democrática e do enfrentamento dos graves problemas ambientais.

O presidente chinês Xi Jinping fez um discurso impactante, defendeu uma globalização inclusiva e um mundo multipolar, em que todas as nações tenham voz e relevância, propugnou o desenvolvimento e a cooperação com base em elevados valores e na rica experiência da China, sempre em linha com os ideais e valores do desenvolvimento, paz e justiça. O Presidente Xi foi na cúpula do Rio de Janeiro uma voz de destaque para impulsionar os esforços em prol do combate às desigualdades estruturais e às hegemonias unilaterais. 

Ele ressaltou: “Atualmente, transformação de escala nunca vista em um século está acelerando em todo o mundo, e a humanidade enfrenta oportunidades e desafios sem precedentes. Como líderes dos principais países, não podemos deixar que a nossa visão seja bloqueada pelas nuvens. Temos que ver o mundo como uma comunidade com futuro compartilhado, e assumir as responsabilidades pela história, tomar iniciativa histórica e levar adiante a história.” Foi uma mensagem forte, enfática sobre as responsabilidades compartilhadas e a necessidade de que todos se empenhem por construir uma comunidade de futuro compartilhado. 

O presidente chinês reiterou um ponto de vista já apontado por ele em outras ocasiões em favor da prosperidade comum no mundo, destacando a importância de colocar o desenvolvimento no centro das políticas macroeconômicas do G20: “Apontei neste fórum que a prosperidade e a estabilidade não seriam possíveis em um mundo onde os ricos passam a ser mais ricos enquanto os pobres passam a ser mais pobres, e os países devem tornar o desenvolvimento global mais inclusivo, benéfico para todos e mais resiliente. Na Cúpula em Hangzhou, a China colocou o desenvolvimento pela primeira vez no centro da coordenação das políticas macroeconômicas do G20, e a Cúpula adotou o Plano de Ação do G20 sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e a Iniciativa do G20 sobre o Apoio à Industrialização na África e nos Países Menos Desenvolvidos (PMDs).”

O discurso do presidente chinês apresentou quatro ideias-força para construir um mundo justo de desenvolvimento comum: 

“Para construir um mundo assim, precisamos canalizar mais recursos às áreas como comércio, investimento e cooperação de desenvolvimento e fortalecer instituições de desenvolvimento. Tem que haver mais pontes de cooperação e menos "pequeno quintal, muros altos", para que cada vez mais países em desenvolvimento tenham vida melhor e alcancem modernização.

Para construir um mundo assim, precisamos apoiar os países em desenvolvimento a adotar produção e estilo de vida sustentáveis e dar resposta adequada aos desafios como mudanças climáticas, perda da biodiversidade e poluição ambiental, destacando a conservação ecológica e a harmonia entre o homem e a natureza.

Para construir um mundo assim, precisamos criar um ambiente aberto, inclusivo e não discriminatório para a cooperação econômica internacional. Devemos promover uma globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva, energizar o desenvolvimento sustentável com novas tecnologias, novas indústrias e novas formas de negócios, e apoiar os países em desenvolvimento a se integrar melhor ao desenvolvimento digital, inteligente e verde e diminuir o fosso entre o Sul e o Norte.

Para construir um mundo assim, precisamos persistir no multilateralismo. Devemos defender o sistema internacional centrado nas Nações Unidas, a ordem internacional alicerçada no direito internacional, e as normas básicas das relações internacionais que se baseiam nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas.”

Xi explicou aos líderes presentes na 19ª Cúpula do G20 sobre a experiência chinesa no combate à pobreza: “O desenvolvimento da China é uma parte importante do desenvolvimento comum do mundo. Temos tirado 800 milhões de pessoas da pobreza, e atingimos com antecedência o objetivo de redução da pobreza estabelecida na Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Essa conquista não caiu do céu. É fruto dos esforços conjuntos e árduos do governo e povo chineses. Em tudo o que a China faz, o povo é sempre colocado no centro.”

As ideias e propostas do líder chinês foram convergentes com as formulações do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, cuja presidência do G20 de 2024 representou um ponto de inflexão, um momento em que se abre a perspectiva de uma ação coletiva para redefinir os rumos do planeta. A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada na Cúpula do G20, já conta com a adesão de 82 países, uma proposta que tem por objetivo acelerar os esforços globais para erradicar a fome e a pobreza.  “Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade. Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, afirmou o presidente brasileiro  Luiz Inácio Lula da Silva.

