sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Luís Nassif: Musk e o desmonte do Estado norte-americano

A França trouxe os primeiros exemplos de formação dos estados e das burocracias públicas modernas. Mas o modelo institucional que coordenou o Ocidente veio dos Estados Unidos no final do século 19, com a criação da Interestate Commerce Commission (ICC). Seu objetivo era coibir os abusos das empresas ferroviárias, que manipulavam as tarifas e cobravam preços discriminatórios contra pequenos produtores e comunidades.

A Agência surgiu nos ecos da Lei Antitruste Sherman (Lei Antitruste Sherman), que acolheu uma denúncia do Departamento de Justiça contra o poder de monopólio da Standard Oil.

Com o tempo, a ICC ampliou suas funções para supervisionar transporte rodoviário, hidroviário e aéreo.

Em 1995, o Congresso extinguiu a ICC e transferiu algumas funções relevantes para o Surface Transportation Board (STB). A ICC foi pioneira ao estabelecer o conceito de regulação independente, influenciando o surgimento de outras agências regulatórias. Em 1913 foi criado o Federal Reserve (FED); em 1914 a Comissão Federal de Comércio (FTC); em 1930 a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), em 1934 a Comissão Federal de Comunicações e a Comissão de Valores Mobiliários. Em 1970, a Agência de Proteção Ambiental.

Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

O advento da era da ultra financeirização diluiu esses controles, já que o comando de empresas saiu das famílias e das próprias empresas para os fundos de investimentos.

Mas, de alguma maneira, essas agências ajudaram a minorar a excessiva concentração de renda do país e a insuficiência das políticas sociais. E tornaram-se, mundialmente, alvo de três grupos: a ultradireita, dos supremacistas brancos e radicais; as ONGs e think tanks conservadores, em geral bancados pela indústria da mineração e das armas; o crime organizado e as big techs.

Os controles da concorrência foram reduzidos depois que a Escola de Chicago consolidou novos conceitos. Diziam seus economistas que, com a flexibilidade dos investimentos e com as novas tecnologias, nenhuma empresa conseguiria impor poder de mercado. As grandes seriam conservadoras na inovação, para preservar seus lucros; e as menores seriam inovadoras, conquistando mercado.

Os fatos foram em direção contrária. As big techs e os grandes grupos simplesmente passaram a adquirir competidores, promovendo a maior concentração de poder da história.

Agora, com a indicação de Elon Musk, pretende-se um esvaziamento total das agências reguladoras e o domínio final das grandes corporações sobre uma democracia capenga.

As agências serão reguladas em causa própria. Na área aeroespacial, Musk pretende desregular a FCC, que regula as comunicações por satélite. Musk também é importante fornecedor e parceiro da quarta arma do Departamento de Defesa, a Space Force. Criada recentemente, tem o mesmo formato das demais forças e é incumbida da defesa aeroespacial.

As relações de Musk com o Estado norte-americano são amplas:

1. Exploração Espacial (NASA e Defesa Nacional)

  • SpaceX : com a NASA. 
  • Estação Espacial Internacional (ISS)
  • Departamento de Defesa dos EUA (DoD)

2. Transporte e Mobilidade (Departamento de Transportes e Infraestrutura)

  • Tesla : Departamento de Transportes dos EUA (DOT)infraestrutura de carregamento de veículos elétricos e veículos autônomos .
  • Empresa chata, túneis urbanos.

3. Energia e Sustentabilidade (Departamento de Energia)

  • Tesla Energy : baterias de armazenamento de energia (Powerwall) e sistemas, com Departamento de Energia dos EUA (DOE) 
  • SolarCity : recebe subsídios e incentivos fiscais .

4. Inteligência Artificial e Tecnologia (Setor de Tecnologia e Defesa)

  • Neuralink : com defesa nacional.

 

¨      Os desafios políticos e econômicos que o governo Trump deverá impor ao Brasil, por Guilherme Casarões

Nos últimos meses, os brasileiros acompanharam de perto a campanha presidencial dos Estados Unidos. Pelo menos desde 2016, o que quer que aconteça na política americana provavelmente se desdobrará no Brasil. De muitas maneiras, o abismo político americano reflete a polarização política do próprio Brasil.

Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

A grande vitória de Trump nas eleições dos EUA provocou reações imediatas na política brasileira. Bolsonaro e seus apoiadores estão em êxtase, pois acreditam que a maré política mais uma vez virará a seu favor – agora, com uma pequena ajuda da Casa Branca.

A esquerda brasileira, por sua vez, está fazendo um exame de consciência. Depois de sofrer um grande golpe nas eleições municipais de outubro de 2024, Lula e seus aliados não podem mais contar com os EUA para promover suas agendas no país e no exterior.

O novo governo dos EUA apresentará vários desafios ao Brasil. Não se trata apenas de reconhecer a vitalidade da onda conservadora global. Precisamos agora entender como as decisões concretas tomadas por Trump afetarão a política brasileira – e como responder a elas.

<><> O Trumpismo salvará o Bolsonarismo?

Em outubro de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil impediu Bolsonaro de concorrer a um cargo público por oito anos devido a acusações de abuso de poder político em sua candidatura à reeleição. A decisão do tribunal foi um choque para o bolsonarismo, que estava prestes a perder o ímpeto e o apelo eleitoral.

Desde então, os congressistas pró-Bolsonaro começaram a discutir com seus colegas pró-Trump como poderiam agir juntos para reverter a inelegibilidade de Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro e seus aliados fizeram visitas oficiais a Washington três vezes entre novembro de 2023 e maio de 2024.

A narrativa comum era que as autoridades brasileiras estavam violando os direitos fundamentais de ativistas e políticos “conservadores”. Para os republicanos, o enquadramento do Brasil de Lula como estando à beira de uma ditadura foi útil para mostrar o que poderia acontecer com os EUA caso os democratas permanecessem no cargo.

A causa da extrema direita ganhou ainda mais força com a briga entre Elon Musk e o Ministro da Suprema Corte do Brasil, Alexandre de Moraes. As críticas de Musk à censura no Brasil energizaram os apoiadores de Bolsonaro, que vislumbraram um caminho para futuras sanções contra as autoridades brasileiras, caso Trump voltasse à Casa Branca.

Agora Bolsonaro e seus seguidores estão convencidos de que o governo Trump, tendo Musk como peça central, os ajudará a voltar ao poder no Brasil. Eduardo Bolsonaro estava em Mar-a-Lago comemorando a vitória de Trump. Nos últimos dias, o ex-presidente tem dado entrevistas como se fosse apenas uma questão de tempo até que ele tome a presidência mais uma vez.

<><> Trump está prestes a enfrentar o Brasil?

Mesmo que a Casa Branca considere sancionar o Brasil para pressionar as autoridades a permitir a candidatura de Bolsonaro, há outras maneiras de ajudar o aliado mais fiel de Trump. Por meio da política externa, os EUA poderiam prejudicar o Brasil e enfraquecer o governo Lula.

O presidente Lula, é claro, não quer antagonizar Trump. Embora tenha declarado seu apoio a Kamala Harris “como uma aposta mais segura para a democracia”, Lula foi rápido em parabenizar o candidato republicano por sua vitória e disse que esperava uma boa relação de trabalho entre o Brasil e os EUA.

Lula sabe que o Brasil não é uma prioridade para Trump, mas também está ciente de que a promessa de lealdade incondicional de Bolsonaro ao presidente dos EUA pode ser bastante sedutora.

A política externa de Trump pode ameaçar o Brasil de pelo menos duas maneiras. A primeira diz respeito às tarifas. Políticas protecionistas podem prejudicar as exportações de produtos industriais brasileiros para os EUA. Caso essas políticas desacelerem a economia chinesa, o setor de agronegócios do Brasil também se encontrará em dificuldades.

Além disso, o temor de uma inflação alta nos EUA manterá as taxas de juros elevadas em ambos os países, levando a menos investimentos estrangeiros diretos no Brasil e aumentando os desafios para Lula manter a economia brasileira estável.

A segunda ameaça imediata tem a ver com o relacionamento de Trump com a Argentina. Javier Milei nunca escondeu sua antipatia por Lula e promete abandonar compromissos de longa data com o Brasil, como o Mercosul. Uma aliança preferencial entre a Casa Branca e a Casa Rosada da Argentina prejudicará os esforços do Brasil para conduzir a integração sul-americana.

Na quarta-feira 13, Trump nomeou Marco Rubio para ser o próximo secretário de Estado. Rubio é um linha-dura, que recentemente chamou Lula de “líder de extrema esquerda” e criticou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de suspender a rede social X no Brasil.

<><> Será o fim da democracia no Brasil?

Os tempos são difíceis para o Brasil e para o mundo – e podem se tornar ainda mais problemáticos a partir de janeiro do próximo ano. No entanto, podemos olhar para o copo meio cheio e pensar em caminhos menos apocalípticos para o governo brasileiro.

A primeira tarefa é reforçar as regras básicas institucionais da democracia brasileira. A lista de possíveis acusações criminais contra Bolsonaro é longa e envolve o planejamento de um golpe de Estado, cujo resultado mais visível também foi uma insurreição que ocorreu em 8 de janeiro de 2023 – e quase inteiramente inspirada nos distúrbios de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio.

Apesar de todo o entusiasmo entre a extrema direita brasileira, não há garantias de que Bolsonaro poderá concorrer ao cargo – e que ele não será condenado por seus muitos crimes. Pode haver pressão por parte da Casa Branca, mas seus efeitos encontrarão limites políticos e legais.

Além disso, o Brasil pode tirar proveito do isolacionismo de Trump ao reforçar seu papel de liderança em questões como mudança climática, reforma da governança global e direitos humanos. A atual presidência do G20 permitiu que o Brasil encontrasse interlocutores significativos e continuasse a impulsionar essas agendas.

Essa é a beleza da política. As marés podem estar mudando, e os desafios certamente estão aumentando, mas cabe fundamentalmente aos atores políticos moldar seu próprio futuro. Só podemos esperar que o governo Lula e os defensores da democracia no Brasil estejam à altura da tarefa.

 

¨      Contra o “Mega” de Donald Trump, Por Leonardo Boff

Nossos ancestrais (hominídeos) irromperam no processo da evolução há cerca de 7-8 milhões de anos. O atual homo sapiens, portador de consciência reflexa, de inteligência, de capacidade de amor e de linguagem, do qual nós descendemos, surgiu apenas há 200 mil anos. Antes, por vários milhões de anos viveu na África. Lá se elaboraram nossas estruturas antropológicas básicas que constituem nossa humanidade. Por isso, todos somos de alguma forma africanos.

Depois começou a grande dispersão pelo vasto mundo até ocupar todos os espaços terrestres. Agora se iniciou o grande caminho de volta para todos se encontraram na mesma Casa Comum, o planeta Terra. Inaugurou-se nova fase da humanidade e da Terra, a fase planetária que outros chamam de globalização. Só em 1521 quando Fernão de Magalhães e seus marinheiros fizeram a circunavegação marítima, entrou na consciência coletiva de que a Terra é redonda e que podia ser alcançada de qualquer lugar.

As potências da época, Portugal e Espanha começaram a sua ocupação/invasão da África, de Abya Yala e de porções da Ásia. Foram os primeiros passos da “planetização”.

Essa planetização foi crescendo se apresenta hoje sob muitas formas. Fala-se da globalização econômico-tiranossáurica, a globalização humano-social e a globalização ecozóico-espiritual. A predominante é a econômico-financeira que chamaria de a fase dinossáurica, pois se concretiza de forma voraz que nos faz pensar nos dinossauros, pois oprime aos seres humanos e devora a natureza.

Na verdade, trata-se da ocidentalização do mundo, de seus valores como a democracia, os direitos humanos, a ciência e tecnologia e também seus defeitos como a vontade dominação, seu espírito beligerante, seu individualismo (Serge Latouche, A ocidentalização do mundo, Vozes).

Nunca o ser humano viveu solitário. O pensador alemão Norbert Elias viu a sociabilidade nas “unidades de subsistência” (O processo de civilização) cuja função era garantir o grupo dos riscos existenciais e ao mesmo tempo impor controle à violência seja interna ao grupo e contra grupos externos. Convivência solidária e controle da violência estão na base de qualquer sociedade e civilização.