O Brasil, como anfitrião, propôs uma agenda que reflete as demandas urgentes do Sul Global. Ao priorizar o combate à pobreza e à desigualdade, a promoção da sustentabilidade e a reforma da governança global, o governo brasileiro demonstrou um compromisso claro com os anseios dos povos do mundo. 

A China, representada por Xi Jinping, reafirmou seu papel como uma aliada indispensável dos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos. A disposição de Pequim em apoiar iniciativas como a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza é um exemplo concreto de como o multilateralismo pode produzir resultados positivos concretos.

“A China é sempre um membro do Sul Global, um parceiro confiável de longo prazo para os países em desenvolvimento e um praticante e empreendedor que trabalha para a causa do desenvolvimento global. Uma só flor não faz a primavera. A China quer ver o desabrochamento de centenas de flores e avançar de mãos dadas com os outros países em desenvolvimento rumo à modernização”, afirmou Xi, que nesse sentido delineou oito ações da China para apoiar o desenvolvimento global.

Primeiro, promover a cooperação Cinturão e Rota de alta qualidade. Segundo, implementar a Iniciativa para o Desenvolvimento Global. Terceiro, apoiar o desenvolvimento na África. Quarto, apoiar a cooperação internacional na redução da pobreza e segurança alimentar. Quinto, a China, junto com o Brasil, a África do Sul e a União Africana, está propondo uma Iniciativa sobre Cooperação Internacional na Ciência Aberta para ajudar o Sul Global a ter melhor acesso a avanços globais em ciência, tecnologia e inovação. Sexto, apoiar o G20 a levar a cabo cooperação prática para o benefício do Sul Global. Sétimo, implementar o Plano de Ação Anticorrupção do G20. Oitavo, a China está aprimorando a abertura de alto padrão e unilateralmente ampliando a abertura aos PMDs. 

Estas ideias demonstram que é possível combinar desenvolvimento econômico com redução da pobreza em larga escala. E também que é possível promover a cooperação com base no princípio do desenvolvimento compartilhado, um incontornável caminho por um mundo melhor. 

 

¨      Lula e Xi Jinping ampliam patamar das relações bilaterais: 'Brasil e China têm uma responsabilidade histórica no Sul Global'

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Xi Jinping (China) destacaram nesta quarta-feira (20), em Brasília (DF), a importância da parceria entre os dois países para a redução da fome que, de acordo com as Nações Unidas (ONU), atinge mais de 700 milhões de pessoas no mundo. Segundo o chefe de Estado brasileiro, o país asiático foi parceiro "de primeira hora nessa empreitada para devolver a dignidade a 733 milhões de pessoas que passam fome no mundo em pleno século 21". O líder chinês afirmou que os dois países "devem assumir proativamente a grande responsabilidade histórica de salvaguardar os interesses comuns dos países do Sul Global e de promover uma ordem internacional mais justa e equitativa".

Em seu discurso, Lula citou a ajuda do governo chinês para uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada oficialmente há dois dias, durante a Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, que já tem a adesão de mais de 80 nações. "No contexto desta visita, quase 40 atos internacionais foram assinados em áreas como comércio, agricultura, indústria, investimentos, ciência e tecnologia, comunicações, saúde, energia, cultura, educação e turismo", acrescentou.

O presidente Xi Jinping também comentou sobre os acordos. "Vamos aprofundar a cooperação em áreas prioritárias como economia e comércio, finanças, ciência e tecnologia, infraestrutura e produção ambiental. E reforçar a cooperação em áreas emergentes, como transição energética, economia digital, inteligência artificial e mineração verde”.

Na pauta do encontro também foram incluídos temas como sinergias entre políticas e programas de investimento e desenvolvimento dos dois países, bem como estreitamento de relações bilaterais e coordenação sobre tópicos regionais e multilaterais. “Estabeleceremos sinergias entre as estratégias brasileiras de desenvolvimento, como a Nova Indústria Brasil (NIB), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Programa Rotas da Integração Sul-Americana, e o Plano de Transformação Ecológica e a Iniciativa Cinturão e Rota”, listou o presidente brasileiro.

<><> Mercosul, Oriente Médio e Ucrânia

Lula garantiu que, para que os acordos sejam implementados, uma Força-Tarefa sobre Cooperação Financeira e outra sobre Desenvolvimento Produtivo e Sustentável serão estabelecidas e vão apresentar projetos prioritários em até dois meses, além dos esforços mantidos para dar seguimento ao Diálogo MERCOSUL-China e ao aprofundamento da cooperação na área de investimentos.