Estas “unidades de subsistência” se desenvolveram historicamente em cidades, metrópoles e nos dias de hoje em megacorporações e potências com poder econômico fantástico e um poder militar com capacidade de destruir toda a vida com suas armas nucleares, químicas e biológicas. Estudiosos chegam a ver na letalidade das armas nucleares uma curiosa função civilizatória no sentido da preservação da guerra que seria final. “Sua utilidade seria no seu não-emprego” pois evitaria a “destruição mutuamente assegurada” (Mutually Assured Destrucion)nas palavras de Stephen Mennel, em Mike Featherstone (org.), Cultura global, Vozes, p. 389.

A questão urgente ainda não realizada é a constituição de uma governança democrática planetária. O fato novo de todos estarem dentro da mesma Casa Comum, demanda uma instância plural de homens e mulheres, representantes de todos os povos e interesses para pensaram o destino da humanidade e principalmente encontrarem soluções globais para problemas globais como o Covid-19, o atual do aquecimento crescente da Terra e a devastação da biodiversidade.

Atualmente vive-se um paradoxo: por um lado verifica-se por todos os meios os inter-relacionamentos técnicos, econômicos, políticos e culturais da planetização, a descoberta da única Casa Comum, como um dado irreversível e, por outro, a preservação das soberanias nacionais, em si obsoletas com guerras altamente letais para garantir os limites de determinadas nações. Não se formou a consciência coletiva de que somos “cidadãos planetários” e que “Minha pátria é a Terra”.

Aqui reside o real perigo do mantra do futuro presidente dos EUA Donald Trump: “Faça a América Grande Novamente” (MEGA) ou o aforismo “America first” (“a América em primeiro lugar”), mas que pensado é: “Só a América”.

Se a mais poderosa potência econômica, tecno-científica e militar se isolar e não assumir sua responsabilidade para enfrentar os graves riscos que pesam sobre a vida e a humanidade, juntos com todos os outros, poderemos ver realizadas as severas palavras ditas recentemente pelo Secretário Geral da ONU António Gutérrez: “Ou faremos uma ação coletiva ou então conheceremos o suicídio coletivo”.

Bem observou Edgar Morin com seus 93 anos: “Seria preciso uma escalada súbita e terrível de perigo, e a chegada de uma catástrofe para constituir o choque elétrico necessário às tomadas de consciência e de decisão” (“Sociedade-mundo ou império” em Política Externa vol. 1, p. 85).

Donald Trump e o nosso inelegível são notórios negacionistas que segundo Noam Chomsky, num museu do mal “deveriam ter uma sala especial” (Como parar o relógio do Juízo Final?, Editora ICL, p. 22).

No atual momento somos confrontados com esse dilema: ou fundamos uma paz perene entre todos e com a comunidade de vida ou então poderemos conhecer um holocausto nuclear, consequência do negacionismo e da irresponsabilidade. Quando potências disputam a hegemonia, como no caso EUA, Rússia e China, dizem os estudiosos, geralmente termina com uma guerra. Se for nuclear poderá ser a guerra terminal.

Faço minhas as palavras do astronauta Sigmund Jähn, ao regressar à Terra, “Já são ultrapassadas as fronteiras políticas, ultrapassadas também as fronteiras das nações. Somos um único povo e cada um é responsável pela manutenção do frágil equilíbrio da Terra. Somos seus guardiães e devemos cuidar de nosso futuro comum”.

 

¨      Nem tudo o que é bom para os EUA é bom para o Brasil. Por Denise Assis

Nem tudo o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, como na frase do embaixador brasileiro em Washington, Juracy Magalhães (1964 a 1965), usada por décadas para ironizar os “entreguistas” da direita e da extrema-direita no Brasil. Dessa vez, o que os estadunidenses consideraram bom a ponto de querer repetir a dose – estamos falando da eleição de Donald Trump, para mais um mandato à frente da Casa Branca -, nos fez muito, mas muito mal mesmo.

Com a morosidade da Justiça (que no Brasil, além de ter os olhos vendados, é lerda), o inelegível e ex-presidente Jair Bolsonaro, vai “atenuando” a indignação contra ele e mais 16 pessoas, envolvidas no suposto esquema de falsificação de vacinas, no qual foram indiciados em março de 2018 e toda a enfieira de crimes em que está sendo investigado. Não bastasse a sua desenvoltura durante as eleições municipais, quando viajou, subiu em palanques, fez carreatas e cumpriu agenda de chefe de partido, influindo escancaradamente em algumas praças.