Outro tema abordado na reunião dos dois líderes foi o fim das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Lula lembrou que sem paz o planeta tampouco estará em condições de construir soluções para a crise climática, outra meta compartilhada com a China. “O interesse chinês pelo Fundo Florestas Tropicais para Sempre, proposto pelo Brasil para remunerar a preservação desses biomas, confirma que há alternativas eficazes para financiar o desenvolvimento sustentável”.

Xi Jinping ressaltou que somente quando houver uma visão de segurança comum, cooperativa e sustentável será possível uma trilha de paz duradoura. “China e Brasil emitiram entendimentos comuns sobre uma resolução política para a crise na Ucrânia e criaram o Grupo de Amigos da Paz sobre a crise na Ucrânia, junto com os outros países do sul global. Devemos reunir mais vozes que advocam a paz e procuram viabilizar uma solução política. Sobre o conflito no Oriente Médio, o presidente chinês afirmou que é necessário focar na Palestina. “É a causa raiz. Apelamos por um cessar-fogo imediato”, reforçou o líder chinês.

¨      Brasil lança projeto de sinergias com a China sem aderir formalmente à Rota da Seda

 Os governos do Brasil e da China lançam hoje uma parceria de investimentos que evita a adesão formal à Iniciativa Cinturão e Rota, popularmente conhecida como Rota da Seda. Nesta quarta-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping anunciarão o plano conjunto durante a visita de Estado em Brasília, marcando uma etapa que busca promover investimentos estratégicos e proteger o Brasil de desgastes geopolíticos.

A decisão de lançar um projeto de sinergias, sem adesão oficial à Rota da Seda, reflete o esforço do governo brasileiro em equilibrar suas relações com potências globais, como Estados Unidos e China. Celso Amorim, assessor especial da Presidência, explicou: “A gente quer a sinergia. Se para ter a sinergia eles têm que chamar de Cinturão e Rota, não tem problema. O que interessa são os projetos que têm essa sinergia”. O enfoque está em manter autonomia e flexibilidade para escolher os projetos de interesse prioritário ao Brasil, segundo aponta reportagem de Felipe Frazão, no Estado de S. Paulo.

Desde o lançamento da Belt and Road Initiative por Xi Jinping, em 2013, a China tem mobilizado mais de US$ 1 trilhão em investimentos, conectando regiões como Ásia, Europa, África e América Latina. Embora 151 países tenham aderido formalmente, o Brasil, ao lado de Colômbia e Paraguai, preferiu manter-se à margem. Para o governo Lula, a adesão ao projeto poderia ser interpretada como uma submissão a normas políticas e acordos de confidencialidade, algo incompatível com a legislação brasileira.

Nos bastidores, embaixadores e diplomatas brasileiros discutiram as implicações de uma adesão formal. “Quanto mais você se aproxima da China, mais deixa de ter apoio em outros cantos. O Brasil precisa calibrar suas atitudes para não se desacreditar junto a outros países”, afirmou um embaixador sob anonimato.

<><> Interesses estratégicos e projetos futuros

A parceria Brasil-China contempla pelo menos 50 projetos bilaterais, com destaque para investimentos em infraestrutura, tecnologia e inteligência artificial. Entre as propostas está o desenvolvimento de combustível de aviação sustentável (SAF) e a ampliação de rotas de transporte que conectem o Brasil aos seus vizinhos sul-americanos. O Palácio do Planalto, inclusive, propôs à China um fundo para a recuperação de pastagens degradadas, parte de sua agenda ambiental.

Apesar de ainda haver incertezas sobre a venda de 20 aeronaves Embraer a empresas chinesas, sinalizando que a negociação não se concluiu na visita de abril de 2023 de Lula a Pequim, a expectativa é que os projetos discutidos impulsionem um novo patamar na relação bilateral.

<><> A pressão das potências e a busca pela independência

A diplomacia brasileira enfrenta o desafio de equilibrar as relações com a China e os Estados Unidos, especialmente em um cenário de disputas geopolíticas. Autoridades norte-americanas, como o embaixador Brian A. Nichols, alertaram sobre os riscos dos investimentos chineses, mencionando uma “armadilha da dívida”. Por outro lado, a embaixada chinesa rebateu as críticas americanas, classificando-as como “irresponsáveis”.

A postura brasileira, de evitar o alinhamento a uma única potência, reforça a tradição de não-alinhamento do País. Lula destacou essa abordagem: “Não vamos fechar os olhos à Rota da Seda”, afirmou, sublinhando a importância de uma avaliação cuidadosa dos benefícios e riscos.

 

Fonte: Brasil 247/Reuters

 

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