Agora, com a eleição de Trump, como já foi fartamente comentado, ele se sentiu à vontade, fortalecido, para colocar a cabeça de fora e se pronunciar em um espaço em que pisa em ovos: a mídia. Em busca da pauta que persegue desde que subiu naquele caminhão de som, em fevereiro deste ano - e nós deixamos -, Bolsonaro só pensa em anistia. Mesmo não tendo ainda a menor ideia do que vem pela frente nos processos a que responde, e nem sequer tenha sido condenado. E pela generosidade dos espaços a ele concedido, sua simpatia por Trump (ninguém sabe se a recíproca é verdadeira, mas por via das dúvidas, melhor “prestigiar”), o ex-presidente tem vindo às páginas e telas “desenrolar”, como se diz na linguagem dos marginais, o seu passado recente.

E, já que mencionamos o jargão, vamos também observar a técnica da sua argumentação. No “desenrola”, a bandidagem pega o que lhe está sendo imputado, vira do avesso junta “cacos”, como no teatro, e usa como base da sua própria defesa. Vamos aqui resgatar, por exemplo, a entrevista dada ao jornal O Globo, publicada na sexta-feira (08/11). Há pérolas desse método em cada frase em que tenta escapar, ou imputar a outros o que lhe cabe.

“A minha preocupação é com quem vai me julgar. Tem de aplicar a lei. Eu não estava no Brasil no dia 8 de janeiro, Eu estava fora. Se eu estivesse no Brasil, acho que estaria complicada a situação, né?”. Aqui o cinismo transborda, porque ele usa o próprio plano, para contra-argumentar. Notoriamente, sua viagem teve exatamente essa intenção, como todos sabemos, a de servir de álibi. 

Na mesma resposta, Bolsonaro traz o Capitólio, onde aponta: “No Capitólio morreu gente. Tentaram colocar a culpa no Trump” – para deixar claro que lá foi mais grave ainda e Trump ficou impune. Também transparecer uma proximidade que talvez não tenha, mas faz efeito, por aqui.

Mas é nesta outra resposta, um tanto longa, mas vale a pena ler de novo, é que ele se entrega. O que descreve é o seu malogrado plano golpista. Límpido como água da bica, porém ele o descreve para argumentar que não deu certo. Quem lê o seu “passo a passo”, saberá os caminhos percorridos por ele e sua turma, rumo ao 8 de janeiro:

“Não estou assumindo que discuti ou não – a minuta do golpe. Estou questionando. Quem autoriza o decreto de estado de sítio é o Congresso. Eu falava para os ministros que estavam ao meu lado: ‘Vão buscar os remédios dentro da Constituição. Entendo que a Constituição é o remédio para os conflitos institucionais. Agora, falar que eu estava preparando um golpe, pô, pelo amor de Deus. Você não vai (dar um golpe) depois que o TSE anunciou o resultado. Ninguém vai contigo. Quando o chefe do Executivo não é reeleito, 80% dos seus ministros desaparecem. Somente 10% ficam em cima do muro. Não tem como fazer mais nada. Se convidar para um churrasco, de 23 ministros vão aparecer três, pô. Como vou dar um golpe num clima desses?”

Está aqui, descrito pelo próprio, o plano e o real motivo pelo qual o golpe não se viabilizou. Bolsonaro ficou com a minuta embaixo do braço. Sua ignorância vai a ponto de ele ter pensado que um decreto de estado de sítio poderia ser um ato autocrático. Ao saber que havia “rito”, e os militares por não querer aporrinhação no pós-golpe não iriam com ele, viu que o buraco era mais embaixo. E tão fundo que deu margem ao comandante tentar posar de herói e ministro da Defesa se aproveitar do fiasco para defender tese, com veemência, em favor do Comando que quase embarcou. Sobrou chance de um “desenrola” para todo mundo. Até para a mídia, que agora restaura a foto do inelegível, a bordo de uma eleição do outro lado do Atlântico.

É esperar para ver se, ou quando, o PGR enfim resolver agir, a cobertura vai ser pró ou contra. Vai ter cobertura de Bolsonaro sendo preso? Vai ter Bolsonaro preso? Vou pedir ao Papai Noel...

 

Fonte: Jornal GGN/A Terra é Redonda/Brasil 247

 

Nenhum comentário: